“Ao doente, a água doce em sua boca, possui um sabor amargo” (El Mutanabbi)
PARÁBOLA
Sexta-feira da paixão de Cristo... chove lá fora... outra vez... e só a chuva corta o silêncio que paira na rua. Dentro de casa, o barulho da televisão e os brinquedos de minha filha espalhados pelo chão. Na cozinha, o cheiro de comida... Sexta feira da paixão... Em outros tempos, era muito diferente...
Apesar de ter sido criada dentro da religião católica, faço parte do grupo dos “não praticantes”, não por descrença, não por ser destituída de fé, mas, sim pelo simples fato de querer mais do que a religião socialmente estabelecida pode me dar. Não entrarei em detalhes dessa minha busca pela verdade, é pessoal demais, quero aqui, nesta sexta feira da paixão, contar uma história, um episódio da vida de Isa Ibn Mariam, ou Jesus filho de Maria bem pouco conhecido, relatada pelo filósofo sufi do século XII, Imã Al-Ghazali[1].
Jesus, filho de Maria, um dia, viu algumas pessoas em estado de lamentosa miséria, sentadas sobre um muro, e dirigindo-se a eles, perguntou: “O que lhes aconteceu?”.
No que então lhe responderam: “Nos reduzimos a este estado por puro temor ao inferno”.
Jesus continuou sua caminhada e mais adiante, à beira do caminho, viu umas pessoas perdidas, desconsoladas. Ele novamente se aproximou e lhes perguntou: “O que foi? O que lhes aconteceu?”
“Nos reduzimos a esse estado por almejarmos ardentemente o paraíso”.
Jesus retomou sua jornada e seguiu assim até deparar-se com um terceiro grupo de pessoas, que, pelo aspecto, pareciam haver sofrido muito, entretanto, seus rostos mostravam uma alegria incomum, resplandecente: “O que foi? O que lhes aconteceu para deixá-los assim?”
E eles responderam: “O Espírito da Verdade. Vimos a REALIDADE e esquecemos de nossas metas mesquinhas”.
Disse Jesus: “Estes são os que chegam. No dia do Juízo certamente estarão em presença de Deus”.
Termino meu artigo, deste modo, com as palavras do jovem Rabi Isa Ibn Maryam, ou Jesus filho de Maria, que sofreu na cruz para a remissão dos pecados de pobres, miseráveis e indiferentes mortais, que temem o inferno, almejam o paraíso, e pouco aprendem com o sofrimento... e se esquecem que todo dia é um renascimento,uma ressurreição, uma constante renovação da vida por completo, por inteiro.
Um comentário:
Mulher da ilha é solidão
É espera do vapor da madrugada
É aroma de milho em mesa de pão
É pio de milhafre, alma assombrada
Mãe em ninho feito de frias pedras
Por duras mãos cheias de jeito
Não sei se de ti brota um morno leite
Ou escorre rubra lava do teu peito
Uma Santa Páscoa
Terno beijo
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