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terça-feira, 18 de março de 2008

PAZ E AMOR




Para que a paz
possa ser constante,
vivamos a vida
e celebremos os sonhos,
poupemo-nos a dor
e desfrutemos o amor,
o amor irmão,
o amor amigo,
o amor amante,
o amor humano,
o amor divino.




Do livro RÉQUIEM, Virgínia Allan, Editora Scortecci

sábado, 15 de março de 2008

A FORMIGA E A CIGARRA





Ilustração by Jean Okada





Canto 1


No inverno, as formigas puseram a secar os grãos molhados pela chuva.
Uma cigarra faminta reparando na fartura espalhada em volta do formigueiro, se aproximou e lhes pediu algo para comer. Porém, as formigas lhe perguntaram:
“Onde estão as tuas provisões? Não guardaste nada durante o verão?”.
“Oh, eu cantei o verão inteiro”, respondeu a cigarra, e não tive tempo de guardar provisões.
“Cara cigarra! Tiveste tempo para cantar, agora tens tempo para dançar”.
Assim lhes disseram as formigas, e então se foram, rindo sem parar.

(Esopo [1])



Canto 2

Verão!

Trabalha a formiga, canta a cigarra.
Inverno!
A fome a porta bate; morte fria; vazia.
Primavera!
A formiga, um novo ciclo começa.
No bosque silencioso não canta mais a cigarra!


Canto 3


Tudo começou num ensolarado dia de verão. No alto da árvore mais alta da floresta de lugar nenhum, feliz, cantava uma cigarra. Despreocupada com o dia de amanhã, ela não fazia qualquer espécie de plano. Na verdade, o futuro pouco lhe importava. Sua única preocupação durante toda aquela estação, era não desafinar e desfrutar a vida ao máximo.
Logo abaixo, ao pé da árvore, havia um imenso formigueiro, cujas habitantes não paravam de trabalhar, recolhendo e armazenando provisões para a chegada do inverno.
Uma longa fila de formigas resolveu subir na árvore em que cantava a cigarra e ver o que mais podiam carregar. No sobe e desce que se seguiu do formidável batalhão, a cigarra não cessou de cantar e uma das formigas, ao percebê-la assim, tão distraída, disse-lhe: “Reconheço, amiga cigarra, como teu canto é bonito e alegre, mas porque não deixas disso um instante e vem recolher para ti as provisões necessárias para a chegada do inverno?”.
“Que ousadia!Quem pensa que és para falar comigo dessa forma? Põe-te em teu lugar, formiga operária. Tens é inveja, pois não sabes cantar. Vai-te daqui e me deixa em paz. Recolhe-te à insignificância de tua vidinha sem graça. Trabalhas tanto e para quê? Tu tens um objetivo? Ótimo, pois faça bom proveito.. Eu cá não tenho nenhum. Se bem conheço as formigas, tal objetivo deve ser tão inalcançável quanto à lua... Quanto a mim, persigo a felicidade, e felicidade é prazer, e prazer é comer, beber dormir e cantar, cantar, cantar...lá-rá- lá-lá.”
A orgulhosa cigarra logo deu a conversa por encerrada.
A formiga não disse mais nada, apenas pensou lá consigo. “Que mal educada...! É! Não temos mesmo mais o que conversar. Eu vejo uma coisa; ela vê outra. Seguirei meu caminho. Pelas leis da natureza, a cigarra sabe o que pode lhe acontecer.”
Então, certa de que havia feito o que estava ao seu alcance, a formiga se foi.
Algum tempo depois, o Inverno, velho senhor tenebroso, sobre a floresta de lugar nenhum, estendeu seu manto de silêncio e escuridão. Os animais, rapidamente, fugiram para a segurança de suas tocas, deixando do lado de fora apenas o vento frio que soprava tristemente.
No formigueiro, com todas as coisas em seus devidos lugares, as formigas esperaram com tranqüilidade o inverno passar.
A desditosa cigarra, não mais conseguindo achar abrigo e comida, sofreu terrivelmente e não suportando mais o frio, morreu.
O Inverno, após cumprir o seu tempo determinado pela natureza cedeu passagem à ditosa primavera.
A alegria voltou a reinar na floresta de lugar nenhum. Os pássaros inventaram novas canções, fazendo seus recitais por entre galhos e folhas das árvores. Mas, subitamente, notaram a ausência da cigarra.
“Onde estará essa danada orgulhosa? Como será que passou o inverno?”
Procuraram-na em todos os cantos e nada, até que, finalmente, resolveram desistir.
As formigas, também saíram do seu sossego. Um novo ciclo começava e elas precisavam, novamente, se preparar. Aquela pequenina que antes se avistara com a cigarra, quase quebrou o delicado pé ao tropeçar em algo semi-enterrado à porta de sua casa. Retirando o resto de neve que ainda o cobria, não com surpresa, reconheceu o corpo sem vida da cigarra.
“Pobre cigarra! Tão orgulhosa!” Pensou a formiga, soltando um profundo suspiro. “Quando a avisei achou que eu só queria lhe estragar o prazer e a alegria. O que lhe parecia importante, agora, acabou. Quanto a mim, devo prosseguir com o meu plano e como ela está tão bem conservada, ainda me servirá durante muitos dias como alimento”.
Então, a formiga, arrastando consigo o corpo da cigarra, entrou de volta ao formigueiro.


[1] A CIGARRA E A FORMIGA; FÁBULAS, 1997, Esopo, L&PM POCKET Editores.
A CIGARRA E A FORMIGA: Do livro RÉQUIEM, Virgínia Allan, Editora Scortecci

sexta-feira, 14 de março de 2008

DAS PROFUNDEZAS DO RIO[1]

Na floresta de um paraíso / inferno verde de uma grande planície, às margens de um rio-mar, vivia um caboclo muito pobre em uma estaca de palafitas..
Todo o dia, antes do amanhecer, para garantir o seu sustento, ele andava floresta adentro a recolher frutos, flores, mel, raízes e sementes, o que fosse para vendê-los no povoado que ficava do outro lado da margem, voltando para casa somente ao entardecer, lá sempre aparecia gente que vinha da cidade grande ou do estrangeiro, que gostava de beber, comer e apreciar “coisas diferentes”.
No caminho de volta, o caboclo, ao atravessar novamente o rio, atirava na correnteza tudo aquilo o que não havia vendido.
Um dia, choveu, choveu tanto, uma chuva daquelas.... torrencial, ali naquele mundo, isso acontecia muito, e, a travessia de costume tornou-se impossível, pois o rio enchera e apresentava violenta correnteza.
Sem saber o que fazer o caboclo nem se mexeu e ficou parado, só olhando. Ficou assim nessa pasmaceira durante algum tempo, quando então viu o danado de um boto vermelho vir ao seu encontro: “Venha amigo, precisas chegar ao outro lado. Se aceitas minha ajuda monta em minhas costas”.
O caboclo não se espantou ao ouvir falar um boto, ali naquele mundo isso acontecia muito, e depois já ouvira tantas coisas sobre aquelas criaturas; seres encantados da floresta, que só pensou que esta ajuda, que em tão boa hora lhe era oferecida, era mais do que bem vinda. Mas tão logo se acomodou em cima das costas do boto, o bicho, nadando rapidamente mergulhou, desaparecendo nas profundezas das águas.
Num abrir / fechar de olhos, mais rápido do que digo a palavra cisco, chegaram a um lugar muito estranho, porém belíssimo, aonde uma casa suntuosa, um verdadeiro palácio, erguia-se, resplandecente, e cuja dona era nada mais nada menos, que a Yara, a mãe d’água
Dentro dessa casa maravilhosa a bela senhora de cabelos negros e sorriso encantador, os aguardava e mal os viu chegar, pediu ao caboclo que se aproximasse e saudando-o calorosamente lhe agradeceu pelos presentes que todos os dias lhe traziam as águas do rio: ”Bem vindo sejas, meu amigo, ao meu reino, eu sou a Yara, a mãe das águas”. Disse ela. “Vem, aproxima-te, pois tu és o responsável pela beleza e alegria que enfeitam os meus dias”.
Depois, a mãe d’água, após fazê-lo sentar-se ao seu lado, bateu palmas três vezes e mandou que a festa começasse com delicadas melodias e harmoniosas danças de peixes e ainda um grandioso banquete. Encantado, o caboclo permaneceu ali por um longo tempo.
Todavia, tudo, um dia, seja bom ou ruim, chega ao fim e assim o hóspede, maravilhado e agradecido, decidiu que deveria retornar para casa. Foi ter com a Yara e lhe disse: “Mãe d’água é chegada a hora de voltar para casa a fim de cuidar do que é meu. Embora ame este lugar e a tua bonita presença, é com pesar que te digo que devo partir”. A Yara, após ouvir aquelas palavras de despedida, mandou que este esperasse um instante e ordenou que trouxessem à sua presença um curumim vestido apenas com uma tanga: “Amigo, vou pedir-te um favor. Cuida bem deste curumim. Se assim o fizeres, ele fará com que teus desejos se tornem realidade”.
O caboclo aceitou a tarefa e voltou para casa na companhia do curumim. Porém, ao chegar lá, deu-se conta da imensa pobreza de sua choupana e da extrema solidão daquele lugar. Recordando-se das palavras da mãe d’água, pediu ao curumim que mudasse tudo. Não precisou se repetir... Imediatamente, o pequeno, batendo palmas três vezes, transformou a palafita em uma magnífica construção, ricamente adornada, bem no meio da praça principal da cidade.
Eis que então, o tempo passou e o caboclo logo se acostumou aos rapapés e a vida boa, cheia de luxos, que o dinheiro lhe proporcionava. Tomou gosto. Agora tinha muitos amigos e o que comer não lhe faltava. Ao contrário, quase toda a noite dava um banquete e enchia a casa de música e gente. O orgulho se instalou e em breve o fez se esquecer completamente de sua origem humilde e foi exigindo, a cada dia, uma maior quantidade de coisas, e ali, num lugar tão esplendidamente luxuoso que era o seu palacete, o homem principiou a achar que o curumim, coberto somente pela tanga, não lhe ficava nada bem. Levou-lhe uma roupa bonita para que a vestisse e o curumim recusou-se dizendo que era feliz do jeito que estava.
O caboclo se aborreceu e por fim, chegou à conclusão de que já possuía tudo o que queria e sugeriu ao curumim que voltasse ao fundo do rio, coisa que o curumim se negou a fazer, mas ao ver o caboclo contrariado, concordou em partir.
Foram ambos então, caminhando pela elegante avenida que os separava da beira do rio. Não demorou. Ao chegarem, o curumim lançou um último olhar ao caboclo, misto de pena e adeus.
O caboclo, por sua vez, suspirando de alívio por ter conseguido se livrar daquele menino tão insolente e inconveniente, voltou cantarolando para casa. Porém, ao chegar, para sua total estupefação, a mansão suntuosa havia desaparecido inteiramente. Em seu lugar estava novamente a velha estaca de palafitas, na erma solidão da floresta; olhou para si e viu que suas ricas vestes foram substituídas pelas mesmas roupas de antes quando, outrora, era apenas um simples caboclo lutando por sobreviver. Percebendo o seu erro, o infeliz correu desesperado em direção ao rio, chamando pelo curumim. Mas era tarde demais... O curumim também havia desaparecido



[1] DAS PROFUNDEZAS DO RIO é reconto do conto O menino do palácio do dragão, do livro Histórias da Tradição Sufi; textos compilados e organizados pelo Grupo Granada de Contadores de Histórias; 1993, Edições Dervish.

A HOSPEDARIA





Jalaludin Rumi

O ser humano é como uma hospedaria. Cada manhã uma nova chegada, uma alegria, uma depressão, uma mesquinharia... Tal qual inesperados visitantes, dê boas vindas e receba-os, ainda que seja uma multidão de tristezas, que, violentamente, devasta tua casa, deixando-a desmobiliada... Mesmo assim, trate a cada hóspede com a devida honra. Ele pode estar a preparar-te para alguma presente alegria. Os negros pensamentos, a vergonha, a maldade, sorrindo, receba-os à porta e os convide a entrar. Seja agradecido a cada um que chegar, porque cada um te foi enviado como uma proteção do além.






quarta-feira, 12 de março de 2008

SIMPLESMENTE MULHER




Este poema é dedicado a P. que, em um dia de costumeiro mau-humor, entre uma multidão de textos e autores, escolheu a mim para destratar; escolheu a mim com quem ser desagradável, e, no comentário que se seguiu ao poema que eu tinha escrito, bem simples, bem fácil, disse que minhas rimas eram chatas / fracas e o título, pior ainda, puro clichê.

Mas, sabem, vamos ser razoáveis, sei de P. duas ou três coisas que vocês não sabem e que enfim, não serão ditas aqui ... P. não me abalou com sua opinião... P. ao contrário, me clareou as ideias e a argumentação. De P. posso apenas dizer que ele “se acha”, sim... P. é o tipo do cara que “se acha” e “acha” o máximo ser chato, “acha” o máximo ser desagradável... Um cara que “joga” e provoca apenas pra sacudir o marasmo de seu viver... Que fazer? P. é um cara em corpo de homem, mas com a mentalidade de um menino, lembrem-se que sei de P. duas ou três coisas que prefiro nem falar, posso apenas dizer que P. se recusa a crescer, sente medo de sair, abandonar a Terra do Nunca... P. quer ser Peter Pan... P. se recusa a ser SIMPLESMENTE HOMEM.

Não falo assim de P. porque não gostou de minhas rimas ou do título tão lugar comum de meu poema, P. me causa mágoa por ser um cara destituído de generosidade, de solidariedade, de emoção e, embora P. seja este sujeito tão tristonho / medonho P. tem muita sorte... P. tem alguém que o ama de verdade, pasmem... P. é amado por uma MULHER / esposa / amante que o aceita do jeito que é... P., que achou minhas rimas chatas / fracas e o titulo clichê de meu poema pior ainda, vive a mais “clichê” das situações... UM AMOR SINCERO... P. achou sua cara metade, sua alma gêmea, sua outra parte da maçã, e, apesar de tudo, apesar de ter e viver algo que muitos querem e sonham, P. é um terror...“acha” o máximo ser assim, e sente vergonha de “um amor tão delicado” que lhe é dedicado, não o reconhece, despreza / esquece aquela que está ao seu lado e ousa ser SIMPLESMENTE MULHER...


Mulher no canto
Mulher encanto
Mulher desencanto
Mulher espanto
Mulher nem tanto

Mulher ingrata
Mulher grata
Mulher gata
Mulher rata
Mulher cheia de graça
Mulher desgraçada
Mulher descabelada
Mulher desengonçada

Mulher distante
Mulher amante
Mulher cortante
Mulher tratante
Mulher irritante
Mulher fascinante
Mulher mutante

Mulher forte
Mulher fraca
Mulher primeira
Mulher segunda
Mulher terceira
Mulher caseira
Mulher altaneira
Mulher festeira
Mulher brincadeira

Mulher velha
Mulher sábia
Mulher fada
Mulher chata
Mulher amada
Mulher bala
Mulher pacata
Mulher mal-amada

Mulher sofrida
Mulher vadia
Mulher da vida
Mulher cantiga
Mulher poesia

Mulher demente
Mulher presente
Mulher ausente
Mulher doente

Mulher boa
Mulher boba
Mulher “loira”
Mulher à toa

Mulher nova
Mulher formosa
Mulher gostosa
Mulher fogosa
Mulher aurora
Mulher da hora

Mulher nobreza
Pura certeza
Vestida de mistério
Revestida de grandeza
Despida de sutilezas

Mulher vento
Mulher terra
Mulher fogo
Mulher água

Tempestade que desaba
Noites tormentosas
Dias de calmaria
Dias de bonança

Amargas / doces lembranças
Mulher esperança / refúgio
Do homem fraco / forte / rico / pobre
Vil / apaixonado / poderoso / inconstante
Que mesmo falho / medroso / fervoroso / vacilante
Não deixa de ser nunca o pai / o filho / o amante.

segunda-feira, 10 de março de 2008

CHUVA, MELANCOLIA E IDÉIAS FIXAS



Hoje chove, o tempo traz consigo toda uma carga emotiva que tento transpor. Para passar este dia tão melancólico, os céus me compensaram, apesar da chuva, e recebi duas boas notícias. Como escrevi uma vez, boas notícias são para serem compartilhadas, já que boas noticias nunca são totalmente particulares. Estou feliz, sim, mas em parte, há na feitura do dia um pretexto qualquer para me sentir infeliz.

As nuvens, carregadas de água, parecem mulheres grávidas, prontas a parir, eu, me sinto grávida também... de idéias... que se chocam, se tocam, se cumprimentam, se namoram, se casam e procriam, iniciando um novo ciclo... um novo ciclo de idéias que se chocam, se tocam, se cumprimentam, se namoram... enfim...

Às vezes arrumar as idéias não é muito fácil. De tanto pensar nelas acabamos por ficar maníacos. Idéias fixas são deveras um transtorno, um monstro que cresce, se avoluma se agiganta dentro da mente. Estou cheia de contos inacabados simplesmente por ter uma idéia atrás da outra e o tempo, esse tempo melancólico, saudoso, só piora as coisas, influindo em meu estado de espírito. Já gostei mais de dias de chuva, agora ando ansiosa mesmo é por um belo dia de sol daqueles bem quente que costumam deixar a gente de mau-humor. Bom, se fosse ao contrário, talvez estivesse escrevendo uma crônica a favor da chuva, mas como o sol ainda não deu o ar de sua graça.. fiquemos de implicância com ela... Sim, só implicância... cada estação têm sua beleza... sol, chuva, alegria, melancolia, tudo tem seu valor... até minhas idéias fixas. Estou tentando ordená-las e aproveitá-las e se possível, superá-las sem ficar doente... Huummm... doente já estou... uma gripe horrorosa que ainda não completou o seu ciclo e insiste em me tirar o sono... fico deitada na cama, no escuro, de nariz entupido, pensando, pensando, pensando.... e cada pensamento, um novo conto, um possível romance...

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...