Um corvo, um cobre

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

OS TORMENTOS DE UM JARDIM DE INFÂNCIA

para Clarice


Nos tempos do jardim de infância, também fiz um destes testes para saber se podia passar para a sala do primeiro ano, afinal já sabia ler e escrever. Naquele tempo, Clarice, ainda existia a distinção “primeiro ano A forte; primeiro ano B fraco”, e, assim, sucessivamente... Pode uma coisa dessas? Nem me lembro do resultado em si, mas, daí um pouco, para minha confusão, tinha abandonado a salinha agradável que era o jardim de infância, para começar a verdadeira vida escolar.
Não tive a tua sorte e não havia amigo nenhum pra me consolar ou proteger dos medos que, em minha mente infantil, ganhavam proporções exageradas; não possuía vivacidade, aliás, minha timidez era gritante, nem possuía a graça necessária para livrar-me das situações que a mim tornavam-se alarmantes. Chorava por qualquer motivo e por isso tome a ouvir os ralhos de minha mãe que toda vez me ameaçava pôr-me de castigo. Consolo mesmo só havia em meu pai, meu grande amigo e protetor.
Das amizades Clarice, o que dizer? Apenas que são “engraçadas” ou um completo mistério. Amizades vêm, vão e nem sabemos, às vezes, direito, como ou porque começaram ou terminaram. Vejamos: Tem quem tenha um melhor amigo desde o inicio de sua vida, uma amizade que segue a pessoa estrada afora. Outras têm um amigo que, por qualquer peripécia do destino, levou-os a separação, mas, quando este amigo retorna, volta, reaparece, parece até que nunca tinha ido a lugar nenhum tão constante o sorriso e o solidário “ombro amigo”, ou, então, tornam-se, um para com o outro, completos desconhecidos, estranhos, esquisitos... inimigos. Outros Clarice, nunca viram fulano ou sicrano na vida, porém, basta uma só troca de olhares, uma só troca de palavra... eis que surge “o melhor amigo de infância”. Minha modesta opinião Clarice, é de que as amizades como os amores são atordoantes mistérios, e, para finalizar, te digo que eu apesar de ter crescido e possuir um bom número de “amigos”, não parei ainda de chorar por qualquer motivo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

FÁBULA



Era gata
virou mulher
muito recatada
languidamente encostada
a um canto, quieta...
Mas, eis que a sua frente,
de repente, surge um rato
E a mulher vira gata
por instinto
e sem pretensão

acabou-se a confusão...

SOLITÁRIO NO FIO...



Ao cair da noite
Solitário no fio
Canta um passarinho

Voa por um instante pra lá e pra cá
Ao redor do velho poste
Que de tão carcomido quase não mais se sustenta
Abandonado, meio tombado para o lado
Cheio de fios amarrados

Mas passarinho não quer saber da miséria humana
acumulada que invade casas, ruas e calçadas
Que invade toda a gente...

Quer mais é cantar seu canto
Sem espanto
Sossegado solitário no fio
Um canto de passarinho



domingo, 14 de setembro de 2008

VISÃO DUPLA


Um conto de Hakim Sanai de Ghazna por Virgínia Allan

Um pai dizia ao seu filho que sofria de dupla visão: “Meu filho, tu vês dois em vez de um”.
“Como, meu pai, pode ser?” retrucou então o menino “se tal fosse verdade, me pareceria que em vez de duas luas no céu haveriam quatro”.

***
Provérbio: A resposta a um tonto é o silêncio

sábado, 13 de setembro de 2008

ECOLÓGICOS



SEM BRINCADEIRA

Urutau
[1] pousado no pau!
Todo empertigado, para o céu aponta o bico
Pássaro sério!
Pássaro feio!
Arredio urutau
pousado no pau.


***

EHE, EHE...FUMACÊ, AHA, AHA... FUMAÇÁ

Ah, essa fumaça que me rodeia, me chateia, deixa-me sem ar!
Tudo nublado... Sem vida, nem fado...
Eterno emaranhado que por enquanto é verde
mais tarde, quem sabe, marrom ou preto carvão,
de onde brota a fumaça, mas o verde não!


[1] Urutau: (Nictíbius grandis) Ave noturna, cujo canto, de tão triste, é considerado de mau agouro.

DEZ MOTIVOS



O sol nasce
O sol se põe
O homem impõe
Deus dispõe
Dois pra cá
Dois pra lá
Dois patinhos na lagoa
Duas gaivotas no ar
Dois pássaros na mão
Um pássaro voando livre no céu
Um amor
Uma paixão
Um pote de mel
Um pote de fel
Três casas em uma rua pacata
Três versos em uma linha exata

Direita, volver...

Os quatro cantos do mundo
Quatro velhinhos sentados
Quatro estrelas piscando no escuro
Quatro rosários rezados
Cinco crianças jogando bola
Cinco pessoas à mesa
Seis tocadores de viola
Seis indiozinhos na canoa
Seis jacarés de cartola
Sete cores do arco-íris
Sete dias da semana
Sete frutas madurinhas
Sete anos de lembranças

Esquerda, volver...

Oito amigos brindando a esperança
Oito elefantes na roda gigante
Oito carros passando na estrada
Oito noites encantadas
Nove contos de fadas
Nove duendes na floresta
Nove canções decoradas
Dez pasteis com recheio
Dez anos de solidão
Dez dias buscando abrigo
Dez pedaços de pão

Destino desfaço desordem...
A única ordem é: Descansar
...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A FORMIGUINHA, UM CONTO SEM FIM DO FOLCLORE POPULAR



por Virgínia Allan


Foi um dia, depois do inverno a formiguinha saiu a passear...
Mas, a neve ainda era tanta que a formiguinha não pode andar,
e, ao se perceber aprisionada ao lado da parede de uma casa,
pensou então em quem poderia lhe ajudar...

Pensou e pensou, e para a neve assim falou:
“Ó neve, tu que és tão macia e formosa deixa que me vá....
por favor desprende meus pezinhos pra eu poder passar,
olê, lê, olá, lá”...

A neve respondeu: “Ó, pobre formiguinha, sinto não poder te ajudar,
mais forte do que eu é o sol que me derrete, espera um segundo,
ele nunca esquece, já já aparece”.

Não demorou, o sol apareceu: “Ó sol” disse-lhe a aflita formiguinha,
“que derrete a neve, desprende meus pezinhos pra eu poder caminhar,
olê, lê, olá, olá”...

O sol respondeu: “Ah, formiguinha, sinto te desapontar...
mas a parede desta casa está a me empatar, por isso ela é mais forte,
pois impede de eu te alcançar”.

“Ó parede que impede o sol que derrete a neve se és mesmo tão poderosa
desprende agora meus pezinhos pra eu poder ir-me embora,
olê, lê, olá, lá...”

“Hummm, formiguinha, mais forte do que eu, é o rato que me rói
e não me deixa descansar. Lá vem ele, apressado,
com seus dentinhos afiados pronto a fazer seu trabalho”.


“Ó rato de dentes afiados que rói a parede que empata o sol que derrete a neve,
desprende os meus pezinhos pra eu poder passar,
olê, lê, olá, lá...”

O rato respondeu: “Saiba amiguinha, que mais forte do que eu é o gato,
que sem piedade me caça por todo lugar. Dentro da parede me escondo,
pois pelo buraco o gato não pode passar. Espera um pouco e antes que seja tarde
verás que falo a verdade”.

Não demorou apareceu o gato atrás do rato, remexendo os longos e finos bigodes sem parar.

“Ó gato que pega o rato que rói a parede que impede o sol que derrete a neve
se és tão grande e majestoso prova tua coragem e desprende os meus pezinhos
pra eu poder caminhar,
olé, lê, olá, lá”...

O gato respondeu: “Posso ser grande e majestoso, mas o cachorro é mais corajoso
e ele corre muito pra me pegar.... Sinto não poder te ajudar...
Espera um instante, ele não vai demorar”.

Não demorou e apareceu o cachorro, latindo sem parar...
“Ó cachorro que pega o gato, que pega o rato, que rói a parede que impede o sol
que derrete a neve, és capaz de me ajudar?
Olé, lê, olá, lá....”

Fonte: http//www.jangadabrasil.com.brInformante: Maria da Salete, Recife, PE (Em Lima, Jackson da Silva Lima. "Achegas ao romanceiro tradicional em Sergipe". Revista Sergipana de Folclore, ano 2, nº 3, outubro de 1979, p.69-71)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O LIMITE DA ETERNIDADE




Para Clarice



Poderá ser verdade Clarice, humanamente possível a suspensão do tempo? Será que podemos limitar, tocar, saborear a eternidade? O que posso eu te dizer sobre ela a partir de minhas experiências e indagações?...O sabor mesmo, palatável da eternidade, assim como tu sentiste, deste jeito, não, nunca a experimentei, há não ser apenas, de forma abstrata, a sensação, como por exemplo, da primeira vez que me apaixonei e achei que seria para sempre. Existirá algo mais “doce” do que esses primeiros enganos da juventude? Alguns desses primeiros encantos são como o teu “chiclete”, a princípio doce, ou nem tanto, mas que você vai levando, “chupando” depois “mastigando’, tomada de curiosidade e espanto. Entretanto, “chupar”, “mastigar”, embora tentemos guardar, “ pregar em algum canto”, para voltarmos depois, no dia seguinte, a “chupar e a “mastigar” começa a cansar, e, contrafeita você não sabe o que fazer com aquela sensação que agora não tem mais gosto algum e que, contudo, era para durar a vida inteira, ser eterna, para sempre..Aí, o medo de magoar faz você carregar o desgosto e a culpa, mas saber que isso pode se arrastar ad infinitum só lhe causa aflição. Todavia um dia, não suportando mais, você toma coragem e se escondendo sob o manto protetor da mentira sincera, dá um jeito de soltar a mão da mão que te segura com tanta força, como o chicle caído da tua boca “sem querer”. A mão “doída”, “suada”, “machucada”... não volta nunca mais a segurar a outra, que, ainda estendida, espera...Porém (de novo a bendita frase) como tudo na vida, felizmente, a “eternidade” também se cansa de esperar...
A sensação, e até o medo da eternidade, veio-me de várias formas. Certa vez, assistindo a um filme antigo, vi uma ponte que, não sei por que, deu-me a sensação de infinito. Era uma pequena ponte por onde um casal caminhava, mas para mim, ficou a impressão de que a ponte nunca acabava...sendo engolida afinal por um denso nevoeiro. Os viadutos e pontes dão-me a impressão de que sempre nos conduzirão a um lugar melhor, mas, ao mesmo tempo parece-me que percorrê-los é bastante assustador...Uma de minhas vidas, das muitas que tive e que terminou não faz muito tempo, foi como a cena desse filme, do qual não lembro sequer o nome. Sabe, vou mais a fundo, Clarice e posso te dizer que a eternidade está sempre presente e sob as mais diversas formas. Vamos contando a nós mesmos a mesma história permeada de infinitos, que, como as rosas, se entreabrem a outros vários infinitos.
A eternidade, e o medo que sesente dela, se repete até nas pequenas coisas do dia a dia, tal como o abrir e fechar de portas e a preocupação de realizar uma tarefa que parece nunca acabar ou fazer-nos sair do lugar. Talvez não estejamos mesmo, Clarice, à altura da Eternidade, não falo da eternidade que te sufoca, que te condena a uma vida repetitiva, mas, falo sim, daquela Eternidade que se abre para o vasto espaço, num aprendizado cheio de glórias infindas que nos elevam a sabedoria dos anjos. Não seremos desse tipo de eternidade merecedores enquanto nos fizermos de tolos, egoístas e senhores de tudo.
Essa sensação de eternidade que nos é dada viver e reviver agora, cotidianamente, como que condenados, só nos aflige, se e quando, relacionadas a fatos desagradáveis achamos que não podemos, ou não temos, capacidade de impor-lhe um limite e seria ousadia em demasia de nossa parte dizer que A ETERNIDADE ACABA AQUI...Impor limites à eternidade em nosso viver diário não só é humanamente possível como totalmente plausível e não é necessário para isso ser um fanático religioso, um profundo estudioso, um intelectual exaltado ou um grande mago, basta que aprendamos a reconhecer e a respeitar, com humildade, nos detalhes que nos escapam, os princípios básicos da Lei Imutável, que rege a vida como um todo, nesse Universo incomparável, em constante expansão. Palatável foi a tua crônica, Clarice, cujo gosto de chiclete não poderei jamais esquecer. Veja quantas reflexões me proporcionou! Arrastar a eternidade com todo o peso e ignorância de nossa mortalidade, é mesmo muito desalentador, embora, no começo, ela pareça-nos “doce, cor-de-rosa, inocente, tornando possível o mundo impossível do qual mal começamos a dar-nos conta”. O peso da eternidade de cada um é incomunicável e livrar-se dele, quando o conseguimos, é deveras um alivio, um alivio divino.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

SE...



Se eu não tivesse me apaixonado, talvez nem ligasse se o telefone não tocasse.
Se eu não tivesse me apaixonado, não faria questão de ouvir a tua voz.
Se eu não tivesse me apaixonado, não me importaria com o pouco caso que fazes de minhas necessidades.
Se eu não tivesse me apaixonado, te deixaria adormecer em paz, sem cobranças; sem o tom impaciente de minha voz.
Se eu não tivesse me apaixonado, não me preocuparia com tuas preocupações, nem me entristeceria com os dias tristes.
Se eu não tivesse me apaixonado poderia manter a calma e assim olhar com serenidade tudo o que acontece a minha volta.
Se eu não tivesse me apaixonado, não seria agressiva, nem diria palavras ofensivas, pois não me sentiria rejeitada, nem preterida.
Se eu não tivesse me apaixonado, não ansiaria novamente por teus beijos, nem pelo calor do teu corpo e me deitaria calmamente em minha cama, usufruindo o sossego solitário de uma boa e longa noite de sono.
Se eu não tivesse me apaixonado não contaria cada segundo dos minutos das horas, dos dias das semanas dos meses que constroem os anos, e que sob o nome de “tempo”, passa por nós tão rapidamente.
Se eu não tivesse me apaixonado, o silêncio não me atormentaria, a dor não me atingiria e não me seria fatal a tua indiferença.
Se eu não tivesse me apaixonado, minha alegria seria menos alegre, mas, certamente, seria mais tranqüila.
Tudo isso seria possível se eu não tivesse me apaixonado... Se eu não tivesse me apaixonado... Se eu não tivesse me apaixonado... Se... Se... Se...


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O SONHO DE MARIA



Sobre a cama antiga e tosca
Maria estende uma colcha de rede
feia e remendada...

Um suspiro profundo, um acalanto...
um sonho ainda não realizado...

Pronta a cama
Deita-se Maria
e sonha
um sonho quente e delicado...

Maria sonha
Sonha Maria
mas não com amores impossíveis
jóias e outras coisas caras

Maria sonha mesmo é com uma colcha
de um reluzente cetim dourado.

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...