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terça-feira, 19 de setembro de 2023

Dylan Thomas: Dois Poemas



1. No meu ofício ou arte sombria

(do livro Deaths and entrances, 1946)

Tradução: Gilmar Leal Santos


No meu ofício ou arte sombria

Exercida na calada da noite

Quando somente a lua se enfurece

E os amantes estiram-se na cama

Com todos os pesares em seus braços,

Eu trabalho sob uma luz que canta

Não por ambição ou pedaço de pão

Ou a ostentação e encantamento

Dos palcos de marfim

Mas pela pequena paga vinda

Do fundo de seus corações.


Não é para o homem orgulhoso despegado

Da lua furiosa que eu escrevo

Nestas páginas úmidas

Nem pelo monumental cânon morto

Com seus rouxinóis e salmos

Mas para os amantes, seus braços

Enlaçam as dores eternas,

Que não louvam ou remuneram

Nem dão atenção ao meu ofício ou arte.


2. Não entre sereno naquela noite boa que cai

(do livro In country sleep, 1952)


Não entre sereno naquela noite boa que cai,

A velhice deve arder e celebrar no limiar do dia;

Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai.


Os luminares sabem que ao fim, precisa, a treva recai,

Eles, suas frases não dividiram nenhum raio que luzia,

Não entram serenos naquela noite boa que cai.


Os bons, no último aceno, sofrendo pelo brilho que vai

Luzir de suas parcas ações a dançar na verde baía,

Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.


Os loucos, após colher e exaltar o sol em seu voo solais,

Aprenderam, tarde, que o magoaram nessa travessia,

Não entram serenos naquela noite boa que cai.


Homens soturnos, à morte, que veem feito débeis visuais

Olhos cegos podem brilhar como meteoros e ter euforia,

Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.


E você, desde lá da angustiante altura, meu pai,

Amaldiçoe-me, benza-me, com pranto feroz, eu pediria.

Não entre sereno naquela noite boa que cai.

Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai. 


***

Dylan Thomas nasceu em Swansea (País de Gales) em 1914 e morreu em Nova York (EUA) em 1953. Foi um dos poetas líricos mais influentes do século XX. Escreveu os livros de poemas Eighteen poems (1934) e The map of love (1939) e os contos de Retrato de um artista quando jovem cão (1940) e Adventures in the skin trade (1955). Além de poeta e dramaturgo, Thomas foi locutor de rádio da BBC entre 1937 e 1953. Esses programas e o modo de vida boêmio lhe renderam fama e notoriedade em sua época. 

                                            ***

Gilmar Leal Santos nasceu em Apucarana (PR) e vive em Maringá (PR). É poeta e tradutor. Publicou os livros de poesia Trapezista, Carmesim, Cartas poéticas e A Terra Árida — tradução do clássico poema The waste land, de T. S. Eliot. 

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

SÍNDROME DE VIRA-LATA


Complexo  ou Síndrome de  vira-lata é uma expressão e conceito criada por Nelson Rodrigues, dramaturgo e escritor brasileiro, que originalmente, referia- se ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. 

Para Rodrigues, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico:

“Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima. 

(Fonte: Wikipédia)


Ontem, li no blog da comunidade de um desses youtubers, ao comentar sobre o atentado ao Mingau, baixista do Ultraje a Rigor, (li fazendo vozinha e revirando os olhos): "O Brasil está cada vez mais violento e bizarro". O cara escreve isso, como se fosse apenas aqui, no Brasil, que ocorresse "violência" e "bizarrice"; um pensamento simplista, raso e completamente destituído de inteligência. Por acaso, as leis de Portugal, e outros países da Europa e América do Norte, que nem o Canadá, são melhores? Quer país mais bizarro, violento, com racismo estrutural de fato, que os Estados Unidos? E preciso dizer por quê? Não, né? Não preciso. 

Esses dias, um brasileiro, assassino, com duas mortes nas costas, condenado à prisão perpétua por feminicídio, fugiu da cadeia americana pelo teto; empreendeu a fuga, inspirado por um outro preso americano, que algum tempo antes, havía fugido também pelo teto, que mostrou-se um lugar acessível e fácil rota de fuga; porém, o americano foi logo recapturado, já o brasileiro, faz agora, mais de uma semana que está sendo caçado. Até o estão a chamar, aqui no Brasil, de "o novo Lázaro", vocês lembram do Lázaro? Sabem o porquê, então. Se o encontrarem, não será capturado vivo. Tenho quase certeza disso. 

Outra frase: "Não confio na Justiça Brasileira". Oras, é preciso ler, conhecer as leis, o Código Penal e a Constituição para poder entender. Se você não "confia", não concorda com certos resultados de julgamentos, se acha absurdas certas leis, faça por onde mudar ou ajudar a mudar isso. Basta votar nas eleições em canditados com propostas sérias, com programas sérios. Pessoas que duvidam de tudo no Brasil, que odeiam o seu país, são, no mínimo, pessoas com ideologias descabidas ou com simpatias pelos extremismos, seja de Direita ou de Esquerda. Para mudar um país, para mudar leis precisa-se de pessoas engajadas nas lutas por mudanças para melhor. Cansada de quem só senta e reclama. Se não gosta de alguma coisa, vá lá e mude… lute, grite, fale. Para mudar alguma coisa, precisamos de PESSOAS!


Pessoas saem do país para trabalhar em subempregos porque dizem que o Brasil não dá oportunidade. Os outros países dão? Se você não estudar, vai continuar em subemprego em qualquer lugar. As pessoas esquecem que 4 anos de desgoverno, quase acabou com o Brasil, mas os extremistas, continuam a bater palma pra maluco dançar. Gente que se queixa e vê defeitos no novo governo, é aquele tipo que acredita que a política só é boa quando somente lhe favorece. A maior parte dessas pessoas que se queixam do Brasil, são aquelas que não viram defeitos no governo passado e se agora, temos o feminicídio, mortes provocadas pela polícia e mortes de todo tipo, provocadas pelo tráfico, é porque em 4 anos, ninguém fez nada para a vida se sobrepor. Foram 4 anos de uma política de ódio mortal às minorias, aos mais fracos, aos mais vulneráveis. O que vivemos agora é um reflexo do ódio. Não, o amor não venceu. Ainda não venceu.






terça-feira, 5 de setembro de 2023

A FOLHA E O RIO


Foto by Bob Medina

Assim como a folha levada pelo rio, assim vai a minha dor, assim vai o meu amor... Vai, feito folha leve e velha que nem essa, para onde o rio levar...  A descansar nas margens ou quiçá, nas profundezas de uma vida imperfeita.

A folha, leve e velha surpreende o mundo por onde passa pela graça, beleza e estranheza com que se deixa levar, pacientemente, sem se queixar, para onde e como o rio quer, para onde e como o rio quiser.

Segue em silencio, sem queixa, a velha folha, para juntar-se a outras folhas, tão velhas quanto ela, contadoras de histórias, que sabem que, antes, precisam primeiro apodrecer para depois, voltar a viver...  A voltar, a prosseguir, a percorrer, a insistir em novos ciclos, outros caminhos.

A folha, em essência, se encontra presente em todos eles... Tal qual a água do rio que a levou para longe.

 


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

"ADEUS TAMBÉM FOI FEITO PRA SE DIZER"




Em nota breve, venho dizer que Dylan não resistiu a maldita cinomose. Morreu no sábado à noite e tudo foi muito triste assim como foi sua curta existência. Não houve chances. Eu ainda tenho 5 cães. Três cadelas e dois machos e 3 gatos fêmeas. Nem consigo imaginar minha vida sem eles, embora muitos dos gatos eu tenha perdido de vários modos pela minha vida afora. Minha relação com os gatos é mais complicada, mesmo amando-os muito, os cães, porém, ocupam um lugar especial em meu coração e se eles sofrem ou são maltratados, sofro com eles, amaldiçoando as almas condenadas que em vez de cuidá-los os fazem sofrer ao extremo.

Schopenhauer caminhando com seu poodle Atma”, feito pelo poeta e caricaturista alemão Wilhelm Busch.

Para o filósofo alemão Schopenhauer, grande amante dos cães, a dor seria o vínculo mais importante entre os humanos e os animais, aquele que os une como seres consoladores um do outro. 


A autora Olga Tokarczuk diz em seu livro Escrever é muito perigoso: “Para mim, é mais fácil suportar o sofrimento de um ser humano do que o sofrimento de um animal. O ser humano tem uma posição ontológica própria, elaborada e anunciada aos quatro ventos, e assim constitui uma espécie privilegiada. Tem cultura e religião para o apoiarem no sofrimento. Tem suas racionalizações e sublimações. Tem Deus que, enfim, o salvará. O sofrimento humano tem sentido. Para o animal, não há nem consolo nem alívio, porque não existe salvação que o espere. Não há sentido. O corpo do animal não lhe pertence. Ele não tem alma. O sofrimento do animal é absoluto, total. Se procurarmos vislumbrar esse estado com nossa capacidade humana de reflexão e compaixão, desvenda-se todo o horror do sofrimento animal e, em consequência, o terrível e insuportável horror do mundo” (2023, p. 39)." 

Dylan morreu no sábado e tivemos que chamar um crematório particular, dado que a Prefeitura não disponibiliza, mas deveria, esse tipo de atendimento, já que por ter morrido de cinomose, não se pode enterrar. Estou com saudades e sempre que penso nele, meus olhos se enchem de lágrimas, porque, de certa maneira, eu não sei o quanto ajudei, o quanto contribui em seu sofrer, pois ao pensarmos estar a fazer o bem, muitas vezes, fazemos é o mal. Não há mais muito o que eu tenha a dizer. Não é o primeiro cachorro que perco, mas, com cada um que se vai, um pouco da minha alma vai junto, são anjos na terra, eles guardam mundos em si, segredos e mistérios e se você quiser aprender mais da vida, tenha um cão e o trate com todo o amor no coração… é como dizia Kafka: "Todo o conhecimento, a totalidade das perguntas e respostas, se encontra nos cães”. 



Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...