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terça-feira, 25 de julho de 2023

EU TOMO CONTA DO MUNDO



Clarice Lispector

                    Eu tomo conta do mundo

Clarice Lispector

Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que às vezes durante a noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho, se o céu de noite está estrelado e azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho. O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso eu tomo conta com alguma relutância.

Observo o menino de uns dez anos, vestido de trapos e macérrimo. Terá futura tuberculose, se é que já não a tem.

No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil plantas e árvores, e sobretudo das vitórias-régias.

Que se repare que não menciono nenhuma vez as minhas impressões emotivas: lucidamente apenas falo de algumas das milhares de coisas e pessoas de quem eu tomo conta. Também não se trata de um emprego pois dinheiro não ganho por isso. Fico apenas sabendo como é o mundo.

Se tomar conta do mundo dá trabalho? Sim. E lembro-me de um rosto terrivelmente inexpressível de uma mulher que vi na rua. Tomo conta dos milhares de favelados pelas encostas acima. Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas.

Hão de me perguntar por que tomo conta do mundo: é que nasci assim, incumbida. E sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de lesa-corpo e lesaalma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cósmica evolução para melhor.

Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas: elas andam em fila indiana carregando um pedacinho de folha, o que não impede que cada uma, encontrando uma fila de formigas que venha de direção oposta, pare para dizer alguma coisa às outras.

Li o livro célebre sobre as abelhas, e tomei desde então conta das abelhas, sobretudo da rainha-mãe. As abelhas voam e lidam com flores: isto eu constatei. Mas as formigas têm uma cintura muito fininha. Nela, pequena, como é, cabe todo um mundo que, se eu não tomar cuidado, me escapa: senso instintivo de organização, linguagem para além do supersônico aos nossos ouvidos, e provavelmente para sentimentos instintivos de amor-sentimento, já que falam. Tomei muita coisa das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto poder revê-las, não encontro uma. Que não houve matança delas, eu sei porque se tivesse havido eu já teria sabido. Tomar conta do mundo exige também muita paciência: tenho que esperar pelo dia em que me apareça uma formiga. Paciência: observar as flores imperceptivelmente e lentamente se abrindo.

Só não encontrei ainda a quem prestar contas.

(*Crônica de Clarice Lispector, publicada originalmente no ‘Jornal do Brasil, 4 de março de 1970)

– Clarice Lispector, do livro “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: editora Rocco, 2004.

"EU TOMO CONTA DO MUNDO" Parte 2"


Para Clarice


Clarice Lispector 

Publicada em meu perfil do Facebook, em 06 de Março de 2012, inspirada em uma crônica de Clarice Lispector intitulada "Eu tomo conta do mundo". Para ler a crônica original, abra o link: 



Ficar vigilante me causa imensa aflição. Olho para tudo; presto atenção, mas olho e presto atenção com certo receio. Temo Clarice, deparar-me com o absurdo de uma situação e não poder nada fazer. Mas, mesmo assim, mantenho-me de vigia. Cuido do céu, do rio, das matas, cuido das crianças e da vizinhança. Reparo nas árvores, no canto dos pássaros, no coaxar dos sapos. Cuido do manto estrelado da noite que cai, se o sol está frio ou quente demais. Dou-me conta da aflição e tristeza do pobre, da miséria material e espiritual que ronda a terra. Realmente o Cosmo dá muito trabalho, Clarice, e principalmente se o reconhecemos como nossa casa ou a casa de Deus, ou, se reconhecemos o cosmos como o próprio Deus e de Deus é difícil mesmo tomar conta.

Rostos inexpressivos, corpos sem alma, estão cada vez mais comuns. Gente que vive automaticamente, sem sequer dar-se conta de si mesmo ou de sua existência. Falo lucidamente, ou assim penso eu... é que são tantas as coisas para se tomar conta... inclua-se nisso tudo a floresta Amazônica, tão profunda e misteriosa, mas não infinita como pensam tantos, os arrogantes e gananciosos. O dinheiro que eu não ganho “tomando conta do mundo”, ganham eles tentando destruí-lo.

As estações estão enlouquecidas mal dá tempo de mudarmos com elas, o que ontem era de um jeito, hoje está de outro. O gelo, que se derrete nos polos e enche os mares, a camada de ozônio que está cheia de buracos, os rios que também se enchem demais, causando enchentes, ou secam, rapidamente, criando desertos e matando de sede o povo e os animais.


sábado, 22 de julho de 2023

AQUECIMENTO GLOBAL, RESFRIAMENTO MORAL

Olá, como vai? Aceita um pouquinho de calor neste novo amanhecer?!



Estudos dizem que aquecimento global está encolhendo o cérebro humano ou seja a humanidade está emburrecendo. Daqui a pouco, a inteligência que já é rara entre nós, praticamente deixará de existir.



TICO E TECO, UMA FÁBULA 

Tico e Teco viviam em guerra, a atrapalharem-se mutuamente pelo uso do espaço que deveria ser comunitário. Mexe aqui, enterra ali, desenterra alá, corre pra acolá. Era assim todos os dias, todas as estações. Nem percebiam as mudanças que se sucediam após cada batalha descabida pela posse do pequeno espaço e como também isso impactava a vida de todos ao redor.

Bom, enfim, um dia, após uma violenta tempestade verão, com a luz do sol inclemente a passear, sobre tudo perceberam o caos que haviam provocado. Não era apenas o efeito da natureza naquilo tudo, havia na verdade, a ação de suas patinhas sujas de esquilos briguentos, preguiçosos e relapsos, que de tanto mexer onde deviam e não deviam, em nome do desgaste, da mesquinharia e da ambição, encontraram o jardim desabitado, com a grama ressecada, pequenas árvores tombadas, o riacho poluído, cheio de galhos, folhas e outros detritos… e, para coroar o desacerto final, todas as sementes de nozes que tantas vezes cairam em abundância das altivas nogueiras, encontravam-se jogadas, alienadas, e completamente encolhidas e ressecadas. 

Tico e Teco entreolharam-se espantados e em vez de unirem-se para a reconstrução, entraram em nova discussão a saber quem era o culpado do quê, mas, desta vez, deu curto-circuito e a raiva era tanta, que ambos caíram duros no chão. O vento veio, passou por cima deles, assobiou e se foi.










 




Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...