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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O Lagarto e a Aranha


 
Reflexões de Idries Shah

'Um lagarto e uma aranha se encontraram. O lagarto disse: 'O que você come?' e a aranha respondeu: 'Moscas.'

'Eu também', disse o lagarto, 'parece que somos companheiros adequados.'

Eles montaram casa juntos.

Uma noite, eles estavam caçando moscas. Um gato se aproximou. Um instante antes de se lançar sobre ele, o lagarto gritou para a aranha:

'Um gato vai me pegar, o que devo fazer?'

A aranha respondeu: 'Apenas teça um pouco de teia e escape para este pequeno buraco onde estou.'

Enquanto o lagarto tentava entender isso, o gato o pegou.'



quinta-feira, 27 de julho de 2023

A HISTÓRIA DE MUSHKIL GUSHA




Le Père Jacques (The Wood Gatherer)
Artista: Jules Bastien-Lepage, 1881
Período: Pintura do realismo


A HISTÓRIA DE MUSHKIL GUSHA, O DISSIPADOR DE TODAS AS DIFICULDADES!

Dizem que, quando determinado número de pessoas se encontram reunidas e entre elas reina a harmonia, temos o que chamamos um acontecimento, embora nas culturas contemporâneas, geralmente, não seja entendido assim, já que para essas culturas um “acontecimento” é algo que acontece e impressiona a todos por meio de impactos subjetivos. Isto seria o que alguns tratariam como um “acontecimento inferior”, pois ocorre num “mundo inferior”; o das relações humanas, facilmente produzidas, sintetizadas e comemoradas. 

O verdadeiro acontecimento, do qual o acontecimento inferior é somente uma útil semelhança (nem mais nem menos), é aquele que pertence ao domínio superior, que, por sua vez, não pode ser interpretado adequadamente mediante uma representação terrestre convincente sem deixar intacta a exatidão. Algo de imensa importância em um domínio superior, jamais poderá ser expresso, por completo, em termos literários, científicos ou dramáticos, sem que se perca o seu valor essencial. Entretanto, certos relatos, sempre que contenham elementos da área do conhecimento superior, por mais que possam parecer absurdos, inverossímeis, improváveis, ou, até mesmo, defeituosos, podem – junto à presença de certas pessoas – comunicar o acontecimento superior em questão a região apropriada da mente. É importante que seja assim, porque a familiaridade com o “acontecimento superior” como quer que isso ocorra, capacita a mente do indivíduo a operar no domínio superior. 

O conto de Mushkil Gusha é um exemplo. A “falta de nitidez” no tema, a própria “ausência de plenitude nos acontecimentos e também de fatores que estamos acostumados a esperar em uma história são, neste caso, indicações do paralelismo superior”.

Era uma vez…

a menos de mil milhas daqui um pobre e velho lenhador viúvo que vivia com sua pequena filha.

Todas as manhãs, ele costumava ir à montanha cortar lenha, a qual trazia para casa, depois de atá-la em feixes. Após a primeira refeição, o velho então, caminhava até a cidade mais próxima, aonde vendia a sua lenha e assim que descansava um pouco voltava para casa.

Um dia, ao chegar em casa, já muito tarde, a menina lhe disse: “Pai, algumas vezes eu gostaria de ter uma comida melhor para comer, com mais fartura e diferentes tipos de coisas”.

“Está bem, minha filha”, disse o velho, “amanhã me levantarei mais cedo do que o costume; irei mais longe nas montanhas, onde há mais madeira, e trarei para casa uma quantidade de lenha bem maior que a habitual. Chegarei cedo, pois assim poderei enfeixá-las mais depressa para ir até a cidade vendê-la, de modo que tenhamos muito mais dinheiro, e, ao regressar, trarei para ti toda espécie de coisas deliciosas”.

Na manhã seguinte, o lenhador se levantou antes do amanhecer e foi para as montanhas. Trabalhou duro, cortando e aparando lenha, que depois atou em um enorme feixe que carregou nas costas até sua casa.

Quando chegou em casa ainda era muito cedo. Ele pôs a carga de lenha no chão e chamou à porta, dizendo: “Filha, filha, abra a porta. Tenho fome e sede e preciso comer alguma coisa antes de ir ao povoado”.

Mas a porta continuou trancada. O lenhador estava tão cansado, que se deitou no chão e prontamente adormeceu ao lado do feixe de lenha. A menina tendo esquecido por completo da conversa da conversa da noite anterior, ainda dormia. Quando o lenhador despertou, o sol já ia alto. Bateu de novo a porta e disse: “Filha, filha, venha depressa, pois já passou muito da hora em que costumo ir ao mercado”.

Mas a menina tendo esquecido a conversa da noite anterior, se levantara, limpara a casa e saíra a dar um passeio. Fechara a porta, supondo, em seu esquecimento, que seu pai ainda estivesse no povoado.

Então, pensou o lenhador: “É tarde demais para ir ao povoado. Portanto, regressarei às montanhas e cortarei outro feixe de lenha que trarei para casa, e, amanhã, levarei uma carga dobrada ao mercado para vender”.

O velho lenhador trabalhou arduamente o dia inteiro, cortando e empilhando lenha. Já era noite quando chegou em casa com a lenha sobre os ombros. Depositou a carga de lenha no chão, atrás da casa e bateu a porta, dizendo: “Filha, filha, abre a porta; estou cansado e faminto. Tenho uma dupla carga de lenha que espero levar amanhã ao mercado. Devo dormir bem esta noite para recuperar minhas forças”.

Porém, não houve resposta, pois a menina, ao voltar para casa, sentia muito sono. Preparou a comida e foi se deitar. A princípio, preocupou-se com a ausência de seu pai, mas se tranqüilizou ao pensar que ele havia decidido passar a noite no povoado.

O lenhador, percebendo que não podia entrar em casa, cansado, com fome e sede, deitou-se ao lado dos feixes de lenha e adormeceu. Não pode se manter acordado, apesar do receio pelo que pudesse ter acontecido a sua filha.

Por sentir muito frio e fome e estar por demais cansado, o lenhador despertou na manhã seguinte antes mesmo do dia clarear. Sentou-se e olhou ao redor, mas não pode ver nada, então ocorreu algo estranho. O lenhador ouviu uma voz que lhe disse: “Depressa, depressa! Deixa tua lenha e vem por aqui. Se, necessitas muito e desejas pouco terás um alimento delicioso”.

O velho homem se levantou e caminhou em direção a voz. Andou, andou, mas nada encontrou. Estava agora com mais frio, fome sede e cansaço do que antes, e além de tudo, certamente perdido. Havia estado cheio de esperanças, mas isto não parecia tê-lo ajudado. Sentiu-se triste, com vontade de chorar, mas se deu conta que chorar tampouco iria lhe adiantar de modo que se deitou e adormeceu.

Pouco depois, despertou, pois fazia muito frio e tinha fome demais para continuar adormecido. Assim, decidiu contar para si mesmo, como se fosse um conto, tudo o que lhe havia acontecido desde que sua filha lhe dissera que desejava um alimento diferente.

Quando acabou de contar sua própria história, acreditou ouvir novamente a voz, vinda do alto, como que saindo do amanhecer, que lhe disse: “Velho homem, que fazes aí sentado?”.

“Estou a me contar a minha própria história”. Respondeu o lenhador.

“E como é?”.

E o velho lenhador repetiu toda a sua história, outra vez.

“Muito bem”. Disse-lhe a voz e em seguida, mandou que ele fechasse os olhos e subisse um degrau.

“Mas não vejo degrau nenhum”. Disse o lenhador.

“Não importa”, disse a voz, “faz o que te mando”.

“O velho fez o que lhe era mandado. Assim que fechou os olhos, encontrou-se de pé, e, ao levantar seu pé direito, sentiu que havia algo sobre ele; algo assim como um degrau. Começou a subir o que parecia ser uma escada. De repente, os degraus puseram-se a se mover muito rapidamente e então, a voz lhe disse: “Não abras os olhos até que eu te diga.” Quase em seguida, a voz ordenou que abrisse os olhos e ao fazê-lo, ele viu que se encontrava num lugar que se parecia a um deserto, como um sol ardente sobre sua cabeça. Estava rodeado por uma grande quantidade de pequenas pedras de todas as cores: vermelhas, verdes, azuis e brancas. Parecia estar só. Olhou ao redor e não viu ninguém, mas a voz recomeçou a falar: “Pega quantas pedras puderes, depois fecha os olhos e desce novamente os degraus”.

O lenhador fez o que lhe foi dito e quando a voz ordenou e ele tornou a abrir os olhos, eis que se encontrava diante da porta de sua casa. Chamou, e desta vez, sua filha veio atender. Ela lhe perguntou aonde ele havia estado e o lenhador contou tudo o que lhe tinha acontecido, ainda que a menina dificilmente pudesse compreender, pois tudo lhe parecera tão confuso…

O velho lenhador entrou em casa, e ele e sua filha compartilharam o último alimento que tinham; um punhado de tâmaras secas. Quando terminaram, o lenhador ouviu uma voz que lhe falava: “Ainda que não o saibas, foste salvo por Mushkil Gusha. Lembra-te que Mushkil Gusha está sempre aqui. Assegura-te, a cada noite de quinta-feira, de comeres algumas tâmaras e dares outras a algum necessitado a quem hás de contar a história de Mushkil Gusha ou então, em nome de Mushkil Gusha, dê um presente a alguém que ajude aos necessitados. Faça com que a história de Mushkil Gusha jamais seja esquecida. Se assim o fizeres e o mesmo for feito por aqueles a quem contares a história, as pessoas que tiverem verdadeira necessidade haverão de encontrar o seu caminho”.

O lenhador colocou todas as pedras que trouxera em canto de sua cabana. Pareciam simples pedras e ele não sabia o que fazer com elas.

No dia seguinte levou seus dois enormes feixes de lenha ao mercado e os vendeu facilmente por um alto preço. Ao voltar para casa, levou para sua filha toda espécie de coisas deliciosas as quais, ela, até então, jamais havia provado. Quando terminaram de comer, o velho lenhador disse: “Agora vou te contar a história de Mushkil Gusha, o dissipador de todas as dificuldades. Nossas dificuldades foram dissipadas por Mushkil Gusha e devemos sempre lembrar-nos disso”.

Ao longo da semana seguinte, o velho lenhador seguiu sua vida como de costume. Ia às montanhas, trazia lenha, comia alguma coisa, levava a lenha ao mercado e a vendia, sempre encontrando comprador, sem dificuldade.

Quando chegou a quinta-feira seguinte, como é comum entre os homens, o velho lenhador se esqueceu de contar a história de Mushkil Gusha. Nessa noite, apagou-se o fogo na casa dos vizinhos e eles não tinham nada com que o reacender. Assim, foram à casa do lenhador e lhe disseram: “Vizinho, vizinho, dê-nos, por favor, algumas destas tuas maravilhosas lamparinas”.

“Que lamparinas?” Perguntou o lenhador.

“Vem aqui fora e verás”. Responderam os vizinhos.

Então o lenhador saiu e viu, através de sua janela, que, realmente, de dentro de sua casa, partia uma imensa quantidade de luz. Tornou a entrar e constatou que as luzes saiam do monte de pedras que havia deixado em um canto de sua cabana. Mas, os raios de luzes eram frios e era impossível usá-los para acender fogo, de modo que saiu e disse aos vizinhos: “Sinto muito vizinhos, mas não tenho fogo” e então lhes fechou a porta na cara.

Os vizinhos ficaram aborrecidos e confusos e voltaram resmungando para casa, mas aqui eles abandonam a nossa história.

O lenhador e sua filha cobriram rapidamente as brilhantes luzes com quantos panos puderam encontrar, com medo de que alguém pudesse ver o valioso tesouro que possuíam.

Na manhã seguinte, ao retirarem os panos, descobriram que as pedras eram preciosas gemas luminosas e uma por uma, levaram-nas às cidades vizinhas onde venderam-nas por um ótimo preço.

Então, o lenhador resolveu construir um palácio para ele e sua filha. Escolheram um lugar que ficava bem em frente ao castelo do rei daquele país. Em pouco tempo, um maravilhoso edifício havia tomado forma.

Esse rei tinha uma linda filha que ao despertar, certa manhã, deparou-se com um castelo que parecia saído de um conto de fadas bem em frente ao de seu pai, e ficou muito surpresa. Perguntou aos servos: “Quem construiu esse castelo? Que direitos tem essa gente para fazer algo assim tão perto de nosso lar?”.

Os servos saíram e foram averiguar e ao retornarem contaram à princesa o que haviam descoberto.

A princesa mandou chamar a filha do lenhador, pois estava muito zangada com ela, mas quando as duas meninas se encontraram e conversaram, logo se tornaram boas amigas. Reuniam-se todos os dias e iam juntas brincar e tomar banho no regato que o rei mandara construir para a princesa.

Alguns dias depois do primeiro encontro, a princesa tirou de seu pescoço um lindo e valioso colar e o pendurou em um galho de uma árvore, à margem do riacho. Esqueceu-se de pegá-lo ao sair da água e, quando chegou em casa, pensou que o tivesse perdido. Pouco depois, porém, a princesa pensou melhor e chegou à conclusão de que a filha do lenhador o tinha roubado. Contou ao seu pai, que então mandou prender o lenhador; confiscou o castelo e assim como todos os seus bens. O velho lenhador foi jogado em um calabouço e sua filha, internada em um orfanato.

Como era costume naquele país, depois de um certo tempo, tiraram o lenhador do calabouço e o prenderam a um poste em praça pública, com um cartaz pendurado ao pescoço, no qual se lia: “Isto é o que acontece àqueles que roubam aos reis”.

A princípio, as pessoas se reuniam ao seu redor, zombando e lhe atirando coisas. O lenhador se sentia muito infeliz. Entretanto, em pouco tempo, como é comum entre os homens, se acostumaram a vê-lo ali, sentado junto ao poste. Já quase não lhe prestavam atenção. Algumas vezes lhe atiravam restos de comida, outras vezes esqueciam-se dele completamente.

Um dia, o velho lenhador escutou alguém dizer que era tarde de quinta-feira e de súbito, lembrou-se de que logo seria noite de Mushkil Gusha, o dissipador de todas as dificuldades, a quem ele havia se esquecido de comemorar a tanto tempo. Tão logo esse pensamento lhe veio à mente, um homem que por ali passava jogou-lhe uma pequena moeda, então o lenhador o chamou e disse: “Generoso amigo, dás-me dinheiro que, para mim, de nada serve. Entretanto, se tiveres a bondade de comprar umas tâmaras e vir comê-las comigo eu te ficarei eternamente grato”.

O homem foi e comprou algumas tâmaras. Sentaram-se e comeram-nas juntos. Quando terminaram, o lenhador lhe contou a história de Mushkil Gusha.

“Acho que deves estar louco”. Disse o homem. Mas, era uma pessoa bondosa que, por sua vez, também passava por grandes dificuldades, mas ao chegar em casa, naquela noite, percebeu que todos os seus problemas haviam desaparecido e isto fez que começasse a pensar muito a respeito de Mushkil Gusha, mas aqui ele abandona a nossa história.

Na manhã seguinte, a princesa voltou ao regato onde costumava se banhar. Quando ia entrar na água, viu lá no fundo o que parecia ser o seu colar. Ao mergulhar para pegá-lo, espirrou, voltando a cabeça para trás e percebeu que aquilo que tomara pelo seu colar, era apenas o seu reflexo na água. O colar estava pendurado no galho da árvore onde o havia deixado há muito tempo. A princesa pegou o colar e rapidamente foi até seu pai contar o que tinha acontecido.

O rei ordenou que libertassem o lenhador e lhe fossem pedidas desculpas públicas. A filha do lenhador foi tirada do orfanato e todos viveram felizes para sempre.

Estes são alguns dos incidentes da história de Mushkil Gusha. É um conto muito longo e que nunca termina. Tem muitas formas e algumas delas nem são chamadas de “história de Mushkil Gusha” e por isso, as pessoas não a reconhecem; mas, é por causa de Mushkil Gusha que sua história, em qualquer uma de suas formas, será sempre lembrada, de dia ou de noite, em qualquer lugar do mundo, onde quer que haja pessoas. Assim sua história será sempre contada e continuará sendo, para todo o sempre.

Querem repetir a história de Mushkil Gusha nas noites de quinta-feira e assim ajudá-lo em seu trabalho?

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