Um corvo, um cobre

Se quiser jogar um cobre a um corvo pobre, será muito bem vindo: chave pix: 337.895.762-04

Quem sou eu

Minha foto
Manaus, AM, Brazil

Translate

Wikipedia

Resultados da pesquisa

Pesquisar este blog

sexta-feira, 25 de abril de 2008

HAI-KAI À MODA BRASILEIRA


Pia a coruja
Canta o caboclo
Mergulha o boto


***
Dentro do quarto
brilha a luz da manhã
nos cabelos da menina


***
A criança
no colo da mãe
tenta alcançar a lua


***
Vento na mangueira
Bombardeio no telhado
Coração assustado


***
Mãos pequeninas
rabiscam no papel
pedaços de sonhos.


***
Manga madura
fruto saboroso
seio voluptuoso


***
Depois da chuva
reluz ao sol
o caju vermelho


***
Pôr de sol
Solidão na mata
Lamento de pássaro


***
Pôr de sol
Solidão na mata
Canta a cigarra


***
Ao sol
o pássaro estende as asas
leque de penas douradas


***
Nasce o sol
Festa na mata
Revoada de pássaros


***
Noite fria
estende-se sobre a terra
o cobertor azul


***
Sapo encantado
põe a cara feia pelo buraco
janela de seu palácio


***
Silêncio profundo
A tarde em prece
o coração me aquece


***
A papoula vermelha
que ontem era broto
hoje abriu-se em flor


***
Mãos pequeninas
rabiscam no papel
pedaços de sonhos


***
Balões amarelos
riscados de azul
Poemas ao entardecer

***
Velha árvore
Ah doce é o perfume
das flores no chão


***
Mangueiras em flor
Um besouro vadio
passeia entre as folhas


***
Passarinhos na goiabeira
Entardecer no quintal
Minha alma sorri


***
Sol de verão
No alto das árvores
o namoro das araras


***
Dia cinzento
Cadeiras vazias
Silêncio no jardim


***
Canção de vento
valsa das flores


***
O galo no alto do muro
lança aos quatro cantos do mundo
sua canção vespertina


***
Borboletas coloridas
Frágeis enfeites da manhã


***
A gata branca
no colo do dono
descansa as mágoas


***
Verão!
Canta a cigarra
no tronco da seringueira


***
Balões amarelos
riscados de azul
poemas ao entardecer


***
Mariposa
ao redor da lâmpada
ensaia sua última dança


***
Noite escura
No telhado
o soluço da chuva


***
No retorno das flores
aberto estará o portão
do meu jardim


***
Ao sabor do vento
balançam as palhas
da pupunheira


***
No verão
partiremos rumo ao sol
Minha sombra e eu


***
Após a chuva
pendem das folhas
brincos de brilhantes


***
Lua de prata
vento nos cabelos
A menina deitada
sonha acordada.


***
No telhado da igreja
arrulham os pombos


***
Da janela
olhos cansados contemplam
a lua de outono


***
Pelas quatro estações
sem mistérios
conduzirei a minha alma


***
Vento nas folhas
Prenúncio de partida
O inverno chegou


***
Melancólico Abril
molhado de chuva

quarta-feira, 23 de abril de 2008

SALVE, JORGE!


SALVE, JORGE!

Hoje, dia de São Jorge da Capadócia... Os foguetes, aqui nas redondezas, não param de estourar... nem ia escrever mais nada, até lembrar que hoje é dia do Santo Guerreiro, matador de dragões... "Ogum dos terreiros, abre os meus caminhos". É uma pena que o Ilê de Santa Bárbara, que fica perto de minha casa, e possui mais de cem anos de existência, não abra mais as suas portas... Já algum tempo, os tambores se calaram, não há mais festas nem cantos, mas, certamente haverá procissão. Minha mãe acabou de fazer uma promessa ao Santo e ficou a cantar uma velha canção, a voz sai trêmula, embargada pela emoção, pois os versos da canção, quase nem se recorda mais... Orar é sempre bom... traz paz, diminui a ansiedade... e depois há dragões demais à solta neste mundo, São Jorge deve estar cansado, mas não custa nada implorar por sua ajuda. O dia está pesado, cheio de nuvens... talvez chova outra vez e talvez, não haja lua... Salve, Jorge...! 

***

"Em toda casa tem um quadro de São Jorge,
em toda casa aonde o Santo é guardião
Seja em um barracão de gente pobre ou em um bangalô de gente nobre 
Quem é devoto é só fazer uma oração
que o guerreiro sempre atende com a sua proteção".

***

Oração a São Jorge 

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos tendo pés, não me alcancem; tendo mãos, não me peguem; tendo olhos não me vejam e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar. Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua Santa e Divina graça, Virgem de Nazaré me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus com sua Divina Misericórdia e grande poder seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos. Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

O SOL EXISTE


Ainda que seja noite
O sol existe
Por cima de pau e pedra
nuvens e tempestades
cobras e lagartos
O sol existe
ainda que tranquem o nosso quarto
e apaguem a luz
O sol existe
(autor...?)

***
Corpos que vagam no azul celeste
aéreos, etéreos, singelos, amigos sinceros
sempre acima de nós, guiando-nos claros
em nossa jornada, dura caminhada.

***
Partia do silêncio da tarde, um soluço melancólico que se abrandou co m um simples bilhete de amor... Doces palavras rabiscadas com pressa sobre um sentimento recente ainda desconhecido... mas, dentro do peito, ainda fechado, selado por uma saudade, um coração batia descompassado, enquanto um sorriso de plena felicidade iluminava-lhe o rosto.


terça-feira, 22 de abril de 2008

POR ENTRE PEDRAS E ARMAS



Por entre pedras e armas, uma criança passa, indiferente aos homens estranhos, vestidos de negro.

Ela não percebe que o céu não é mais azul, é cinza, e que os anjos não mais existem, pois morreram sufocados pelas nuvens que, um dia, foram de algodão, mas que agora pesam como o chumbo.

De repente, um grito de alerta e ela procura um abrigo da violenta chuva que logo vai desabar; chuva de balas.

Na sôfrega busca pelo paraíso perdido ela não tem a mínima chance e corre de peito aberto de encontro ao perigo.

Na boca aberta um pedido de socorro é sufocado e nos olhos arregalados uma pergunta não respondida...

No pequenino coração, em meio de esperanças estraçalhadas, uma bala perdida faz morada e a cor cinzenta de seu cotidiano, dissolve-se no negror de mais uma morte inútil.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

EU PROTESTO


Quero aqui, deixar meu protesto! Um protesto por escrito; para ser lido, analisado até criticado, mas jamais escarnecido, depreciado, vilipendiado em sua intenção, essência e conteúdo.
Sobre o quê quero protestar? Digo já.
Quero protestar contra tudo e contra todos.
Quero gritar, vomitar, chorar, expor com todas as letras, a minha raiva, frustração e indignação...
Quero protestar contra os mesquinhos, os descrentes, os indiferentes....
Quero protestar contra os desavisados, os mal intencionados, os descuidados...
Quero protestar contra os preconceituosos, as promessas não cumpridas, as amizades rompidas, os amores desprezados e perdidos...
Quero protestar contra os duros de coração, os falsos, os ignorantes, os aproveitadores, os ladrões da nação...
Quero protestar contra os poderosos que se encontram no topo do mundo, e, assim, pensam que tem o direito de fazer e acontecer; no estranho delírio de suas mentes doentes de se colocarem acima do bem e do mal...
Quero protestar contra os abusados, os dissimulados, aos que nos querem por baixo, aos que só querem nos arrancar um pedaço enquanto tentamos juntar os nossos cacos...
Quero protestar contra os cínicos, os sonsos, os lobos em peles de cordeiro, os demônios com caras de anjos...
Quero protestar contra os conluios, as homenagens oferecidas aos que compactuam com o roubo, a dor e o massacre do povo....
Quero protestar contra os aplausos dirigidos aos traficantes, aos assassinos e assaltantes...
Quero protestar contra a falta de ética nas relações, nas políticas publicas, nas delações...
Quero protestar contra os que se deixam convencer, corromper, os semeadores de incertezas, os que só pensam em si...
Quero protestar contra nós mesmos, pela nossa passividade, falta de perspicácia, bom-senso, amor e confiança, que nos leva ainda a acreditar nas palavras vazias dos atos e discursos imbuídos de boas intenções daqueles destituídos de quaisquer boas intenções; há não ser as que digam respeito ao seu próprio bem estar e consideração, discursos e atos vazios, cujo outro único propósito é nos machucar, provocar e humilhar apenas pelo prazer de achar de que podem fazê-lo...
Quero protestar contra nós mesmos pela nossa ignorância, por muitas vezes nos comportarmos do mesmo modo que tanto criticamos e odiamos...
Quero protestar, enfim, contra mim mesma, pela minha total omissão, falta de coragem e perplexa incompetência que me ata as mãos e acelera o coração e por ainda acreditar apesar de tudo, que seja possível, no futuro, um mundo melhor e mais justo.

domingo, 20 de abril de 2008

Na infância, não fui como todos, e não via o que todos viam. De fonte igual à deles, não podia eu retirar minhas paixões; e outra era a origem da tristeza, e outro era o canto, que despertava a alegria no coração. Tudo aquilo que amei, amei sozinho. Na minha infância, assim, no alvorecer dessa vida atormentada, elevou-se, no mal , no bem, de cada precipício, a prender-me, o meu mistério. Chegou-me dos rios, chegou-me da fonte, chegou-me do avermelhado declive do monte, chegou-me do sol, que por inteiro me cobria em outonais dourados clarões; chegou-me, enfim, dos relâmpagos escarlates, que, sobrenaturais, riscavam o céu; e do trovão e da tempestade, da nuvem que se ia, só, no vasto azul tão puro, como se ante meus olhos, houvesse um demônio. 
(Edgar Allan Poe)

sábado, 19 de abril de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA




LENDA DA TAPIRAGEM [1]

Antes, no escuro do mundo, só havia os deuses, contidos em sua própria luz. Eram possuidores de tudo e de nada precisavam.
Um dia, acharam necessário repartirem sua luz e sabedoria, e assim criaram o mundo, colocando nele tipos e modos de vidas diferentes.
Nas árvores e nas plantas, nos animais e na terra, os deuses esconderam as tintas, guardando em segredo que o encanto das cores se encontrava nas penas das aves. Ainda era muito escuro e o homem nada via.
Os deuses esperaram, esperaram e acharam que era necessário a partir de sua luz; criarem o sol e a lua para iluminarem os caminhos dos primeiros abaúnas 2.
O sol e a lua foram criados ao mesmo tempo, e então, Kúat e Iaê, os deuses da sabedoria, mostraram a natureza como um guia para o homem, para que dela, cuidando e respeitando, eles pudessem manter aberto o contato com as divindades.
Mas o homem começou a sentir inveja da beleza e colorido das aves que voavam no céu. Achavam que deviam ser tão bonitos quanto elas. Procuraram imitá-las, pintando o corpo e dançando, na esperança de um dia, também, poderem voar e ficarem perto dos deuses.
Devido à inveja, as aves foram mudando. Das plumas arrancadas ou caídas pelo chão, os homens faziam bonitos enfeites, tentando imitar suas cores nas tintas que usavam para pintar o corpo. Pintavam a pele para dar mais vida e alegria à sua existência, dar mais cor às cores e voar, voar, voar...
Fisicamente, o homem jamais conseguiu voar feito as aves, porém, naquelas horas, seu espírito voava, voava tão alto, que chegava à morada dos deuses e nesses momentos de sagrada comunhão, os deuses sorriam e acreditavam que era possível um futuro para o homem.


********



1 TAPIRAGEM: Palavra derivada do dialeto crioulo das Guianas. Prática comum de diversos grupos indígenas de quase toda América do Sul (Tupi, Karibe e Jê... ) que consiste na alteração do colorido original da plumagem das aves de estimação, tornando-as total ou parcialmente amareladas ou marmoradas de vermelho, parecendo até que foram “pintadas à mão”. Referências a este costume constam já nas primeiras crônicas e trabalhos dirigidos para a Historia Natural do Novo Mundo, no final do século XVI. Manuscritos de 1587, cujo autor se desconhece, falavam já desse fenômeno, existente entre os tupis do litoral. A denominação tapiragem para tal prática somente foi adotada algum tempo depois.

2 abaúnas: índio primitivo de raça pura.


Do livro MORONETÁ; Crônicas Manauaras; Editora Valer

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...