
A nossa memória é leve e breve. É preciso sempre que um vento sopre e refresque nossas idéias, nossos pensamentos, reavive as lembranças esmaecidas, como acontece ao fogo que está prestes a se apagar. No meio da floresta amazônica canta o uirapuru um triste blues, quem conhece o uirapuru sabe que é um pássaro pequeno de canto melodioso, melancólico e poderoso. O canto se espalha e envolve a quem o ouve... inspira, acalma, enleva, a alma se liberta. A resposta ao canto mágico é imediata, pois todo mundo traz um blues dentro de si e cada um tem o seu jeito de tocá-lo, cantá-lo ou até mesmo (por que não?) de escrevê-lo, de dizê-lo, enfim, uma definição particular. Mesmo tendo surgido em outra terra, de diferente clima e cultura, o blues é universal, pois, é algo inerente ao gênero humano, assim pode soar diferente para cada um, para cada lugar, porém nunca deixa de ser um blues verdadeiro. Poderia dizer como os antigos europeus, que entendiam "blue" como um estado de espírito, uma tristeza mortal, aonde atuavam nossos demônios interiores, isto é, tudo aquilo, todos os sentimentos, que precisavam ser postos para fora; aqui no Brasil o chamamos de "banzo". A história do blues é triste, bela e inesquecível, cheia de encantos com algumas notas (blue note) irônicas de alegria e uma pitada de deboche, enfim uma canção que soa exatamente assim, alegre e triste ao mesmo tempo, aos ouvidos, a alma e ao coração. Embora a sua história tenha começado lá bem longe (ou "longe é um lugar que não existe" como sugere o título de um livro) ao sul dos Estados Unidos, é nos familiar a sua forma, e cada gente, de qualquer parte do planeta, pode traduzi-lo seguindo o seu próprio ritmo, seguindo a sua canção interior, de acordo com a "verdade" que dirige sua própia existência. Para mim, isto é blues.
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