Um corvo, um cobre

Se quiser jogar um cobre a um corvo pobre, será muito bem vindo: chave pix: 337.895.762-04

Quem sou eu

Minha foto
Manaus, AM, Brazil

Translate

Wikipedia

Resultados da pesquisa

Pesquisar este blog

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-CINZA OPACO



CINZA OPACO

Manhã
De um cinza opaco
Te vejo no retrato
E pedaços de uma vida

“Flash backs” em branco e preto

Cubro o rosto com o véu cinza
Dessa manhã
Divagando em mágico pensar

Espanto o gato preto
Tranco as portas e janelas
Bato três vezes na madeira

Invoco teu nome
Em frente o espelho
Mas tua presença iluminada
Não surge diante de mim

Vou ao jardim e pela palmeira mais alta subo até o céu
Afasto as nuvens e roubo então um raio de sol
Pra espantar a solidão




terça-feira, 12 de janeiro de 2010

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MEU BAIRRO ERA ASSIM...



MEU BAIRRO ERA ASSIM... 




Era assim o meu bairro... Um bairro imperfeito, meio sem jeito... 
Lembro-me bem de seus moradores e suas conversas de calçadas, em frente das casas, com flores nas janelas e portas abertas, escancaradas... 

“Ciranda, ó ciranda”... 
Foram todos cirandar?
“Roda, roda, roda criança mas, quem te ensinou a nadar?...” 
No igarapé de águas rasas, que passava lá embaixo,  
acompanhando a cantiga do peixe miúdo, que nadava muito seguro, 
nas mãos em forma de concha do moleque festeiro... 
Eheeê...caboclinho maroto, perdeu-se por este mundo?



Do livro Bairro de São Geraldo, Uma História em Duas Conjugações; Passado e Presente; Virgínia Allan; Edições Muiraquitã. 








sábado, 9 de janeiro de 2010

QUAL A DIREÇÃO CORRETA?

Um homem sábio tinha a reputação, amplamente difundida, de ter-se tornado irracional em sua apresentação de fatos e argumentos. Asssim, decidiu-se fazer um teste para que as autoridades do lugar decidissem enfim, se era uma ameaça para a ordem pública ou não.
No dia do teste, passou montado no lombo de um burro diante de todos. Ia montado de tal forma: com o rosto voltado para a parte traseira do burro. Ao chegar o momento de defender-se, ele perguntou a corte.
- Ao verem-me há um momento atrás, para onde olhava eu?
Os juízes, apostos, disseram- lhe então: - O senhor estava a olhar para o lado errado.
- Pois bem, isto exemplifica exatamente o que quero demontrar - respondeu o homem sábio - já que eu, segundo um ponto de vista, estava a olhar para o lado certo. O burro é que olhava na direção contrária.








As pessoas insistem em ver as coisas somente do modo em que se acostumaram a vê-las. Tomam-na como a maneira "correta". Ao isolar esta tendência em uma simples demonstração, o homem sábio ilustra o fato de que todos nós, todo dia, vemos uma quantidade de coisas de uma forma habitual, o que causa uma enorme limitação em nosso possível pensar, como se fossemos completos idiotas.


(Do livro SUFISMO NO OCIDENTE; Edições Dervish)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

PALIMPSESTO





Escrevo novamente sobre o mesmo papel amassado
Velhas/novas palavras que dizem muito ou quase nada
Desisti do poema em grego antigo que um dia pensei em escrever
Intraduzível seria, talvez até para mim

Porém, o poema em grego antigo, embora apagado, sobrevive no papel amassado
Onde velhas/novas palavras escritas não o conseguem esconder
Mas, não há confusão entre os textos, na verdade, parecem bem conviver

Somente eu, em minha inércia, não vejo pontes a ligar o espírito e o ser
Não há paixão ou entendimento nesse momento...
Quem sou eu agora... ? Pedaço de névoa, a pairar em obscuro pântano!  

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

INCONSTÂNCIA


Impaciente, rompo em prantos, quebrando o silêncio.
Logo a noite se fará dia, revolvo-me em doída, mortal agonia
e temo ao raiar da aurora não mais te encontrar.
Morre o teu sorriso em meu olhar;
saem de minha boca palavras sem sentido
e nem tu compreendes o que digo.
Num instante, serás miragem à luz fugaz
que cobre a paisagem, pois já desponta a manhã sobre este voraz,
sufocante deserto.
Peixe fora d’água,
Longa é a distância que nos separa.
Onde estou?
Onde estás?
Pra onde vou?
Pra onde vais?
Com quem irei?
Com quem irás?
Continuaremos a vagar, tu e eu, por caminhos que não sei?
Perdidos, amortecidos, solitários em cada estação?
Pergunto e repondo a mim mesma.
Há negligência em nossos passos
e tentamos, através de atalhos, chegar a algum lugar.
Mas pra que tanta pressa?
O destino final pouco interessa.
Já dizia o sábio que se o esforço é demasiado,
corre-se o risco de ficar atolado.
Melhor, quem sabe, é esperar por companhia, talvez um guia,
e a hora certa pra continuar a viagem, já que, perigo há
em atravessar sozinho o grande mar.
Nesse discurso inconstante de amor forjado, desenfreado,
roubado do tempo, não te enganes por um só momento (uma vez que, nele, nada há que não esteja impregnado de tua Presença) que nessa ânsia desmedida que ultrapassa o desencanto, o desamor, entendas que Tu, somente Tu és meu bálsamo consolador
É tua imagem querida que refrigera e sossega-me a alma, se estranhas, ensimesmadas amarguras toldam-me a clareza perfeita do dia.






terça-feira, 5 de janeiro de 2010

FAITHFULLY





Veio bater-me a porta
Cabisbaixa, sorrateira,
E não era velha, nem moça

Era bonita ao seu modo de ser
Num gesto cálido, sem nada dizer,
pegou-me nos braços e fez-me um afago

Depois, afastando-me um pouco
Olhou-me com olhos doces, de bondade
Uma mistura fatal de fadiga e irrealidade
Olhos de quem adormeceu, mas, não sonhou

Não a reconhecera de pronto
Porém, seu vestido preto acinzentado,
Salpicado de manchas roxas e marrons, dissera-me que já a tinha visto, que, claro, jamais a poderia ter esquecido, pois presente estava em algum momento

Quase sempre, vinha no vento ou no canto dos pássaros
e deixava-se ficar por um longo tempo, observando
a paisagem do alto dos prédios ou mesmo por cima dos galhos
das árvores ou ainda por sobre as campas do cemitério

Claro, não poderia jamais tê-la esquecido
pois, presente estava em algum momento
Fosse na paz, no sossego de um domingo, fosse num dia
de tumultuosa, ruidosa alegria

Era tão discreta, silenciosa, que sempre achavam que havia ido embora
Entretanto, cedo ou tarde alguém a via de relance e ao procurá-la no salão da alma, cujo  corredor conduz direto ao coração, seu lugar preferido, é que reparavam no que dizia o letreiro, tão antigo, pendurado à porta:

“A Saudade, às vezes vai lá fora, sai mas volta, nunca vai embora. A Saudade é senhora. Ela ainda mora aqui.”

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AMOR X AMIZADE

 


-->
Existem amores que são feitos de silêncios, longas esperas e frases desconexas
que não respondem perguntas e que permanecem na penumbra
ou na entrelinha do entendimento

Existem amores indecisos, recolhidos, que jamais se realizam
e que são feitos de breves encontros, soluços entrecortados e abandonos irreparáveis
Amores de curtos olhares, leves beijos, sinceros abraços, toques rápidos
e que se revestem da aparente normalidade de uma grande, boa, sincera e fiel amizade

Amo a quem me ama
Mas amo também a quem me quer bem, mas, de tão calado, o meu amado
nem sei o que pensa... o que será que tem?
Segredo costurado, firmemente alinhavado
com a dissimulada linha da fatal indiferença

Ai de mim...
Não vivo feliz assim
Há maior desencanto que servir a dois senhores?
Viver perdida entre dois amores?

Existem amores nunca confessados
Que jamais serão vividos
Que jamais serão lembrados

Amores que serão, para sempre, amizades
Encerrados no peito, calados
Como falsas promessas de felicidade
Em constante despedida

domingo, 3 de janeiro de 2010

O MENINO E O LOBO



Ilustração: Renato Moriconi



Do livro EL MONASTERIO MAGICO; Idries Shah; Edições Paidos Orientalia

Tradução: Virgínia Allan  


Sonhei que havia entabulado uma conversação com um lobo em que lhe dizia: “Os lobos, são famosos entre nós, os seres humanos, e temos muitas histórias sobre vocês.”

O lobo disse: “Que interessante! Que tipo de histórias?”

Em resposta lhe contei aquela fábula do menino que gritava: ‘O lobo! O lobo...’ 

“É curioso”, explicou o lobo, “Nós não conhecemos esta história. Em vez dessa temos outra, com esses dois como principais personagens, mas, no lugar do menino é o lobo que grita: ‘O moço! O moço’. Já deves tê-la ouvido."

“Lamento, não a ouvi.”

Em vista disso, o lobo contou-me a fábula: “Era uma vez um lobo que conheceu a um menino, que, entretanto, era um caçador de lobos. Ao compreender o quão era perigoso um humano caçador de lobos, ele logo se pôs a correr de uma matilha a outra, gritando: ‘O moço! O moço!

Porém, como os lobos não tinham noção do que seria um moço e possuíam apenas uma vaga ideia do que seriam os caçadores, não lhe deram nenhuma atenção. E, entre nós, há quem diga, que, como os lobos são deveras tontos, os homens (e às vezes, inclusive os garotos) podem caçá-los.”

“Mas, logicamente”, disse-lhe eu, “o conhecimento que têm de uma fábula como essa lhes servirá para preveni-los acerca da existência desses perigos e assim conseguir que sejam mais cuidadosos.”

Respondeu-me o lobo: “Vejo claramente que alguns de vocês, seres humanos, não são mais inteligentes que a maioria de nós. Igualmente a muitos de nós supões ao que parece que os contos aconselham e instruem, todavia, não te dais conta de que a aprendizagem se produz, na maior parte das vezes, pelo reconhecimento ulterior ao fato e não antes dele. Ademais, os lobos (não sei como será entre os humanos) consideram sempre que as fábulas aludem, em realidade a outros, mas nunca a si mesmos.”

Esta ideia espantosa foi o que me despertou. Mas, por sorte, o lobo havia desaparecido. 





        




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

MORTALIDADE



A morte surpreendeu de madrugada!
Surgiu como sempre, sem ser convidada,
E num repente, quantas vidas devastadas, soterradas
Sobre escombros de esperanças

A morte surpreendeu de madrugada!
Não perdoou juventude, nem velhice
Nem descanso, nem espanto, nem sonhos
Nem planos, nem chegada de um novo ano

Veio ligeira, descendo a encosta,
Molhada de chuva e com um dever a cumprir
Não distraiu-se com o barulho de fogos
Não reparou na beleza do mar
Veio, rápida e certeira, pronta a fazer sua colheita

A morte surpreendeu de madrugada!
E com a foice e a mortalha
Cobriu-nos de luto e pesar
Encheu-nos de tristeza o olhar
Deixando apenas por onde passou
Mágoa, frustração e dor
Como promessas de um ano bom








quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Do livro Masnavi de Jalaluddin Rumi; Edições Dervish
Tradução: Mônica Udler Cromberg/Ana Maria Sarda



Escuta a flauta de bambu, como se queixa,
Lamentando seu desterro: “Desde que me separaram de minha raíz,
Minhas notas queixosas arrancam lágrimas de homens e mulheres.
Meu peito se rompe, lutando para libertar meus suspiros,
E expressar os acessos de saudade de meu lugar.
Aquele que mora longe de sua casa
Está sempre ansiando pelo dia em que há de voltar.
Ouve-se meu lamento por toda a gente,
Em harmonia com os que se alegram e os que choram.
Cada um interpreta minhas notas de acordo com seus sentimentos,
Mas ninguém penetra os segredos de meu coração.
Meus segredos não destoam de minhas notas queixosas,
E, no entanto, não se manifestam ao olho e ao ouvido sensual.
Nenhum véu esconde o corpo da alma, nem a alma do corpo,
Mas, não obstante, homem algum jamais viu a alma.”



O lamento da flauta é fogo, e não puro ar.
Que aquele que carece desse fogo seja tido como morto!
É o fogo do amor que inspira a flauta,
É o amor que fermenta o vinho.
A flauta é confidente dos amantes infelízes;
Sim, sua melodia desnuda meus segredos mais íntimos.
Quem viu veneno e antídoto como a flauta?
Quem viu consolador gentil como a flauta?
A flauta conta a história do caminho, manchado de sangue, do amor,
Conta a história das penas de amor de Majnun
Ninguém sabe desses sentimentos senão aquele que está louco,
Como um ouvido que se inclina aos sussurros da língua.
De pena, meus dias são trabalho e dor,
Meus dias passam de mãos dadas com a angústia
E, todavia, se meus dias se esvaem assim, não importa,
Faz tua vontade, ó Puro Incomparável!
Mas quem não é peixe logo se cansa da água;
E àqueles a quem falta o pão de cada dia, o dia parece muito longo;
Portanto o “Verde” não compreende o estado do “Maduro”,
Eis que cabe a mim abreviar meu discurso.


Levanta-te, ó filho! Rompe tuas cadeias e sê livre!
Quanto tempo serás cativo da prata e do ouro?
Embora despejes o oceano em teu cântaro,
Este não pode conter mais que a provisão de um dia.
O cântaro do desejo do ávido nunca se enche,
A ostra não se enche de pérolas até a saciedade;
Somente aquele cuja veste foi rasgada pela violência do amor
Está inteiramente puro, livre de avidez e de pecado.


A ti entoamos louvores, ó Amor, doce loucura!
Tu que curas todas as nossas enfermidades!
Que és médico de nosso orgulho e presunção!
Tu que és nosso Platão e nosso Galeno
O amor eleva aos céus nossos corpos terrenos,
E faz até os montes dançarem de alegria!
Ó amante, foi o amor que deu vida ao Monte Sinai,
Quando “o monte estremeceu e Moisés perdeu os sentidos.”
Se meu amado apenas me tocasse com seus lábios,
Também eu, como a flauta, romperia em melodias.
Mas aquele que se aparta dos que falam sua língua,
Ainda que tenha cem vozes, é forçosamente mudo.
Depois que a rosa perde a cor e o jardim fenece,
Não se ouve mais a canção do rouxinol.


O Amado é tudo em tudo, o amante, apenas seu véu;
Só o Amado é que vive, o amante é coisa morta.
Quando o amante não sente mais as esporas do Amor,
Ele é como um pássaro que perdeu as asas.
Ai! Como posso manter os sentidos,
Quando o Amado não mostra a luz de Seu semblante?
O Amor quer ver seu segredo revelado,
Pois se o espelho não reflete, de que servirá?
Sabes por que teu espelho não reflete?
Porque a ferrugem não foi retirada de sua face.
Fosse ele purificado de toda ferrugem e mácula,
Refletiria o brilho do Sol de Deus.

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...