Um corvo, um cobre

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sexta-feira, 6 de março de 2009

LUAR PELA FRESTA






É noite! Há uma fresta em meu telhado por onde a lua me espia 

Demoro-me um tanto a espiá-la também Ligo a TV. 

Leio um pouco. 

Repouso. 

Desacelero o coração 

Rabisco palavras no papel, linhas ilegíveis de um pretenso poema, mas sou surpreendido com a queda de uma estrela, que, suavemente, passa pela fresta e inunda de luz o meu pensar.

Bom sinal! 

Quem sabe meu sonho se torne real? 

Assim como a lua e a estrela, o sol e a chuva entram pela fresta também 

E me acalentam e me dão de beber. 

Alimentam-me com novas palavras, muitas idéias... 

E com elas construo um castelo, um novo universo 

Renovo o discurso 

Refaço o verso.

segunda-feira, 2 de março de 2009

DESENHO DE GIZ








A chuva cai e apaga da calçada o desenho de giz que eu fiz, parece-me que há muito tempo, em uma outra vida, quando ainda era feliz.

Era um desenho de giz tão bonito, alegre, colorido... que, quem o via não pensava em o apagar e até mesmo as crianças ficavam encantadas e, em outra calçada, iam brincar.

Mas a chuva, que de nada se compadece, veio e borrou minhas esperanças, levando embora na enxurrada o desenho de giz, desfeito em água...

E minhas lágrimas foram tantas que competiram com a chuva...


domingo, 1 de março de 2009

SERENATA SELVAGEM








Os gatos debaixo do meu telhado
Os gatos em cima de minha janela
Os gatos em cima de meu telhado
Os gatos debaixo de minha janela
Oh cantoria maluca
Que não me deixa dormir
Lá fora
Os gatos no cio
Os gatos vadios
A noite escura é o seu cobertor, o manto protetor, a cama macia para o aconchego do amor
Nos longos gemidos emitidos por necessário capricho
O sossego humano perturbar
O bicho vai pegar
É hora de acasalar
A serenata selvagem corta o silêncio da noite
E não há água, pedrada ou sapatada que os espantem rua afora, se por perto houver uma gatinha manhosa e formosa, toda prosa
Cheia de amor pra dar
O bicho vai pegar
Os gatos debaixo do meu telhado
Os gatos em cima de minha janela
Os gatos em cima de meu telhado
Os gatos debaixo de minha janela
Alta madrugada
Lá fora
Os gatos no cio
Os gatos vadios
O sossego humano perturbar o bicho vai pegar
E hora de acasalar

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-ÁRIA DE CARNAVAL


ÁRIA DE CARNAVAL

Paris das Selvas, Carnaval de 1915.

Em verde cidade, em verdes anos, bailam foliões ao som de antigas marchinhas.
Belos carnavais de outrora!
Dentro e fora dos salões, a mascarada se anima. Afinal, é carnaval, é pierrot, é serpentina! Fantásticas cores, leves balanços.
Ao longe passam arlequins e colombinas, travando inocentes guerras de confetes, enchendo a rua de pontos coloridos, transformando as calçadas em adoráveis campos de batalhas.
Mas, também são verdes os olhos do ciúme, e observadores, na figura de Diana, se deleitam. Os tristes olhos que a deusa vigiam, guardam nos lábios palavras de queixas.
É a doce Ária
1, adolescente ainda, que de deusa Diana se fantasia e do Olimpo desce para entre os mortais vir brincar, e nem percebe os tristes olhos frios, que de longe a vigiam, e feliz corre para seu novo par.
Tantos planos, tantos sonhos, para depois do carnaval. Por ora, só o baile é importante, a correria no salão é contagiante e todos esperam a aurora raiar!
Porém, eis que os acordes mágicos de um violino interrompem a brincadeira e os foliões, embevecidos, param, ao ouvirem a canção.
É Ária, que em seu violino toca uma valsa - talvez um presságio! ''Subindo ao Céu'', ela toca, quando um tiro é disparado!
O amor e harmonia que a melodia espalhava, são logo substituídos por confusão e espanto! E o baile, antes tão colorido, cinza torna-se!
Ária cai com o violino, deixando no ar os últimos acordes; de vermelho vivo se tinge o vestido e a tristeza, com seu manto, a todos envolve.
O novo par de Diana, na figura de um caçador, a arma dispara; na luta que trava com o oponente sofredor.
O tiro mortal a disputa encerra, pois a causa, jaz, estendida no chão!
Agitam-se os foliões e o leve corpo carregam, formando estranho cortejo!
A partitura fora rasgada, para sempre, calou-se a cantiga. Não é a deusa Diana, ''a caçadora'' quem nos braços carregam, mas sim, a doce Ária já sem vida!


1Ária Ramos era uma jovem violinista de dezessete anos da sociedade manauara. Foi morta num baile de carnaval, por um tiro disparado por seu namorado que usava uma fantasia de caçador. Dizem alguns que tal tiro foi acidental. A arma disparara durante uma briga do rapaz com o ex-noivo da moça. Outros dizem que não houve briga nenhuma, e até hoje permanece um mistério o motivo de sua morte.



Do livro MORONETÁ-Crônicas Manauaras; Virgínia Allan, Editora Valer

domingo, 22 de fevereiro de 2009

EM TEMPOS DE CARNAVAL, VAI, ME TOCA UM BLUES...


Em tempos de Carnaval, prefiro escutar um blues... há irrealidade nesta festa profana, há tristeza profunda nesta “alegria barata”. Billie Holliday me invade os ouvidos, enquanto o vizinho ao lado escuta uma velha marchinha... bom, meus vizinhos são das antigas e ainda brincam o Carnaval de um modo antigo, mas prefiro a tristeza intraduzível, desprovida de máscaras de minha querida Billie... não estranhem se pareço intimo assim... me sinto intimo, um membro da grande família do Blues. Carnaval nunca me deu sossego... é barulho pra todo lado e não consigo me afastar de toda essa bagunça... não dá... faz parte de nossa cultura, faz parte de nossa história... Hum, devo admitir, faz parte de mim, mas eu, como “bicho” urbano, não agüento a solidão de um sitio afastado. Pobre de mim... Fico assim... Nem lá nem cá... Aproveito para escrever e ler... em momentos de descuido, mergulho em breves devaneios... Meus devaneios, às vezes, são temáticos e como estamos no Carnaval, viajo de volta a um passado romântico, onde os personagens estão sempre felizes. É Carnaval, não pode ser diferente e esta alegria é real, embora brote de um sonho. Na minha passarela desfilam as belas morenas, os passistas de outrora, o imenso Rei Momo, Chiquinha Gonzaga, com seu “Abre Alas”, Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola e toda a Velha Guarda da Mangueira, Adoniran Barbosa, Lamartine Babo, Ary Barroso, Carmem Miranda... e há também “o pirata da perna de pau, do olho de vidro, da cara de mau”; a loirinha dos olhos claros de cristal”... “a nêga maluca”... e por aí afora, são tantos brincantes importantes... e há, ainda os carros enfeitados, o folião misterioso sob a Máscara Negra, o Arlequin desencantado, a Columbina ingrata e o alegre Pierrot e “é tanto riso, tanta alegria, mas de mil palhaços no salão”... Contudo, embora sejam belíssimas histórias, hoje não vou junto neste compasso... vão eles passando, desfilando sob uma chuva de confetes e serpentinas, bailando e cantando antigas marchinhas... desfilam ao som das maravilhosas orquestras, do delirante frevo, das barulhentas batucadas... Os sons e os ritmos se misturam, se confundem numa orgia de cores e sabores, afinal é Carnaval... Entretanto, a nostalgia não me abala e permaneço firme, sem vergar a alma e ouço apenas a voz inconfundível de Billie, que me invade os sentidos... Em tempos de Carnaval, prefiro escutar um blues... VAI, ME TOCA UM BLUES.
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RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-E O ASSUNTO AGORA É CARNAVAL?



Para Clarice

Então Clarice, o assunto agora é Carnaval? Bela lembrança...! Pena que eu não guarde nenhuma em especial dos carnavais passados, nenhuma tão delicada quanto a tua, dessa época da infância. Abro e fecho as gavetas da memória, reviro-as e nada encontro de relevante. Estudava em colégio de freiras e o Carnaval para nós era um tempo de recolhimento e oração. Entediava-me e ficava torcendo em agonia para que logo chegasse “a quarta-feira ingrata”, a quarta-feira de cinzas, quando tudo então chegava ao fim. Na quarta-feira tudo se aquietava tudo se acalmava, até a natureza, tudo se recolhia em descanso, num silêncio respeitoso. Respeito a quê? A morte da “alegria”, que era preciso acabar para que tudo voltasse ao normal. Recordo-me ainda desses dias de festas, e das vezes em que víamos alguma coisa, como os blocos de sujo, passando em plena algazarra por dentro das ruas do bairro, jogando para todos os lados confetes e serpentinas. Achava linda a chuva de confetes e as serpentinas atiradas a esmo, eram como que laços que prendiam o expectador ao folião, unidos na mesma alegria nem tão barata assim. Lança-perfumes, já por esse tempo; usava-se muito pouco devido a proibição, mas os confetes coloridos que enfeitavam as ruas e calçadas, uma vez lançados eram re-reunidos em pequenos montes e lançados com euforia pela criançada, sucedendo o mesmo às serpentinas que ficavam dependuradas em fios ou galhos de árvores, balançando ao sopro do vento, como que pedindo para serem puxadas de onde estavam enroladas novamente e atiradas a uma longa distância até por fim acabar sua curta existência. Aos bailes infantis também nunca fui e fantasias só aquelas que eu vestia em minha imaginação. Ai, Clarice em meu tempo de menina fui sedenta como tu e nessa sede insensata absorvia a energia estranha e poética que saia da vida dos outros, pois, para mim só havia a alegria dos outros (uma alegria, aliás, que eu pouco entendia) e as máscaras não me metiam medo... o que eram máscaras de brinquedo diante das máscaras que realmente recobrem nossos rostos? Aprendi muito cedo a distingui-las. Aprendi muito cedo que as pessoas e seus mistérios, encantam e desencantam, as pessoas e seus mistérios fizeram dar-me conta do meu próprio mistério que de tão escondido era insuspeito em mim. Por muitos anos Clarice, não tive em casa ninguém doente, como tiveste tu em teus dias de infância, mas mesmo assim não pulávamos Carnaval (quero dizer nós, as meninas) entretanto, meus irmãos, os dois maiores, rapazolas, corriam soltos participando de tudo quanto era jeito. Liberdade não lhes faltava nunca; fosse Carnaval ou não, mas eu não lhes tinha inveja. Tinha meu próprio mundo. Usei uma vez um vestido de papel crepom e se não me falha a memória, não foi para um baile de carnaval, mas sim para uma festa junina. Não me lembro direito do modelo, só me lembro que era vermelho. O papel me deixou toda manchada, porém nada que um bom banho não resolvesse. Tu, Clarice, te preocupavas com a tua fantasia de papel que podia desfazer-se caso uma chuva viesse a cair e eu só me preocupava com o vestido, justamente, por ser ele de papel e que podia rasgar por qualquer motivo e a qualquer momento. Eu não pensava na vergonha que sentiria se tal coisa acontecesse, eu me preocupava era com a fragilidade e a feiúra do vestido. Bem, querida, em teu recordar tinhas apenas oito anos, eu, no meu repensar, era um pouco mais velha e talvez por isso mais vaidosa; sentindo em mim, aflorarem os primeiros anseios de menina-moça, e sem saber o que fazer, não me reconhecia, era como que outra pessoa abrindo caminho à força por dentro de meu ser. Para mim Clarice, os Carnavais, até hoje, são “melancólicos”, quem sabe, seja assim por me lembrarem coisas que não vivi, e talvez tivesse gostado de viver e sobre as manhãs de Carnaval; na azáfama dos preparativos, tenho pra te dizer que um dia de travessura infantil e puro devaneio, um dia de manhã bem cedo, sai desfilando minha fantasia, minha fantasia de “louca varrida”, de sonhadora incorrigível, mas, ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Desfilei avenida abaixo, sem carro alegórico ou comissão de frente e para os quatro cantos, gritei minha poesia. Ninguém me jogou confetes. Ninguém me aplaudiu. Ainda era muito cedo e todos dormiam. Ninguém me ouviu. Em plena avenida, despi-me da fantasia, ficando completamente nua. Não era mais uma “louca varrida”, nem uma sonhadora incorrigível, era somente eu mesma menina-flor-mulher, em flagrante desabrochar, cândida, fresca e frágil... Ninguém me viu. Ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Mas posso te dizer Clarice, que a minha poesia ficou gravada na memória daquela manhã de carnaval. Das coisas que já me aconteceram, houve sempre o melhor e o pior, mas eu não acredito que o destino seja um jogo de dados irracional, não acredito nem sequer que nossa vida seja um jogo de qualquer espécie, porém, impiedosa, muitas vezes ela é, e certos fatos que nos sucedem são mesmo difíceis de superar ou sequer compreender e sinto que algo morreu em mim antes mesmo d’eu começar a viver, eu já nasci desencantada. Não quero com essa frase parecer trágica, mas é assim que me sinto. Quando alguma alegria tenta se instalar, lembro-me de todas as coisas ruins que me aconteceram e o que acontece aos outros cotidianamente e isso lança sombras escuras sobre o meu contentamento. E a alegria dos outros sempre me apavora, embora seja esta alegria compreensível e desejável, tanto para eles quanto para mim. Deve ser algum boicote, alguma sabotagem que faço a mim mesma, uma, um muro invisível que ergui para me impedir de ver ou sentir a luz do sol. Eu sou Clarice, uma rosa que ama o sol, mas que ao mesmo tempo teme o seu brilho. Ergo-me sobre este muro, esta barreira invisível e desafio a infelicidade que de forma irônica zomba de mim. Mesmo assim tento manter-me firme acima do muro, até um dia ter coragem de ir mais além. O sol amigo me diz que este muro inexistente deve sumir para sempre, pois não há felicidade sem tristeza ou vice versa. Ninguém é sempre alegre ou sempre triste, deve ser um meio-termo, algo assim entre os dois. Eu sou Clarice, hoje, uma rosa-mulher solitária ao pé de um muro invisível que há muito deixou de ser menina e que quando perdida em seus receios, se sente uma palhaça pensativa de lábios vermelhos, querendo então que algo surpreendente aconteça e de que tudo não seja apenas um sonho ou uma delirante fantasia, algo surpreendente, que traga consigo a centelha iluminada da verdade e que de repente me devolva a menina que fui um dia, menina com cheiro de rosa, com perfume e encanto de mulher.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MANHÃ DE CARNAVAL


MANHÃ DE CARNAVAL

De manhã bem cedo, sai desfilando minha fantasia, ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado.
Desfilei avenida abaixo, sem carro alegórico ou comissão de frente e; para os quatro cantos, gritei minha poesia.
Ninguém me jogou confetes. Ninguém me aplaudiu. Ainda era muito cedo e todos dormiam. Ninguém me ouviu.
Em plena avenida, despi-me da fantasia, ficando completamente nu. Ninguém me viu.
Ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Mas, a minha poesia ficou gravada na memória daquela manhã de carnaval.


Do livro MORONETÁ; Crônicas Manauaras; Virgínia Allan, AEditora Valer

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...