Um corvo, um cobre

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domingo, 31 de agosto de 2008

MULHER À JANELA

Mulher à janela -Salvador Dali


Mulher à janela
Olha ela
Vive sem graça
A olhar a gente que passa
Ela espera
O amor que tem
e que a contêm
Horas de puro desassossego
contadas nas pontas dos dedos
rosário improvisado no oratório ao pé da janela
desajeitado como ela
Agonia espelhada em cada canto
da casa solitária despida do brilho
falso enganador mas radiante de dona esperança

sábado, 30 de agosto de 2008



As imperceptibly as grief 

The summer lapsed away, 

Too imperceptible at last, 

To seem like perfidy. 

 A quietness distilled,

 As twilight long begun 

Or Nature, spending with herself 

Sequestered afternoon. 

 The dusk drew earlier in, 

The morning foreign shone, 

- A courteous, yet harrowing grace, 

As Guest, who would be gone. 

 And thus, without a wing. 

Or service of a keel, 

Our summer made her ligth escape 

Into the beautiful. 

(1865) 

Tão despercebido quanto a aflição,

Passou o verão... 

Tão despercebido, enfim, 

Que de traição deixou a sensação. 

 A isolada quietude 

Estendeu-se ao anoitecer 

Aonde a Natureza, presenteou a si mesma 

O que roubou do entardecer. 

 O anoitecer prematuramente 

Arrancou de si uma estranha e luminosa manhã 

Que se dobrou graciosa em reverência dolorosa, 

Ao ingrato visitante que se foi. 

 Embora em desamparo, 

O divino oficio se refez, 

Nosso verão se fez luz 

E dentro da beleza foi se esconder.

(Um poema de Emily Dickinson por Virgínia Allan)

LADAINHA



Sou um grão de areia girando no ar
Sou um átomo dançando em torno do sol
Sou uma estrela que cai devagar
Sou a lua que ama o sol
Sou
Cometa que passa errante em solitária jornada rumo ao mar inconstante
Sou
Sou a senhora dos segredos
Sou a eleita dos deuses
Sou a dona das minas de prata e de ouro
Sou a favorita de todos
Sou
Jovem velha jovem senhora senhorita fênix bendita das cinzas renascidas
Sou
Sou o amante abandonado
Sou o amante que abandonou
Sou a tristeza que paira na tarde
Sou o silêncio que nunca calou
Sou
Um inábil tradutor de poucas palavras e mudas falas
Sou
Sou a brisa que logo se faz ventania
Sou a fugaz beleza de um dia
Sou noite fria e tardia
Sou alegria colorida e vazia
Sou
Alma resignada pela dor aniquilada
Sou
Sou a prece do moribundo murmurada
Sou a paz doce e solidária
Sou o remédio das horas amargas
Sou a fé que nunca falha
Sou
Pobre miserável enriquecido um tolo sabido uma espécie de rei mendigo
Sou
Sou o refúgio do fraco
Sou o escudo do forte
Sou o tormentoso vento norte
Sou aquele que lida com a sorte
Sou
Odioso mensageiro da guerra inabalável senhor da morte cavaleiro negro que toda a terra percorre
Sou
Sou a lágrima furtiva do pranto contido
Sou o poeta apaixonado embriagado entontecido
Sou o ombro amigo consolo dos desvalidos
Sou o homem novo renascido vivo
Sou
O perdão abençoado dado ao infeliz abandonado
Sou
Sou a canção de acalanto aprendida
Sou um conto uma historia esquecida
Sou o alivio da mão estendida
Sou a esperança que ilumina a vida
Sou
Resto de nada poeira assentada da esquecida estrada
Sou
Sou o amor que promete e nunca vem
Sou o amor de ninguém
Sou o rico que nada tem
Sou o mal que vem pra bem
Sou
O corpo sobrecarregado sina de um viver aprisionado semente pelo vento levada no campo espalhada
Sou
Sou um sonho uma quimera
Sou a ferida da fera
Sou a ânsia contida de uma longa espera
Sou em verdade a verdade que tudo encerra
Sou
Nada e nada sei que sou alma penada que por piedade implora e escondida do sol lamenta e chora por sobre as campas dos envelhecidos túmulos.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A CRIAÇÃO


Da palavra “Seja”, pronunciada por Deus, surgiram todas as coisas; todas as coisas surgiram a partir da palavra “Seja”, pronunciada por Deus em sua nebulosa solidão.
Metade desta palavra saída da boca do Criador era feita de luz; metade desta palavra saída da boca do Criador era feita de escuridão.
Luz e escuridão permearam todas as coisas que existiam no Universo; todas as coisas que existiam no Universo foram permeadas por luz e escuridão, inclusive o barro do qual foi criado Adão. Portanto, o homem será aquilo que deve ser; aquilo que sua essência determinar. Se sua essência for de luz, esta então prevalecerá sobre a sua essência de escuridão, porém, se sua essência for de escuridão, esta prevalecerá sobre a sua essência de luz.
Do barro e da água, Deus criou o homem a sua imagem e semelhança; a sua imagem e semelhança, do barro e da água, Ele o criou e nele, insuflou Seu espírito, pleno de sabedoria.
Quando a criatura de barro e água ficou pronta, Deus passou a mão por suas costas e separou o bem do mal; ao passar a mão por suas costas, o mal do bem Deus separou.
Das costas do homem feito do barro e da água, Deus fez sair os companheiros da mão direita, que se dirigiram para o lado direito; das costas do homem feito do barro e da água Deus fez sair os companheiros da mão esquerda, que se dirigiram para o lado esquerdo.
Assim é desde o princípio dos tempos. Não me perguntem o porquê, pois a isto não saberei responder e peca aquele que perguntar.
Cala-te!
A sabedoria está em toda a criação e ela se refletirá na nobreza de coração daquele que foi criado do barro e da água; sobre aquele a quem Deus estender a Sua paz e coroar com Suas benções.
O conhecimento e a compreensão de Deus, frutos da confiança e da fé, só nos são possíveis por causa de Sua imensa generosidade, já que somente por Sua infinita graça e misericórdia é que nos é dada a capacidade de alcançar, de ter e reter, enfim, de Seu rosto uma clara, mas, perturbadora, visão.


(Inspirado em Ibn el Arabi, El Árbol Del Universo)

ESPARSOS


Fuga
Fugaz
Sonho
Azul/Lilás
Mordaz
Ferida
Antiga
Cicatriz
Por um triz

***

Sombrio céu dentro de mim
Onde chove todo o tempo
Pequeninas flores desabrocham
mas logo morrem afogadas em mágoas
dor lancinante do viver descontente

***

Refugio-me no sonho
Trago para dentro da teia de maya
Imaginária, o retorno à nossa casa
E o meu vagar pelos quartos
Silenciosos, à tua procura, sem descanso


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

ENTARDECER



O entardecer me entristece
Não cabe a prece em meu peito
Mas a voz não sai, emudece

Silêncio...silêncio profundo!

A fresta aberta entre os dois mundos
Ferida antiga logo se fecha...
Refaz-se então a fria e pálida paisagem
E eu inerte distante de tudo

Ando por entre escombros
De uma cidade em ruínas
Que na realidade sou

Sob a cortina de neblina
Espírito contrariado
Se esconde a saudade
Que o pranto, inutilmente derramado, não levou

O VELHO DA BARCA


Bom barqueiro bom barqueiro...
Dá licença de eu passar...?
Carregado de lembranças
Para casa vou voltar...
Vivo estou à margem do Aqueronte
Nem sei como aqui vim parar
Perdido por entre clamores e prantos das almas condenadas...
Barqueiro bom barqueiro
Dá licença de eu passar...?
Salvo conduto possuo
Para escapar desse mundo escuro
O precioso raminho de ouro
Dado pela Sibila esperança
Velho Caronte barqueiro amigo
Do rio Aqueronte quero distância
Barqueiro ó bom barqueiro
Dá licença de eu passar?
Carregado de lembranças
Para casa além do mar quero voltar
Barqueiro ó bom barqueiro
É pra lá onde hás de me levar

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

BRINCADEIRA DE CRIANÇA



Lembro-me de um dia...Num instante o sol brilhava e no outro a brisa fria fininha, transformou-se em densa, desvairada ventania e, com violência, encrespou as ondas do rio-mar, afundou barcos, destelhou casas, derrubou barracos, desfolhou árvores, jogando longe, flores e frutos. Dançou com as roupas do varal um rock’n’roll amalucado e quando cansou deixou irem-se pra além das nuvens vestir os anjos, e, invejosa, a doida ventania levou embora a moça linda que passeava com o namorado que, coitado, mal teve tempo de despedir-se. Só as crianças que sem medo de nada, acompanhavam-lhe, rindo, deliciadas, a loucura desavisada e subiam em suas asas, pegavam carona no seu pé...
Após a sua passagem, o choro e o lamento que a sucedeu, faziam contraste com a estranha alegria da meninada, que acorreu, descabelada, ao chamado do repórter a posar para uma foto...e entre as ruínas de uma casa desolada, destruída pela passagem da vil ventania, eternizou-se um momento feliz estampado nos sorrisos e olhos infantis.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

SEMPRE O MAR



para Clarice


Eu, Clarice, em minha infância nunca morei perto do mar, nem mesmo perto de rio, embora tenha nascido e viva ainda em uma cidade banhada pela água doce. Apenas no começo da idade adulta foi que, enfim, cheguei perto de água salgada, o mar. Minha irmã mais nova estava com problemas e meu pai resolveu que seria melhor para todos mudarmos para o Rio de Janeiro e o que era para ser definitivo, acabou durando apenas três meses; três meses, diga-se de passagem, muito bem aproveitados.
Para mim, os dias passados na Cidade Maravilhosa, querida Clarice, que te foi tão familiar, foram dias inesquecíveis, em que pude conhecer melhor a cidade, (já estivera lá uma vez antes) e mais ainda a mim mesma. Como morávamos em Copacabana, o mar estava logo ali, praticamente batendo à porta de nosso apartamento, ao alcance da mão, ou dos pés, ou do pensamento...
Pela praia, costumava passear, à tarde, fizesse tempo claro ou cinzento, raras vezes indo de manhã. De manhãzinha, ainda escuro, só levantei em São Pedro da Serra, aonde fui com Vitória, uma amiga querida, e lá vi o sol nascer, quentinho, espantando o frio da noite anterior para longe. O coração, naquele tempo, sempre estava palpitante, batendo, ansioso pelas novas amizades e belos lugares, mas aos saltos mesmo só ficou ao conhecer o Marcos; mas a história com ele nem começou então... deixemos pra lá...
Eu também, como o teu pai Clarice, acredito em curas de banho de mar, mas, como não sabia nadar (ainda não sei) temia me aproximar muito da água e assim ficava, na segurança da praia, sentada na areia, lendo algum livro, olhando as pessoas ou apreciando o vaivém das ondas, vez por outra, molhando apenas os pés ou as mãos.
Entretanto, uma vez, fiquei tão hipnotizada, apreciando uma onda elevar-se que não consegui sair do lugar e levei um tremendo banho...e foi assim que tomei meu primeiro e único banho de mar.
Ao chegar ao apartamento não me lavei de imediato, pois ainda sentia o impacto da onda sobre mim e não queria tirar aquela sensação. Tinha sido bom...Acho que me curei de alguma coisa, o quê, precisamente, não o sei te dizer.
Minha irmã, o pivô da mudança, tomou muitos banhos de mar, mas, creio que o efeito ela só está sentindo agora, depois de tantos anos...Bem, "antes tarde do que nunca"...curar-se é sempre recomendável, seja lá do que for...
Adorava o pôr do sol. Tem quem não goste, acreditas? Hora mágica em que “abre-se a fresta entre os mundos”, como dizia o escritor Carlos Castañeda; ainda acredito nisso, piamente.
Por esse tempo andava muito a pé, chegando a ir, sozinha, até o Arpoador. Copacabana, para mim, era um mundo aparte, cheio de coisas e pessoas interessantes. Andava de ônibus também, mas só até o Flamengo, porém, a viagem era sempre "a viagem".
Minha vida, nesses três meses, girou em torno de uns três ou quatro bairros da Zona sul, do mar e de São Pedro da Serra. De deslumbramento me ficou somente o sonho do qual não queria acordar. O apartamento, as tardes, as viagens até São Pedro, o rock ‘n’roll e o cheiro do mar. Saiba Clarice que eu, ao contrário de você, forço a exaustão, a minha capacidade de ser feliz, que em realidade, nunca se me revelou por inteira...
Nessa aventura familiar não demoramos o bastante. Por fim, tomamos o avião e voltamos para casa. Desde então, minha casa, minha rua, minha cidade, minha vida adquiriram vários tons; tons que, em alguns contornos desse desenho que vou traçando da vida, estão tão coloridos que chegam a ferir os olhos tal a vivacidade mas, em outras partes, já se encontram desbotados ou quase apagados, lentamente desaparecendo como as pessoas, que, como tu, aqui na terra, já cumpriram o seu tempo e a sua missão.
Poucos anos depois de nosso retorno, meu pai morreu, e, agora, mais recentemente, o amor de minha vida e quase ao mesmo tempo a amiga querida , Vitória, que naqueles dias de deliciosa embriaguez recebeu-me e cuidou-me com desvelo. Ela, tão gentil, morreu num acidente de carro, na descida da mesma Serra que percorrera tantas vezes de cima abaixo.
E eu...Ainda ouço o mar. Ele está sempre aqui e não há banho de rio, de chuva ou de chuveiro que o tire de dentro de mim.
Clarice, também não sei a quem devo pedir para que em minha vida se repita a felicidade, a quem devo pedir bis? Talvez o Grande Regente dessa orquestra maravilhosa chamada vida tenha decidido que eu já recebi, servida em uma taça de prata, a minha devida dosagem e que seria muita imprudência ficar embriagada, seria muita imprudência e puro egoísmo ser por demais feliz.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

COLÓQUIO AMOROSO

Layla e Majnun


Quem sou eu?
Um ponto brilhante no céu
Quem és tu?
Minha preciosa lua
Olhamo-nos
Frente a frente
Tu e eu
E nada mais pudemos dizer um ao outro
Como um só corpo
Fundimo-nos à paisagem
Claro escuro céu
De onde despenca a tristeza e a alegria
Onde nasce a poesia
E para onde retornam os seres
Formados da branca gota de espuma do mar
E de nosso colóquio silencioso
Em que as palavras temeram penetrar
Em que as estações não ousaram mudar
Surgiram histórias e lendas
Espalhadas pelo mundo por uma revoada de anjos

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...