para Clarice
OS PRIMEIROS LIVROS DO RESTO DE NOSSAS VIDAS
Meu amor pelos livros, Clarice, começou muito cedo e por causa deles aprendi a ler em tempo recorde, já que ninguém do mundo adulto, queria gastar o seu tempo comigo lendo gibis ou histórias de príncipes e princesas, mas, de qualquer jeito, estes vieram depois, já que comecei mesmo pelos gibis do Popeye, o Marinheiro, Esqualidus, (que tinha. se não me engano, um jeito único e engraçado de falar, além de ser esquisito e magérrimo) Tio Patinhas; as bruxas; Maga Patalógika e Madame Mim, os Irmãos Metralha, Mancha Negra, (adorável) Zé Carioca, Professor Pardal... ai, então, vieram as revistas de terror como KRIPTA, DRÁCULA e outras do gênero, cujo nome não me vem agora à memória. Geralmente, nestes tipos de revista, muitas em preto e branco, vinham os clássicos, recontados, ou melhor, reescritos, de escritores até certo tempo atrás considerados malditos, como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, .Bram Stocker, etc...
Entre todos, porém, Clarice, Edgar Allan Poe foi o que exerceu maior influência sobre mim nos primeiros anos de adolescência. Berenice, Eleonora, Morella, O Corvo, O Gato Preto, O Coração Denunciador, O Barril de Amontillado... Lembro-me com que ansiedade ficava esperando meu irmão mais velho chegar em casa com aquele monte de revistas em quadrinhos, revistas de “sonhos”. Sim, não é algo muito “natural” de acontecer, mas o terror, o fantástico, foram os primeiros temas dos primeiros livros do resto de “nossas vidas” e ao contrário do que muitos podem pensar, não vivia assombrada (vivia encantada) e não desenvolvi, por causa disso, distúrbios de personalidade (pelo menos do que eu conheço de mim).
A Nona Arte, que sempre foi rodeada por preconceitos, considerada mesmo como “sub-literatura”, abriu-me novas portas, levando-me a mundos até então, por mim, desconhecidos.
O contacto com uma literatura mais adulta; através dos quadrinhos, facilitou-me o desenvolvimento das idéias, posto que, levou-me a dar-me conta de questões que lutei para resolver, questões existenciais.
No colégio, os livros que logo me agradaram foram os de História do Brasil e História Geral, cuja professora, de Estudos Sociais, (esqueci o seu nome) também ensinava Português, nos estimulava, fazendo com que lêssemos em voz alta, várias passagens importantes, fazendo o mesmo nas aulas de Português. Foi assim que Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e você, Clarice, entraram em minha vida. Nesse tempo ainda não havia brotado em mim a vontade de escrever. Queria apenas participar, apreciar a beleza das palavras e extrair a sabedoria daquilo tudo.
Os contos de fadas me deixavam melancólica, mas, adorava. Branca de Neve, Cinderela, O Alfaiate Valente...
Hans Christian Andersen resisti a ler durante algum tempo dada a tristeza que me transmitia; assim O Patinho Feio só aquietou em minhas mãos, na fase adulta. Outro conto dele inesquecível para mim é A Sombra, tão sombrio quanto o titulo.
Creio Clarice, que todos nós, com raras exceções, somos meio “patinho feio” e só o tempo, nossa competência, força de vontade e um mínimo de sorte, é que nos ajuda a fazer a transformação para cisne. Infelizmente, nem sempre dá certo, transformar-se em cisne requer trabalho duro sobre si mesmo e poucos conseguem manter a disposição para fazer o que é necessário.
Oscar Wilde me apareceu com seu Príncipe Feliz, O Pescador e sua Alma, O Retrato de Dorian Gray e Di Profundis. Tomei gosto e enveredei pelos romances clássicos, como Madame Bovary de Flaubert, Senhora e O Guarani de José de Alencar.
Em seguida, aconteceu-me o episódio da perda dos livros de Machado de Assis e para me consolar, fui de livro em livro sem me dedicar, em especial, a um autor e, vieram os best-sellers: Ernest Hemingway (O Sol também se levanta), Robert Graves (Eu, Claudius, Imperador, A Filha de Homero) e muitos outros.
Herman Hesse, com o Lobo da Estepe e Damian também passou pela minha vida, assim como certamente passou pela vida de todos que gostam de ler. Vivia pelos sebos atrás de tudo o que me interessava e costumava, graças a Deus, ganhar muitos livros e pela minha ânsia e sede de saber, pela incansável busca interior fui recompensada e encontrei Goethe, Dostoyeviski. ..
Herman Melville e sua baleia branca, Moby Dick, me impressionam até hoje e os santos sufis, que com seu modo peculiar tocaram minha essência, fazendo-me despertar para um jeito novo de olhar o mundo.
Se eu fosse listar todos os livros que me influenciaram e fizeram diferença, não caberia mesmo em uma só vida.
Nesta atual fase de minha existência, dessa “nova vida” Clarice; não possuo biblioteca devidamente projetada e equipada, mas, o que tenho me basta. Poucos livros, agora, suscitam meu respeito, minha atenção e paixão. O tempo passou, estou com os pés firmes, muito bem fincados no chão e raras vezes me vejo arrebatada para um lugar de sonhos. Tudo passa. A gente aprende quando quer realmente aprender, e sei que vais concordar comigo, que, tudo o que foi e ainda é importante, está guardado, impresso na alma, pois os verdadeiros livros, aqueles que nos encantam e ensinam, estão vivos, inscritos, eternamente, dentro do coração.
OS PRIMEIROS LIVROS DO RESTO DE NOSSAS VIDAS
Meu amor pelos livros, Clarice, começou muito cedo e por causa deles aprendi a ler em tempo recorde, já que ninguém do mundo adulto, queria gastar o seu tempo comigo lendo gibis ou histórias de príncipes e princesas, mas, de qualquer jeito, estes vieram depois, já que comecei mesmo pelos gibis do Popeye, o Marinheiro, Esqualidus, (que tinha. se não me engano, um jeito único e engraçado de falar, além de ser esquisito e magérrimo) Tio Patinhas; as bruxas; Maga Patalógika e Madame Mim, os Irmãos Metralha, Mancha Negra, (adorável) Zé Carioca, Professor Pardal... ai, então, vieram as revistas de terror como KRIPTA, DRÁCULA e outras do gênero, cujo nome não me vem agora à memória. Geralmente, nestes tipos de revista, muitas em preto e branco, vinham os clássicos, recontados, ou melhor, reescritos, de escritores até certo tempo atrás considerados malditos, como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, .Bram Stocker, etc...
Entre todos, porém, Clarice, Edgar Allan Poe foi o que exerceu maior influência sobre mim nos primeiros anos de adolescência. Berenice, Eleonora, Morella, O Corvo, O Gato Preto, O Coração Denunciador, O Barril de Amontillado... Lembro-me com que ansiedade ficava esperando meu irmão mais velho chegar em casa com aquele monte de revistas em quadrinhos, revistas de “sonhos”. Sim, não é algo muito “natural” de acontecer, mas o terror, o fantástico, foram os primeiros temas dos primeiros livros do resto de “nossas vidas” e ao contrário do que muitos podem pensar, não vivia assombrada (vivia encantada) e não desenvolvi, por causa disso, distúrbios de personalidade (pelo menos do que eu conheço de mim).
A Nona Arte, que sempre foi rodeada por preconceitos, considerada mesmo como “sub-literatura”, abriu-me novas portas, levando-me a mundos até então, por mim, desconhecidos.
O contacto com uma literatura mais adulta; através dos quadrinhos, facilitou-me o desenvolvimento das idéias, posto que, levou-me a dar-me conta de questões que lutei para resolver, questões existenciais.
No colégio, os livros que logo me agradaram foram os de História do Brasil e História Geral, cuja professora, de Estudos Sociais, (esqueci o seu nome) também ensinava Português, nos estimulava, fazendo com que lêssemos em voz alta, várias passagens importantes, fazendo o mesmo nas aulas de Português. Foi assim que Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e você, Clarice, entraram em minha vida. Nesse tempo ainda não havia brotado em mim a vontade de escrever. Queria apenas participar, apreciar a beleza das palavras e extrair a sabedoria daquilo tudo.
Os contos de fadas me deixavam melancólica, mas, adorava. Branca de Neve, Cinderela, O Alfaiate Valente...
Hans Christian Andersen resisti a ler durante algum tempo dada a tristeza que me transmitia; assim O Patinho Feio só aquietou em minhas mãos, na fase adulta. Outro conto dele inesquecível para mim é A Sombra, tão sombrio quanto o titulo.
Creio Clarice, que todos nós, com raras exceções, somos meio “patinho feio” e só o tempo, nossa competência, força de vontade e um mínimo de sorte, é que nos ajuda a fazer a transformação para cisne. Infelizmente, nem sempre dá certo, transformar-se em cisne requer trabalho duro sobre si mesmo e poucos conseguem manter a disposição para fazer o que é necessário.
Oscar Wilde me apareceu com seu Príncipe Feliz, O Pescador e sua Alma, O Retrato de Dorian Gray e Di Profundis. Tomei gosto e enveredei pelos romances clássicos, como Madame Bovary de Flaubert, Senhora e O Guarani de José de Alencar.
Em seguida, aconteceu-me o episódio da perda dos livros de Machado de Assis e para me consolar, fui de livro em livro sem me dedicar, em especial, a um autor e, vieram os best-sellers: Ernest Hemingway (O Sol também se levanta), Robert Graves (Eu, Claudius, Imperador, A Filha de Homero) e muitos outros.
Herman Hesse, com o Lobo da Estepe e Damian também passou pela minha vida, assim como certamente passou pela vida de todos que gostam de ler. Vivia pelos sebos atrás de tudo o que me interessava e costumava, graças a Deus, ganhar muitos livros e pela minha ânsia e sede de saber, pela incansável busca interior fui recompensada e encontrei Goethe, Dostoyeviski. ..
Herman Melville e sua baleia branca, Moby Dick, me impressionam até hoje e os santos sufis, que com seu modo peculiar tocaram minha essência, fazendo-me despertar para um jeito novo de olhar o mundo.
Se eu fosse listar todos os livros que me influenciaram e fizeram diferença, não caberia mesmo em uma só vida.
Nesta atual fase de minha existência, dessa “nova vida” Clarice; não possuo biblioteca devidamente projetada e equipada, mas, o que tenho me basta. Poucos livros, agora, suscitam meu respeito, minha atenção e paixão. O tempo passou, estou com os pés firmes, muito bem fincados no chão e raras vezes me vejo arrebatada para um lugar de sonhos. Tudo passa. A gente aprende quando quer realmente aprender, e sei que vais concordar comigo, que, tudo o que foi e ainda é importante, está guardado, impresso na alma, pois os verdadeiros livros, aqueles que nos encantam e ensinam, estão vivos, inscritos, eternamente, dentro do coração.
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