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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESPEDIDA


DESPEDIDA

Havia flores espalhadas pelo chão
O portão, velho e enferrujado, pendia de lado

Evidente era o abandono
Evidente era a solidão

Desconfiado, o vizinho olhava-me, de soslaio
Mesmo assim, inclinou a cabeça, em singela saudação

Continuei minha inspeção...

Dentro da casa tudo estava como antes
Faltava apenas o calor humano a recepcionar o visitante
Ninguém...

Havia uma saudade impregnada nas paredes
De onde agora pendiam somente quadros
Flores ressequidas nos pequenos vasos e uma velha cortina
a balouçar ao vento

Embora triste, precisava vir me despedir
O passado ainda era ferida aberta, doída, no coração
Mas evidente era o abandono
Evidente era a solidão

Assustou-me a aparente calma
E o negro buraco percebido a tempo
Vozes, do nada, me assaltaram
Sai abruptamente...

Apressada, pisei as flores
Quase pus abaixo o portão...
Mandei um aceno mecânico para o vizinho que me olhara de soslaio
Fui embora pra não mais voltar...


Parei de chorar...
O tempo passa e com ele nossos desenganos

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

CONVITE


No crepúsculo da tarde que cai
conversemos, meu querido, frente a frente
em silêncio, de alma para alma; de coração para coração

Carrego comigo minhas grandes tristezas
e também as pequenas alegrias
Dividi-las-ei contigo, meu único e caríssimo amigo

Suaves hoje são meus pensamentos
Distantes estão agora todas as agonias

Sentemo-nos aqui, debaixo do céu que é nosso teto
e olhemos juntos, a lua que nos sorri
Ouve... ela murmura-nos um segredo e nos convida
a dançar

É o começo de tudo
Nossos pés se movem num ritmo lento
Tu me sorris e olhamo-nos, outra vez, em silêncio, frente a frente
olho no olho... Reconhecemo-nos enfim...

Somos ambos, meu querido, filhos da mesma estrela
Somos ambos, meu amigo, filhos do sol

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-INVERNOS ENTRE VERÕES


INVERNOS ENTRE VERÕES


Tenho vivido tantos invernos
mesmo em meio aos verões que já nem estranho...
Uma saudade de um raio de sol me invade

Um pai leva com cuidado a filha ao colo
Sorriso suave estampado no rosto onde o sol se derrama
em mornas caricias... Fios de cabelos de anjo solto ao vento
de uma cálida, límpida manhã

Fui feliz assim, um dia, nessa constância de uma vida in - comum

Sopram agora outros ventos
Sussurram agora em meus ouvidos outras doces, monótonas cantigas
E antigas vertigens retornam aos meus dias

Invisíveis tormentos me acalentam os sentimentos
Fogo brando que nunca se apaga...

Revolvo minha alma nessa estranha saudade
de tempo idos, que não mais voltam
Dói-me o peito
Brota a mágoa
Invernos de solidão em meio a verões de silêncios





segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PETICIÓN DE UN FALCON



Abd Al-Aziz Ben Al-Qabturnuh (fallecido después de 1126)
Traducion: Emilio Garcia Gomez



¡Oh rey, cuyos padres fueron altaneros y del más egregio rango! Tú, que adornaste mi cuello con el collar de tus favores, grandes como perlas y engarzados como las perlas en el hilo, adorna ahora mi mano con un halcón.

Hónrame con uno de límpidas alas, cuyo plumaje se haya combado por el viento del Norte. ¡Con qué orgullo saldré con él al alba, jugando mi mano con el viento, para apresar lo libre con lo encadenado!


PEDIDO POR UM FALCAO


Abd Al-Aziz Ben Al-Qabturnuh (fallecido después de 1126)
Tradução: Virgínia Allan


Oh rei, cujos magníficos pais pertenceram a mais antiga linhagem! Tu, que enfeitaste meu colo com o colar de teus favores, grandes como pérolas encadeadas em um colar enfeita agora minha mão com um falcão .
Honra-me com uma de suas límpidas asas, em que a plumagem tenha sido vergada pelo vento Norte. Com que orgulho com ele sairei ao alvorecer. Minha mão ao vento, a balouçar pára, juntos, a liberdade fazer de presa


http://www.webislam.com/?idc=1976

sábado, 24 de janeiro de 2009

SEM...



Sem chão... Sem pão... Sem inspiração...
Sobram-me versos encruados, desencantados, medíocres pontos soltos perdidos no branco espaço
Palavras sem sentido, distorcidas, que revoam pra lá e pra cá que nem pássaro engaiolado, de triste cantiga
Espero na ante-sala, sentado em um sofá, uma porta ser-me aberta... Longa espera entremeada de silêncios e decepções
Faço por onde concretizar meus planos, porém, desagradam-me os meus pensamentos... E não vejo saída às contradições da vida
Preocupa-me a longa espera... Levanto-me do sofá e vou à porta, devagar, mas ela continua fechada
Retorno ao ponto de partida e desabo meu corpo cansado no sofá mal arrumado e deixo meu espírito inquieto vagar descontente, solitário, sobre a superfície nua, lisa e fria de um céu-mar verde azulado, vazio de estrelas

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

15 MINUTOS




A carapuça que nos cabe...

“Não sou nada
Eu nunca serei nada
Aparte isso tenho em mim
todos os sonhos do mundo” (F. P)

E eles estão à venda... quem dá mais?

Vende-se ou troca-se sonhos
Por uma parcela ínfima de encanto
Um afago no ego e no reconhecimento, um brinde em taça de cristal
ao engano e ao talento

Vende-se ou troca-se sonhos
Por um momento de glória e descanso
Na fútil cama da fama, entre lençóis de cetim e colchas de seda
Um instante de descanso sem pensar em grana, por um tempo de fartura
Por um bafejo de esperança

Vende-se ou troca-se sonhos
Por moedinhas de cobre dourado
Um mísero cachê contado ou mesmo ainda uma bolsinha de couro remendado

Venha apreciar, por favor, o meu trabalho
Veja como faço bem a minha arte
Mereço ou não uma consideração?
Por favor, um pouco de atenção...

Continuarei “artista” apesar de tudo...
Adverso ou não aos prós e contras
Tenho direito aos meus 15 minutos
Estou à venda e não discuto
Aceito a esmola atirada no chapéu da mendicância









terça-feira, 20 de janeiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-APENAS UM DETALHE


APENAS UM DETALHE

Ainda dando asas ao meu melancólico estado de desencanto (me aguentem mais um pouco...) darei um exemplo de como somos tolos, ao deixar-nos levar pelo desânimo. Faço isto mais como um exercício... quem sabe me ajudando, me confessando, acabe, por fim a ajudar alguém? Espero que pro bem... Um tempo atrás, um pequeno acidente tomou para mim a proporção de um desastre gigantesco... uma coisinha de nada, de repente, virou um dragão, um bicho de sete –cabeças. Nós, “humanos”, temos essa mania besta de transformar tudo em algo medonhamente gigantesco, dramático e o pior, sem saída... Bom, não sei o que aconteceu, só sei que meu leitor de CD do meu notebook não funciona mais, apesar de, aparentemente, o programa não apresentar nenhum problema e o PC ser novo, nem um ano de uso... Não seria nada demais se as músicas que tinha gravado no computador, um vasto e variado repertório, simplesmente também não houvessem desaparecido sem deixar vestígios. Lá se foram os meus blues na voz do velho Big Bill Broonzy e alguns outros bluesmen de responsa... Na verdade, ter perdido as músicas foi somente um detalhe, um detalhe muiiiiiiiiiito chato, mas é claro que não estou chateada só por causa disso... Recomeçar, seja com o que for ou de que jeito for, é a nossa missão de todo dia, mas levando-se em conta tempo, satisfação e amor pelo que já estava em andamento, recomeçar é uma chateação, além de requerer coragem, esforço, determinação e paciência qualidades, que até tenho, e falo isso sem falsa modéstia, mas, não estou animada para nada, estou numa fase de plena insatisfação e olha que estou falando de um “probleminha”... Caso a se pensar... se estou agindo assim agora, o que será que farei diante dos “grandes problemas” ou direi, dilemas que a vida sempre nos apresenta? Não sei... ou melhor, eu sei, tenho umas regras as quais recorro quando me encontro nesse estado de espírito, regras preciosas que, aliás, já deveria ter assimilado e usado quase que por instinto. Em minha displicência, é fato notório de que talvez esteja de “mal a pior” comigo mesma. Isso me faz lembrar de um episódio de COLD CASE, uma de minhas séries prediletas, em que um psicopata colecionador assassino pegava suas vitimas, sempre mulheres, e as trancava em um quarto escuro.Todas estas mulheres, suas vitimas, tinham um motivo especial para viver, motivos estes que, em sua mente doente, justificava o seu crime: Uma tinha um lindo bebê, a outra uma voz maravilhosa com a qual louvava ao Senhor e a outra, um amor de verdade, daqueles que são pra vida toda, na alegria e na tristeza. O prazer do colecionador psicopata, e assim era o seu método de matar, era justamente tirar dessas mulheres a vontade de viver, tirar delas a fé, a esperança, até o ponto que nem o motivo que, antes, as mantinha presa a vida tivesse mais a menor importância. Em relação a elas, levá-las a desistência era o seu maior e principal objetivo. Sua primeira vítima morreu afogada em um poço, quando ele, adolescente ainda, ao passear pela floresta, ouviu pedidos de socorro e foi então que, recusando-se em ajudar, deparou-se com a cena que ele julgou a mais insólita, a mais linda, a mais sublime que já havia visto: Alguém, por total falta de esperança, por decepção, desistindo de viver. Ele ficou lá, à beira do poço, apenas ouvindo e observando, e em vez de ajudar, cuspiu na água, olhando fixamente nos olhos da moça, esboçando no rosto juvenil um sorriso sutil e feliz. Suas duas outras vítimas tiveram a mesma reação. A mãe se esqueceu do seu filho; a moça devota se esqueceu de seu Deus e, mesmo com todas as saídas, de forma proposital, facilitadas (não seria impedida se quisesse fugir) ainda assim; ela aquiesceu, e, deixou-se morrer, mas, a moça que encontrou seu amor verdadeiro todo dia recomeçava, na escuridão da cela úmida e infecta, ao som do badalo de um sino que todo dia, às mesmas horas, tocava o refrão de uma canção. Para não morrer de tristeza naquele lugar, a moça se agarrou a poesia desses instantes breves e mágicos, repletos de luz; ao soar do sino ela sabia exatamente o dia e a hora em que estava e acompanhava o badalo com sua voz fraquinha, baixinha, quase um murmúrio... Ela não se perdeu, nem esqueceu o seu amor... encheu de luz a escuridão e todo dia recordava a si mesma, todo dia recomeçava nem que fosse na solidão agonizante de uma espera longa e mortal. Hummmmm! Depois de ler o que escrevi, eu deveria me “tocar”... não? Recomece minha senhora, recomece já de onde e do jeito em que está... é tempo ainda... E, cá entre nós, tens muitos motivos, não citarei cada um, para continuares viva. Enche de luz a escuridão e recomeças a contar a tua própria história; nem que sejas tu mesma, a única ouvinte.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESENCANTO


DESENCANTO

Desencanto... hoje sou, estou puro desencanto... desencantado com tudo... com o meu futuro, o futuro do mundo... A causa disso deve ser o tempo... chuvoso e sempre apressado... não encontro um jeito de fazê-lo ficar ao meu lado... corro com ele, contra ele, mas nunca ao seu lado... Mas isso são coisas de gente que desencantou; quem desencanta desperta para outra realidade, talvez, desencantado, abra os olhos para a verdadeira realidade da vida. Não temos chance com aqueles que estão surdos, mudos, cegos... “Em terra de cego quem tem olho é rei? É, certamente, mas com poucas chances de exercer o seu poder de modo eficiente... Conheço alguns reis que nunca tem suas ordens acatadas, pois os cegos além de cegos, são surdos, ou melhor, ouvem o que querem e quando querem, sendo também poucas vezes mudos, falam quando deveriam calar... Acho que esta minha apreciação faça jus a mim... deveria estar agora de boca fechada, vedado os pensamentos, predisposto a inação... deveria eu simplesmente estar quieto no meu canto, curtindo a minha solidão, o mau tempo e o meu mau-humor... mas, infelizmente para uns e felizmente para mim, enxergo, ouço e falo bem demais e me recuso a deixar passar tudo em brancas nuvens...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SEGREDOS QUE PERMEIAM A NOSSA IGNORÂNCIA




Clarice Lispector


Há muitos segredos, Clarice, que permeiam a minha, a nossa, ignorância, que, por vezes, a sinto de forma por demais brutal. Ignorância cheira sempre a omissão, tens razão, é obvia a sensação de mal-estar, de ignorância... enfim, é mesmo uma horrível sensação. E, se cresce, como a escuridão, até se tornar palpável, como dizes, chega a ser uma ofensa descomunal, sem tamanho... a ignorância que nos é imposta (e aceita por nós) é propositalmente sustentada por aqueles que deveriam nos abrir os olhos e a mente, realmente é uma ofensa impar, imperdoável a qualquer um de nós enquanto seres pensantes. Ainda estamos como na Idade Média, pois o que me ofende mesmo é o descaso com que somos tratados cotidianamente. Somos patos, bobocas, prato cheio para políticos mau-intencionados que nos roubam no maior cinismo e disfarçam tudo com discursos floreados, distorcidos, de suas pretensas boa vontade inexistentes. E nós sem entendermos nada, porque sempre somos "vítimas" e até parecemos gostar dessa posição... pobre de nós, pobre povo... sempre vítima das situações. O que nunca entendemos, é que nós, como povo, temos poder, mas sempre intimidados, deixamos de usá-lo. O povo é roubado, espoliado sempre em sua própria época, seja lá em que espaço de tempo for. Coitado do povo. Porém, entenderia o povo se soubesse que é tão poderoso? O que falta ao povo... discernimento? Será que essa ignorância precisa ser permanente... precisa perdurar para sempre... por que não termos um povo sábio, ciente e condutor de seu próprio destino? Será que isto nunca será possível? Será que os segredos físicos e psíquicos, o sumo bem, estão velados ao povo?... bom... há um ditado que diz “que toda maioria é burra”... Será? Nos tratam como crianças tolas, incultas, nada modestas com a alegria, embevecidas, comovidas, com a piedade e os “cuidados” de quem nos humilha, e o fio de esperança realizáveis, quase invisível, que por Deus nos é estendido, não por piedade, mas, por nos ser de direito, este fio de esperança, dádiva divina, matéria do qual são feitos os sonhos, passa por nós “quase” desapercebido... “quase” nunca é visto.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MAIS QUE FÁBULA, VIDA REAL...


Tradução Virgínia Allan
Era uma vez, não faz muito tempo, certo edifício infestado por ratos. Os administradores deste decidiram por bem exterminá-los, então, certa noite espalharam raticida de cima abaixo da construção, porém, na manhã seguinte o veneno tinha desaparecido, os ratos o haviam comido. “Trocaremos o veneno”, disseram os administradores e fizeram nova tentativa. Mas, também esta segunda dose mortal, foi gulosamente ingerida pelos ratos, que, ainda deram mostras de que muito haviam aproveitado a nova dieta.
Decidiram-se recorrer às velhas ratoeiras e para tentar aos ratos imunes a veneno, utilizaram como isca, suculentos pedaços de queijo. Entretanto, os ratos nem tocaram o queijo. Foi aí, que, um dos administradores, pensou: “Talvez os ratos tenham desenvolvido gosto pelo veneno, talvez lhes faça bem”. Assim supondo, comunicou aos outros e armaram um plano, que foi posto em execução na mesma noite: colocaram nas ratoeiras, queijo polvilhado com veneno. Na manhã seguinte, as ratoeiras estavam cheias de ratos fortes e saudáveis.

Desta história, pode-se extrair toda sorte de moral e ensinamentos, mas, a citamos aqui, por ser absolutamente verídica ou pensa você que as fábulas são meros produtos da imaginação, tolas fantasias, destinadas somente a divertir ou instruir? As melhores fábulas se extraem da vida real, da própria comunidade e dos processos mentais do individuo.

De uma notícia impressa no Daily Mail, Londres, 2 de Dezembro de 1967, pág. 9, col. 3... coletada por Idries Shah e posta como nota introdutória de seu livro REFLEXIONES, Edições PAIDOS.

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...