Um corvo, um cobre

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quarta-feira, 9 de abril de 2008




A word is dead
When it is said
Some say
I say it just
Begins to live
Taht day

(Emily Dickinson)

*****

A palavra morre
Assim que é proferida
Disse alguém com sabedoria
Digo eu apenas
Que a palavra uma vez proferida
Começa a viver a partir desse dia.

(Virgínia Allan)

terça-feira, 8 de abril de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA



Segundo os índios Kamayurá, Moronetá é toda forma de explanação verbal ou narrativa, mas que pode ser também visual. Moronetá é como o espelho, refletindo uma realidade de uma outra ordem, diferente daquela na qual julgamos viver.

*****

Escuta piá [1], a estória que vou contar. Há muito tempo eu queria fazer isso, mas tu não me davas ouvidos. Sempre entretido com a televisão, com os videogames ou com o computador. Hoje, que consegui te pegar num instante de devaneio, aproveitarei. Vem cá esquece um pouco estes teus amigos e senta aqui comigo no jupá [2]. A janela está aberta e assim poderemos apreciar a paisagem.
Em que pensavas antes de eu chegar? Estavas triste? Por que, piá?
Não ouves mais o canto da cigarra? É! Também eu, aqui, já não a escuto. Só quando penetro nos confins da floresta. Mas, se serve de consolo, ainda se ouve o cricrilar dos grilos e o coaxar dos sapos.
É noite! Lá fora, o vento passa sussurrando antigos segredos. Estava tão ansiosa para te contar a história que agora nem sei por onde começar.


MORONETÁ


Num tempo sem tempo, ainda na aurora do mundo, um curumim [3] vagava perdido pela floresta.
Depois de muito andar, chegou, por fim às margens de um lago, onde se sentou para descansar e matar a sede, mas, ao inclinar-se...''erê!'' [4] Assustou-se. Havia um outro menino dentro do lago. ''Como ser isso?’’ Pensou. Recuou, desconfiado. Mas, a sede era tanta que resolveu aproximar-se novamente. Devagar, inclinou-se, e só então percebeu que era ele mesmo refletido nas águas calmas.
O curumim, de assustado, passou a apreensivo. Nunca vira nada parecido, pois na taba onde morava a fonte possuía água escura como a noite.
''Kaáguara [5] brinca comigo. Roubou minh’alma e deu para os espíritos das águas.''
E foi assim que, tratando de recuperá-la, mergulhou no lago, transformando-se no mesmo instante, num pequeno e colorido pirá [6].
O peixinho nadava solitário e sempre subia à superfície, tentando, aos saltos, alcançar às suas margens. Nem sabia direito porque fazia aquilo, mas algo o impelia a fazê-lo. De dentro do lago olhava, com olhos tristes; para um estreito caminho que lhe parecia tão conhecido, porém, não demorava muito cuidando do assunto; logo mergulhava de volta e recomeçava a nadar, pra lá e pra cá, pra cá e pra lá...
Uma tarde, porém, em que jasytatá uasú [7] surgia linda e brilhante no céu, o peixinho conseguiu lançar-se para fora do lago e, no mesmo instante, voltou a ser menino. Olhou ao redor, procurando o estreito caminho que agora sabia estar escondido entre as árvores. O peixe esquecera que na verdade, ele era um menino, mas o menino não esqueceria jamais, que um dia, havia sido um peixe e graças a esse estranho fato encontrara o caminho de retorno.
Teria uma estória para contar ao redor da fogueira, naquelas noites vazias em que os velhos esperam a morte chegar. As crianças a ouviriam, e depois a contariam aos seus filhos, que, por sua vez, a contariam para os filhos de seus filhos que...
''Certa noite de lua, o nosso vovô, o valente guerreiro Curumim, mergulhou num lago de águas mágicas e virou um enorme pirá. Tão grande tão grande era o nosso avô, que virou rei!''
E o menino seguiu contente caminho afora, direto para casa, rumo à Grande Aldeia das Aves de Penas Brancas.


*****

[1] piá: criança
[2] jupá: esteira
[3] curumim, colomi ou coromim: menino, rapazola.
[4] erê: interjeição que exprime espanto, surpresa, alegria ou mofa. Usual entre os índios e caboclos da Amazônia
[5] Kaaguara: Habitante do mato. Espirito do mal que constantemente prejudica os índios em seus afazeres.
[6] pirá: peixe
[7] jasytatá uasú: estrela grande. A grande estrela da manhã e da tarde.






Do livro MORONETÁ; Crônicas Manauaras; Editora Valer

segunda-feira, 7 de abril de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA


Cidade quente! O sol castiga sem piedade.
As idéias e as vontades ardem num fogo invisível, junto com os meus miolos.

(V. A)

DEPOIMENTO NATIVO

por André Gomes

Porra; porra; porraaa...
Estou perdido e com calor filho da puta, mas quando desço a ladeira,
ao longe vejo o rio; longe do meu corpo para me refrescar,
a carcaça e o crânio resfriar a agonia do nativo
massacrado pelo calor.
Porra; porra; porraaa...
Calor que desequilibra; adormece; queima e mata a vontade
de seguir em frente.
Calor; uma desculpa.
Mostra tua face, irresponsável; ruim mesmo, de nascença;
preguiçoso, desequilibrado; falta de vitamina quando criança;
louco; fraco; medroso;sem-vergonha...
Revela-te!


domingo, 6 de abril de 2008

CHAMADO ATENDIDO


A ninguém nada direi...
Silêncio!

CHAMADO ATENDIDO

Foi assim que aconteceu.
Numa bela tarde de sol, D. Morte dava sua costumeira volta ao mundo, quando subitamente ouviu alguém chamá-la das profundezas de seu desespero. Ficou um pouco atrapalhada. Além de detestar esses chamados fora de hora, (este sujeito não era único descontente da vida), havia resolvido naquele dia não atender a nenhum suicida. Por causa deles negligenciara as prioridades e D. Morte, sendo politicamente correta, pensava em obedecer rigidamente o esquema de trabalho estabelecido pelo Grande Senhor desde o princípio dos tempos.
Assim, tapou os ouvidos e seguiu um pouco emburrada o seu caminho. Mas tal esforço não lhe caia bem, pois D. Morte sofria de alguma espécie de transtorno que a impedia de deixar qualquer assunto inacabado e depois o chamado se fazia tão insistente que apesar de sua decisão, não resistiu à compulsão de dar ao menos uma espiada no infeliz, que num momento de pura insanidade, desejava encontrá-la urgentemente.
Finalmente, chegou ao local determinado e percebeu que precisava cumprir a tarefa para a qual fora designada. Era isso que dela esperava O Grande Senhor de todas as vontades. D. Morte soube, ali, naquele instante, que não cabia a ela, e, diga-se de passagem, a mais ninguém; nem ao dito celerado, movido a desespero, a decisão final de viver ou de morrer. Somente Ele possuía tal poder e a decisão já havia sido tomada.
D. Morte, sempre pronta a fazer o seu trabalho, acolheu então em seus braços o pobre desesperado.
Lá fora fazia uma bela tarde de sol.
O jovem suicida deixou mulher e duas filhas. Para elas, a tarde tornou-se cinza.




sábado, 5 de abril de 2008

UM TOQUE A MAIS...



Quando ele tocava, o dia ficava menos triste; tudo se enchia de música, e ele era todo contentamento.
O inferno transmudava-se em paraíso, e a esperança; débil e enganoso sentimento, como principal convidada, adentrava a casa e, educadamente, sorria para todos.
O sol, penetrando pela janela aberta, as sombras dissipava e sobre o adorável músico estendia seu manto de luz.
Inesquecível!
A partitura de Autumn Leaves sempre ao alcance: perto do maço de cigarros e do copo de água.
O rock e o blues na cabeça e no coração; o jazz na palma da mão; o funk e o soul saltando, no ágil dedilhar das cordas do instrumento.
Agora, o baixo e o violão, encostados em um canto, aguardam o retorno de quem não mais irá retornar.
A casa está vazia; apagaram-se as luzes, mas Eu sei que vou te amar, solfejado, ainda ecoa em meus ouvidos.
O legado que deixou é feito de música; paz e amor, mas, a saudade e a dor são as partes que me tocam.



Do livro  RÉQUIEM; Virgínia Allan; Editora Scortecci

sexta-feira, 4 de abril de 2008

OS MEUS, OS SEUS, OS NOSSOS SABERES E O DIA DE AMANHÃ

“Amor, dedicação, aprender e doar, o outro olhar, cura coração”. *

E eu na contra-mão procuro uma indicação do rumo certo a tomar. Solução...?! Decisão solitária de um coração abalado por peripécias sofridas das vicissitudes da vida. 

Nasce em mim o sentimento, de que não existe pior tormento do que aquele de manter-se indeciso, e, entre o sul e o norte, passeia a minha sorte, enquanto espero amargurado, que o céu, por mim, faça o trabalho.

Seria um alívio, a remissão total de um coração maltratado, escolher um caminho e por ele seguir sossegado, eu, cavaleiro andante, errante, ferido em minha dor, aprendiz do amor, peço, com a alma em oração, o poder de doar, a outro, o olhar que cura coração.





*frase de Pedro Armando Furtado Volkmann

quarta-feira, 2 de abril de 2008

RAMONES FOR KIDS

Não faz muito tempo fui a um aniversário de criança e, lá, um garoto charmoso e cabeludinho, usando com orgulho uma blusa preta, com o nome da banda The Clash, para meu prazer, deu-me uma overdose de Ramones... Ramones na veia, embora diluído, posto que era a versão RAMONES FOR KIDS, mesmo assim fez um baita efeito. De repente, vi-me de volta ao “túnel do tempo”, quando eu ainda em plena contestação juvenil fui atraída pelo movimento punk. Imaginem, cheguei a andar de coturno e cabelo pintado e espetado, quase beirando ao radicalismo dos “carecas”.. mas esta é outra história... Aliás, voltando ao assunto, a música sempre foi muito presente em minha vida, desde pequena. 

Na adolescência, vivenciando um pouco a “rebeldia sem causa”, mergulhei em sons e ritmos mais pensados / pesados, na tentativa de descarregar a raiva e a frustração interior. É que por baixo de minha aparência calma e tranquilizadora, era eu uma bomba; prestes a explodir, igual a qualquer adolescente, sem tirar nem por, e, nesse conturbado período da existência pelo qual todos nós passamos, nos perdendo e nos encontrando, tudo o que acontecia a nossa volta servia como pretexto, fonte de protesto e indignação, sendo o homem, como sempre, o alvo de toda essa marcação.

Há mais de um ano tenho mantido certa distância da música, desde a morte de meu marido, que era músico e tinha paixão por seu instrumento, o contrabaixo elétrico, e, só agora, lentamente, é que estou retornando a essa maneira maravilhosa de dar vida aos sentimentos. 

Pois é... Mas enquanto cantava, ou melhor, sussurrava, “I wanna be your boyfriend”, “Sheena is a punk rock” e outras, tendo ao fundo o coro infantil, ia pensando a quantas anda o mundo e me deu uma profunda tristeza, mas também um pouco de felicidade e satisfação. 

Lembrei-me com saudade desse tempo que já ficou pra trás e dessa gente que fez parte de minha vida e que nos dias de hoje pouco tenho visto ou tido noticias. 

Sou saudosista? Sou sim, e muitos de meus textos giram em torno de recordações, do que é “isto ou aquilo” ou do assim é, mas bem que poderia ter sido... Pura recordação e saudosismo de um tempo em que a vontade de mudar, realizar o novo, era um imperativo. Porém, “como é comum de acontecer entre os homens” com tudo a gente se acostuma. Acostuma-se com as presenças e com as ausências, com o claro e com o escuro... E, muitas vezes, num ato de extrema e humilhante submissão, porque estamos “acostumados”, calamos a voz, baixamos a cabeça e os braços e depomos as armas, mas se fazemos isso, com relativa facilidade é porque não estamos acostumados, ainda, a ir à luta. Entretanto, a meu ver, o ontem não é melhor do que o hoje; só que hoje podemos acabar com tudo num abrir e piscar de olhos. Temos saudade de uma época que achamos que era melhor por termos saudade, na verdade, é de nós mesmos e de nossa capacidade de se indignar, de brigar, temos saudade de pensar que poderíamos fazer a diferença e revolucionar o mundo. Fizemos diferença, sim, mudamos muita coisa sim, mas a vida é um processo ininterrupto e enquanto dormimos, enquanto comemos, enquanto nos divertimos, enquanto envelhecemos tanta coisa continua a acontecer por aí, coisas boas e ruins. 

Dizem que a desgraça e a alegria estão harmoniosamente espalhadas entre nós e assim vamos vivendo... até quando e até onde? Não sei, não sabemos... Conscientemente, o homem tem evoluído mas, às vezes me pergunto se haverá tempo para uma remissão, se haverá tempo de salvar-nos e dessa forma salvar a Terra, que, enquanto aqui estamos é o nosso lar e lar será dos que depois de nós haverão de vir, quer isto dizer que estamos todos em um mesmo barco, infelizmente, capitaneado por mentes sombrias e mesquinhas, é preciso então que nos juntemos e realizemos um motim, onde cada um possa empunhar a arma que melhor souber manejar. 

Nos tempos atuais é necessário, não só aos jovens, mas a nós, ao homem, como um todo, que possamos ir além de idealismos e estados de utopia, é preciso que possamos ir além de nós mesmos com a mesma garra e raiva com que pensamos, outrora, provocar uma revolução. Nossa meta deveria ser sempre para o alto, porém, certamente nada nos protegerá de nossa própria estupidez e estúpidos temos sido já há um longo tempo.

Creio eu que é preciso haver progressos, mudanças e nesse caminhar da raça humana, muito ainda se perderá, muito ainda ficará para trás, as coisas são como são, mas nessa caminhada podemos construir, buscar um ponto de apoio, um “porto seguro” dentro e fora de nós. 

Gosto de imaginar; acredito mesmo nisso, que a aventura humana sobre a Terra não é em vão e quando chegar a hora e tudo aqui tiver que deixarmos, depois de termos descoberto quem ou o quê; somos, e tivermos feito do melhor modo a nossa parte, iremos ter ao lugar onde todas as almas, centelhas de luz, retornam, ao lugar de origem, de volta ao Grande Sol, um sol enorme, que brilha e ilumina todo esse vasto Universo. Acredito, creio mesmo que há perdão para tudo, para todos e para todas as coisas. Acredito, creio mesmo que o sofrimento, muitas vezes desnecessário, não é inútil. Não podemos, e talvez jamais possamos entender certas coisas que nos acontecem, todavia é-nos necessário seguir e completar a jornada que nos foi confiada. Em relação a esta parte, a raiva contida dos meus tempos de adolescente tem me ajudado a sobreviver e vou tentando reter o temor e o desassossego em meu coração de um futuro incerto para que minhas filhas, e outros, em meu entorno, possam acreditar que tudo há de melhorar. E para cada criança abandonada, molestada, assassinada, haverá o dobro de crianças felizes e satisfeitas. Para cada ser perseguido, roubado, caluniado, haverá o dobro em prosperidade, confiança e justiça. Beijo minhas filhas com a esperança de que tudo isso seja possível. Que a ilusão não seja o alimento preparado e servido para os que esperam e trabalham por uma boa e nutritiva refeição.

Sobre o ato de recordar, li certa vez um artigo, cuja intenção ou propósito foge-me a memória, (perdoem-me aqueles que o conhecem se aqui cometo alguma ignorância em relação a este assunto, pois o tal artigo já o li faz tempo) em que o autor afirmava que todo saudosista é um necrofilo já que vive; nutre-se de coisas mortas. Não concordo. Recordar é preciso. Recordar nos ajuda a manter-nos sãos e vivos. Recordar ajuda-nos a lembrar de nós; de quem ou o quê somos e por que estamos aqui. Viver na recordação, fazer disso a base de sua sustentação é que não é necessário, como bem dizia o poeta Fernando Pessoa: Navegar é preciso, viver não é preciso, pois a vida não possui precisão, exatidão, muda a todo instante... O segredo é o equilíbrio. Para mim, necrofilia, morbidez é não recordar, como se isso fosse possível, e numa espécie de autofagia, digerir-se a si mesmo, culpando a Deus e o mundo por isto ter lhe acontecido. Ah, querem saber, me desculpem o palavrório... todo esse discurso só porque ouvi Ramones em versão infantil... RAMONES FOR KIDS...

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...