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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O LIMITE DA ETERNIDADE




Para Clarice



Poderá ser verdade Clarice, humanamente possível a suspensão do tempo? Será que podemos limitar, tocar, saborear a eternidade? O que posso eu te dizer sobre ela a partir de minhas experiências e indagações?...O sabor mesmo, palatável da eternidade, assim como tu sentiste, deste jeito, não, nunca a experimentei, há não ser apenas, de forma abstrata, a sensação, como por exemplo, da primeira vez que me apaixonei e achei que seria para sempre. Existirá algo mais “doce” do que esses primeiros enganos da juventude? Alguns desses primeiros encantos são como o teu “chiclete”, a princípio doce, ou nem tanto, mas que você vai levando, “chupando” depois “mastigando’, tomada de curiosidade e espanto. Entretanto, “chupar”, “mastigar”, embora tentemos guardar, “ pregar em algum canto”, para voltarmos depois, no dia seguinte, a “chupar e a “mastigar” começa a cansar, e, contrafeita você não sabe o que fazer com aquela sensação que agora não tem mais gosto algum e que, contudo, era para durar a vida inteira, ser eterna, para sempre..Aí, o medo de magoar faz você carregar o desgosto e a culpa, mas saber que isso pode se arrastar ad infinitum só lhe causa aflição. Todavia um dia, não suportando mais, você toma coragem e se escondendo sob o manto protetor da mentira sincera, dá um jeito de soltar a mão da mão que te segura com tanta força, como o chicle caído da tua boca “sem querer”. A mão “doída”, “suada”, “machucada”... não volta nunca mais a segurar a outra, que, ainda estendida, espera...Porém (de novo a bendita frase) como tudo na vida, felizmente, a “eternidade” também se cansa de esperar...
A sensação, e até o medo da eternidade, veio-me de várias formas. Certa vez, assistindo a um filme antigo, vi uma ponte que, não sei por que, deu-me a sensação de infinito. Era uma pequena ponte por onde um casal caminhava, mas para mim, ficou a impressão de que a ponte nunca acabava...sendo engolida afinal por um denso nevoeiro. Os viadutos e pontes dão-me a impressão de que sempre nos conduzirão a um lugar melhor, mas, ao mesmo tempo parece-me que percorrê-los é bastante assustador...Uma de minhas vidas, das muitas que tive e que terminou não faz muito tempo, foi como a cena desse filme, do qual não lembro sequer o nome. Sabe, vou mais a fundo, Clarice e posso te dizer que a eternidade está sempre presente e sob as mais diversas formas. Vamos contando a nós mesmos a mesma história permeada de infinitos, que, como as rosas, se entreabrem a outros vários infinitos.
A eternidade, e o medo que sesente dela, se repete até nas pequenas coisas do dia a dia, tal como o abrir e fechar de portas e a preocupação de realizar uma tarefa que parece nunca acabar ou fazer-nos sair do lugar. Talvez não estejamos mesmo, Clarice, à altura da Eternidade, não falo da eternidade que te sufoca, que te condena a uma vida repetitiva, mas, falo sim, daquela Eternidade que se abre para o vasto espaço, num aprendizado cheio de glórias infindas que nos elevam a sabedoria dos anjos. Não seremos desse tipo de eternidade merecedores enquanto nos fizermos de tolos, egoístas e senhores de tudo.
Essa sensação de eternidade que nos é dada viver e reviver agora, cotidianamente, como que condenados, só nos aflige, se e quando, relacionadas a fatos desagradáveis achamos que não podemos, ou não temos, capacidade de impor-lhe um limite e seria ousadia em demasia de nossa parte dizer que A ETERNIDADE ACABA AQUI...Impor limites à eternidade em nosso viver diário não só é humanamente possível como totalmente plausível e não é necessário para isso ser um fanático religioso, um profundo estudioso, um intelectual exaltado ou um grande mago, basta que aprendamos a reconhecer e a respeitar, com humildade, nos detalhes que nos escapam, os princípios básicos da Lei Imutável, que rege a vida como um todo, nesse Universo incomparável, em constante expansão. Palatável foi a tua crônica, Clarice, cujo gosto de chiclete não poderei jamais esquecer. Veja quantas reflexões me proporcionou! Arrastar a eternidade com todo o peso e ignorância de nossa mortalidade, é mesmo muito desalentador, embora, no começo, ela pareça-nos “doce, cor-de-rosa, inocente, tornando possível o mundo impossível do qual mal começamos a dar-nos conta”. O peso da eternidade de cada um é incomunicável e livrar-se dele, quando o conseguimos, é deveras um alivio, um alivio divino.

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