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domingo, 28 de agosto de 2011

A Vida é um Blues


por Moysés Mota


Moysés Mota - Na reunião do Greens

O horizonte era total escuridão. A noite, inóspita, de sentir e, principalmente… ver. Apertou os olhos para melhor percepção do céu. Partiu através do que via – ou não via -, para a dedução: “Essa escuridão são pesadas nuvens de chuva; encobriram a lua, as estrelas, o firmamento; tão logo o céu se torne róseo, a chuva desabará!“ Envolveu-lhe um manto de tristeza e depressão. Pensara e repensara a sua vida: “ Muito mais erros que acertos; não acertava uma; não acertava nada, nada”, disse entre irritado e resignado, a si mesmo. Perambulara de bar em bar, mergulhando profundamente no âmago de vários copos de uisque, articulando, concatenando, caindo em si. Vivera o bastante para ver e fazer muita coisa. Mas, agora, meio a madrugada, via-se sem saber aonde ir (“Para casa? Mais um uisque noutro bar? Assistir um strip?…“ Caminhou… Uma, duas ruas, anúncios luminosos de neón; taxis caçavam-lhe como se fora a última alma viva a vagar. Haviam poucas pessoas nas ruas. A maioria abrigava-se nos bares, como ele, que acabara de sair de um, de dois, de vários… Perdera a conta. Lembrou da infância pobre; começara a trabalhar aos 11 anos de idade, estudara bastante, também. Advogado já aos 25 anos, passara a vida defendendo pessoas; ganhara muito mais causas que perdera, acumulando bom patrimônio para uma vida tranquila; conhecera inúmeras mulheres que fizeram de tudo, tudo mesmo, para envelhecer com ele… Era isso! Estivera de bar em bar festejando seu aniversário. Primeiro, com dois velhos amigos. Beberam, brindaram, relembrando infância, adolescência, alegrias, tristezas; sorriram, gargalharam, sentiram saudades… Os amigos, cansados, exaustos de festejar, com dificuldade entraram num taxi e partiram, extasiados de felicidade ”A vida é bela!”, exclamaram na despedida, com as linguas perceptívelmente pesadas, os corpos ligeiramente arqueados. Ficara, como sempre, só. “Fiz ontem 70 anos! Minha vida é só passado. Nunca houve futuro. Hoje, pelo menos – nesse momento um raio rasgou o céu verticalmente como se este fora uma negra cortina, em seguida, um estrondo medonho ecoou… A idade, o alcool, um ou os dois juntos – não soube precisar – imunizaram-lhe do susto que abalou toda a cidade. “Sinto e vejo agora o presente. É negro, mas há raios a iluminá-lo, e trovão a trombetear, nos alertar.” A escuridão tornara-se cinzenta e, agora, rósea… ventania em redemoinho anunciou-se… fria garoa estabeleceu-se. “É isso! Vou a outro bar. Um piano, um saxofone, um contrabaixo, uma bateria é tudo que preciso… Minha vida é um blues! Não… A vida é um longo blues! Sentiu-se feliz como nunca. Seguiu em direção aos acordes de sax. Sorrindo, respirando fundo o orvalho e o cheiro de chuva, lamentou-se, apenas, por entender a vida só após os 70 anos.  A VIDA É UM BLUES!

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