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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

BOM GOSTO, UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL


 (Degas)



Perdoem-me, estou meio ranzinza (eu digo razinza, alguns dirão implicante, exibida sei lá mais o quê ... e para aqueles que pensarem que eu "me acho", digo-lhe que é claro que eu me acho, tento nunca me perder de mim mesma) mas vim aqui postar uma espécie de manifesto contra o mau gosto. É, vim aqui abrir um aparte na questão de “gostos”... Pra começar podemos dizer que gosto é uma questão relativa... apreciar uma coisa em vez de outra, vai depender muito de como a “tal coisa” entrou e se estabeleceu em sua vida. Aprendemos, ao longo do tempo, a gostar de certas coisas ou simplesmente a aceitá-las, porque seus amigos, as pessoas queridas de um modo geral, também gostam ou porque “aquilo”, a coisa em si, já faz parte de sua vida desde que você se “entende por gente”. Porém, quer saber, “bom gosto” é uma qualidade que realmente existe e pouquíssimas pessoas a tem. Claro, de vez em quando, acontece aos que tem “um gosto e tanto” uma escorregadela, ninguém é perfeito, porém, torno a lhes dizer que ter, possuir um “bom gosto” não é algo abstrato, afinal, nossos gostos acabam tomando forma, falando de nós por si mesmos; nossos gostos acabam nos revelando, dizendo aos outros o quê e quem somos. Opa, alguém pode sugerir que minha opinião “é questão de ponto de vista”... sim pode até ser... mas eu me considero alguém de muito bom gosto e rebaterei ao sujeito que me interpela, que, embora ele não deixe de ter razão, do jeito que somos, seres imperfeitos em sua perfeição, prisioneiros de nossa mente condicionada, hábitos e imaginação, desse jeito é muito fácil arranjar desculpas para todos os erros humanos, inclusive para o lamentável péssimo gosto que tantas vezes insistimos em ter e cultivar... parafraseando Vinicius: “Me desculpem os tolos, mas, bom gosto é fundamental”. Em tudo há sim, dois ou mais lados, a vida não é só um losango, ou um quadrado, um triângulo, ou um círculo meio deformado, que ora parece achatado, ora rompido... ela é todas essas formas e mais o infinito... Tomemos, por exemplo, a música... não se preocupem que não sairei atirando farpas para todos os lados, mas o que se escuta nos dias de hoje é de fazer doer o estômago, a cabeça... o que é, em verdade, é uma pena, pois gente inteligente, de bom gosto, músico de bom gosto sabe pegar o que agita a cultura de massa e transformá-lo em algo audível, sobretudo, digerível... a baixa qualidade, o mau gosto, pesa em quase tudo; nos dias de hoje, quase tudo leva a assinatura de muito ruim... Bom, em toda regra há exceções, notem que eu escrevi “em quase tudo”... NÃO ESTOU GENERALIZANDO... porém, assim como acontece com a música, o “muito ruim” acontece na literatura, acontece nas profissões, acontece em tudo, em todos os setores da vida. O trabalho é ruim porque a pessoa é ruim? Não... o trabalho é ruim porque a pessoa teve ou não um excelente desempenho, e um excelente desempenho envolve uma questão de ética e bom gosto que a pessoa aplicará a várias áreas do seu trabalho. Ela pode ser uma peste e ter um gosto inigualável... Ei, não confundam... também não estou falando de “gente boa” e “gente ruim” no sentido comumente empregado, isto fica para uma área mais filosófica, o que quero deixar claro aqui, é que desenvolver “bom gosto” é inteiramente possível, sem distinção, para todos os seres e ajudará muito a tornar-nos uma pessoa melhor. Não nos transformará em alguém melhor, isso requer um trabalho árduo sobre si mesmo, mas que não descarta o nosso assunto, aliás, o absorve completamente.
Infelizmente “bom gosto” não é facilmente reconhecido, apesar de muitas vezes estarmos com ele frente a frente. Para se ter bom gosto, firmeza no trato, deve-se, antes de tudo, ter bom senso, disciplina, responsabilidade, ética e estar disposto a aprender a aprender; aprender a olhar, a escutar, a estudar, sempre... Para se ter bom gosto é preciso voltar ao inicio; ouvir as “velhas canções”, ler os clássicos, redescobrir a beleza, perceber as sutilezas... ouvir a voz da alma e do coração. Para se ter bom gosto devemos nos reeducar. Há bom gosto e muita musicalidade no forró, no carimbó, no samba, no boi-bumbá, no olé, olá, no funk, no hip-hop, na rumba, no tcha-tcha-tcha... até na literatura, enfim, em tudo... mas poxa, parece que pegam, de propósito, as piores coisas e enfiam, feito remédio ruim e desnecessário, por nossa goela, ouvidos e olhos e nós concordamos, nós abrimos bem a boca e o tomamos e para coroar esse estado idílico, sorrimos. Você, que é jovem pode argumentar que não tem tempo para sentar e ouvir estes grandes intérpretes, ou de ler os clássicos, e o pior de tudo, dizer que são chatos... Chatos, lhes digo eu somos nós que não melhoramos como seres humanos, e que teimamos continuar na ignorante penumbra, olhando para uma só direção. Falta de tempo, lhes digo eu, é para os moribundos, para os que estão morrendo em vida... é um grande problema ninguém ter mais tem tempo para nada... nem para a família, nem para os amigos, nem para si mesmo... entretanto, em minha opinião, esta é apenas mais uma fuga da vida real, vamos trocando ilusão por ilusão. É hora de começar a recusar o espetáculo romano que ainda nos é oferecido, recusemos a política do “pão e circo”... o pão está duro e roído por ratos; o picadeiro está gasto, as lonas furadas e os artistas desgastados.... Resumindo, amigos: Para ser uma pessoa de bom gosto, nós precisamos, antes, nos repensar, prestar atenção, se necessário voltar atrás, ter tempo, cultivar um ócio básico e gratificante, abrir os olhos e um livro, abrir os ouvidos, ouvir um disco e todos os sons que estão a nossa volta, e assim poderemos concordar no quesito quando alguém disser “depende do seu ponto de vista” ou “gosto não se discute” quando este mesmo alguém souber exatamente do que ou o quê está falando... E ainda que nunca pensemos (nem haveremos de pensar) iguais uns aos outros, graças a Deus, quando atingirmos a esfera evolutiva de reconhecer o bom gosto dentro do bom gosto, ai, sim, poderemos afirmar com todas as letras, que, com certeza, “gosto é algo que não se discute” e ponto final. Não discutiremos.

4 comentários:

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Boa tarde.
Adorei.
Dessa forma, fica claro que, vai demorar muito, para que possamos dizer:
"Gosto não se discute"

Beijos.

Diana de Méridor disse...

Se um dia nós encontramos algo que não se discute!
É difícil. Seria engraçado a primeira coisa que não é discutido são os gostos.
Mas de qualquer maneira, madame, você tem bom gosto.

Feliz tarde

Bisous

Anônimo disse...

Hola Virginia!! No pude entender el texto completamente pero si puedo asegurarte que tenés buen gusto, amiga.
Besossssss

Paulus disse...

Ah, cara... É muito complicado isso que você quer... Como saber se gosto do jeito que eu gosto para gostar a você... o pior: Se você vai gostar do jeito que eu gosto de gostar das coisas que eu gosto... Nâo... é demais arriscado, depois que o diabo deixou o seu lugar a Narciso, ninguem risca nada. E assim estamos: qué visto, qué digo, qué gosto... E por qué vou responder "NADA" o vou assumir o risco d'escolher mal.

Melhor, vamos o kiosko, compramos um par de revistas onde esta tuuudo isso que tem que se fazer, dizer e pensar.

Nâo seremos felices, mas al menos, temos companhia.

(Madre... Si pessoa viera cómo escribo su lengua, se revolvería en la tumba)

Um grande abraço boreal e ainda perdâo por como trato seu belo idioma.

Cantilena do Corvo

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Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...