OS SINOS
Edgar Allan Poe
Tradução – Oscar Mendes
I
Escuta: nos trenós tilintam sinos argentinos
Ah! Que mundo de alegria o som cantante prenuncia!
Como tinem, lindo, lindo, no ar da noite fria e bela!
Vão tinindo e o céu inteiro se constela, florescente,
refulgindo com deleites cristalinos!
Dão ao Tempo uma cadência tão constante
como um único descante com os tintinabulares, pequeninos sons
bem finos que nascendo vão dos sinos
sim, dos sinos, sim, dos sinos.
II
Escuta: em núpcias vão cantando os sinos, áureos sinos!
Quantos mundos de ventura seu tanger nos prefigura!
No ar da noite, embalsamado, como entoam
seu enlevo abençoado!
Tons dourados, lentas notas, concordantes...
E tão límpido poema aí flutua para as rolas,
que o escutam, divagantes, vendo a lua!
Volumoso, vem das celas retumbantes todo um jorro
de euforia que se amplia! Que se amplia!
“O futuro é belo e bom!” – clama o som,
que arrebata, como em êxtases divinos,
no balanço repicante que lá soa, que tão bem, tão bem ecoa,
na vibrante voz dos sinos, sinos, sinos
carrilhões e sinos, sinos, no rimado, consoante
som dos sinos.
III
Escuta: em longo alarma bradam os sinos, brônzeos sinos!
Ah! que história de agonia, turbulenta, se anuncia!
Treme a noite, com pavor, quando os ouve
em seu bramido assustador! Tanto é o medo que,
incapazes de falar se limitam a gritar em tons frouxos,
desiguais, clamorosos, apelando por clemência ao surdo fogo,
contendendo loucamente com o frenesi do fogo,
que se lança bem mais alto, que em desejo audaz estua de,
no empenho resoluto de algum salto
(sim! agora ou nunca mais!), alcançar a fronte pálida da lua!
Oh! os sinos, sinos, sinos!
De que lenda pavorosa, de alarmar, falam tanto?
Clangorantes, ululantes, graves, finos, quanto espanto vertem
quanto, no fremente seio do ar!
E por eles bem a gente sabe – ouvindo seu tinido, seu bramido –
se o perigo é vindo ou findo.
Bem distintamente o ouvido reconhece pela luta, na disputa,
se o perigo morre ou cresce, pela ampliante ou decrescente
voz colérica dos sinos, badalante voz dos sinos
sim, dos sinos, sim, dos sinos,
carrilhões e sinos, sinos, no clamor e no clangor que vêm dos sinos!
IV
Escuta: dobram, lentamente, os sinos, férreos sinos!
Ah! que mundo de pensares tão solenes põem nos ares!
Na silente noite fria, quanto a alma se arrepia à ameaça desse canto
melancólico de espanto!
Pois em cada som saído da garganta enferrujada
há um gemido!
E os sineiros (ah! essa gente que, habitando o campanário solitário,
vai dobrando, badalando a redobrada voz monótona
e envolvente...), quão ufanos ficam eles, quando vão
tombar pedras sobre o humano coração!
Nem mulher nem homem são, nem são feras: nada mais
Do que seres fantasmais.
E é seu Rei quem assim tange, é quem tange, e dobra, e tange.
E reboa triunfal, do sino, a loa!
E seu peito de ventura se entumesce com os hinos funerários
lá dos sinos; dança, ulula e bem parece ter o Tempo
num compasso tão constante qual de rúnico descante
pelos hinos lá dos sinos! ha! dos sinos!
leva o Tempo num compasso tão constante
como em rúnico descante, pela pulsação dos sinos, a plangente
voz dos sinos, pelo soluçar dos sinos!
Leva o Tempo num compasso tão constante
que a dobrar se sente, ovante, bem feliz com esse rúnico descante
com o reboar que vem dos sinos, a gemente voz dos sinos
o clamor que sai dos sinos, alucinação dos sinos, o angustioso,
lamentoso, longo e lento som dos sinos!
Um comentário:
O som dos sinos marcaram muito a minha infância.
Feliz Natal!!
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