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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AMOR X AMIZADE

 


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Existem amores que são feitos de silêncios, longas esperas e frases desconexas
que não respondem perguntas e que permanecem na penumbra
ou na entrelinha do entendimento

Existem amores indecisos, recolhidos, que jamais se realizam
e que são feitos de breves encontros, soluços entrecortados e abandonos irreparáveis
Amores de curtos olhares, leves beijos, sinceros abraços, toques rápidos
e que se revestem da aparente normalidade de uma grande, boa, sincera e fiel amizade

Amo a quem me ama
Mas amo também a quem me quer bem, mas, de tão calado, o meu amado
nem sei o que pensa... o que será que tem?
Segredo costurado, firmemente alinhavado
com a dissimulada linha da fatal indiferença

Ai de mim...
Não vivo feliz assim
Há maior desencanto que servir a dois senhores?
Viver perdida entre dois amores?

Existem amores nunca confessados
Que jamais serão vividos
Que jamais serão lembrados

Amores que serão, para sempre, amizades
Encerrados no peito, calados
Como falsas promessas de felicidade
Em constante despedida

domingo, 3 de janeiro de 2010

O MENINO E O LOBO



Ilustração: Renato Moriconi



Do livro EL MONASTERIO MAGICO; Idries Shah; Edições Paidos Orientalia

Tradução: Virgínia Allan  


Sonhei que havia entabulado uma conversação com um lobo em que lhe dizia: “Os lobos, são famosos entre nós, os seres humanos, e temos muitas histórias sobre vocês.”

O lobo disse: “Que interessante! Que tipo de histórias?”

Em resposta lhe contei aquela fábula do menino que gritava: ‘O lobo! O lobo...’ 

“É curioso”, explicou o lobo, “Nós não conhecemos esta história. Em vez dessa temos outra, com esses dois como principais personagens, mas, no lugar do menino é o lobo que grita: ‘O moço! O moço’. Já deves tê-la ouvido."

“Lamento, não a ouvi.”

Em vista disso, o lobo contou-me a fábula: “Era uma vez um lobo que conheceu a um menino, que, entretanto, era um caçador de lobos. Ao compreender o quão era perigoso um humano caçador de lobos, ele logo se pôs a correr de uma matilha a outra, gritando: ‘O moço! O moço!

Porém, como os lobos não tinham noção do que seria um moço e possuíam apenas uma vaga ideia do que seriam os caçadores, não lhe deram nenhuma atenção. E, entre nós, há quem diga, que, como os lobos são deveras tontos, os homens (e às vezes, inclusive os garotos) podem caçá-los.”

“Mas, logicamente”, disse-lhe eu, “o conhecimento que têm de uma fábula como essa lhes servirá para preveni-los acerca da existência desses perigos e assim conseguir que sejam mais cuidadosos.”

Respondeu-me o lobo: “Vejo claramente que alguns de vocês, seres humanos, não são mais inteligentes que a maioria de nós. Igualmente a muitos de nós supões ao que parece que os contos aconselham e instruem, todavia, não te dais conta de que a aprendizagem se produz, na maior parte das vezes, pelo reconhecimento ulterior ao fato e não antes dele. Ademais, os lobos (não sei como será entre os humanos) consideram sempre que as fábulas aludem, em realidade a outros, mas nunca a si mesmos.”

Esta ideia espantosa foi o que me despertou. Mas, por sorte, o lobo havia desaparecido. 





        




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

MORTALIDADE



A morte surpreendeu de madrugada!
Surgiu como sempre, sem ser convidada,
E num repente, quantas vidas devastadas, soterradas
Sobre escombros de esperanças

A morte surpreendeu de madrugada!
Não perdoou juventude, nem velhice
Nem descanso, nem espanto, nem sonhos
Nem planos, nem chegada de um novo ano

Veio ligeira, descendo a encosta,
Molhada de chuva e com um dever a cumprir
Não distraiu-se com o barulho de fogos
Não reparou na beleza do mar
Veio, rápida e certeira, pronta a fazer sua colheita

A morte surpreendeu de madrugada!
E com a foice e a mortalha
Cobriu-nos de luto e pesar
Encheu-nos de tristeza o olhar
Deixando apenas por onde passou
Mágoa, frustração e dor
Como promessas de um ano bom








quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Do livro Masnavi de Jalaluddin Rumi; Edições Dervish
Tradução: Mônica Udler Cromberg/Ana Maria Sarda



Escuta a flauta de bambu, como se queixa,
Lamentando seu desterro: “Desde que me separaram de minha raíz,
Minhas notas queixosas arrancam lágrimas de homens e mulheres.
Meu peito se rompe, lutando para libertar meus suspiros,
E expressar os acessos de saudade de meu lugar.
Aquele que mora longe de sua casa
Está sempre ansiando pelo dia em que há de voltar.
Ouve-se meu lamento por toda a gente,
Em harmonia com os que se alegram e os que choram.
Cada um interpreta minhas notas de acordo com seus sentimentos,
Mas ninguém penetra os segredos de meu coração.
Meus segredos não destoam de minhas notas queixosas,
E, no entanto, não se manifestam ao olho e ao ouvido sensual.
Nenhum véu esconde o corpo da alma, nem a alma do corpo,
Mas, não obstante, homem algum jamais viu a alma.”



O lamento da flauta é fogo, e não puro ar.
Que aquele que carece desse fogo seja tido como morto!
É o fogo do amor que inspira a flauta,
É o amor que fermenta o vinho.
A flauta é confidente dos amantes infelízes;
Sim, sua melodia desnuda meus segredos mais íntimos.
Quem viu veneno e antídoto como a flauta?
Quem viu consolador gentil como a flauta?
A flauta conta a história do caminho, manchado de sangue, do amor,
Conta a história das penas de amor de Majnun
Ninguém sabe desses sentimentos senão aquele que está louco,
Como um ouvido que se inclina aos sussurros da língua.
De pena, meus dias são trabalho e dor,
Meus dias passam de mãos dadas com a angústia
E, todavia, se meus dias se esvaem assim, não importa,
Faz tua vontade, ó Puro Incomparável!
Mas quem não é peixe logo se cansa da água;
E àqueles a quem falta o pão de cada dia, o dia parece muito longo;
Portanto o “Verde” não compreende o estado do “Maduro”,
Eis que cabe a mim abreviar meu discurso.


Levanta-te, ó filho! Rompe tuas cadeias e sê livre!
Quanto tempo serás cativo da prata e do ouro?
Embora despejes o oceano em teu cântaro,
Este não pode conter mais que a provisão de um dia.
O cântaro do desejo do ávido nunca se enche,
A ostra não se enche de pérolas até a saciedade;
Somente aquele cuja veste foi rasgada pela violência do amor
Está inteiramente puro, livre de avidez e de pecado.


A ti entoamos louvores, ó Amor, doce loucura!
Tu que curas todas as nossas enfermidades!
Que és médico de nosso orgulho e presunção!
Tu que és nosso Platão e nosso Galeno
O amor eleva aos céus nossos corpos terrenos,
E faz até os montes dançarem de alegria!
Ó amante, foi o amor que deu vida ao Monte Sinai,
Quando “o monte estremeceu e Moisés perdeu os sentidos.”
Se meu amado apenas me tocasse com seus lábios,
Também eu, como a flauta, romperia em melodias.
Mas aquele que se aparta dos que falam sua língua,
Ainda que tenha cem vozes, é forçosamente mudo.
Depois que a rosa perde a cor e o jardim fenece,
Não se ouve mais a canção do rouxinol.


O Amado é tudo em tudo, o amante, apenas seu véu;
Só o Amado é que vive, o amante é coisa morta.
Quando o amante não sente mais as esporas do Amor,
Ele é como um pássaro que perdeu as asas.
Ai! Como posso manter os sentidos,
Quando o Amado não mostra a luz de Seu semblante?
O Amor quer ver seu segredo revelado,
Pois se o espelho não reflete, de que servirá?
Sabes por que teu espelho não reflete?
Porque a ferrugem não foi retirada de sua face.
Fosse ele purificado de toda ferrugem e mácula,
Refletiria o brilho do Sol de Deus.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

PERDIDO PAÍS DE SIÃO




Liberdade coração
(legenda e foto: Wilson Gorj) 





Achava tão triste àquelas tardes
Em que da minha casa ouvia
A cantilena monótona
Da Ave Maria

Os pássaros passavam em revoada
(Constantes, cantantes revoadas)
Como que em alegre procissão
Enquanto na modesta igrejinha
Prostravam-se as senhorias em solenes confissões 

Fundi-me a essas tardes melancólicas
Que impregnaram-me a alma
Com a essência dessa tristeza infinita
Onde, agora, nem o mais doce e puro vinho
Pode alegrar-me a tempo

As cores rapidamente esmaecem
Assim como meus dias

Quisera ainda saber do amor...

Mas, perdi o rumo, o coração
Ao regar com lágrimas de aflição
As rosas secas, desfolhadas
Que crescem ao longo da ignorada, impossível estrada
Que conduz ao país perdido de Sião





sábado, 26 de dezembro de 2009

LUA NO POÇO



De dentro do poço, vejo a lua e ela atingi-me com sua tênue luz esbranquiçada, que ilumina  somente uma pequena parte da escuridão profunda do poço em que me encontro. E eu estou lá, sozinha com meus demônios, buscando a sorte dentro das partículas de poeira que se soltam das estrelas ou procurando as cores do arco-íris nas gotículas de água que são tocadas pela luz, tênue luz esbranquiçada... De dentro do poço, quase nunca vejo a aurora chegar. Impede-me a visão ruim, que turva, distorce, tudo que me chega do éter. A verdade eterna nunca chegará intacta, inteira até mim... restam-me apenas os vestígios, os pedaços, confusas peças de retalho. Serei para sempre como um pobre andarilho, que incansavelmente bate a porta de estranhos à espera que esta lhe seja aberta e, por esse momento, aguarda, sentado à soleira, horas a fio... Medieval é a música que ecoa em meus ouvidos, e em sonhos, suavemente subo no dorso do dragão e suas gigantescas asas são como dois leques a abrandarem a chama de meu espírito, vou, por entre as nuvens, em busca de auxilio. Eu, prisioneiro do poço, vejo a lua pela lua do meu olho, janela aberta de minha alma, e anseio pela corda que há de me salvar e levar-me daqui, do limo e do lodo, para o campo minado de estrelas do céu...

Cantilena do Corvo

DEMÔNIOS... OS MEUS, OS SEUS, OS NOSSOS

  Sempre indaguei da vida, se ela presta mesmo, apesar de, lá no fundo de mim, acreditar que sim, “a vida presta”, apesar de tantas barbarid...