Um corvo, um cobre

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sábado, 21 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MANHÃ DE CARNAVAL


MANHÃ DE CARNAVAL

De manhã bem cedo, sai desfilando minha fantasia, ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado.
Desfilei avenida abaixo, sem carro alegórico ou comissão de frente e; para os quatro cantos, gritei minha poesia.
Ninguém me jogou confetes. Ninguém me aplaudiu. Ainda era muito cedo e todos dormiam. Ninguém me ouviu.
Em plena avenida, despi-me da fantasia, ficando completamente nu. Ninguém me viu.
Ainda era muito cedo e todos dormiam, nem o sol havia despertado. Mas, a minha poesia ficou gravada na memória daquela manhã de carnaval.


Do livro MORONETÁ; Crônicas Manauaras; Virgínia Allan, AEditora Valer

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DEUS É MAIS FORTE


O pequeno Ibotity subiu num árvore, mas quando menos esperava pôs-se o vento a soprar. Fazia “vuuuuuuu, vuuuuuu...” com tanta força, pra cá, para li, pra acolá, que a árvore vergou e se partiu. Ibotity caiu e quebrou uma perna...
“Ai, ai.. que árvore forte”... disse Ibotity ...“é tão forte que quebrou minha perna”.
“Que nada, menino”... disse a árvore... mais forte do que eu é o vento, que sopra sem cessar. Deixa estar”.
Porém, o vento ouviu o que a árvore disse e, rapidamente, respondeu que mais forte do que ele era a colina que o podia parar. Então, Ibotity acreditou que a força estava na colina, uma vez que podia deter o vento que derrubara a árvore que tinha quebrado sua perna.
“Não, nada disso...” disse a colina e pôs-se a explicar como o rato era mais forte, uma vez que podia esburacá-la.
“Ah, mas eu posso ser pego e morto pelo gato”, protestou o rato. Ibotity imaginou que a força estava no gato...
“O quê? Um exagero”... disse o gato que reclamou que podia ser apanhado por uma corda.
“A corda...” pensou Ibotity... “deve ser a coisa mais forte que existe”. Mas, a corda foi logo se queixando que podia ser partida pelo ferro... portanto, o ferro era muito mais forte. O ferro ouviu e negou tal afirmação, pois ele podia ser derretido pelo fogo. Ibotity chegou a conclusão de que o fogo era poderoso, o mais forte de todos, já que derretia o ferro, que partia a corda, que prendia o gato, que caçava o rato, que esburacava a colina, que parava o vento, que fazia tremer a árvore que quebrara a sua perna. Mas o fogo contestou dizendo que a água era mais forte. A água, por sua vez disse que era a canoa que por ela deslizava mansamente. A canoa negou e disse que mais forte era a rocha, que disse, enfim, que mais forte ainda era o homem, entretanto este afirmou que, na verdade, mais forte do que ele, era o mago que passava sem nenhum dano pela prova do veneno, que era um teste de Deus. Assim, Ibotity se convenceu que Deus era mais forte que tudo, já que ele punha a prova o mago, que dominava o homem que quebrava a rocha, que derrotava a canoa, que sulcava a água, que apagava o fogo, que derretia o ferro, que partia a corda, que prendia o gato, que matava o rato, que esburacava a colina, que parava o vento, que partira a árvore que havia quebrado a sua perna...



O CAVALO MAGICO e outros contos do Oriente para crianças do Ocidente; Edições Dervish

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ROCK, A MÚSICA QUE TOCA


Infelizmente, não estou podendo atualizar os assuntos sobre o blues. Meu notebook pifou e todas as notas estavam lá... estou meio perdido... uma mente em branco, embora não queira isto dizer que esteja totalmente sem memória... Estou lendo ROCK, A MÚSICA QUE TOCA, do escritor sempre super-antenado Simão Pessoa. Uma leitura muito aconselhável a todos os amantes de uma boa música, assim como de uma boa história. Neste livro, Simão, em cuidadosa pesquisa, reconta a história do rock, com todas as suas divisões, começando com a Country Music/Hillbilly, Blues/R&B, Rockabilly/Rock 'n' Roll e assim por diante, chegando aos dias atuais com New Age/Guitar Dance, Britpop/Crossover... com todos os seus heróis e seus altos e baixos. Longa trajetória feita de tristezas, suor, lágrimas, mas alegrias também. Quem ainda não leu, deveria ler... Aliás, o livro faz parte de uma trilogia, sendo: Rock, a música que toca; Reggae, a música que pulsa, e Funk, a música que bate, estes dois últimos com edições esgotadas e sem previsão de reedição... é isso, “quem tem, tem, quem não tem se contêm”... é o que estou tentando fazer, me conter e não ficar me lamentando por ter perdido algo que me seria agora de grande ajuda. Lançado no verão de 2004, Rock, a música que toca passou por um episódio tragicômico que se não fosse pela persistência/paciência/resignação de Simão, teria ficado, para sempre, onde fora parar, isto é, na cesta de lixo, pelo desproposito de uma secretária do lar que Simão apelidou carinhosamente de “terremoto californiano”. Sim, lá se foram os originais, mais arquivos e recortes acumulados durante anos. Nessa época pensou até em defender a pena de morte para crimes hediondos. Mas, ainda bem que ele recomeçou e nos brindou com um excelente apanhado de uma preciosa história, comum a todos... senti falta apenas das presenças femininas, que, parece-me, Simão deixou um tanto de lado... talvez não de forma proposital, talvez apenas lhe tenha passado desapercebido... principalmente no Blues... Bom, nao será a primeira vez que ele ouve uma queixa sobre algo que deixou de comentar... já lhe aconteceu, na época do lançamento da primeira edição Passei anos só na vontade de comprá-lo, porém, nunca estava muito bem de grana a ponto de fazer a despesa. Há poucos dias, “sem quê nem pra quê” isto é só um modo de dizer, pois, na verdade, tudo tem um propósito) Rock, a música que toca, veio ter em minhas mãos, e eu, como bom cristão que sou, agradeci aos céus por este grande favor, embora, às vezes, lá no fundo, desconfie, que, tudo tenha sido mesmo obra e graça do demônio...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-EGOTRIP



EGOTRIP

Sem toques ou retoques... amanheci cinzento, com gosto amargo na boca... não estou disposto... um gato cruza o meu caminho... ainda bem que ele não é preto; ainda bem que eu não sou supersticioso... quem sabe as horas? Mergulho em uma “egotrip” e me desconecto de tudo... procuro refúgio do mundo por dentro de mim... por dentro de mim eu não me sôo ridículo nem absurdo... por dentro de mim sou eu mesmo, aonde mexo e remexo, me viro do avesso... faço uma canção... caio em contradição... descomplico o complicado... desfaço o errado, o malfeito... por dentro de mim mesmo sou perfeito ou puro exagero... às vezes amo demais... às vezes amo de menos... às vezes amo a quem não deveria amar... às vezes amo a quem deveria... aí estou no lugar certo, com a pessoa certa, na hora certa... mas isso é tão raro, vocês sabem... é mais fácil um raio cair duas vezes no mesmo lugar... deixa como está... pra quê mudar?... Olha quem vem lá... vem tão devagar... nem dá para notar que está de azul... há sempre um blues a esperar... que é que há? Um suspiro de alivio... uma noitada no inferno devorou meu coração... de antemão o demônio me avisou... eu, como sempre o ignorei, pois é bom ceder a tentação, pouco importa o tamanho do pecado... mais tarde o preço cobrado nos prega um susto danado... aí, pra nos desculpar culpamos a fatalidade e o pobre do diabo, coitado... quantas cores mesmo tem o arco-íris? Qual a distância da terra ao céu? Quem ama quem me ama? Um objeto não identificado corta o espaço e minha canção pra ela nem está pronta... outro suspiro... entediado... me recomponho... pego aqui e ali, meu eu desconjuntado... aos pedaços... chove a cântaros... chove chuva sem parar...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

CHUCK, CHUK...


E lá estava o rapaz, na mesma esquina, encostado à parede, a fazer ignotas rimas. Cantava ele uma canção antiga, e de sua guitarra arrancava as notas azuis e melancólicas de um blues...

CHUCK, CHUCK...

Chuck queria ser famoso
Chuck queria ganhar o mundo

Pegou a guitarra no quarto
E pela fresta estreita da porta
Deu uma espiada lá fora...

Nossa, que desassossego
Nossa, que confusão, mas, aí, meu irmão
Chuck aproveitou a ocasião
Tirou um riff de sua guitarra
E o mundo endoidou desde então

Chuck tocou e cantou um blues invocado
E deu asas ao diabo
Num instante, Chuck, voou
Virou o pai do rock ‘n’ roll

E tocando a guitarra adoidado
Chuck comprou um carro
Comprou uma mansão
E com os trocados que sobraram
Comprou um avião

Chuck ficou famoso
Era dono do mundo

Tinha muitas garotas
Uma diferente pra cada dia
Virava a noite perdia o dia
E fazia o que queria

Mas fama garotas e grana
Não consolaram sua solidão
E as noites silenciosas
Doíam-lhe no coração

Chuck era famoso
Era dono do mundo

Mas agora que tinha tudo
Só a guitarra lhe bastava
O mundo lá fora o esperava
Chuck, porém, nem ligava

Chuck sorriu
Chuck chorou
Chuck bebeu
Chuck fumou
Chuck bateu
Chuck apanhou

Chuck pensou que fosse fácil
Mas perdeu a hora
Pensou que fosse tarde
Ainda dava tempo de ir embora?

Chuck pegou a guitarra no quarto
E largou sua mansão
Chuck vendeu o carro
E tomou o avião
Voou de volta para casa
Despido de ilusão

Chuck era famoso
Era dono do mundo

Mas tudo o que queria agora
Era chegar em casa
E espiar a vida lá fora
Pela fresta estreita da porta

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MAIS QUE UM DIA NUBLADO...


MAIS QUE UM DIA NUBLADO...



Há mais que chuva e frio em um tempo nublado... De vez em quando um raiozinho de sol escapa pelo furo de uma nuvem cinzenta e carrancuda... um presente para alguém hoje distraído como eu... Ando mais depressa... e, como sempre, na pressa, nem reparo na singeleza dos detalhes que todo dia me escapam, faça chuva ou faça sol... Alguns dizem que "Deus está nos detalhes"... Talvez seja verdade... Bom, cá estou eu a me repetir...“Oh, Lord! Save me”... Há perigo em cada esquina; você nunca sabe se hoje será ou não o seu último dia, pois esse pensamento nem ousamos pensar, já que, medo há só de soletrar a palavra morte, que dirá pensar nela todo dia, e, sem pensar, você passa, incauto, diante do perigo ou então vai direto de encontro a ele... “Há perigo na oportunidade?” ou “Há oportunidade no perigo?” Depende da situação; para alguns, ambas as frases significam a mesma coisa e para outros “nem todo igual é semelhante”... para mim, quase tudo que me é desconhecido é perigoso e nem sempre vejo nisso oportunidades escondidas... talvez não saiba avaliar bem as situações, guio-me muito pela intuição, portanto, se um olhar ou um timbre de voz me provocarem arrepios, ou, melhor dizendo, para que nada fique subentendido, “calafrios”, trato de “arrepiar carreira”... talvez haja mesmo uma oportunidade... para o outro do olhar sombrio e voz melíflua e suas obscuras intenções... Às vezes, há mesmo mais que chuva e frio em um tempo nublado... às vezes há um calor abafado e uma espécie de torpor... há impaciências revestidas de incertezas... há mesmo um certo temor de que o sol nunca mais apareça... Claro... sei que há o lado bom e feliz de um dia nublado, não precisam me lembrar e que, para mim, pode ser traduzido, ou musicado, como um cantinho de solidão e paixão, no longínquo e profundo vale pensamento, um cantinho reservado no oco do mundo de mim mesmo, onde não há vez para angústias que nunca se vão; um cantinho particular onde a música possui sabor e cor, um cantinho limpo, puro, onde a alma se alimenta, enquanto o coração descansa...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESPEDIDA


DESPEDIDA

Havia flores espalhadas pelo chão
O portão, velho e enferrujado, pendia de lado

Evidente era o abandono
Evidente era a solidão

Desconfiado, o vizinho olhava-me, de soslaio
Mesmo assim, inclinou a cabeça, em singela saudação

Continuei minha inspeção...

Dentro da casa tudo estava como antes
Faltava apenas o calor humano a recepcionar o visitante
Ninguém...

Havia uma saudade impregnada nas paredes
De onde agora pendiam somente quadros
Flores ressequidas nos pequenos vasos e uma velha cortina
a balouçar ao vento

Embora triste, precisava vir me despedir
O passado ainda era ferida aberta, doída, no coração
Mas evidente era o abandono
Evidente era a solidão

Assustou-me a aparente calma
E o negro buraco percebido a tempo
Vozes, do nada, me assaltaram
Sai abruptamente...

Apressada, pisei as flores
Quase pus abaixo o portão...
Mandei um aceno mecânico para o vizinho que me olhara de soslaio
Fui embora pra não mais voltar...


Parei de chorar...
O tempo passa e com ele nossos desenganos

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

CONVITE


No crepúsculo da tarde que cai
conversemos, meu querido, frente a frente
em silêncio, de alma para alma; de coração para coração

Carrego comigo minhas grandes tristezas
e também as pequenas alegrias
Dividi-las-ei contigo, meu único e caríssimo amigo

Suaves hoje são meus pensamentos
Distantes estão agora todas as agonias

Sentemo-nos aqui, debaixo do céu que é nosso teto
e olhemos juntos, a lua que nos sorri
Ouve... ela murmura-nos um segredo e nos convida
a dançar

É o começo de tudo
Nossos pés se movem num ritmo lento
Tu me sorris e olhamo-nos, outra vez, em silêncio, frente a frente
olho no olho... Reconhecemo-nos enfim...

Somos ambos, meu querido, filhos da mesma estrela
Somos ambos, meu amigo, filhos do sol

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-INVERNOS ENTRE VERÕES


INVERNOS ENTRE VERÕES


Tenho vivido tantos invernos
mesmo em meio aos verões que já nem estranho...
Uma saudade de um raio de sol me invade

Um pai leva com cuidado a filha ao colo
Sorriso suave estampado no rosto onde o sol se derrama
em mornas caricias... Fios de cabelos de anjo solto ao vento
de uma cálida, límpida manhã

Fui feliz assim, um dia, nessa constância de uma vida in - comum

Sopram agora outros ventos
Sussurram agora em meus ouvidos outras doces, monótonas cantigas
E antigas vertigens retornam aos meus dias

Invisíveis tormentos me acalentam os sentimentos
Fogo brando que nunca se apaga...

Revolvo minha alma nessa estranha saudade
de tempo idos, que não mais voltam
Dói-me o peito
Brota a mágoa
Invernos de solidão em meio a verões de silêncios





segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PETICIÓN DE UN FALCON



Abd Al-Aziz Ben Al-Qabturnuh (fallecido después de 1126)
Traducion: Emilio Garcia Gomez



¡Oh rey, cuyos padres fueron altaneros y del más egregio rango! Tú, que adornaste mi cuello con el collar de tus favores, grandes como perlas y engarzados como las perlas en el hilo, adorna ahora mi mano con un halcón.

Hónrame con uno de límpidas alas, cuyo plumaje se haya combado por el viento del Norte. ¡Con qué orgullo saldré con él al alba, jugando mi mano con el viento, para apresar lo libre con lo encadenado!


PEDIDO POR UM FALCAO


Abd Al-Aziz Ben Al-Qabturnuh (fallecido después de 1126)
Tradução: Virgínia Allan


Oh rei, cujos magníficos pais pertenceram a mais antiga linhagem! Tu, que enfeitaste meu colo com o colar de teus favores, grandes como pérolas encadeadas em um colar enfeita agora minha mão com um falcão .
Honra-me com uma de suas límpidas asas, em que a plumagem tenha sido vergada pelo vento Norte. Com que orgulho com ele sairei ao alvorecer. Minha mão ao vento, a balouçar pára, juntos, a liberdade fazer de presa


http://www.webislam.com/?idc=1976

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...