Um corvo, um cobre

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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

EE-SE BLUE HAVEN


Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pai para mais um dia de trabalho. Jornada dura, de 10 horas por dia pra uma criança de 10 anos. 

Ahemed era um dos que trabalhavam na fábrica de armas dos revolucionários rebelados. Seguia ele com seu pai, cedinho pela manhã, caminhando pela semi-iluminada rua da cidade de Mooujir, uma das poucas jóias que ainda restavam da humanidade, comunidade cristã, onde ainda se podia ouvir a língua de Jesus, o aramaico, mas, cuja maioria da população, por apoiar o ditador Bayad al-Bayouth, sofria, por isso, graves retaliações. Mooujir, agora, está em mãos de rebeldes descontrolados, e atacaram o vilarejo do alto da montanha, em que estavam aquartelados. O vilarejo virou mais uma de suas bases. Não apenas Mooujir, sua população e seus tesouros estão semi-destruídos, todo o povo e todos os tesouros de Hus, que encerram em si, todo um patrimônio histórico-humano, estão sob o jugo ou soterrados pela ignorância e intolerância. 

Ee-se estava deixando Hus, para se acomodar em um dos acampamentos para os refugiados. Verdadeiras cidades, a aumentarem em tamanho e problemas. Mais de um terço da população de Hus, já deixou para trás seu pais, seu lugar, suas memórias. Vivem à mercê de improvisações e indagações, sujeitos a todo tipo de infortúnio, enquanto esperam... O sol já despontou de vez, ó, Osíris, tu que possuis tantos olhos, ao menos repousa sobre nós a tua calma, a tua paz, e ao lado de Ee-se, além de outros médicos, se encontram outras crianças, outros Ahemeds e Mohameds, Aminas, Semiras sem futuro, sem esperanças .. sem sonhos.. crianças de colo sem canções de ninar, crianças a crescer sem ouvir os conselhos das velhas historias. Tão triste conviver com o desencanto.

O governo de Bayad al-Bayouth, ainda sob as ameaças de Brack Ormul, finalmente concordou em entregar as armas químicas e o Conselho dos Anciões Permanentes conseguiu, enfim, concluir sua inspeção e relatório e agora todos sabem que tanto o governo frio, sem alma de Bayad al-Bayouth quanto os rebeldes revolucionários, atacam, maltratam, pressionam, chocam, sufocam, intimidam matam seu povo em nome de suas próprias convicções equivocadas. O único interesse tanto de um lado quanto de outro é tornar o povo servil, maleável e sem vontade, para que possam espoliar, escravizar e tomar para si os bens que possuem, os mais preciosos. São crápulas predadores, não libertadores ou mantenedores. 

As pessoas, em seu mundinho tão confortável e distante, nem imaginam, a dor de um êxodo forçado, com crianças doentes e feridas; mulheres a se lamentar de sua sorte e velhos inconformados, que, com toda razão, depois de longo tempo de vivência e trabalho, apenas queriam um descanso merecido. Ee-se pensa que existem coisas que é melhor você não ver; existem coisas que é melhor você não saber! Ee-se se recosta à janela do carro, à busca de um afago do sol ... às vezes pensa que não dá mesmo pra salvar o mundo, pensa assim no sentido figurado, claro... do seu lado, o escuro também se faz intenso e Ee-se pensa, pensa ... você se omite?! você se esconde? você encara?! dá a cara à tapa?! Tudo isso é muito lindo e admirável, mas, há os limites a saber e respeitar, quando o cansaço da luta renhida se apresentar e se fizer mais intenso, mas, Ee-se não é humana, é uma deusa que abriga em si todo principio da vida, da existência então, sabe que não pode parar, cansar ou descansar no esquecimento.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Dylan Thomas: Dois Poemas



1. No meu ofício ou arte sombria

(do livro Deaths and entrances, 1946)

Tradução: Gilmar Leal Santos


No meu ofício ou arte sombria

Exercida na calada da noite

Quando somente a lua se enfurece

E os amantes estiram-se na cama

Com todos os pesares em seus braços,

Eu trabalho sob uma luz que canta

Não por ambição ou pedaço de pão

Ou a ostentação e encantamento

Dos palcos de marfim

Mas pela pequena paga vinda

Do fundo de seus corações.


Não é para o homem orgulhoso despegado

Da lua furiosa que eu escrevo

Nestas páginas úmidas

Nem pelo monumental cânon morto

Com seus rouxinóis e salmos

Mas para os amantes, seus braços

Enlaçam as dores eternas,

Que não louvam ou remuneram

Nem dão atenção ao meu ofício ou arte.


2. Não entre sereno naquela noite boa que cai

(do livro In country sleep, 1952)


Não entre sereno naquela noite boa que cai,

A velhice deve arder e celebrar no limiar do dia;

Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai.


Os luminares sabem que ao fim, precisa, a treva recai,

Eles, suas frases não dividiram nenhum raio que luzia,

Não entram serenos naquela noite boa que cai.


Os bons, no último aceno, sofrendo pelo brilho que vai

Luzir de suas parcas ações a dançar na verde baía,

Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.


Os loucos, após colher e exaltar o sol em seu voo solais,

Aprenderam, tarde, que o magoaram nessa travessia,

Não entram serenos naquela noite boa que cai.


Homens soturnos, à morte, que veem feito débeis visuais

Olhos cegos podem brilhar como meteoros e ter euforia,

Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.


E você, desde lá da angustiante altura, meu pai,

Amaldiçoe-me, benza-me, com pranto feroz, eu pediria.

Não entre sereno naquela noite boa que cai.

Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai. 


***

Dylan Thomas nasceu em Swansea (País de Gales) em 1914 e morreu em Nova York (EUA) em 1953. Foi um dos poetas líricos mais influentes do século XX. Escreveu os livros de poemas Eighteen poems (1934) e The map of love (1939) e os contos de Retrato de um artista quando jovem cão (1940) e Adventures in the skin trade (1955). Além de poeta e dramaturgo, Thomas foi locutor de rádio da BBC entre 1937 e 1953. Esses programas e o modo de vida boêmio lhe renderam fama e notoriedade em sua época. 

                                            ***

Gilmar Leal Santos nasceu em Apucarana (PR) e vive em Maringá (PR). É poeta e tradutor. Publicou os livros de poesia Trapezista, Carmesim, Cartas poéticas e A Terra Árida — tradução do clássico poema The waste land, de T. S. Eliot. 

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

SÍNDROME DE VIRA-LATA


Complexo  ou Síndrome de  vira-lata é uma expressão e conceito criada por Nelson Rodrigues, dramaturgo e escritor brasileiro, que originalmente, referia- se ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. 

Para Rodrigues, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico:

“Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima. 

(Fonte: Wikipédia)


Ontem, li no blog da comunidade de um desses youtubers, ao comentar sobre o atentado ao Mingau, baixista do Ultraje a Rigor, (li fazendo vozinha e revirando os olhos): "O Brasil está cada vez mais violento e bizarro". O cara escreve isso, como se fosse apenas aqui, no Brasil, que ocorresse "violência" e "bizarrice"; um pensamento simplista, raso e completamente destituído de inteligência. Por acaso, as leis de Portugal, e outros países da Europa e América do Norte, que nem o Canadá, são melhores? Quer país mais bizarro, violento, com racismo estrutural de fato, que os Estados Unidos? E preciso dizer por quê? Não, né? Não preciso. 

Esses dias, um brasileiro, assassino, com duas mortes nas costas, condenado à prisão perpétua por feminicídio, fugiu da cadeia americana pelo teto; empreendeu a fuga, inspirado por um outro preso americano, que algum tempo antes, havía fugido também pelo teto, que mostrou-se um lugar acessível e fácil rota de fuga; porém, o americano foi logo recapturado, já o brasileiro, faz agora, mais de uma semana que está sendo caçado. Até o estão a chamar, aqui no Brasil, de "o novo Lázaro", vocês lembram do Lázaro? Sabem o porquê, então. Se o encontrarem, não será capturado vivo. Tenho quase certeza disso. 

Outra frase: "Não confio na Justiça Brasileira". Oras, é preciso ler, conhecer as leis, o Código Penal e a Constituição para poder entender. Se você não "confia", não concorda com certos resultados de julgamentos, se acha absurdas certas leis, faça por onde mudar ou ajudar a mudar isso. Basta votar nas eleições em canditados com propostas sérias, com programas sérios. Pessoas que duvidam de tudo no Brasil, que odeiam o seu país, são, no mínimo, pessoas com ideologias descabidas ou com simpatias pelos extremismos, seja de Direita ou de Esquerda. Para mudar um país, para mudar leis precisa-se de pessoas engajadas nas lutas por mudanças para melhor. Cansada de quem só senta e reclama. Se não gosta de alguma coisa, vá lá e mude… lute, grite, fale. Para mudar alguma coisa, precisamos de PESSOAS!


Pessoas saem do país para trabalhar em subempregos porque dizem que o Brasil não dá oportunidade. Os outros países dão? Se você não estudar, vai continuar em subemprego em qualquer lugar. As pessoas esquecem que 4 anos de desgoverno, quase acabou com o Brasil, mas os extremistas, continuam a bater palma pra maluco dançar. Gente que se queixa e vê defeitos no novo governo, é aquele tipo que acredita que a política só é boa quando somente lhe favorece. A maior parte dessas pessoas que se queixam do Brasil, são aquelas que não viram defeitos no governo passado e se agora, temos o feminicídio, mortes provocadas pela polícia e mortes de todo tipo, provocadas pelo tráfico, é porque em 4 anos, ninguém fez nada para a vida se sobrepor. Foram 4 anos de uma política de ódio mortal às minorias, aos mais fracos, aos mais vulneráveis. O que vivemos agora é um reflexo do ódio. Não, o amor não venceu. Ainda não venceu.






terça-feira, 5 de setembro de 2023

A FOLHA E O RIO


Foto by Bob Medina

Assim como a folha levada pelo rio, assim vai a minha dor, assim vai o meu amor... Vai, feito folha leve e velha que nem essa, para onde o rio levar...  A descansar nas margens ou quiçá, nas profundezas de uma vida imperfeita.

A folha, leve e velha surpreende o mundo por onde passa pela graça, beleza e estranheza com que se deixa levar, pacientemente, sem se queixar, para onde e como o rio quer, para onde e como o rio quiser.

Segue em silencio, sem queixa, a velha folha, para juntar-se a outras folhas, tão velhas quanto ela, contadoras de histórias, que sabem que, antes, precisam primeiro apodrecer para depois, voltar a viver...  A voltar, a prosseguir, a percorrer, a insistir em novos ciclos, outros caminhos.

A folha, em essência, se encontra presente em todos eles... Tal qual a água do rio que a levou para longe.

 


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

"ADEUS TAMBÉM FOI FEITO PRA SE DIZER"




Em nota breve, venho dizer que Dylan não resistiu a maldita cinomose. Morreu no sábado à noite e tudo foi muito triste assim como foi sua curta existência. Não houve chances. Eu ainda tenho 5 cães. Três cadelas e dois machos e 3 gatos fêmeas. Nem consigo imaginar minha vida sem eles, embora muitos dos gatos eu tenha perdido de vários modos pela minha vida afora. Minha relação com os gatos é mais complicada, mesmo amando-os muito, os cães, porém, ocupam um lugar especial em meu coração e se eles sofrem ou são maltratados, sofro com eles, amaldiçoando as almas condenadas que em vez de cuidá-los os fazem sofrer ao extremo.

Schopenhauer caminhando com seu poodle Atma”, feito pelo poeta e caricaturista alemão Wilhelm Busch.

Para o filósofo alemão Schopenhauer, grande amante dos cães, a dor seria o vínculo mais importante entre os humanos e os animais, aquele que os une como seres consoladores um do outro. 


A autora Olga Tokarczuk diz em seu livro Escrever é muito perigoso: “Para mim, é mais fácil suportar o sofrimento de um ser humano do que o sofrimento de um animal. O ser humano tem uma posição ontológica própria, elaborada e anunciada aos quatro ventos, e assim constitui uma espécie privilegiada. Tem cultura e religião para o apoiarem no sofrimento. Tem suas racionalizações e sublimações. Tem Deus que, enfim, o salvará. O sofrimento humano tem sentido. Para o animal, não há nem consolo nem alívio, porque não existe salvação que o espere. Não há sentido. O corpo do animal não lhe pertence. Ele não tem alma. O sofrimento do animal é absoluto, total. Se procurarmos vislumbrar esse estado com nossa capacidade humana de reflexão e compaixão, desvenda-se todo o horror do sofrimento animal e, em consequência, o terrível e insuportável horror do mundo” (2023, p. 39)." 

Dylan morreu no sábado e tivemos que chamar um crematório particular, dado que a Prefeitura não disponibiliza, mas deveria, esse tipo de atendimento, já que por ter morrido de cinomose, não se pode enterrar. Estou com saudades e sempre que penso nele, meus olhos se enchem de lágrimas, porque, de certa maneira, eu não sei o quanto ajudei, o quanto contribui em seu sofrer, pois ao pensarmos estar a fazer o bem, muitas vezes, fazemos é o mal. Não há mais muito o que eu tenha a dizer. Não é o primeiro cachorro que perco, mas, com cada um que se vai, um pouco da minha alma vai junto, são anjos na terra, eles guardam mundos em si, segredos e mistérios e se você quiser aprender mais da vida, tenha um cão e o trate com todo o amor no coração… é como dizia Kafka: "Todo o conhecimento, a totalidade das perguntas e respostas, se encontra nos cães”. 



quinta-feira, 31 de agosto de 2023

#PAREM DE NOS MATAR!



Eu não me conformo com pessoas que se acham donas das outras. Todo dia, um "homem" comete feminicídio e em muitos comentários sobre assassinatos de mulheres, vem os misóginos dizerem que a vítima procurou seu destino fatal ou que "teve o que mereceu". Isso é de uma desumanidade… todo dia assassinatos, espancamentos, cárceres privados, motivados pelos motivos mais banais, como ciúme, inveja ou "honra ferida de macho", matam as mulheres, matam seus filhos também e muitas vezes, os filhos são do próprio assassino. Mulheres fortes, lindíssimas, de todos os níveis sociais e profissões, com carreira, com sucesso, e mesmo as mais trabalhadoras, simples donas de casa, que tantas vezes, possuem vida independente e de repente se ligam ao sujeito mais abjeto, o mais vagabundo e cruel possível. Por que isso acontece? Não sei se são apenas problemas de carência como tantos dizem. Medo da solidão? Não sei também… por que se dedicar a relacionamentos ruins, apenas por medo de estar só? Os "homens" enganam, mas fingem tão mal… Temos que parar de fazer péssimas escolhas, não sei como, mas temos que tentar. 

Ao tentar se afastar de relacionamentos abusivos, essas mulheres se vêem acuadas, ameaçadas e mortas. A chacina na Bahia, é mais um desses exemplos terríveis, dessa cultura patriarcal e nojenta, de despersonalizar a figura feminina, sempre com o intuito de que a violência gerada contra ela é, e sempre será, culpa dela; apenas dela. 

A chacina na Bahia é só mais uma tragédia que vem se somar a tantas outras mais, do que um ser trevoso, com minhocas na cabeça, é capaz de engendrar só por imaginar que a namorada ainda se relacionava com o ex; pensem… isso é de uma estupidez sem limites; aí, munido dessa ideia superficial, subjetiva, incerta, o sujeito vai lá, todo cheio das armas, certezas e "machezas", na casa da companheira, ladeado por mais três marginais para matar um só, um seu igual, tão tosco e bruto quanto ele mesmo, atolados ambos, até o pescoço na mesma lama, e acabam matando quase toda a família inteira, culminando a tragédia, no atear fogo na casa e assassinando mais duas pessoas, que não tinham nada a ver com a situação, duas mulheres, claro, como "cereja do bolo" da barbárie cotidiana; duas mulheres corajosas, que resolveram ajudar uma das crianças que lhes fora bater à porta, já que a família da moça visada, naquele momento, era composta apenas por crianças e adolescentes, jovens entre os 12, 16, 18 anos e um bebê, de apenas 1 ano, que foi poupado.

A criança de 12 anos, que, a princípio, escondeu-se embaixo da cama, a fim de escapar da execução, foi a que fugiu, ao ver a casa com o fogo ateado. Com parte do corpo queimado, imaginem a dor, ele correu e foi pedir ajuda às vizinhas, lhes selando assim, sem intenção, o trágico fim. Poucas pessoas, no luģar dessas duas mulheres, teriam ajudado o garoto, posto que o preço a pagar, foi alto demais, e no fim, pra quê tudo isso meu Deus? A pessoa é movida por tanto ódio, que mesmo sabendo que ao fazer mal ao outro fará mal a si mesmo, prossegue nesta autodestruição. É tudo tão insano e incompreensível. 

PAREM DE NOS MATAR! Simplesmente, PAREM!

Não somos propriedades, não somos objetos, somos pessoas, com livre arbítrio, alma e coração. Há na brutalidade desses homens, o resquício da besta-fera, que ressurge toda vez que um deles se sente enganado, espoliado em sua essência… na verdade, um "homem" assim é amaldiçoado. 

Mulheres, parem de se iludir. Não há amor no ciúme, não há romance na relação forçada, no estupro, no espancamento, na profanação dos corpos femininos, no abuso psicológico, mas há inveja, desamor e muito desequilibrio mental por parte deles.

Lembram da história A BELA E A FERA? pois é… por ser um clássico, mas possuir inúmeras versões, faz com que você geralmente, comumente, pense em Bela, apenas como uma boa moça, que para proteger a família, arrisca-se a viver em um castelo abandonado à mercê de uma besta-fera, que no final da história, se redime diante do amor e da bondade passiva mostrada pela protagonista. Claro, podemos dar inúmeras interpretações para esse conto de fadas, desde a concepção mais ingênua até o terror básico e clássico de ver a história toda psicanalisada, passando por dramas familiares, que vão do Complexo de Electra, incesto, narcisismo, inveja e manipulação. 

Bela, em minha interpretação da história, vive uma relação abusiva tanto com a família quanto depois, com a Fera. A Fera a mantém prisioneira, sem poder nem visitar a família, subornando a moça, enquanto faz toda espécie de chantagens emocionais e sentimentais. 

Mas, não apenas a família de Bela ou a Fera, que tem problemas. Bela também os tem, uma vez que ela faz parte do círculo problemático, vicioso, defeituoso, tempestuoso. Penso que sua submissão proposital para com a Fera, algo tipo "Síndrome de Estocolmo"; o apego exagerado ao pai e a relação unilateral e "compreensiva" que mantém com as irmãs, faz de Bela não uma pessoa boa, mas sim, narcisista, superior e um pouco manipuladora, contudo, não má. É apenas uma pessoa em busca de si mesma e como pessoa humana, com defeitos, quem não os tem? Todo mundo tem, por isso mesmo, devemos aprender a identificar os homens problemáticos. Tarefa fácil não é, porém, impossível, também não. Saibamos também identificar os nossos próprios defeitos, porque, ao conhecermos nossas falhas, poderemos fazer, com suavidade e sabedoria, nossas próprias boas e produtivas escolhas, enquanto estamos a pavimentar a estrada de nosso destino. Ter um parceiro de vida é bom, porém não é tudo. Aprender a conviver com nós mesmos e com nossa solidão, nossos problemas ajudar-nos-á a seguir em frente, sem depender emocionalmente de tantos ogros, alguns disfarçados de príncipes, mas tendo em comum entre si, o fracasso como ser humano; seres fracassados, libidinosos, invejosos, dispostos a nos mandar pro inferno, seja sozinhas (a preferência deles) ou junto com eles.






 

domingo, 27 de agosto de 2023

O CORVO


Assisti ontem, ao filme O Corvo, na HBO, estrelado por John Cusack. A produção é de 2012, mas, só agora lembrei de ver, graças a uma postagem que vi no Facebook. Eu amo Edgar Allan Poe e leio e vejo tudo que lhe diz respeito. 

O filme trata dos últimos cinco dias da vida de Poe, em Baltimore, em meados do século XIX, em pleno período de eleições. Ninguém sabe o que aconteceu com Poe nesse meio tempo, pois foi encontrado praticamente desacordado, largado em um parque. Sozinho, sujo e completamente fora da realidade. Muitos acharam até que estava bêbado ou que estivesse sob efeito de outros tipos de drogas e há inclusive, a suspeita de que foi usado, sendo levado para votar várias vezes em diversos distritos. 

Bom… no filme, Poe, a essa altura, já viúvo, como sempre, está apaixonado perdidamente por uma bela mulher, de onde tira inspiração para seus poemas; no filme, é sugerido que o poema Annabel Lee foi dedicado a ela, a jovem branca e loira Emily Hamilton (Alice Eve), mas, claro, tudo é obra de ficção, Poe nunca teve essa namorada e o poema, provavelmente, foi escrito para sua jovem e finada esposa, Virgínia Clemm Poe. Enquanto vive essa paixão avassaladora, um assassino resolve recriar na vida real os contos assombrosos e sanguinolentos do mestre. Há uma corrida contra o tempo, quando Emily é sequestrada e em cinco dias, com a ajuda do chefe de Polícia, o detetive Emmett (Luke Evans), e sua equipe, Poe tenta descobrir quem é o autor de tantos crimes e o sequestro de sua amada. Um filme muito bom, com John Cusack, inteiro, na pele do maior escritor de todos os tempos.

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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Porquê eu sou... sincero?!


É cansativo esse pessoal que pratica o "sincericídio"; com a desculpa de ser sincero, verdadeiro, comete erros impensáveis como humilhações, racismo, ódio, confunde "alhos com bugalhos" em nome de uma verdade que só cabe a eles mesmos, à sua realidade distorcida e muitas vezes horrorosa. 

Eu já disse tantas vezes que sou sincera, pois existem os sinceros e os "sincericidas"; eu sou sincera mas a medida do possível, sincera até onde me manda o bom-senso, porque ser sincero não requer confissões despudoradas, de foro íntimo ou de conceitos e preconceitos que atingirão outras pessoas de forma malévola e ignorante. 

A era Bolsonaro, inaugurou esse tipo de "sinceridade" maligna, posto que ser sincero não requer falta de educação ou frases disparatadas sem a menor compostura. O "sincericida", traz à tona a maldade subjacente que há dentro dele e com isso se passa por "autêntico", quando simplesmente está mesmo é a ser um hipócrita, um sádico, distorcendo algum tipo de verdade (como se existisse apenas uma verdade, a dele, claro), ou algo do tipo verosimile; um hipócrita que usa de uma pseudo-verdade que, como já disse acima, só lhe diz respeito. Um "sincericida" é autodestrutivo e destruidor da ordem social pelo qual as pessoas se relacionam.

Hoje em dia, tenho pavor de quem se diz "sincero", "autêntico"; o "sincero", o "autêntico" ou o "sincericida", é, no fundo, um fascista, um bolsonarista, um extremista. É cruel sem a menor necessidade e gosta de ser assim. Sinceridade é uma faca de dois gumes; para se fazer uso da sinceridade, é preciso ter empatia, bondade, arcabouço moral. Um "sincero" atual, de nossos dias, é um alguém destituído de humanidade, um amoral, é um debilitado emocional que desconhece a ética. Deus me livre de "sincericídios"; "autenticidade", em nossos dias, não tem nada a ver com autenticidade, de fato. Prefiro concordar com Cazuza, quando dizia: "Mentiras sinceras me interessam"... sim, mentiras sinceras me interessam de verdade.



quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O Lagarto e a Aranha


 
Reflexões de Idries Shah

'Um lagarto e uma aranha se encontraram. O lagarto disse: 'O que você come?' e a aranha respondeu: 'Moscas.'

'Eu também', disse o lagarto, 'parece que somos companheiros adequados.'

Eles montaram casa juntos.

Uma noite, eles estavam caçando moscas. Um gato se aproximou. Um instante antes de se lançar sobre ele, o lagarto gritou para a aranha:

'Um gato vai me pegar, o que devo fazer?'

A aranha respondeu: 'Apenas teça um pouco de teia e escape para este pequeno buraco onde estou.'

Enquanto o lagarto tentava entender isso, o gato o pegou.'



VAN GOGH'S ROOM



Foto_Krzysztof Buchowicz, Poland

VAN GOGH'S ROOM

O quarto solitário, pobre, desfeito
Não é triste, nem sombrio
Sequer vazio
Em verdade, é um quarto modesto, de baixo teto
Todo amadeirado, em tom ocre, alaranjado, onde o chão segue no mesmo riscado, do mesmo jeito e cor, a por calor, amor ...
Ali, duas cadeiras “feias” e uma mesa quadrada, pequena, compõem poemas...
Quadros nas paredes, simples persianas verdes
Na cama, acomodados, dois travesseiros brancos, pálidos e mais o colchão duro e magro... trastes carcomidos, amor/tecidos...
Porém, ao fim de tudo, a emprestar-lhes graça, leveza, nobreza e beleza, singela tinta acesa, eis uma colcha vermelha... 
Perfeita moldura a finalizar o quadro/quarto/retrato pós-impressionista do pintor inspirador de sonhos.

 

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Desabafo: Bozo, o desclassificado


Bolsonaro merece cadeia e muito mais. Só mesmo sendo gado, capacho para dizer que esse ser trevoso é um sujeito "honesto", "bonito", "decente", "bonzinho". Bolsonaro é um cancro, que, como tudo que é ruim nessa terra, difícil de ser extirpado. Ele, porém está sofrendo e que sofra bastante e lentamente com essa demora em ter seu destino decidido pela Justiça, posto que, de um jeito ou de outro, seu fim será a cadeia para pagar por todos os seus crimes. 

O caso das jóias é de uma canalhice inclassificável, assim como foram as mortes pelo Covid e tantos outros crimes praticados por ele e sua família de degenerados. A lista é longa e não preciso elencá-los aqui. Como conseguimos aguentar quatro anos com esse energúmeno no poder? E o pior, ele tinha certeza, que iria se perpetuar como "imperador" no Brasil e o gado bestificado passando pano, almejando e trabalhando para manter esse verme, esse parasita no poder, nos consumindo, nos sugando, nos destruindo. É incompreensível ainda haver quem "ame" o Bozo, esse "mito" com pés de barro… aliás, algumas pessoas amam cada coisa… só mesmo a Psicanálise para nos fazer entender, essa série de transtorno que acomete quem apoia os demônios que nos fazem tanto mal.





sábado, 19 de agosto de 2023

Do Calor Amazônico ao Inferno Hawaiiano


Natureza morta no quintal da minha casa
Uma casa alugada, porque se fosse minha teria dado outro tipo de solução.


Por entre céus e fios


Largo de São Sebastião 
Manaus/Am

Não sei quanto a vocês, mas o calor está me matando. 

Eu moro na região Amazônica e estamos em pleno verão. Agosto é um mês fervente. Manaus, capital do Amazonas, é uma cidade cujos governantes não primam muito pela estética e nem pelo meio-ambiente, pois pense numa cidade quente onde em vez de plantarem árvores, eles as cortam e com os propósitos e desculpas mais esfarrapadas. Para começar o governador, Wilson Lima e o prefeito, Davi Almeida, são ambos bolsonaristas, aliás, Manaus é uma cidade pró-Bolsonaro infelizmente. Pense e eleve ao quadrado o que é viver num embate com esse tipo de gente. Como manter a floresta em pé com governantes que apoiam a destruição em nome do poder e da ambição?


O inferno hawaiiano



A situação climática tem me assustado demais, posto que, o que aconteceu - ainda está acontecendo - no Hawaii, foi simplesmente surreal. Pessoas tiveram que abandonar seus carros e se jogar ao mar, para poder fugir do fogo. Dizem que entramos na era da fervura. Tudo está esquentando, inclusive as águas dos oceanos, estamos a atingir um ponto em que não há como retornar. Temos um auto sabotador em nós que nos lança em uma busca frenética pelo fim. Não vou entrar em detalhes técnicos, nem em campos de estudo sobre o assunto, feitos por especialistas, existem vários por aí, se quiser é só procurar e estudar, mas, falando sério: Por que será que as pessoas não pensam? Não sentem medo, diante de situações apocalípticas que nem essa do Hawaii? Eu tenho medo… o calor demais me mata e as chuvas em demasia me deprimem, sim, porque em minha região é assim, quando não é 8 é 80. Tudo isso que vem acontecendo no planeta em relação às condições climáticas, são avisos, alarmes tocando em nossos ouvidos o tempo inteiro enquanto a gente dorme. Negacionostas continuam pregando suas fakenews, enquanto alguns ocupam altos escalões do poder.

Eu teimo em esperar… quero dizer, teimo em ter esperança porque mais que tudo, eu confio na vida… a vida arranja seus meios de se manter e fazer valer, mas para isso, a humanidade tem que despertar. Não estou afim de ser consumida pelo calor, pelo fogo infernal e muito menos ser tragada por ondas vorazes, altas, quentes e totalmente fora de controle. Viver dançando à borda do abismo é para loucos. Então, somos todos loucos?! 

Eu não sou tanto uma pessoa supersticiosa, talvez um pouco mística, mas ando bem propensa a acreditar em carma, expiação, dualidade, ou seja, a luta do bem contra o mal, posto que, nunca vi tanto demônio em forma humana por metro quadrado sobre a terra, prontos a espalhar o sofrimento, a dor, a desesperança… tem os demônios, toda espécie de monstros e ainda os ajudantes, sim, aqueles que estão dispostos, por vezes até em troca de nada, ajudar a degradar, prejudicar, matar todas as origens de vida. Mais da metade do planeta busca para si e para os outros, a extinção em massa, a extinção total. 

Talvez, seja esse o nosso destino, talvez o mereçamos, enfim…FIM.


 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

A BESTA ARGENTINA



E está todo mundo falando do "ogro", "a nova besta argentina", Javier Milei. Imaginem, quem gosta de contos de terror, a "vida moderna" está recheada delas. O Brasil passou por Bolsonaro e agora vemos a Argentina cair no mesmo golpe da extrema-direita. Não adiantou o nosso exemplo, agora, os "los hermanos", querem passar por si mesmos pelo caos.

Javier Gerardo Milei, de 52 anos, mas parece ter bem mais, além de sofrer do defeito estético que carregam todas as almas corrompidas, é um economista, recém-chegado na política pertencente ao que se chama de baixo clero, disputa a presidência pelo partido Liberdade Avança; ele se declara um libertário, adepto do "anarcocapitalismo", recentemente, venceu as eleições primárias, que são obrigatórias para a definição final dos candidatos que concorrerão à presidência da República, no próximo 22 de Outubro.

Milei é o novo pesadelo da América do Sul e se seguir os passos de Bolsonaro, e parece que vai, será o maior pesadelo da vez no circuito mundial; depois de Trump e Bolsonaro, eis que surge um Milei. Nem preciso dizer que ele vem de um lar desestruturado, e desde a adolescência, sofreu bullying e era conhecido como "O Louco"… daí você tira. Seus amigos mais próximos são a irmã Karina, taróloga, a quem consulta e pede conselhos e a quem também chama de "chefe", e seus cinco cachorros da raça Mastiff. Dizem que ama tanto os cachorros, que até estuda telepatia e se comunica com seu cachorro mais velho, morto em 2017, também para se aconselhar. Milei só confia no tarot da irmã Karina, e através dele, escolhe em quem pode ter ao lado ou não, daqueles que estão em seu entorno. Milei promete tudo o que já prometeu Bolsonaro, inclusive indiferença às causas das minorias, violência e morte e sobretudo, promete abrir as portas do inferno sobre a terra.

Pobre Argentina… havemos de chorar por ti e por nós. A sensatez e a inteligência, a tolerância e a bondade, parece que foram varridas da face da terra.





 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

LUMINESCER

Todos nós temos um pouco o dom da clarividência, embora muitas vezes, de modo inconsciente.. principalmente quem escreve... Assim foi com muito de meus poemas.. o desta foto, por exemplo, repostada em 30 de Outubro de 2018... na verdade, é de bem antes.. Fevereiro de 2015... 

Foto de um tronco cuja imagem esculpida pela natureza, faz lembrar um homem sentado, espantado no centro da calçada da Avenida Getúlio Vargas. Talvez, em seu espanto, adivinhasse o futuro escuro... tão escuro quanto a tarde do dia em que o vi.

Manaus, 4 de Fevereiro de 2015

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

"UM LUGAR MELHOR EM ALGUM LUGAR"


Dia 27 de Julho, o MIS (Museu da Imagem e do Som), inaugurou a exposição "Um Melhor Em Algum Lugar", sobre a vida do lendário bluesman, B.B.King, morto em 2015, aos 86 anos. Homenagem mais que merecida. A exposição vai até o dia 08 de Outubro.

               https://youtu.be/nIlX8_ycSNU


B.B King by Jean Okada 


1934, Itta, Bena; Mississipi. Sem melancolia, Boy atravessou o vasto campo de algodão. Ora murmurando uma canção; ora apenas olhando o céu e sentindo o sol sobre e sob a pele. Os raios entravam, penetravam, entranhavam.. Ardiam, como sempre arderiam, porém, o fogo/ardor/calor do sol afugentavam qualquer tristeza. Era sozinho no mundo e talvez, sozinho viveria até o fim de seus dias, tinha apenas nove anos e já sabia, conhecia a solidão.

Começou a tocar por alguns trocados, na esquina da Igreja com a Second Street. Mas, a vida, algumas vezes, se nos apresenta de forma um tanto enigmática. Não era escravo, não tinha nada, nem ninguém, apenas a pobreza extrema a lhe achacar o corpo, mas, a alma, não, poderia ir, pois, pra onde quisesse, ganhar 35 dólares aqui ou em qualquer outro lugar, tanto fazia.. quem sabe, mudando, sua sorte, haveria de mudar também e assim, Riley Ben King foi, se foi com o violão, seu bem mais precioso tal como o de tantos outros... foi-se arribou do Mississipi, deu adeus ao campos brancos de algodão... Por fim, chegou a Memphis, Tenesse, ponto de esperança onde o destino não o decepcionaria... dito e feito e um dia, sábado a noite, ouviu um som diferente, o som mais lindo que já ouvira em toda a sua vida, era Stormy Monday, tão bem tocada na guitarra por T-Bone Walker - .. então, ele soube, Young Boy, soube que era aquilo que queria fazer, tocar blues. Desenvolveu um estilo de tocar simples, com poucas notas, preferiu, e ainda prefere, assim, já que ele mesmo diz que "posso fazer uma nota valer por mil." Deste modo, comprou uma guitarra, uma Gibson de 30 dólares, que quase queimou num incêndio numa noite de inverno de 1949. 

Naqueles tempos, soía comum nessas casas noturnas, sem muito luxo, para aquecer o salão, encher meio barril com querosene. Dois homens puseram-se a brigar e derrubaram o barril, espalhando as chamas por todo o lugar. Soube depois, que a briga começou por causa de uma mulher chamada Lucille e por causa disso, desde então, passou a chamar a todas as suas guitarras de Lucille, para que assim o episódio jamais esquecido, não mais acontecesse.

Agora, Blues Boy King, não estava mais só, tinha o blues, tinha Lucille, tinha toda a gente e consideração e tocando blues, alcançou fama, fortuna, posição social, reconhecimento, satisfação. Era e continua a ser, um dos grandes entre os grandes. Não fazia, nunca fez e nunca fará, vergonha a si mesmo. Devia/deve tudo ao blues e ainda hoje, quando ouve alguém dizer que não entende o blues, que não gosta de blues, old Blues Boy King, volta aquela noite de sábado, onde ouviu T-Bone tocar pela primeira vez e imbuído do espírito do blues que nunca o abandona, põe-se a tocar e não desiste até que o outro, por sua vez, esteja também totalmente convencido.

Tédio


Ai, ai... em cima de um 🍄 
havia um gnomo entediado.


E FREUD EXPLICA

 

Na imagem, Freud e seu cão Jofi, 
da raça Chow Chow.

💕💕💕

(Via Ricado Bristot)

E Freud explica:

-Freud: Que objeção pode haver contra os animais? Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

-Viereck: Por quê?

-Freud: Porque eles são mais simples. Eles não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de se adaptar aos padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico [...] ]

-Viereck: Então, você é um grande pessimista?

-Freud: Não. Não permito que nenhuma reflexão filosófica me roube o prazer das coisas simples da vida.

Os motivos pelos quais se pode amar um animal com tanta intensidade, é porque ele possui emoções simples e diretas, de uma vida singela, liberta dos conflitos de uma sociedade que impõe restrições.

É mais fácil nutrir amor pelo simples.

Trata-se de um afeto sem ambivalência.

Os cães não possuem uma personalidade dividida, nem a maldade do homem civilizado, tampouco o sentimento de vingança dos homens.

Um cão tem a beleza de uma existência completa em si mesmo.

E apesar de todas as divergências, quanto ao desenvolvimento orgânico, o cão possui um sentimento de afinidade íntima e de solidariedade incontestável.

💕💕💕

___

Entrevista feita por George Sylvester Viereck em 1930, Semmering, Áustria. (Tradução de Maria Teresa Dóring)

sábado, 12 de agosto de 2023

Inverno entre verões


Tenho vivido tantos invernos
mesmo em meio aos verões que já nem estranho...
Uma saudade de um raio de sol me invade

Um pai leva com cuidado a filha ao colo
Sorriso suave estampado no rosto onde o sol se derrama
em mornas caricias... Fios de cabelos de anjo soltos ao vento
de uma cálida, límpida manhã

Fui feliz assim, um dia, nessa constância de uma vida in - comum

Sopram agora outros ventos
Sussurram agora em meus ouvidos outras doces, monótonas cantigas
E antigas vertigens retornam aos meus dias

Invisíveis tormentos me acalentam os sentimentos
Fogo brando que nunca se apaga...

Revolvo minha alma nessa estranha saudade
de tempos idos, que não mais voltam
Dói-me o peito
Brota a mágoa
Invernos de solidão em meio a verões de silêncios

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

A QUEDA DA CASA DE USHER






Em breve, 12 de Outubro, estreia na Netflix, a adaptação do conto de Edgar Allan Poe, A Queda da Casa de Usher, pelo excelente Mike Flanagan. 

A história de Poe, lançada em 1839, conta sobre a visita do narrador a um amigo de infância, Roderick Usher, que vive em um solar assombrado e devastado, junto com sua irmã gêmea de saúde frágil, Lady Madeline.

Ao chegar, é informado por Roderick, um artista estranho e hipocondríaco, que Lady Madeline está morta e ele precisa de ajuda para colocá-la no mausoléu da família. Porém, Roderick parece pertubado e por fim confessa que acha que Lady Madeline pode ter sido enterrada viva. E numa noite, enquanto Roderick lê certa história em voz alta para o seu amigo, aí o horror começa, com passos, batidas violentas e vibrações cada vez mais altas, até culminar com a própria aparição de Lady Madeline, toda ensanguentada, pronta a se vingar do irmão. O horror é indescritível e o fim de Roderick Usher e o solar, chegam juntos ao serem tragados pelo pântano. 

A Queda da Casa de Usher, pode ter uma gama de significados, justamente por não ter muita explicação. Quem são os Usher? Uma família antiga e amaldiçoada? São vampiros? Um casal de irmãos incestuosos? De que mal sofrem? Que tipo de doença lhes acometem? São perguntas, jamais respondidas e que, todavia, dão ao leitor uma resposta toda própria.



quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Nós vamos RESOLVER as mudanças climáticas

 Dizem que "a ESPERANÇA, é a última que morre". Então vamos ter esperança, acreditar que "dias melhores virão" e fazer a nossa parte. SIM, argumento cheio de clichês, fazer o què, ando ficando sem palavras. Elas ardem e queimam numa fogueira dentro do meu cérebro e assim é que vejo tudo. As mudanças climáticas estão aí, e mesmo assim existem os negacionistas, que em nome da ambição, só pensam em destruir. Chega, gente, chega! 

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Montanha alta, cogumelos mortais


"Agora eu me tornei a Morte, 
o destruidor de mundos". 
(J.Robert Oppenheimer)


Eu ainda não assisti ao filme Oppenheimer, mas conheço um pouco de sua trajetória e é fato consagrado, porém questionado pela minha pessoa, que ele arrependeu-se mortalmente de ter construído a bomba atômica e até o fim dos seus dias, foi um combatente ferrenho contra a construção de novas bombas de hidrogênio em nova corrida armamentista. Por conta disso, Oppenheimer viveu na angústia, mas, será que viveu mesmo? Por quê, pergunto eu, não recusou participar do Projeto Manhattan?! Será que ele não conseguiu antever, como cientista, toda a extensão do mal que uma bomba como essa poderia provocar?! Sinceramente, não sei o que Oppenheimer esperava. Acho que no fundo, gostou do papel sombrio de "destruidor de mundos". Ele, na verdade, era um sujeito contraditório, um tanto excêntrico, considerado por muitos como um "ENIGMA".



Trailer do filme - legendado

Para o documentário, “The Decision to Drop the Bomb” (A Decisão de Lançar a Bomba, em tradução livre), o físico disse o seguinte:

 “Sabíamos que o mundo jamais seria o mesmo. Algumas pessoas riam, outras choravam… A maioria estava em silêncio. Eu lembrei da antiga escrita hindu, o Bhagavad-Gita. Vishnu [deidade do Hinduísmo] tenta convencer o Príncipe de que ele deve cumprir seu dever. Para impressioná-lo, ele se transforma em uma forma com muitos braços e diz: ‘Agora, eu me tornei a morte. O Destruidor de Mundos.’ Acredito que todos nós, de uma forma ou de outra, nos sentimos assim.”

Oppenheimer aceitou comandar a equipe do Projeto Manhattan - sem ele, a bomba jamais seria possível - que tinha como objetivo, superar a Alemanha e o Japão, na fabricação de uma arma nuclear letal própria dos americanos. O ano era 1942. 


O primeiro teste da bomba, apelidado Trinity, foi feito no deserto Jornada del Muerto, Los Alamos, no Novo México, em 16 de julho de 1945. 


Menos de um mês depois do teste, entre os dias 06 e 09 de Agosto, duas bombas foram lançadas sobre duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki. O efeito foi devastador, desolador, afetando a vida de 130.000 civis japoneses, já que as bombas foram lançadas em centros urbanos. 


Julius Robert Oppenheimer, "o pai da bomba atômica", sempre foi brilhante e esquisito, nascido em Nova York, em 22 de Abril de 1904, de origem judaico-alemã, foi contemporâneo de Albert Einstein e Niels Bohr. Simpatizante das ideias de Esquerda, era considerado comunista e por isso, perseguido pelo FBI. A guerra poderia ter acabado, sem a grande ajuda mortal de Oppenheimer. Não teríamos a bomba e ainda teríamos de pé, Hiroshima e Nagasaki, com todas aquelas pessoas e seus descendentes, ainda presentes. A criação da bomba foi um desfavor e não um ato necessário como pensám e dizem muitos.


Oppenheimer esteve presente com instruções em como os pilotos deveriam lançar as bombas, para maior efeito possível. Esse gênio contraditório, depois da guerra, foi trabalhar ao lado de Albert Einstein, vindo a falecer em Princeton, em 18 de Fevereiro de 1967.



 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Do Diário em descanso de Gregor Samsa


Gregor Samsa simplesmente não acreditava estar a viver na real aquele pesadelo. 

Deu-se conta do inferno que são os outros, ao se deparar com uma realidade distópica, aquém de sua transformação. Ele já nem se via mais tão feio ou surreal, dada a feiura e surrealidade que se insinuavam feito planta tóxica, pelas paredes de seu cotidiano. Nem fazia mais questão de voltar ao "normal". Tornou-se um desprazer a comunhão do viver e a troca entre seres; resignou-se enfim, a manter distância de tais improváveis criaturas que surgiram feito nuvens de insetos destruidores sabe-se-lá de onde. Ele também era um inseto, porém bem menos feroz e voraz que esses que se apresentavam agora. O cinza pousava em todas as coisas.. da janela de seu quarto, Gregor observava a improbabilidade dos pesadelos esmagar a suavidade dos sonhos. O futuro morto, antes mesmo de nascer e acontecer. 

Gregor fechou a janela e voltou-se para si mesmo, para dentro da obscuridade de seu quarto trancado. Lá fora, a vida não acontecia mais e o sol brilhava por sobre as coisas agora mortas.

QUE BOBAGEM!

 


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Bom! Agora todo mundo conhece a bióloga Natália Pasternak, que na época da pandemia, fez um excelente trabalho ao divulgar os benefícios da ciência e os esforços de nossos cientistas em pesquisar e promover as vacinas contra a Covid19. Agora, porém, a excelente doutora, nos aparece com um livro polêmico, QUE BOBAGEM! em que declara como pseudociências a Homeopatia, Psicanálise e Constelação Familiar. Não li o livro e nem pretendo ler, porque embora tenha apreciado o seu trabalho de pesquisa durante a pandemia, depois de um tempo ouvindo-a e observando-a, notei certos discursos inseridos em suas falas, que não apreciei e pessoas as quais acato a opinião, já disseram não terem gostado do que ela escreveu, classificando-o realmente como QUE BOBAGEM mesmo. Mas, né gente, isto sou eu, mas se alguém quiser tirar a prova dos nove, é só seguir o link.


sábado, 5 de agosto de 2023

Tráfico Humano Não É Ficção


O Tráfico Humano é uma das piores realidades da existência humana. Macabro, desumano, destruidor. Houve um tempo, em que as pessoas achavam impossível esse tipo de coisa em plena vida moderna, mas, com o avanço tecnológico e a "facilidade" em descobrir-se redes de tráfico, a realidade dura e feia se impôs. É tempo de lutar contra ela. Denuncie!


sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A TRÁGICA COMÉDIA DE ERROS

 


Uma notícia horrorosa, dentre tantas do cotidiano. Uma jovem foi a um show do cantor Thiaguinho. Estando entre amigos, bebeu todas e um pouco mais. Um dos amigos, chamou um carro de aplicativo, colocou-a dentro e compartilhou a viagem com o irmão da jovem.

Chegando ao destino, o motorista desceu e bateu à porta da residência, mas ninguém atendeu. Bateu mais um pouco e nada e a moça desacordada dentro do carro. Sem saber o que fazer exatamente, o motorista pediu ajuda a um passante; retirou a jovem do carro, e sentou-a em uma mureta, encostando-a em um poste. Ainda insistiu na porta, porém, sem obter resposta, resolveu ir embora.

Resultado: Alta madrugada. Um ogro - sim, um ogro, porque não se pode chamar um ser das trevas, de pessoa, no mínimo, um demônio - passou e vendo a jovem, em posição vulnerável, simplesmente a colocou sobre os ombros, como se fosse um saco de coisa qualquer ou apenas uma presa mesmo, levando-a a um campo de futebol que havia ali por perto. Aproveitou-se da jovem por 4 horas, fazendo o que bem quis, depois, simplesmente deixou-a lá, literalmente largada, como se fosse nada, coberta apenas por um trapo sujo. 

Ao clarear do dia, pessoas que passavam pelo descampado, se depararam com a moça semi nua, toda suja e ainda desacordada, possivelmente em estado de coma alcoólico. O SAMU foi chamado, mas a princípio, a jovem se recusou a ir a um hospital, preferindo ir pra casa, contudo, diante de seu estado lastimável, a família resolveu levá-la ao hospital e lá, no hospital, foi que a ficha caiu.

Pensemos juntos aqui: Qualquer pessoa poderia ser a vítima de uma situação como essa ou nem precisa ser igual a essa, você, sem quê nem pra quê, pode apenas passar mal na rua e ficar a mercê de seres inescrupulosos. Eu mesma, certa vez, entre a adolescência e a idade adulta, em início de festa, tasquei para dentro uma garrafa inteira de vodka, a seco, nem sei como não morri. Só não fiquei só e largada, porque tinha amigos de fato, minha irmã estava comigo (ficou muito zangada pois não pode aproveitar o show) e meu irmão, que mal havia acabado de nos deixar, resolveu passar outra vez, para ver se estava tudo bem. Encontrou-me deitada, no batente de um prédio, com a cabeça no colo de um amigo, com minha irmã ao lado. Voltamos pra casa em segurança, sem aproveitar nada do acontecido. Fui "zoada" por anos, por causa dessa presepada. 

Bom… como ia dizendo, voltando ao assunto, qualquer um pode se ver em maus lençóis, diante de uma situação com resultado irreversível. Em primeiro lugar, deixemos claro: A vítima tem sempre razão, não nos cabe julgar a jovem, só porque bebeu demais, afinal quem nunca?! Todos somos "vítimas" em potencial, dependendo das circunstâncias. O que quero discutir aqui, é a falta de empatia, solidariedade, cuidados, preocupação. Foi um erro trágico atrás de um erro trágico. A esse tipo de evento, muitos denominam de "Comédia de Erros" (comédia, sim, mas não no sentido engraçado comumente dado ao significado da palavra).

Comecemos, então, a relembrar a situação: 1) A jovem, está em um show do cantor Thiaguinho, junto com os amigos, alguns dizem até que com colegas de trabalho. Ela exagera na alegria, na cantoria e assim na bebida. Madrugada chega, o show acaba, todo mundo se dispersa. Um amigo da jovem, percebendo sua condição, chama um carro de aplicativo, a põe dentro do carro e a despacha para casa, compartilhando a corrida com o irmão dela. A jovem segue, no banco do carro, completamente inconsciente.

Erro a) A jovem sentia-se segura entre os amigos e resolveu aliviar. 

Erro b) O amigo pediu o carro para a amiga sem condições, mas não foi junto, porém, por desencargo de consciência, compartilhou a viagem com o irmão da jovem.

Erro c) O motorista do aplicativo, poderia ter recusado a corrida ou exigido que alguém fosse junto. 

Erro d) Ao chegar ao destino, tentou acordar a jovem, mas, nada… dirigiu-se à porta, mas ninguém veio atender. Que fazia o irmão com quem o amigo havia compartilhado a corrida? Por que não estava a postos, a esperar a irmã?

Erro e) O motorista do aplicativo, tenta mais um pouco. Não obtendo retorno, pede a um transeunte que o ajude a tirar a moça do carro. O transeunte aceita ajudar.

Erro f) O motorista e o transeunte, tiram a moça do carro, e a colocam sentada numa espécie de mureta, apoiada a um poste. Nem passa pela cabeça do motorista e do transeunte, ter um pouco mais de paciência, bondade e tolerância.

Erro g) O motorista e o passante, vão embora, sem mais se preocuparem com a moça desacordada que ficou para trás. Isso, até saberem pelos jornais e sites de notícias, o que se passou, com a família da jovem, inclusive, culpando o motorista, pelo abuso sofrido por sua irmã. 

Erro h) Que tipo de pessoa, está disposta a ajudar a outra, a se livrar de uma outra, sem fazer qualquer questionamento?

Erro i) A família não veio abrir a porta, para ver se a jovem havia chegado ou sequer monitorar a rua. Fizeram isso, tarde demais. Depois que o mal aconteceu.

Bom… no momento, é o que se sabe. Uma história triste, repugnante e que poderia acontecer com qualquer um, principalmente mulheres e crianças. 

Agora, as perguntas que não querem se calar:

A moça, como vai juntar seus cacos? 

A família, não acha que tem uma grande parcela de responsabilidade? Não é só o motorista o vilão.

Ao motorista faltou empatia, calor humano, faltou caridade e amor. O esforço que fez, insistindo em bater na porta, foi invalidado pelo abandono de incapaz. Como será que está se sentindo agora?

O transeunte, nem se fala. Parece um fantasma. Acho que está inerte até agora. Não se olha, não se vê e também não olha e não vê os outros.

Acho que todos têm sua parcela de culpa. É triste constatar que um pouco mais de paciência, compaixão e respeito teriam evitado que a moça, fosse abusada por um monstro, que, aliás, é casado e tem filhos, não sei se tem filhas, como se para ele, isso importasse. Como predador sexual, fazia o quê, na rua, alta madrugada? Caçava, né?

Por fim, não vi nada, uma nota do cantor Thiaguinho, se solidarizando com a jovem vítima deste caso, que, para o senso comum, é a maior culpada pela brutalidade que lhe sucedeu. Thiaguinho não se manifestou, ao menos que eu saiba, poderia mostrar um pouco de cavalheirismo e gentileza, agindo como um ser humano preocupado com outro ser humano. Se acaso fez isso e acaso não vi, peço desculpas. 

Será que culpar a vítima é a única saída de quem não sabe pensar e por isso não tem nada a dizer? Ou só pelo fato de ser mulher, já produz o ranço tirando a responsabilidade de todos, inclusive do ogro neandertal, e numa misoginia escrachada, apontam a vítima como única culpada da própria barbárie que lhe sucedeu, porque, oras, né… na cabeça de todos é aquele preconceito, "ah, bem feito, teve o quê mereceu. Se estivesse em casa, nada teria acontecido. Quem mandou beber?!".







Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...