Um corvo, um cobre
Quem sou eu
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sexta-feira, 20 de março de 2009
BORGES E EU
sexta-feira, 13 de março de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-CINZENTO ENTARDECER
De feio semblante
Não havia o brilho, nem a quentura do sol
Não havia o frio, nem as gotas de chuva
Pensei num poema
Olhei em volta
Mas, a tarde viúva não me comoveu
Era um sonho, uma quimera...
Desfez-se... com o escuro da noite que logo desceu
sábado, 7 de março de 2009
O GIGANTE EGOISTA
Um conto de Oscar Wilde
Todas as tardes, ao regressar da escola, costumavam as crianças ir brincar no jardim do Gigante.
Era um Gigante muito egoísta. As pobres crianças não tinham agora lugar onde brincar. Tentaram brincar na estrada, mas a estrada tinha muita poeira e estava cheia de pedras duras, e isto não lhes agradou. Tomaram o costume de vaguear, terminadas as lições, em redor dos altos muros, conversando a respeito do belo jardim por eles cercados. “Como éramos felizes ali!” diziam uns aos outros.
O Gigante desceu as escadas a correr, com grande alegria, e saiu para o jardim. Atravessou correndo o gramado e aproximou-se da criança. E quando chegou bem perto dela, seu rosto ficou vermelho de cólera e perguntou.
Fonte: WILDE, Oscar. Obra Completa. Organização, tradução e notas de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
sexta-feira, 6 de março de 2009
LUAR PELA FRESTA
É noite! Há uma fresta em meu telhado por onde a lua me espia
Demoro-me um tanto a espiá-la também Ligo a TV.
Leio um pouco.
Repouso.
Desacelero o coração
Rabisco palavras no papel, linhas ilegíveis de um pretenso poema, mas sou surpreendido com a queda de uma estrela, que, suavemente, passa pela fresta e inunda de luz o meu pensar.
Bom sinal!
Quem sabe meu sonho se torne real?
Assim como a lua e a estrela, o sol e a chuva entram pela fresta também
E me acalentam e me dão de beber.
Alimentam-me com novas palavras, muitas idéias...
E com elas construo um castelo, um novo universo
Renovo o discurso
Refaço o verso.
segunda-feira, 2 de março de 2009
DESENHO DE GIZ
Era um desenho de giz tão bonito, alegre, colorido... que, quem o via não pensava em o apagar e até mesmo as crianças ficavam encantadas e, em outra calçada, iam brincar.
Mas a chuva, que de nada se compadece, veio e borrou minhas esperanças, levando embora na enxurrada o desenho de giz, desfeito em água...
E minhas lágrimas foram tantas que competiram com a chuva...
domingo, 1 de março de 2009
SERENATA SELVAGEM
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-ÁRIA DE CARNAVAL
Em verde cidade, em verdes anos, bailam foliões ao som de antigas marchinhas.
Belos carnavais de outrora!
Dentro e fora dos salões, a mascarada se anima. Afinal, é carnaval, é pierrot, é serpentina! Fantásticas cores, leves balanços.
Ao longe passam arlequins e colombinas, travando inocentes guerras de confetes, enchendo a rua de pontos coloridos, transformando as calçadas em adoráveis campos de batalhas.
Mas, também são verdes os olhos do ciúme, e observadores, na figura de Diana, se deleitam. Os tristes olhos que a deusa vigiam, guardam nos lábios palavras de queixas.
É a doce Ária1, adolescente ainda, que de deusa Diana se fantasia e do Olimpo desce para entre os mortais vir brincar, e nem percebe os tristes olhos frios, que de longe a vigiam, e feliz corre para seu novo par.
Tantos planos, tantos sonhos, para depois do carnaval. Por ora, só o baile é importante, a correria no salão é contagiante e todos esperam a aurora raiar!
Porém, eis que os acordes mágicos de um violino interrompem a brincadeira e os foliões, embevecidos, param, ao ouvirem a canção.
É Ária, que em seu violino toca uma valsa - talvez um presságio! ''Subindo ao Céu'', ela toca, quando um tiro é disparado!
O amor e harmonia que a melodia espalhava, são logo substituídos por confusão e espanto! E o baile, antes tão colorido, cinza torna-se!
Ária cai com o violino, deixando no ar os últimos acordes; de vermelho vivo se tinge o vestido e a tristeza, com seu manto, a todos envolve.
O novo par de Diana, na figura de um caçador, a arma dispara; na luta que trava com o oponente sofredor.
O tiro mortal a disputa encerra, pois a causa, jaz, estendida no chão!
Agitam-se os foliões e o leve corpo carregam, formando estranho cortejo!
A partitura fora rasgada, para sempre, calou-se a cantiga. Não é a deusa Diana, ''a caçadora'' quem nos braços carregam, mas sim, a doce Ária já sem vida!
Do livro MORONETÁ-Crônicas Manauaras; Virgínia Allan, Editora Valer
domingo, 22 de fevereiro de 2009
EM TEMPOS DE CARNAVAL, VAI, ME TOCA UM BLUES...
..
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-E O ASSUNTO AGORA É CARNAVAL?
Então Clarice, o assunto agora é Carnaval? Bela lembrança...! Pena que eu não guarde nenhuma em especial dos carnavais passados, nenhuma tão delicada quanto a tua, dessa época da infância. Abro e fecho as gavetas da memória, reviro-as e nada encontro de relevante. Estudava em colégio de freiras e o Carnaval para nós era um tempo de recolhimento e oração. Entediava-me e ficava torcendo em agonia para que logo chegasse “a quarta-feira ingrata”, a quarta-feira de cinzas, quando tudo então chegava ao fim. Na quarta-feira tudo se aquietava tudo se acalmava, até a natureza, tudo se recolhia em descanso, num silêncio respeitoso. Respeito a quê? A morte da “alegria”, que era preciso acabar para que tudo voltasse ao normal. Recordo-me ainda desses dias de festas, e das vezes em que víamos alguma coisa, como os blocos de sujo, passando em plena algazarra por dentro das ruas do bairro, jogando para todos os lados confetes e serpentinas. Achava linda a chuva de confetes e as serpentinas atiradas a esmo, eram como que laços que prendiam o expectador ao folião, unidos na mesma alegria nem tão barata assim. Lança-perfumes, já por esse tempo; usava-se muito pouco devido a proibição, mas os confetes coloridos que enfeitavam as ruas e calçadas, uma vez lançados eram re-reunidos em pequenos montes e lançados com euforia pela criançada, sucedendo o mesmo às serpentinas que ficavam dependuradas em fios ou galhos de árvores, balançando ao sopro do vento, como que pedindo para serem puxadas de onde estavam enroladas novamente e atiradas a uma longa distância até por fim acabar sua curta existência. Aos bailes infantis também nunca fui e fantasias só aquelas que eu vestia em minha imaginação. Ai, Clarice em meu tempo de menina fui sedenta como tu e nessa sede insensata absorvia a energia estranha e poética que saia da vida dos outros, pois, para mim só havia a alegria dos outros (uma alegria, aliás, que eu pouco entendia) e as máscaras não me metiam medo... o que eram máscaras de brinquedo diante das máscaras que realmente recobrem nossos rostos? Aprendi muito cedo a distingui-las. Aprendi muito cedo que as pessoas e seus mistérios, encantam e desencantam, as pessoas e seus mistérios fizeram dar-me conta do meu próprio mistério que de tão escondido era insuspeito em mim. Por muitos anos Clarice, não tive em casa ninguém doente, como tiveste tu em teus dias de infância, mas mesmo assim não pulávamos Carnaval (quero dizer nós, as meninas) entretanto, meus irmãos, os dois maiores, rapazolas, corriam soltos participando de tudo quanto era jeito. Liberdade não lhes faltava nunca; fosse Carnaval ou não, mas eu não lhes tinha inveja. Tinha meu próprio mundo. Usei uma vez um vestido de papel crepom e se não me falha a memória, não foi para um baile de carnaval, mas sim para uma festa junina. Não me lembro direito do modelo, só me lembro que era vermelho. O papel me deixou toda manchada, porém nada que um bom banho não resolvesse. Tu, Clarice, te preocupavas com a tua fantasia de papel que podia desfazer-se caso uma chuva viesse a cair e eu só me preocupava com o vestido, justamente, por ser ele de papel e que podia rasgar por qualquer motivo e a qualquer momento. Eu não pensava na vergonha que sentiria se tal coisa acontecesse, eu me preocupava era com a fragilidade e a feiúra do vestido. Bem, querida, em teu recordar tinhas apenas oito anos, eu, no meu repensar, era um pouco mais velha e talvez por isso mais vaidosa; sentindo em mim, aflorarem os primeiros anseios de menina-moça, e sem saber o que fazer, não me reconhecia, era como que outra pessoa abrindo caminho à força por dentro de meu ser. Para mim Clarice, os Carnavais, até hoje, são “melancólicos”, quem sabe, seja assim por me lembrarem coisas que não vivi, e talvez tivesse gostado de viver e sobre as manhãs de Carnaval; na azáfama dos preparativos, tenho pra te dizer que um dia de travessura infantil e puro devaneio, um dia de manhã bem cedo, sai desfilando minha fantasia, minha fantasia de “louca varrida”, de sonhadora incorrigível, mas, ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Desfilei avenida abaixo, sem carro alegórico ou comissão de frente e para os quatro cantos, gritei minha poesia. Ninguém me jogou confetes. Ninguém me aplaudiu. Ainda era muito cedo e todos dormiam. Ninguém me ouviu. Em plena avenida, despi-me da fantasia, ficando completamente nua. Não era mais uma “louca varrida”, nem uma sonhadora incorrigível, era somente eu mesma menina-flor-mulher, em flagrante desabrochar, cândida, fresca e frágil... Ninguém me viu. Ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Mas posso te dizer Clarice, que a minha poesia ficou gravada na memória daquela manhã de carnaval. Das coisas que já me aconteceram, houve sempre o melhor e o pior, mas eu não acredito que o destino seja um jogo de dados irracional, não acredito nem sequer que nossa vida seja um jogo de qualquer espécie, porém, impiedosa, muitas vezes ela é, e certos fatos que nos sucedem são mesmo difíceis de superar ou sequer compreender e sinto que algo morreu em mim antes mesmo d’eu começar a viver, eu já nasci desencantada. Não quero com essa frase parecer trágica, mas é assim que me sinto. Quando alguma alegria tenta se instalar, lembro-me de todas as coisas ruins que me aconteceram e o que acontece aos outros cotidianamente e isso lança sombras escuras sobre o meu contentamento. E a alegria dos outros sempre me apavora, embora seja esta alegria compreensível e desejável, tanto para eles quanto para mim. Deve ser algum boicote, alguma sabotagem que faço a mim mesma, uma, um muro invisível que ergui para me impedir de ver ou sentir a luz do sol. Eu sou Clarice, uma rosa que ama o sol, mas que ao mesmo tempo teme o seu brilho. Ergo-me sobre este muro, esta barreira invisível e desafio a infelicidade que de forma irônica zomba de mim. Mesmo assim tento manter-me firme acima do muro, até um dia ter coragem de ir mais além. O sol amigo me diz que este muro inexistente deve sumir para sempre, pois não há felicidade sem tristeza ou vice versa. Ninguém é sempre alegre ou sempre triste, deve ser um meio-termo, algo assim entre os dois. Eu sou Clarice, hoje, uma rosa-mulher solitária ao pé de um muro invisível que há muito deixou de ser menina e que quando perdida em seus receios, se sente uma palhaça pensativa de lábios vermelhos, querendo então que algo surpreendente aconteça e de que tudo não seja apenas um sonho ou uma delirante fantasia, algo surpreendente, que traga consigo a centelha iluminada da verdade e que de repente me devolva a menina que fui um dia, menina com cheiro de rosa, com perfume e encanto de mulher.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MANHÃ DE CARNAVAL
MANHÃ DE CARNAVAL
Desfilei avenida abaixo, sem carro alegórico ou comissão de frente e; para os quatro cantos, gritei minha poesia.
Ninguém me jogou confetes. Ninguém me aplaudiu. Ainda era muito cedo e todos dormiam. Ninguém me ouviu.
Em plena avenida, despi-me da fantasia, ficando completamente nu. Ninguém me viu. Ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Mas, a minha poesia ficou gravada na memória daquela manhã de carnaval.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
DEUS É MAIS FORTE
“Ai, ai.. que árvore forte”... disse Ibotity ...“é tão forte que quebrou minha perna”.
“Que nada, menino”... disse a árvore... mais forte do que eu é o vento, que sopra sem cessar. Deixa estar”.
Porém, o vento ouviu o que a árvore disse e, rapidamente, respondeu que mais forte do que ele era a colina que o podia parar. Então, Ibotity acreditou que a força estava na colina, uma vez que podia deter o vento que derrubara a árvore que tinha quebrado sua perna.
“Não, nada disso...” disse a colina e pôs-se a explicar como o rato era mais forte, uma vez que podia esburacá-la.
“Ah, mas eu posso ser pego e morto pelo gato”, protestou o rato. Ibotity imaginou que a força estava no gato...
“O quê? Um exagero”... disse o gato que reclamou que podia ser apanhado por uma corda.
“A corda...” pensou Ibotity... “deve ser a coisa mais forte que existe”. Mas, a corda foi logo se queixando que podia ser partida pelo ferro... portanto, o ferro era muito mais forte. O ferro ouviu e negou tal afirmação, pois ele podia ser derretido pelo fogo. Ibotity chegou a conclusão de que o fogo era poderoso, o mais forte de todos, já que derretia o ferro, que partia a corda, que prendia o gato, que caçava o rato, que esburacava a colina, que parava o vento, que fazia tremer a árvore que quebrara a sua perna. Mas o fogo contestou dizendo que a água era mais forte. A água, por sua vez disse que era a canoa que por ela deslizava mansamente. A canoa negou e disse que mais forte era a rocha, que disse, enfim, que mais forte ainda era o homem, entretanto este afirmou que, na verdade, mais forte do que ele, era o mago que passava sem nenhum dano pela prova do veneno, que era um teste de Deus. Assim, Ibotity se convenceu que Deus era mais forte que tudo, já que ele punha a prova o mago, que dominava o homem que quebrava a rocha, que derrotava a canoa, que sulcava a água, que apagava o fogo, que derretia o ferro, que partia a corda, que prendia o gato, que matava o rato, que esburacava a colina, que parava o vento, que partira a árvore que havia quebrado a sua perna...
O CAVALO MAGICO e outros contos do Oriente para crianças do Ocidente; Edições Dervish
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
ROCK, A MÚSICA QUE TOCA
domingo, 15 de fevereiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-EGOTRIP
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
CHUCK, CHUK...
CHUCK, CHUCK...
Chuck queria ser famoso
Chuck queria ganhar o mundo
Pegou a guitarra no quarto
E pela fresta estreita da porta
Deu uma espiada lá fora...
Nossa, que desassossego
Nossa, que confusão, mas, aí, meu irmão
Chuck aproveitou a ocasião
Tirou um riff de sua guitarra
E o mundo endoidou desde então
Chuck tocou e cantou um blues invocado
E deu asas ao diabo
Num instante, Chuck, voou
Virou o pai do rock ‘n’ roll
E tocando a guitarra adoidado
Chuck comprou um carro
Comprou uma mansão
E com os trocados que sobraram
Comprou um avião
Chuck ficou famoso
Era dono do mundo
Tinha muitas garotas
Uma diferente pra cada dia
Virava a noite perdia o dia
E fazia o que queria
Mas fama garotas e grana
Não consolaram sua solidão
E as noites silenciosas
Doíam-lhe no coração
Chuck era famoso
Era dono do mundo
Mas agora que tinha tudo
Só a guitarra lhe bastava
O mundo lá fora o esperava
Chuck, porém, nem ligava
Chuck sorriu
Chuck chorou
Chuck bebeu
Chuck fumou
Chuck bateu
Chuck apanhou
Chuck pensou que fosse fácil
Mas perdeu a hora
Pensou que fosse tarde
Ainda dava tempo de ir embora?
Chuck pegou a guitarra no quarto
E largou sua mansão
Chuck vendeu o carro
E tomou o avião
Voou de volta para casa
Despido de ilusão
Chuck era famoso
Era dono do mundo
Mas tudo o que queria agora
Era chegar em casa
E espiar a vida lá fora
Pela fresta estreita da porta
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MAIS QUE UM DIA NUBLADO...
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESPEDIDA
Havia flores espalhadas pelo chão
O portão, velho e enferrujado, pendia de lado
Evidente era o abandono
Evidente era a solidão
Desconfiado, o vizinho olhava-me, de soslaio
Mesmo assim, inclinou a cabeça, em singela saudação
Continuei minha inspeção...
Dentro da casa tudo estava como antes
Faltava apenas o calor humano a recepcionar o visitante
Ninguém...
Havia uma saudade impregnada nas paredes
De onde agora pendiam somente quadros
Flores ressequidas nos pequenos vasos e uma velha cortina
a balouçar ao vento
Embora triste, precisava vir me despedir
O passado ainda era ferida aberta, doída, no coração
Mas evidente era o abandono
Evidente era a solidão
Assustou-me a aparente calma
E o negro buraco percebido a tempo
Vozes, do nada, me assaltaram
Sai abruptamente...
Apressada, pisei as flores
Quase pus abaixo o portão...
Mandei um aceno mecânico para o vizinho que me olhara de soslaio
Fui embora pra não mais voltar...
Parei de chorar...
O tempo passa e com ele nossos desenganos
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
CONVITE
conversemos, meu querido, frente a frente
em silêncio, de alma para alma; de coração para coração
Carrego comigo minhas grandes tristezas
e também as pequenas alegrias
Dividi-las-ei contigo, meu único e caríssimo amigo
Suaves hoje são meus pensamentos
Distantes estão agora todas as agonias
Sentemo-nos aqui, debaixo do céu que é nosso teto
e olhemos juntos, a lua que nos sorri
Ouve... ela murmura-nos um segredo e nos convida
a dançar
É o começo de tudo
Nossos pés se movem num ritmo lento
Tu me sorris e olhamo-nos, outra vez, em silêncio, frente a frente
olho no olho... Reconhecemo-nos enfim...
Somos ambos, meu querido, filhos da mesma estrela
Somos ambos, meu amigo, filhos do sol
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-INVERNOS ENTRE VERÕES
Tenho vivido tantos invernos
mesmo em meio aos verões que já nem estranho...
Uma saudade de um raio de sol me invade
Um pai leva com cuidado a filha ao colo
Sorriso suave estampado no rosto onde o sol se derrama
em mornas caricias... Fios de cabelos de anjo solto ao vento
de uma cálida, límpida manhã
Fui feliz assim, um dia, nessa constância de uma vida in - comum
Sopram agora outros ventos
Sussurram agora em meus ouvidos outras doces, monótonas cantigas
E antigas vertigens retornam aos meus dias
Invisíveis tormentos me acalentam os sentimentos
Fogo brando que nunca se apaga...
Revolvo minha alma nessa estranha saudade
de tempo idos, que não mais voltam
Dói-me o peito
Brota a mágoa
Invernos de solidão em meio a verões de silêncios
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
PETICIÓN DE UN FALCON
Abd Al-Aziz Ben Al-Qabturnuh (fallecido después de 1126)
Traducion: Emilio Garcia Gomez
¡Oh rey, cuyos padres fueron altaneros y del más egregio rango! Tú, que adornaste mi cuello con el collar de tus favores, grandes como perlas y engarzados como las perlas en el hilo, adorna ahora mi mano con un halcón.
Hónrame con uno de límpidas alas, cuyo plumaje se haya combado por el viento del Norte. ¡Con qué orgullo saldré con él al alba, jugando mi mano con el viento, para apresar lo libre con lo encadenado!
PEDIDO POR UM FALCAO
Abd Al-Aziz Ben Al-Qabturnuh (fallecido después de 1126)
Tradução: Virgínia Allan
Oh rei, cujos magníficos pais pertenceram a mais antiga linhagem! Tu, que enfeitaste meu colo com o colar de teus favores, grandes como pérolas encadeadas em um colar enfeita agora minha mão com um falcão .
Honra-me com uma de suas límpidas asas, em que a plumagem tenha sido vergada pelo vento Norte. Com que orgulho com ele sairei ao alvorecer. Minha mão ao vento, a balouçar pára, juntos, a liberdade fazer de presa
sábado, 24 de janeiro de 2009
SEM...
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
15 MINUTOS
A carapuça que nos cabe...
“Não sou nada
Eu nunca serei nada
Aparte isso tenho em mim
todos os sonhos do mundo” (F. P)
E eles estão à venda... quem dá mais?
Vende-se ou troca-se sonhos
Por uma parcela ínfima de encanto
Um afago no ego e no reconhecimento, um brinde em taça de cristal
ao engano e ao talento
Vende-se ou troca-se sonhos
Por um momento de glória e descanso
Na fútil cama da fama, entre lençóis de cetim e colchas de seda
Um instante de descanso sem pensar em grana, por um tempo de fartura
Por um bafejo de esperança
Vende-se ou troca-se sonhos
Por moedinhas de cobre dourado
Um mísero cachê contado ou mesmo ainda uma bolsinha de couro remendado
Venha apreciar, por favor, o meu trabalho
Veja como faço bem a minha arte
Mereço ou não uma consideração?
Por favor, um pouco de atenção...
Continuarei “artista” apesar de tudo...
Adverso ou não aos prós e contras
Tenho direito aos meus 15 minutos
Estou à venda e não discuto
Aceito a esmola atirada no chapéu da mendicância
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-APENAS UM DETALHE
Ainda dando asas ao meu melancólico estado de desencanto (me aguentem mais um pouco...) darei um exemplo de como somos tolos, ao deixar-nos levar pelo desânimo. Faço isto mais como um exercício... quem sabe me ajudando, me confessando, acabe, por fim a ajudar alguém? Espero que pro bem... Um tempo atrás, um pequeno acidente tomou para mim a proporção de um desastre gigantesco... uma coisinha de nada, de repente, virou um dragão, um bicho de sete –cabeças. Nós, “humanos”, temos essa mania besta de transformar tudo em algo medonhamente gigantesco, dramático e o pior, sem saída... Bom, não sei o que aconteceu, só sei que meu leitor de CD do meu notebook não funciona mais, apesar de, aparentemente, o programa não apresentar nenhum problema e o PC ser novo, nem um ano de uso... Não seria nada demais se as músicas que tinha gravado no computador, um vasto e variado repertório, simplesmente também não houvessem desaparecido sem deixar vestígios. Lá se foram os meus blues na voz do velho Big Bill Broonzy e alguns outros bluesmen de responsa... Na verdade, ter perdido as músicas foi somente um detalhe, um detalhe muiiiiiiiiiito chato, mas é claro que não estou chateada só por causa disso... Recomeçar, seja com o que for ou de que jeito for, é a nossa missão de todo dia, mas levando-se em conta tempo, satisfação e amor pelo que já estava em andamento, recomeçar é uma chateação, além de requerer coragem, esforço, determinação e paciência qualidades, que até tenho, e falo isso sem falsa modéstia, mas, não estou animada para nada, estou numa fase de plena insatisfação e olha que estou falando de um “probleminha”... Caso a se pensar... se estou agindo assim agora, o que será que farei diante dos “grandes problemas” ou direi, dilemas que a vida sempre nos apresenta? Não sei... ou melhor, eu sei, tenho umas regras as quais recorro quando me encontro nesse estado de espírito, regras preciosas que, aliás, já deveria ter assimilado e usado quase que por instinto. Em minha displicência, é fato notório de que talvez esteja de “mal a pior” comigo mesma. Isso me faz lembrar de um episódio de COLD CASE, uma de minhas séries prediletas, em que um psicopata colecionador assassino pegava suas vitimas, sempre mulheres, e as trancava em um quarto escuro.Todas estas mulheres, suas vitimas, tinham um motivo especial para viver, motivos estes que, em sua mente doente, justificava o seu crime: Uma tinha um lindo bebê, a outra uma voz maravilhosa com a qual louvava ao Senhor e a outra, um amor de verdade, daqueles que são pra vida toda, na alegria e na tristeza. O prazer do colecionador psicopata, e assim era o seu método de matar, era justamente tirar dessas mulheres a vontade de viver, tirar delas a fé, a esperança, até o ponto que nem o motivo que, antes, as mantinha presa a vida tivesse mais a menor importância. Em relação a elas, levá-las a desistência era o seu maior e principal objetivo. Sua primeira vítima morreu afogada em um poço, quando ele, adolescente ainda, ao passear pela floresta, ouviu pedidos de socorro e foi então que, recusando-se em ajudar, deparou-se com a cena que ele julgou a mais insólita, a mais linda, a mais sublime que já havia visto: Alguém, por total falta de esperança, por decepção, desistindo de viver. Ele ficou lá, à beira do poço, apenas ouvindo e observando, e em vez de ajudar, cuspiu na água, olhando fixamente nos olhos da moça, esboçando no rosto juvenil um sorriso sutil e feliz. Suas duas outras vítimas tiveram a mesma reação. A mãe se esqueceu do seu filho; a moça devota se esqueceu de seu Deus e, mesmo com todas as saídas, de forma proposital, facilitadas (não seria impedida se quisesse fugir) ainda assim; ela aquiesceu, e, deixou-se morrer, mas, a moça que encontrou seu amor verdadeiro todo dia recomeçava, na escuridão da cela úmida e infecta, ao som do badalo de um sino que todo dia, às mesmas horas, tocava o refrão de uma canção. Para não morrer de tristeza naquele lugar, a moça se agarrou a poesia desses instantes breves e mágicos, repletos de luz; ao soar do sino ela sabia exatamente o dia e a hora em que estava e acompanhava o badalo com sua voz fraquinha, baixinha, quase um murmúrio... Ela não se perdeu, nem esqueceu o seu amor... encheu de luz a escuridão e todo dia recordava a si mesma, todo dia recomeçava nem que fosse na solidão agonizante de uma espera longa e mortal. Hummmmm! Depois de ler o que escrevi, eu deveria me “tocar”... não? Recomece minha senhora, recomece já de onde e do jeito em que está... é tempo ainda... E, cá entre nós, tens muitos motivos, não citarei cada um, para continuares viva. Enche de luz a escuridão e recomeças a contar a tua própria história; nem que sejas tu mesma, a única ouvinte.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESENCANTO
Desencanto... hoje sou, estou puro desencanto... desencantado com tudo... com o meu futuro, o futuro do mundo... A causa disso deve ser o tempo... chuvoso e sempre apressado... não encontro um jeito de fazê-lo ficar ao meu lado... corro com ele, contra ele, mas nunca ao seu lado... Mas isso são coisas de gente que desencantou; quem desencanta desperta para outra realidade, talvez, desencantado, abra os olhos para a verdadeira realidade da vida. Não temos chance com aqueles que estão surdos, mudos, cegos... “Em terra de cego quem tem olho é rei? É, certamente, mas com poucas chances de exercer o seu poder de modo eficiente... Conheço alguns reis que nunca tem suas ordens acatadas, pois os cegos além de cegos, são surdos, ou melhor, ouvem o que querem e quando querem, sendo também poucas vezes mudos, falam quando deveriam calar... Acho que esta minha apreciação faça jus a mim... deveria estar agora de boca fechada, vedado os pensamentos, predisposto a inação... deveria eu simplesmente estar quieto no meu canto, curtindo a minha solidão, o mau tempo e o meu mau-humor... mas, infelizmente para uns e felizmente para mim, enxergo, ouço e falo bem demais e me recuso a deixar passar tudo em brancas nuvens...
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
SEGREDOS QUE PERMEIAM A NOSSA IGNORÂNCIA
Clarice Lispector
Há muitos segredos, Clarice, que permeiam a minha, a nossa, ignorância, que, por vezes, a sinto de forma por demais brutal. Ignorância cheira sempre a omissão, tens razão, é obvia a sensação de mal-estar, de ignorância... enfim, é mesmo uma horrível sensação. E, se cresce, como a escuridão, até se tornar palpável, como dizes, chega a ser uma ofensa descomunal, sem tamanho... a ignorância que nos é imposta (e aceita por nós) é propositalmente sustentada por aqueles que deveriam nos abrir os olhos e a mente, realmente é uma ofensa impar, imperdoável a qualquer um de nós enquanto seres pensantes. Ainda estamos como na Idade Média, pois o que me ofende mesmo é o descaso com que somos tratados cotidianamente. Somos patos, bobocas, prato cheio para políticos mau-intencionados que nos roubam no maior cinismo e disfarçam tudo com discursos floreados, distorcidos, de suas pretensas boa vontade inexistentes. E nós sem entendermos nada, porque sempre somos "vítimas" e até parecemos gostar dessa posição... pobre de nós, pobre povo... sempre vítima das situações. O que nunca entendemos, é que nós, como povo, temos poder, mas sempre intimidados, deixamos de usá-lo. O povo é roubado, espoliado sempre em sua própria época, seja lá em que espaço de tempo for. Coitado do povo. Porém, entenderia o povo se soubesse que é tão poderoso? O que falta ao povo... discernimento? Será que essa ignorância precisa ser permanente... precisa perdurar para sempre... por que não termos um povo sábio, ciente e condutor de seu próprio destino? Será que isto nunca será possível? Será que os segredos físicos e psíquicos, o sumo bem, estão velados ao povo?... bom... há um ditado que diz “que toda maioria é burra”... Será? Nos tratam como crianças tolas, incultas, nada modestas com a alegria, embevecidas, comovidas, com a piedade e os “cuidados” de quem nos humilha, e o fio de esperança realizáveis, quase invisível, que por Deus nos é estendido, não por piedade, mas, por nos ser de direito, este fio de esperança, dádiva divina, matéria do qual são feitos os sonhos, passa por nós “quase” desapercebido... “quase” nunca é visto.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
MAIS QUE FÁBULA, VIDA REAL...
Era uma vez, não faz muito tempo, certo edifício infestado por ratos. Os administradores deste decidiram por bem exterminá-los, então, certa noite espalharam raticida de cima abaixo da construção, porém, na manhã seguinte o veneno tinha desaparecido, os ratos o haviam comido. “Trocaremos o veneno”, disseram os administradores e fizeram nova tentativa. Mas, também esta segunda dose mortal, foi gulosamente ingerida pelos ratos, que, ainda deram mostras de que muito haviam aproveitado a nova dieta.
Decidiram-se recorrer às velhas ratoeiras e para tentar aos ratos imunes a veneno, utilizaram como isca, suculentos pedaços de queijo. Entretanto, os ratos nem tocaram o queijo. Foi aí, que, um dos administradores, pensou: “Talvez os ratos tenham desenvolvido gosto pelo veneno, talvez lhes faça bem”. Assim supondo, comunicou aos outros e armaram um plano, que foi posto em execução na mesma noite: colocaram nas ratoeiras, queijo polvilhado com veneno. Na manhã seguinte, as ratoeiras estavam cheias de ratos fortes e saudáveis.
Desta história, pode-se extrair toda sorte de moral e ensinamentos, mas, a citamos aqui, por ser absolutamente verídica ou pensa você que as fábulas são meros produtos da imaginação, tolas fantasias, destinadas somente a divertir ou instruir? As melhores fábulas se extraem da vida real, da própria comunidade e dos processos mentais do individuo.
De uma notícia impressa no Daily Mail, Londres, 2 de Dezembro de 1967, pág. 9, col. 3... coletada por Idries Shah e posta como nota introdutória de seu livro REFLEXIONES, Edições PAIDOS.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
AFORISMOS
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
NOTA DISSONANTE
No céu do Oriente, há tempos não brilha a luz da estrela de Belém. Ela foi empanada por outra espécie de brilho, certamente menos belo, menos amável, menos intenso... porém, certeiro, rápido e mortal. Hoje, o que brilha no céu do Oriente, não são os foguetes de festas, nem de felicidades, e a fumaça que sobe não é um sinal de paz... O brilho, no céu do Oriente, é traiçoeiro, medonho e voraz. Ultimamente, as crianças palestinas tem sofrido bastante... elas estão levando a pior... pais assustados, desesperados... famílias inteiras, há anos, raramente escapam dos bombardeios lançados ou do brilho de ódio que percebem nos olhos do estranho que mora ao lado; ódio acumulado, tanto de um lado quanto de outro, por décadas e décadas de uma guerra interminável. Acontece agora tal e qual aconteceu outrora, em tempos remotos, quando Jesus e sua família fugiam da ira assassina dos soldados romanos; a história se repete do mesmo modo, brutal e cruel, mas neste cenário atual, nos dois lados, não há reis magos, nem José e Maria, há apenas meninos Jesus assassinados, homens e mulheres, seres humanos massacrados, desamparados, que recebem de presente do mundo calado porções de mísseis, fuzis, bombas, mártires suicidas e granadas de indiferença; indiferença que campeia triunfante por entre os homens errantes desta terra, que exercem em seus domínios, em puro delírio, egoístico poder... infelizmente, parece não haver solução... irredutiveis sãos os dogmas, as ideologias apregoadas, o ensinamento religioso deturpado... A Jihad islâmica, certamente continuará, Israel resitirá e será assim, até a destruição total... até o fim dos dias... Tomara que não... Estamos todos a espera de um milagre e não do Juízo Final...
Cantilena do Corvo
EE-SE BLUE HAVEN
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Uma rosa foi abruptamente arrancada de meu jardim. Era uma linda rosa de cintilante cor vermelha e suave perfume; uma rosa muito espec...