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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

OS SEIS PREGUIÇOSOS DA MOITA DE BAMBU



Os seis preguiçosos da moita de bambu[1]
deitam e rolam, aproveitando o dia...
Despedem-se do sol que se põe e saúdam a lua que surge...
Debaixo de um céu estrelado, embriagados pelo vinho,
lançam poesias ao vento...
Suas vidas passam como um rio tranqüilo
levando em suas águas as flores de cerejeira.


[1] Os seis preguiçosos da moita de bambu faziam parte de um grupo de poetas chineses que levavam a vida muito despreocupadamente, deixando que a audição ou recitação de suas poesias e cantos lhes trouxessem o pão incerto de cada dia. (Nossa Herança Oriental, Will Durant, Editora Record)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O DERVIXE


No meu céu sem estrelas
Não brilha o sol
Não surge a lua
A noite é sempre escura

Eu choro o tempo todo
Por dentro de mim
Eu chovo o tempo todo
Por fora de mim
Choro e chovo
Por dentro de mim
Chovo e choro
Por fora de mim
Por fora e por dentro
Por dentro e por fora
Rio de lágrimas que se forma e
Escorre da nascente dos olhos
E passa correndo ao longo de mim

Homem/mulher/rio...
O frio me consome
Assim como as noites insones
E as saudades e os amores sem fim

Carpideira solidária
Às dores alheias
Vou entre lamentos e cantos
Misturar-me aos desabrigados
Da sorte, servir de escudo
Ao guerreiro deixado a morte

Sob o meu céu inacabado
Ao longo das eras
Lanço a sorte por terra
Num jogo de dados viciados
Ou num baralho de cartas marcadas
Serei eu rei de ouros ou de espadas, de paus ou de copas?
Rainha senhora dama louca de um mundo inventado?
Ás, “joker”, coringa, tolo, idiota
De um reino maravilhoso e distante

Vou...rumo ao desconhecido
Com a cabeça latejando...
Sem um instante de descanso
A solidão me serve de manto

Vou...em silêncio, ao abandono do tempo que não passa
Ao sabor das horas amargas
A escuridão é minha única morada
Por enquanto...
Em círculos, por esse mundo vou girando...

CREPÚSCULO


CREPÚSCULO


Na casa em frente, há muito desabitada, voltou a morar alguém. Alguém que, em todas as tardes, perturba o silêncio do crepúsculo com os acordes altos de uma guitarra. E eu, que desistira da música, vejo-me tentado a levantar, bater-lhe a porta e conhecer o estranho músico, afinal a casa fica a menos de cinco passos da minha. Mas, logo cedo a vontade de resignar-me, e sentado perto da janela, ouço até o fim a explosão majestosa de talento do desconhecido vizinho, que todas as tardes perturba o silêncio de minha alma com os altos acordes de uma guitarra.
Numa das vezes em que o escutava, sentei-me ao piano que ficava junto à janela, e desde aquele dia foi assim, todas as tardes, durante um longo tempo.
Ele, um estranho para mim, tocando sua guitarra atrás de uma porta fechada e eu, um estranho para ele, - talvez, na verdade, eu pouco lhe importasse - tocando meu piano perto da janela aberta, enquanto o crepúsculo, perturbado em seu silêncio pelo som dos instrumentos, abraçava as notas musicais que vagavam pelo ar.
Um dia, antes do entardecer, ele, o estranho, bateu-me à porta; reconheci-o prontamente, pois fizera bastante sucesso e agora andava um pouco esquecido. Ele também me reconheceu um músico promissor e desistente. Olhamo-nos sem espanto, cúmplices no abandono de velhos sonhos e na busca incessante de uma nova composição para nossas vidas, éramos um.
Estendendo-me a mão, entregou-me um disco gravado com a música tocada ao entardecer e sem nada dizer-me, já que conhecíamos o quanto em certos momentos eram as palavras totalmente irrelevantes, acenou-me um adeus e entrou de volta a casa, fechando a porta atrás de si.
No silêncio que se seguiu nas tardes calmas, descobri que ele partira, e a casa, de novo desabitada, era como que um prolongamento de nossa canção.
Por trás da porta fechada, a eternidade dançava uma canção feita de vida. De minha janela, sempre aberta, vi o crepúsculo descer suavemente. Em paz, com a alma quieta, escutei a canção do silêncio.





Do livro MORONETÁ-Crônicas Manauaras; Virgínia Allan; Editora Valer





segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O LEGADO DO MOURO



Deixarei o meu castelo
À mercê dos ignorantes
Dos destruidores da beleza
Dos dispersadores de estrelas
Aqui, onde a verdade fez morada
quase nada continuará como antes...

Parto... Mas na fonte ainda jorrará
A água cantante
No jardim sorrirão as flores
Voarão os pássaros
E a lua, branca, meditativa, silenciosa,
se refletirá nos vitrais coloridos das janelas

Por detrás do reposteiro
Do quarto que já não mais me pertence
Há uma tênue luz que não se apaga
Ela encantará os momentos
De quem agora nele há de repousar

Espero que pouco caso não façam
Do legado do estranho
Que mais que tudo almejou
A perfeição e entre tantos escombros
Lágrimas e descaminhos
Ficou só e derrotado
Posto que apegado ao que deveria deixar

Sim...Chegada é a hora de partir
Irei a passos lentos, rei destronado, deixar o meu castelo
Desabitado de mim, minha herança, sem mistérios,
Aos que logo haverão de vir...

Firme na sela de meu cavalo,
Seguirei em frente, solitário,
por uma estrada reta longa e iluminada...
De volta para casa, lá no país distante
Onde para sempre brilhará o sol






VELHO AO LUAR

Um velho sentado cismava ao luar
E os raios da lua a branca cabeça lhe afagavam.
Pernas cruzadas, mão na fronte e bengala...
Bela estátua prateada, moldada nas oficinas da noite  
 feita de sonho e mansidão...
Só silêncio e solidão...

domingo, 10 de agosto de 2008

CHEIRO BOM DE CAFÉ



Um cheiro bom de café invade o ar. Vem da cozinha onde minha mãe o prepara em silêncio.
O perfume traz de volta a imagem de meu pai, cantando, se embalando na cadeira, enquanto espera a deliciosa bebida ficar pronta.
Sem me aperceber, repito os mesmos gestos e hábitos de meu pai, e também me sento em sua macia cadeira de balanço e espero! Mas eu não canto. Apenas recordo.
Quando era criança, bem perto de nossa casa havia um moinho, de onde todas as tardes, partia o cheiro bom do café torrado. O forte aroma tomava conta do bairro, mas ninguém reclamava; antes o contrário; de todos os lados, ouviam-se expressões de louvor.
Quem sabe naquele tempo, alguém, assim como eu agora, meditasse sobre antigas recordações, sentado em alguma velha cadeira, ou, então debruçado à janela, vendo a fumaça escapar pela chaminé do moinho somente para desvanecer-se com os sonhos no crepúsculo das tardes e das idades.
Se minha filha pudesse ter visto esta tênue nuvem de fumaça e tivesse sentido o seu aroma, diria que o moinho era a caverna encantada de um dragão bonzinho.
Deixo de lado, por um momento, as reflexões e levanto-me para tomar o café que minha mãe servira à mesa. Olho para o familiar e escuro liquido como quem olha para um amigo e, nesse momento, a porta que se fecha sobre o mistério da vida, abre-se, dando passagem para que meu espírito possa entrar e sair refeito.
Sou novamente aquela garotinha que esperava ansiosamente pelo entardecer para sentar-se junto ao seu pai.
Sou ainda uma jovem mãe, que cultiva e colhe flores raras no jardim de seu coração para ofertá-las antes que murchem.
Sou meu pai, repetindo nos mesmos gestos e hábitos, a fugaz alegria de compartilhar com sua filha o prazer de um mundo único, como se há muito tempo ele tivesse chegado trazendo nas mãos um valioso presente: “Toma! Procurei por todos os lugares as maravilhas do mundo. Achei-as, escondidas dentro de pequenos grãos; querendo te ofertar uma eterna lembrança, torrei-os, transformando-os em uma bebida amarga e, apesar disso, deliciosa. Bebe e terás o mundo como herança!”
E eis que de suas mãos recebesse o mundo, não redondo e azul feito uma bola, mas dourado e preto na forma bonita e misteriosa de uma xícara de café.

sábado, 9 de agosto de 2008

A PARÁBOLA DOS FILHOS COBIÇOSOS [1]



por Virgínia Allan

Este conto de origem sufi, é bem conhecido e nas palavras de Idries Shah, enfatiza a afirmação de que é possível alguém desenvolver certas faculdades à revelia de seus próprios esforços para desenvolver outras. Tal como acontece na história acontece o mesmo ao ensinamento sobre as formas de entender o destino e o significado da vida. Vejamos: Levemos em conta que alguém mais experiente, alguém assim como um professor, ao deparar-se com a impaciência, a confusão e ansiedade de seus pupilos, sabiamente, irá direcioná-los para uma tarefa que ele bem sabe lhes será benéfica e instrutiva, mas, cuja verdadeira função e objetivo, por causa da total inexperiência deles, frequentemente lhes permanecerá oculto. Ao longo do tempo, A PARÁBOLA DOS FILHOS COBIÇOSOS foi publicada e divulgada por gente como, apenas a título de exemplo, o frade Roger Bacon, que ensinava em Oxford, de onde foi afastado por ordem do Papa, e pelo químico Boehaave (séc. XII).
A última versão conhecida desta história é atribuída a Hasan de Basra que viveu há doze séculos atrás.


**********

Da janela de sua humilde casa, o velho lavrador aspirou o doce perfume que vinha do campo. Árvores carregadas de frutos estendiam sua sombra generosamente e flores alegres e coloridas, enfeitavam o percurso de um longo caminho. O vinhedo, que era a menina de seus olhos, enchia-o de ternura e encanto. A primavera chegara cheia de novidades, como sempre, trazendo felicidade com a renovação da vida.
Cansado, soltou um profundo suspiro e voltou para sua cama. Estava muito doente. Pensou no quanto era bela aquela estação, bela para tudo; bela para viver e bela também para morrer. Sim, a morte andava por perto, perto demais...!
O velho lavrador; homem generoso e trabalhador, estava preocupado e com toda razão. Seus sete filhos, apesar de venderem saúde, eram todos, sem nenhuma exceção, preguiçosos, cobiçosos e briguentos. O velho, com toda razão, temia pelo futuro de suas crianças. Que seria deles, sem os seus conselhos e a sua presença constante? Precisava urgentemente encontrar uma solução.
Consultou o seu coração e depois de um tempo, pressentindo que finalmente havia chegado a sua hora, chamou-os ao pé de si e falou-lhes que se cavassem em certo lugar, encontrariam um maravilhoso tesouro.
Movidos pela ambição, os rapazes enterraram, às pressas o velho pai e em seguida, munidos de pás e enxadas, acorreram ansiosamente ao campo.
Entretanto, após o escavarem de ponta a ponta, nada encontraram e decepcionados, tomaram o rumo de casa.
Na manhã seguinte, os irmãos se levantaram cedo e prosseguiram nas buscas, mas o resultado foi igual ao do dia anterior, e assim aconteceu de novo no outro dia, no outro e no outro, até cansarem-se completamente. Concluíram que, por ser o pai um homem bondoso houvera repartido o dito tesouro com os mais necessitados. Porém, apesar da decepção, os rapazes habituaram-se a cuidar do campo, principalmente do vinhedo. Tanto era assim, que já nem brigavam mais. Plantaram novas sementes e continuaram em sua labuta, seguindo sempre o curso das estações. A prosperidade, então, veio bater-lhes à porta.
Um dia, ao olharem para o extenso campo cultivado, assim como o formoso vinhedo, cheio de uvas belas e maduras, foi que então os irmãos perceberam o sábio artifício usado por seu velho e generoso pai.
A história de um tesouro escondido foi uma forma de os disciplinarem e transformá-los em homens honestos e satisfeitos de sua condição. Agora possuíam riqueza suficiente e compreenderam afinal, onde se encontrava o verdadeiro tesouro.

[1] Idries Shah; História dos Dervixes; 1976; Editora Nova Fronteira.


sexta-feira, 8 de agosto de 2008



Pedaços de sol e de lua em uma janela toda azul, salpicada de estrelas...

***

A criança, no colo da mãe, tenta alcançar a lua...

***

Dentro do quarto, brilha a luz da manhã nos cabelos de Luisa.

***

Luisa, suave brisa, luz que ilumina a minha triste sina...

***

AnnaClaraLuaClaraAnnaClara...

***

Anna Clara clareou o escuro e ocupou os espaços vazios

***

Dia cinzento. Cadeiras vazias. Silêncio no jardim...

***

Verão! Canta a cigarra no tronco da seringueira...

***

Na superfície da água, um pequeno arco-íris. Desejo de paz na tarde que se aproxima.

***

O beija-flor giraosol
Girandoaosol o beija-flor
beijaflor

***Colar partido
Esparramadas pelo chão
Um punhado de pequeninas
Contas

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

BLUE IN GREEN

para Miles Davis

Paixão
Blue in greenSó em mim
Verdes clarões azulados
Acendem e apagam
Giram dançam vão e voltam
Numa dança louca e sem fim
Paixão
Blue in greenSó em mim

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O CAVALO DE JOSÉ [1]



Nos estábulos da fazenda de José, há um cavalo raro de extrema beleza! Todos tentam montá-lo, mas, quem é que pode? Marcos, o irmão de José, foi ao chão numa dessas tentativas. Apenas José consegue subjugá-lo e corre com ele, na velocidade do raio, pelos pastos e campinas.
Para as crianças das redondezas o cavalo é mágico; para elas, ele veio do espaço, trazendo em seu pêlo pedaços do dia e da noite. Uma mancha escura aqui, e ali uma luminosidade de estrelas. A cauda é tão longa e brilhante, que até parece o cabelo da menina mais bonita. Nada há no Universo, por mais belo que seja, que ouse fazer-lhe comparação. Cada pata; tem por ferradura, a dourada lua nova; e mesmo a pedra mais dura, não resiste à força de seus golpes.
Este animal extraordinário gosta de brincar saltando as barreiras do tempo. Sim, para as crianças, o cavalo é mágico, pois quando ele passa, correndo na velocidade do raio, levantando poeira, uma manada corre atrás, levando crianças em seus dorsos, cruzando os espaços, nas pegadas do cavalo de José.

[1] Baseado em Jami; El Caballo de José; Destellos de Luz; Editorial SUFI; por Virgínia Allan

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...