Um corvo, um cobre

Se quiser jogar um cobre a um corvo pobre, será muito bem vindo: chave pix: virginiallan@hotmail.com

Quem sou eu

Minha foto
Manaus, AM, Brazil

Translate

Wikipedia

Resultados da pesquisa

Pesquisar este blog

terça-feira, 22 de abril de 2008

POR ENTRE PEDRAS E ARMAS



Por entre pedras e armas, uma criança passa, indiferente aos homens estranhos, vestidos de negro.

Ela não percebe que o céu não é mais azul, é cinza, e que os anjos não mais existem, pois morreram sufocados pelas nuvens que, um dia, foram de algodão, mas que agora pesam como o chumbo.

De repente, um grito de alerta e ela procura um abrigo da violenta chuva que logo vai desabar; chuva de balas.

Na sôfrega busca pelo paraíso perdido ela não tem a mínima chance e corre de peito aberto de encontro ao perigo.

Na boca aberta um pedido de socorro é sufocado e nos olhos arregalados uma pergunta não respondida...

No pequenino coração, em meio de esperanças estraçalhadas, uma bala perdida faz morada e a cor cinzenta de seu cotidiano, dissolve-se no negror de mais uma morte inútil.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

EU PROTESTO


Quero aqui, deixar meu protesto! Um protesto por escrito; para ser lido, analisado até criticado, mas jamais escarnecido, depreciado, vilipendiado em sua intenção, essência e conteúdo.
Sobre o quê quero protestar? Digo já.
Quero protestar contra tudo e contra todos.
Quero gritar, vomitar, chorar, expor com todas as letras, a minha raiva, frustração e indignação...
Quero protestar contra os mesquinhos, os descrentes, os indiferentes....
Quero protestar contra os desavisados, os mal intencionados, os descuidados...
Quero protestar contra os preconceituosos, as promessas não cumpridas, as amizades rompidas, os amores desprezados e perdidos...
Quero protestar contra os duros de coração, os falsos, os ignorantes, os aproveitadores, os ladrões da nação...
Quero protestar contra os poderosos que se encontram no topo do mundo, e, assim, pensam que tem o direito de fazer e acontecer; no estranho delírio de suas mentes doentes de se colocarem acima do bem e do mal...
Quero protestar contra os abusados, os dissimulados, aos que nos querem por baixo, aos que só querem nos arrancar um pedaço enquanto tentamos juntar os nossos cacos...
Quero protestar contra os cínicos, os sonsos, os lobos em peles de cordeiro, os demônios com caras de anjos...
Quero protestar contra os conluios, as homenagens oferecidas aos que compactuam com o roubo, a dor e o massacre do povo....
Quero protestar contra os aplausos dirigidos aos traficantes, aos assassinos e assaltantes...
Quero protestar contra a falta de ética nas relações, nas políticas publicas, nas delações...
Quero protestar contra os que se deixam convencer, corromper, os semeadores de incertezas, os que só pensam em si...
Quero protestar contra nós mesmos, pela nossa passividade, falta de perspicácia, bom-senso, amor e confiança, que nos leva ainda a acreditar nas palavras vazias dos atos e discursos imbuídos de boas intenções daqueles destituídos de quaisquer boas intenções; há não ser as que digam respeito ao seu próprio bem estar e consideração, discursos e atos vazios, cujo outro único propósito é nos machucar, provocar e humilhar apenas pelo prazer de achar de que podem fazê-lo...
Quero protestar contra nós mesmos pela nossa ignorância, por muitas vezes nos comportarmos do mesmo modo que tanto criticamos e odiamos...
Quero protestar, enfim, contra mim mesma, pela minha total omissão, falta de coragem e perplexa incompetência que me ata as mãos e acelera o coração e por ainda acreditar apesar de tudo, que seja possível, no futuro, um mundo melhor e mais justo.

domingo, 20 de abril de 2008

Na infância, não fui como todos, e não via o que todos viam. De fonte igual à deles, não podia eu retirar minhas paixões; e outra era a origem da tristeza, e outro era o canto, que despertava a alegria no coração. Tudo aquilo que amei, amei sozinho. Na minha infância, assim, no alvorecer dessa vida atormentada, elevou-se, no mal , no bem, de cada precipício, a prender-me, o meu mistério. Chegou-me dos rios, chegou-me da fonte, chegou-me do avermelhado declive do monte, chegou-me do sol, que por inteiro me cobria em outonais dourados clarões; chegou-me, enfim, dos relâmpagos escarlates, que, sobrenaturais, riscavam o céu; e do trovão e da tempestade, da nuvem que se ia, só, no vasto azul tão puro, como se ante meus olhos, houvesse um demônio. 
(Edgar Allan Poe)

sábado, 19 de abril de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA




LENDA DA TAPIRAGEM [1]

Antes, no escuro do mundo, só havia os deuses, contidos em sua própria luz. Eram possuidores de tudo e de nada precisavam.
Um dia, acharam necessário repartirem sua luz e sabedoria, e assim criaram o mundo, colocando nele tipos e modos de vidas diferentes.
Nas árvores e nas plantas, nos animais e na terra, os deuses esconderam as tintas, guardando em segredo que o encanto das cores se encontrava nas penas das aves. Ainda era muito escuro e o homem nada via.
Os deuses esperaram, esperaram e acharam que era necessário a partir de sua luz; criarem o sol e a lua para iluminarem os caminhos dos primeiros abaúnas 2.
O sol e a lua foram criados ao mesmo tempo, e então, Kúat e Iaê, os deuses da sabedoria, mostraram a natureza como um guia para o homem, para que dela, cuidando e respeitando, eles pudessem manter aberto o contato com as divindades.
Mas o homem começou a sentir inveja da beleza e colorido das aves que voavam no céu. Achavam que deviam ser tão bonitos quanto elas. Procuraram imitá-las, pintando o corpo e dançando, na esperança de um dia, também, poderem voar e ficarem perto dos deuses.
Devido à inveja, as aves foram mudando. Das plumas arrancadas ou caídas pelo chão, os homens faziam bonitos enfeites, tentando imitar suas cores nas tintas que usavam para pintar o corpo. Pintavam a pele para dar mais vida e alegria à sua existência, dar mais cor às cores e voar, voar, voar...
Fisicamente, o homem jamais conseguiu voar feito as aves, porém, naquelas horas, seu espírito voava, voava tão alto, que chegava à morada dos deuses e nesses momentos de sagrada comunhão, os deuses sorriam e acreditavam que era possível um futuro para o homem.


********



1 TAPIRAGEM: Palavra derivada do dialeto crioulo das Guianas. Prática comum de diversos grupos indígenas de quase toda América do Sul (Tupi, Karibe e Jê... ) que consiste na alteração do colorido original da plumagem das aves de estimação, tornando-as total ou parcialmente amareladas ou marmoradas de vermelho, parecendo até que foram “pintadas à mão”. Referências a este costume constam já nas primeiras crônicas e trabalhos dirigidos para a Historia Natural do Novo Mundo, no final do século XVI. Manuscritos de 1587, cujo autor se desconhece, falavam já desse fenômeno, existente entre os tupis do litoral. A denominação tapiragem para tal prática somente foi adotada algum tempo depois.

2 abaúnas: índio primitivo de raça pura.


Do livro MORONETÁ; Crônicas Manauaras; Editora Valer

quinta-feira, 17 de abril de 2008

BLUE MODE



Hoje a melancolia me invade... isso costuma acontecer muito comigo, sou naturalmente melancólica, faz parte de minha natureza. Pra piorar, chove, (novidade...?!) e logo pela manhã o barulho do rádio do vizinho invadiu o meu quarto... no noticiário as noticias de sempre. Antes costumava acordar com o canto de pássaros, mas já faz tempo que o quintal do meu vizinho deixou de ser uma pequena floresta onde a noite sumia por dentro... Apesar de tudo, ainda há canto de pássaro... Não consegui mais dormir... Agora, decorrida metade da manhã, diante do meu notebook, escrevo, e, enquanto escrevo, vou escutando um velho blues na voz de Big Bill Broonzy... Cansaço! Eu, mesmo sem estar longe de minha terra natal, me sinto com “banzo” também... Minha saudade é outra, mas não menos amarga. Foi nas vozes de lamento, que subiam das plantações de algodão, no sul dos Estados Unidos, que nasceu o Blues, que, no modo comum de falar do Delta do Mississipi, em sua tradução, quer dizer “melancolia”, melancolia que passava das almas e dos corações para as vozes dos seres transformados em escravos que então procuravam amenizá-la, cantando... eu não canto, mas escuto... e me sinto com “banzo”. Arrancados de sua terra, pelo uso extremo da força, viajando em precárias condições, amontoados nos porões em navios apelidados de “tumbeiros”, para virem plantar e colherem algodão, milho e tabaco para os brancos em estados de Nova Orleans, Mississipi, Alabama, Louisiana e Georgia os “negros” eram puro desalento...Quanto sofrimento! Nos campos, sob a claridade do sol, punha-se um deles a entoar um verso, que era, em seguida, repetido em coro, pelos outros. As “work-songs” (canções de trabalho) só eram permitidas pelos fazendeiros por imprimirem um ritmo, uma cadência, ao ato de plantar e colher e assim deixar o “negro” menos triste. A principio, as canções eram entoadas nas línguas nativas, como o banto e yoruba, mas, com o tempo elas foram se misturando ao idioma inglês, e, invocando sempre a ajuda de DEUS, a música acabou servindo como um canal, para expor e “curarem” seus males, não só a saudade da terra natal, mas, também, as dores de amores e da miserável condição humana. Eu também tenho um blues dentro de mim, e, sai assim, como as antigas “work-songs”, começa aos poucos, num murmúrio e se alonga com a respiração e o pensamento, um lamento... Meu blues sai de meus dedos, salta nas palavras, nas páginas em que escrevo, nasce das histórias que leio, renasce nos contos que reconto, vive nos contos que invento e no dia a dia que reinvento. Meu instrumento é o teclado de meu computador... onde pulsa, em descompasso, o meu coração.




terça-feira, 15 de abril de 2008

ANNA E BEATRIZ [1]


Na praia, sob o sol de um maravilhoso dia de verão, Anna e Beatriz constroem castelos de areia. Elas conversam animadamente enquanto vão dando forma às suas magníficas obras.
Anna é moreninha, tem os cabelos cheios de cachos e um sorriso doce. É muito extrovertida e adora fazer perguntas. Beatriz é completamente diferente. Seus cabelos, de tão claros e brilhantes, chegam a ofuscar a própria luz do sol. Exagero? Vocês não conhecem Beatriz... Uma cortina de fios de ouro desce por sobre seus ombros, escondendo a perfeição do rosto infantil. Quase não fala, fato que preocupa e intriga os pais, porém, quando está com Anna, não parece haver o menor problema.
Ultimamente, as duas amigas só têm se encontrado na praia, pois, Beatriz acabou de se mudar para uma casa nova e Anna ainda não teve a chance de ir visitá-la. Anna está curiosa para saber como Beatriz se sente, e então, dispara a lhe fazer perguntas.
“Que tal Bibi, gostas de tua casa nova?”.
“É... Gosto...” Respondeu Beatriz, sem muito entusiasmo.
Ana não se contentou, queria saber mais.
“Hum! Que resposta mais sem graça, Bibi. Então, agora me diz como é a tua casa por dentro?”.
“Ah! Minha casa é muito boa; é grande, confortável, tem varanda e jardim onde os pássaros cantam o dia inteiro. Acho que ela só tem um defeito”...
“Um defeito?” Estranhou Anna. “E qual é?”.
Beatriz, solta um suspiro de desânimo.
“É que dentro da minha casa não entra o sol, e eu gosto tanto de sol”...
“Mas, e o jardim? Não há sol no jardim?”.
“Sim, no jardim há bastante sol; lá, há sempre sol”.
Anna e Beatriz se calam por um momento. Os castelos já estão quase prontos, mas, Anna deixa Beatriz se ocupando com os últimos detalhes. A menininha põe a mão no queixo e franze o cenho, sacudindo a cabecinha cheia de cachos. Ela está preocupada, pensando no que seria possível fazer para ajudar a amiga a resolver aquela difícil situação. De repente, “Eureka”, encontra a solução, “mas é claro! Como diria meu pai, é óbvio”.
“Já sei, Bibi, como resolver o teu problema!”.
“Sabe Anna?” Pergunta Bibi, que de tão contente quase desfaz os castelos. “Então, não perde tempo e me conta logo de uma vez”...
“Escuta, Bibi, se não entra o sol dentro de tua casa, mas no jardim há sempre bastante, por quê, então, não mudas a tua casa para o jardim?”

********
Do livro EL CABALLO MÁGICO; Caravana de Sueños, Idries Shah; 1988; Editorial Kairós. Tradução e adaptação, Virgínia Allan

segunda-feira, 14 de abril de 2008

MEDIEVAL [1]



Bem ao Norte, em uma longínqua terra de nome estranho,
há uma rocha muito alta e muito larga em que, uma vez a cada mil anos, no alto de seu pico, 
pousa um pássaro a fim de afiar o bico.
Dizem que um dia da eternidade se esgotará somente quando a rocha se desgastar; 
quando, finalmente, o pássaro não tiver onde pousar nem onde o bico afiar.




















[1] Loon, Hendrik. W. Van The Story of mankind
Lenda Medieval (Allan, 2005)

Cantilena do Corvo

DEMÔNIOS... OS MEUS, OS SEUS, OS NOSSOS

  Sempre indaguei da vida, se ela presta mesmo, apesar de, lá no fundo de mim, acreditar que sim, “a vida presta”, apesar de tantas barbarid...