Um corvo, um cobre

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domingo, 17 de agosto de 2008

"É DOCE MORRER NO MAR"


“É doce morrer no mar...”
E foi para o mar o último olhar...

A rede a balançar ao vento na varanda...

Discreto esse poeta...
que descansou para sempre admirando 

o vai e vem das ondas...

***

Um floco de neve
Uma gota de chuva
Uma manhã de orvalho
Tudo se desfaz
Ao toque do sol




sábado, 16 de agosto de 2008

SABER ENVELHECER?!



SABER ENVELHECER?!


Em uma foto o tempo pára. Vi hoje uma foto minha, há muito esquecida, mas que um amigo resolveu retirar do baú...Lá estava eu, aos vinte e poucos anos...entretanto, só soube que eu era eu por que reconheci o vestido colorido de mangas compridas, que passou de irmã para irmã, em ordem ascendente, da mais nova para a mais velha, no caso, eu, e durou anos...é...cheguei a usá-lo bastante no tempo de minha primeira gravidez...“antigamente”, como diria minha mãe, se faziam roupas de verdade, “boas”, duráveis, que atravessavam por vezes, gerações. Mas, sim...voltando a mim, já que sou eu o assunto, “a bola da vez”, assustei-me ao ver-me tão jovem ainda no retrato ou assim me pareceu. Minha mãe, filha, irmãs e sobrinha, a quem mostrei a foto, não sei se por gentileza e consideração, disseram que pouco ou nada mudei...bom...se pouco, nada, ou quase nada mudei isso quer dizer que sou como sempre fui? Uma jovem/velha/jovem senhora? Quem sabe...Um namorado meu me disse um dia que já capturava isso em mim... quer dizer, esse estado alternado de velhice/juventude permanente...Então, seguindo a linha de pensamento: mesmo jovem era velha...agora, mesmo não sendo totalmente velha pareço jovem? É um tanto confuso, mas não deixa de ser interessante...Realmente “a beleza está nos olhos de quem a vê”...Quando jovem, bonita no senso comum da palavra, nunca fui (tive lá meu charme que, graças a Deus, ainda tenho, vivo, passando bem e funcionando melhor que antes) e agora que passei da meia-idade é lógico que não posso estar como fora aos vinte anos; é claro que mudei...literalmente, está na cara, vejo tal mudança todo dia diante do espelho e olha que gosto de mim. Há gente que tem verdadeiro horror à velhice...o poeta Paulo Leminski nunca aspirou à envelhecer...mas há velhos lindos, como o ator britânico Sir Sean Connery...Eu, como o poeta Paulo Leminski também nunca aspirei à velhice, mas talvez eu chegue lá, dessa forma vou procurando um jeito de estar em paz comigo mesma.Tenho conseguido...acho que estou reagindo sem sustos à passagem do tempo e o tempo também tem sido generoso para comigo - afora algumas “burradas” que cometemos nestes verdes anos em que mal sabemos quem ou o quê somos (alguns de nós jamais descobrem) que, se fosse me dada a chance de consertar, certamente que faria tudo igual outra vez, posto que sabedoria, discernimento mesmo que não seja uma prerrogativa da velhice, na juventude, é quase inexistente; inconseqüentes é o que somos...não conseguimos enxergar a “um palmo diante do nariz” - não tenho do que me queixar ou arrepender... tive uma juventude boa, saudável, amante dos livros e de perseguir o impossível...não fui dada a grandes aventuras, pois não era de minha natureza, que sempre pendeu para a calma e a contemplação, porém não sou, não posso, e nem quero mais ser a jovem de vinte e poucos anos do retrato, gosto de como tenho conduzido minha vida até agora, embora, não negue, seja meio assustador esse processo de dizer adeus “aos doces e verdes anos”. Só uma coisa permanece igual, algo que pode ser definido como sentimento: a estranheza a mim mesma...mas sempre pelo lado de fora...não porque não sei quem seja, mas sim porque o espírito que habita em mim, que conheço bem, no fundo, anseia fugir pra longe...
Aos 44, mulher feita, faço ainda o que fazia aos vinte, o que fazia aos quinze: Acordo e me olho no espelho.. e, novamente pouco me reconheço...a pele não me cabe, nunca me coube...ora está apertada, ora manchada, ora frouxa, ora amarrotada...“Olá estranha”...Ontem, a juventude/velha/juventude...hoje a juventude/velha/juventude, mas a maturidade mental e física está bem à vista, está no pensar, está no falar, está no olhar, está no corpo, em todo lugar...Pelo lado de fora, apenas pelo lado de fora, me sinto como aquele vestido colorido, de mangas compridas que durante anos me acompanhou mas, que lentamente, envelheceu, perdeu a cor, descosturou, apesar dos alinhaves e do reforço à costura...

LONGE DE TI NADA SOU NADA POSSO



Nas contas gastas de um rosário
Vai minha alma em aflição
Quisera pudesse eu cumprir a promessa
De jamais desviar os olhos de Tua face...


Ai...mas, quem sou...apenas um pobre coitado
vestido de andrajos, que deixa-se vencer pelo cansaço.

Um infiel, descumpridor da palavra
Abominável adorador do fogo
Frágil e ignóbil criatura de barro e água
que mal sabe dizer as orações de cor aprendidas
dos passados dias da infância.

Perdido me encontro por entre os tormentos e as infâmias
deste mundo e assim, com o coração destroçado
volto a prometer o que não hei de cumprir
Extrema ousadia de minha parte, mas viver não quero, nem posso,
longe de Ti...

Eu sou o pó que o vento na estrada levanta por piedade
E por piedade em Tua direção me leva...
Sou eu o pó de volta ao pó
do caminho por onde passas e que por graça ou desgraça recobre a terra

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

CAIXA CHINESA



Uma poesia dentro de uma poesia
É como uma caixa dentro de uma outra caixa
É como a beleza no espelho refletida
Espelho de vidro espelho de água

Atirei uma pedra, o vidro partiu-se a água, em círculos, tremeu

Pedaços de vidro gotículas de água...
Beleza dividida em mil pedaços repartida
A caixa que contêm outra caixa abriu-se
Da caixa prisioneira salta um palhaço triste




quinta-feira, 14 de agosto de 2008

CLARICE


Clarice? O que dizer de Clarice? Mulher sábia, sensível, incrível, profunda e sucinta até naquelas questões menos, ou que assim nos parecem, relevantes, e com quê simplicidade...! Através do seu pensar, do pensar claro e original de Clarice, descobri a minha própria forma de pensar e expor tal pensamento. Clarice me ajuda bastante...continuamente ela faz dar-me conta de meu mundo interior e da necessidade, sempre, de iluminá-lo, e, às vezes, reformá-lo, da única forma de que me julgo capaz, ou seja, escrevendo.
Nós, mulheres, de um modo geral, somos um pouco Clarice, com seus mistérios, suas descobertas, seus amores, enfim...Claro, nem todas nós conseguimos dar vida aos nossos doces / amargos tormentos / encantos com a mesma classe ou habilidade, já que Clarice Lispector só houve e haverá uma, que, além de fazer obra de arte com as palavras fazia obra de arte de si mesma com a intensa perplexidade do ser humano que se descobre totalmente Humano mas que reconhece, ao mesmo tempo, com prudência e humildade, que ainda tem muito a aprender / viver. Clarice era assim. Quisera eu ter em mim a mesma capacidade de compreensão que eleva alguns seres a esferas superiores ainda em vida e que não precisam buscar nada do lado de fora, pois o Deus em que acreditam está todo Ele, em sua perfeição, contido dentro de si.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

OS SEIS PREGUIÇOSOS DA MOITA DE BAMBU



Os seis preguiçosos da moita de bambu[1]
deitam e rolam, aproveitando o dia...
Despedem-se do sol que se põe e saúdam a lua que surge...
Debaixo de um céu estrelado, embriagados pelo vinho,
lançam poesias ao vento...
Suas vidas passam como um rio tranqüilo
levando em suas águas as flores de cerejeira.


[1] Os seis preguiçosos da moita de bambu faziam parte de um grupo de poetas chineses que levavam a vida muito despreocupadamente, deixando que a audição ou recitação de suas poesias e cantos lhes trouxessem o pão incerto de cada dia. (Nossa Herança Oriental, Will Durant, Editora Record)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O DERVIXE


No meu céu sem estrelas
Não brilha o sol
Não surge a lua
A noite é sempre escura

Eu choro o tempo todo
Por dentro de mim
Eu chovo o tempo todo
Por fora de mim
Choro e chovo
Por dentro de mim
Chovo e choro
Por fora de mim
Por fora e por dentro
Por dentro e por fora
Rio de lágrimas que se forma e
Escorre da nascente dos olhos
E passa correndo ao longo de mim

Homem/mulher/rio...
O frio me consome
Assim como as noites insones
E as saudades e os amores sem fim

Carpideira solidária
Às dores alheias
Vou entre lamentos e cantos
Misturar-me aos desabrigados
Da sorte, servir de escudo
Ao guerreiro deixado a morte

Sob o meu céu inacabado
Ao longo das eras
Lanço a sorte por terra
Num jogo de dados viciados
Ou num baralho de cartas marcadas
Serei eu rei de ouros ou de espadas, de paus ou de copas?
Rainha senhora dama louca de um mundo inventado?
Ás, “joker”, coringa, tolo, idiota
De um reino maravilhoso e distante

Vou...rumo ao desconhecido
Com a cabeça latejando...
Sem um instante de descanso
A solidão me serve de manto

Vou...em silêncio, ao abandono do tempo que não passa
Ao sabor das horas amargas
A escuridão é minha única morada
Por enquanto...
Em círculos, por esse mundo vou girando...

CREPÚSCULO


CREPÚSCULO


Na casa em frente, há muito desabitada, voltou a morar alguém. Alguém que, em todas as tardes, perturba o silêncio do crepúsculo com os acordes altos de uma guitarra. E eu, que desistira da música, vejo-me tentado a levantar, bater-lhe a porta e conhecer o estranho músico, afinal a casa fica a menos de cinco passos da minha. Mas, logo cedo a vontade de resignar-me, e sentado perto da janela, ouço até o fim a explosão majestosa de talento do desconhecido vizinho, que todas as tardes perturba o silêncio de minha alma com os altos acordes de uma guitarra.
Numa das vezes em que o escutava, sentei-me ao piano que ficava junto à janela, e desde aquele dia foi assim, todas as tardes, durante um longo tempo.
Ele, um estranho para mim, tocando sua guitarra atrás de uma porta fechada e eu, um estranho para ele, - talvez, na verdade, eu pouco lhe importasse - tocando meu piano perto da janela aberta, enquanto o crepúsculo, perturbado em seu silêncio pelo som dos instrumentos, abraçava as notas musicais que vagavam pelo ar.
Um dia, antes do entardecer, ele, o estranho, bateu-me à porta; reconheci-o prontamente, pois fizera bastante sucesso e agora andava um pouco esquecido. Ele também me reconheceu um músico promissor e desistente. Olhamo-nos sem espanto, cúmplices no abandono de velhos sonhos e na busca incessante de uma nova composição para nossas vidas, éramos um.
Estendendo-me a mão, entregou-me um disco gravado com a música tocada ao entardecer e sem nada dizer-me, já que conhecíamos o quanto em certos momentos eram as palavras totalmente irrelevantes, acenou-me um adeus e entrou de volta a casa, fechando a porta atrás de si.
No silêncio que se seguiu nas tardes calmas, descobri que ele partira, e a casa, de novo desabitada, era como que um prolongamento de nossa canção.
Por trás da porta fechada, a eternidade dançava uma canção feita de vida. De minha janela, sempre aberta, vi o crepúsculo descer suavemente. Em paz, com a alma quieta, escutei a canção do silêncio.





Do livro MORONETÁ-Crônicas Manauaras; Virgínia Allan; Editora Valer





segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O LEGADO DO MOURO



Deixarei o meu castelo
À mercê dos ignorantes
Dos destruidores da beleza
Dos dispersadores de estrelas
Aqui, onde a verdade fez morada
quase nada continuará como antes...

Parto... Mas na fonte ainda jorrará
A água cantante
No jardim sorrirão as flores
Voarão os pássaros
E a lua, branca, meditativa, silenciosa,
se refletirá nos vitrais coloridos das janelas

Por detrás do reposteiro
Do quarto que já não mais me pertence
Há uma tênue luz que não se apaga
Ela encantará os momentos
De quem agora nele há de repousar

Espero que pouco caso não façam
Do legado do estranho
Que mais que tudo almejou
A perfeição e entre tantos escombros
Lágrimas e descaminhos
Ficou só e derrotado
Posto que apegado ao que deveria deixar

Sim...Chegada é a hora de partir
Irei a passos lentos, rei destronado, deixar o meu castelo
Desabitado de mim, minha herança, sem mistérios,
Aos que logo haverão de vir...

Firme na sela de meu cavalo,
Seguirei em frente, solitário,
por uma estrada reta longa e iluminada...
De volta para casa, lá no país distante
Onde para sempre brilhará o sol






VELHO AO LUAR

Um velho sentado cismava ao luar
E os raios da lua a branca cabeça lhe afagavam.
Pernas cruzadas, mão na fronte e bengala...
Bela estátua prateada, moldada nas oficinas da noite  
 feita de sonho e mansidão...
Só silêncio e solidão...

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...