Mais um dos meus exercícios de resposta à escritora Clarice Lispector: Escrevendo para ela, tenho aprendido muito!
Impulsiva, no sentido real da palavra, eu não sou. Apenas muito raramente ajo assim, sem pensar. Agir por impulso, por instinto, nos remete a uma questão de sobrevivência. Um olhar dado a nossa volta a um contexto exterior. Por intuição, sim, ajo quase sempre. De qualquer forma o resultado de tudo isso, para mim, não é reconfortante, e é quase mesmo desesperador, seja eu pensando demoradamente sobre a situação, seja agindo por intuição ou por impulso. Sob qualquer uma das formas, lá vou eu, ladeira abaixo, quebrando a cara, arranhando a pele, arrependida, até os últimos botões. Acertei pouquíssimas das centenas de milhares de idéias que já tive, portanto, posso afirmar, com toda segurança e razão, que há perigo em “quase” tudo: há perigo em se pensar demais, há perigo ao agir por impulso, só não há perigo ao seguir a intuição, isso se, no caso, intuição, não for confundida com infantilidade. Dizem que há oportunidade no perigo, ou vice-versa, por intuição, nunca soube o que isso significava, já que nunca vivi um perigo tão alarmante ou iminente a ponto de perceber, ter ou receber uma maravilhosa oportunidade. As melhores oportunidades que eu tive na vida eu mesma as criei e as me dei de presente, correndo apenas leves riscos; mas nada que lembrasse uma situação vivamente (ou morbidamente) perigosa. Eu estou tentando, melhorar, crescer como ser humano. Agir impulsivamente quer nos dizer que ainda estamos no âmbito animal da questão, agir assim, pro mal ou pro bem, é totalmente irrelevante para a remissão espiritual e, muitas vezes, catastrófico para o bem estar físico e mental. Conter o impulso, dependendo da ocasião, dá-nos uma sensação de força interna, como tu bem o dizes, Clarice, outras vezes, contê-lo causa-nos frustração, inquietude e tristeza.... e por que isso acontece? O impulso é um agir sem pensar, mas pensar não significa se desprover das emoções. A existência é dar-se conta de si é saber o que ser quer e fazer acontecer. Nós podemos abraçar e beijar alguém por impulso ou por querer, plenamente consciente desse querer, então, Clarice, o que é preferível. Sem essa de auto-controle para esconder os sentimentos. Acertar ou errar só funciona quando não sabemos o que estamos fazendo, e como somos falhos, imperfeitos, ainda não acertamos o caminho, e continuaremos, por um longo tempo, a acertar e a errar, aceitando, ou tendo que aceitar a partir daí os resultados, nem sempre agradáveis, de nossas ações. Por enquanto é o que se há de fazer. Atos impensados são brincadeiras de criança, um joguinho infantil de quem se recusa a crescer. É um prazer, uma alegria, que um dia perderá o encanto. Não quero mais pensar nesse assunto. Encerramos aqui. Acho que cresci, Clarice. Mas, não nos preocupemos; sem querer te desanimar, te digo que mais cedo ou mais tarde, chega-nos a maturidade e um dia, querida, todos nós, de um modo ou de outro, seremos adultos... isso, claro, se tivermos sorte!
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