Um corvo, um cobre

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

FOLHAS DE OUTONO



Na fria cama de mármore, jaz o gentil cavaleiro.
O escudo e a espada partida repousam em seu peito.
Após a última batalha, o jovem senhor já não sonha.

O cavaleiro desolado parou à borda do precipício. Lançar-se nele seria a sua salvação, talvez a única possível. Fora, finalmente, subjugado pela terrível força negra contra a qual lutara durante muito tempo.
Seu cavalo estava morto; sua espada quebrada e sua alma despedaçada. Doía saber que não mais poderia voltar atrás. Teria de deixar, para sempre, os verdes campos de sua terra natal; abandonar sua casa; a amada esposa e duas lindas filhas e partir em direção à desesperança. Embora inesquecíveis foram-se os dias felizes ao som da sinfonia do vento espalhando as delicadas folhas de outono quando ainda podia acreditar que saíra vencedor de uma cruel batalha. Mas, a força negra se manifestou com toda a sua força e novamente tomou conta de seu ser. Então, a mente adoeceu; o corpo enfraqueceu e ele percebeu que havia perdido a guerra.
A armadura lhe pesava mortalmente. Com o coração partido, a morte lhe beijava a face enquanto lhe sussurrava doces palavras. Sim, seria bom não poder pensar em mais nada e aceitar de bom-grado o desejado final.
A escuridão cresceu a sua volta e ele não conseguia mais ver ou sequer raciocinar, sentia apenas o torpor do aroma embriagador que subia das profundezas do abismo. Era tarde; muito tarde. Não havia mais a canção do vento por sobre as folhas de outono; nem o cálido pôr de sol; nem o lamento da chuva; não havia mais a lembrança do colo quente e dos beijos carinhosos de sua mulher; não havia mais a candura de rostos infantis, nem o aconchego da casa. Era tarde; muito tarde e não havia mais a sinfonia do vento por sobre as folhas de outono e o abismo não podia mais esperar.
Assim, o jovem cavaleiro; derrotado em sua última aventura, lançou-se como um pássaro do alto do precipício e de repente, por um breve instante, sentiu-se imensamente feliz; enfim, livre, para todo o sempre.








quarta-feira, 9 de julho de 2008

TULIPA NEGRA



Graciosa rainha da noite, que a lua enche de graças e
infindáveis carinhos.
Nenhuma canção, jamais, fará jus a tua beleza, pois
nenhum bardo, por mais sábio que seja, conseguirá apreender
o teu real significado.
Por mais que ele cante o amor, as lágrimas teimarão em
rolar por seu rosto descontente, já que o negror da tulipa é incognoscível, e descrevê-la não é possível.

*****

Misteriosa e fascinante é a flor Tulipa. Originária da Turquia, tulipan (que quer dizer, turbante) pertence a família dos lírios (liliáceas) e costuma florescer no fim da primavera. Reza uma lenda persa que, certa moça, Ferhad, apaixonou-se perdidamente por um rapaz, Shirin, que, entretanto, não correspondeu a essa louca paixão. Rejeitada, Ferhad fugiu para o deserto, onde ninguém a visse chorar e Ferhad chorava constantemente, dia e noite, de saudade, tristeza e solidão e cada lágrima vertida, caída ao chão, mal tocavam a areia, transformava-se em uma linda flor, a tulipa.
A tulipa negra, que na verdade possui a tonalidade marrom-escuro, é conhecida como “rainha da noite”. Assim como diz o poema, descrever a beleza com exatidão, não é possível. Motivo de inspiração a poetas e escritores, a exaltada beleza maravilhosa desta flor, perde-se no imaginário da humanidade na vã tentativa em decifrar os seus mistérios. Símbolo de perfeição, oculta, dentro de nossas almas, está a sua essência, misturada a nossa, em um casamento feliz e possível. Entretanto, poucos são aqueles que se dão conta deste milagre interior, pois a busca eterna por nós mesmos está, muitas vezes, centralizada apenas nos aspectos externos, deixando-se de lado o retorno positivo proporcionado pela natureza das coisas. Dentro e fora de nós, está a verdade, revestida de vários modos, em variadas formas, seja na imagem de uma criança; de um quadro, de um poema ou na forma de uma flor, portanto, descobri-la não é algo tão distante, e é isto que nos diz a preciosa tulipa, de negras pétalas aveludadas, cuja criação o homem, ainda, não foi capaz sequer de igualar.

sábado, 5 de julho de 2008

O PIRILAMPO



Revoluteava um gentil pirilampo num jardim florido, em bela noite de lua... e tão feliz estava que a luz que de si emanava, dissipava as sombras noturnas.
Porém, alguém que em tal jardim também se encontrava e além das flores observava o nobre pirilampo, não mais se contendo, perguntou-lhe: “Oh, luminoso pirilampo que bailas alegremente neste jardim florido, a competir com a própria lua o clarear da noite escura, por que não achas por bem, surgir à luz do dia também? És tão belo e gracioso que certamente serias notado e devidamente apreciado”.
Então, disse o pirilampo em resposta a quem o indagava: “Meu caro, à luz do dia eu simplesmente desapareceria... A beleza tão admirada em noite escura sob o esplendor do sol nem seria notada. Não ouso desafiá-lo... Tolo, não sou. Além de belo, sou sábio!”

***[1] Inspirado em um conto de Saadi de Shiraz; História de uma luciérrnaga, do livro EL BUSTAN; Ediciones DERVISH INTERNACIONAL

sexta-feira, 4 de julho de 2008

VIVER


Ele teve a sensação de ser. Não poderia explicar, tão profundo, nítido e largo que era. A sensação de ser era uma visão aguda, calma e instantânea de ser o próprio representante da vida e da morte. Então, ele não quis dormir, para não perder a sensação da vida.

***

A FOME: Meus Deus, até que ponto vou na miséria da necessidade: eu trocaria uma eternidade de depois da morte pela eternidade enquanto estou viva.

***

A REVOLTA: Quando tiraram os pontos de minha mão operada, por entre os dedos, gritei. Dei gritos de dor, e de cólera, pois a dor parece uma ofensa à nossa integridade física. Mas não fui tola. Aproveitei a dor e dei gritos pelo passado e pelo presente. Até pelo futuro gritei, meu Deus. 



(Do livro Aprendendo a Viver, Crônicas reunidas de Clarice Lispector, 2004,Editora Rocco)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O MALDITO

A música vinha das sombras, tocada por mãos invisíveis.Talvez a tocasse um demônio solitário que sussurrasse consigo a letra de alguma perdida canção.
Será que a solidão também habitasse o inferno?
Será que a tristeza doía no peito de demoníacos corações?
Ou será que no inferno, a paz, por vezes, descia, transmutando em alegria as eternas aflições?
De tanto olhar para a escuridão, quase que o vi sentado, debruçado sobre um negro piano.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

CAMINHAR SOLITARIERRANTE


Caminhava pela cidade. Fisicamente, era eu, em carne e osso, transitando por ruas que não eram novidades para mim, porém, por dentro, era outra a cidade por onde andava; uma cidade saída da memória. Ainda é cedo, mas o sol é inclemente, penso em quanto antes, alcançar a próxima esquina, lá aonde o vento faz a curva e em cada esquina, penso te encontrar... meu andar é quase arrastado, não por preguiça, mas por força de prestar atenção... na verdade, não presto atenção em nada, pois caminho pelas ruas de uma cidade dentro de minha memória. Casualmente, esbarro em alguém, que me obriga a deixar a cidade imaginária para retornar à cidade do lado de fora; alguém que pede desculpas e continua em seu caminhar... este alguém, que, como todos nós, de futuro incerto, talvez, mais tarde, estará vivo só na lembrança de quem lhe amou, de quem lhe quis bem, ou não, quem sabe mais tarde, partirá apenas em uma longa viagem, mas depois de algum tempo estará de volta, à segurança de um porto feliz... é quem sabe... quem sabe se ele já não é somente uma miragem.
Passo agora por uma antiga e enorme casa em frente à praça da Saudade... parece estar vazia no momento, sem ninguém, parece esquecida... O pátio, cheio de folhas ressequidas, e, dois gatos amigáveis, relaxados; um sentado e outro deitado; um branco e um marrom-cinzento (?) há um jardim também, pequeno e agradável muito bom para se viver... se eu fosse uma borboleta ou um pássaro, uma fada ou então um duende, ou ainda uma joaninha faceira ou uma abelha festeira...

ou ou ou ou ou ou ou ou ou ou ou OU ouououououououououououo...

A vida é feita dessa conjunção alternativa, mas cheia de possibilidades infinitas, por isso já dizia a meiga Cecília, Ou Isto ou Aquilo, questão de escolha my baby... pro mal ou pro bem há de saber quem? Assim, escolho retornar a minha cidade imaginária, porém, acabo percebendo que uma não está dissociada da outra, apenas parecem diferentes por causa das sutis modificações operadas pelos homens e pelo tempo ou será pelo tempo e pelos homens? Bem... a ordem dos fatores não altera o produto, não é mesmo?... Passo pelo Teatro, passo pelas gentes, passo pelas lojas; passo pelos carros, passo pelas casas, passo pela praça; passo pela calçada, passo pela avenida, passo pela vida? Passo como um fantasma... Passo, passo, passo... passo a passo... em compasso/descompassado... Tragicômica eternidade há no pensar ou no passar? Ora, passemos adiante... Passei...

terça-feira, 1 de julho de 2008

A SONÂMBULA



Sob a lua distante e fria, de olhos fechados ela ia à fonte se banhar.
Os pés, descalços, o macio tapete de folhas pisavam, e, serena caminhava, como se soubesse onde estava na noite enluarada.
Ao chegar à fonte, nua ficava e dentro d’água começava a brincar; os olhos se abriam e tudo em volta reluzia como gema preciosa... mas, dentro das sombras algo se movia, algo escuro e assustador e com olhar invejoso a donzela espia...
Eis que a beleza imprudente, na fonte brincava, a todo perigo indiferente.
O ser que nas sombras espreitava, não ousa se aproximar. Nas árvores, o vento gemia, porém, na fonte, a calma reinava; calma somente perturbada pela alegria da donzela, ninfa encantada sonhando na noite bela.
Fantásticas luzes coloriam as gotas d’água que da fonte caiam e aos pés do estranho ser iam parar; e ele, nelas, timidamente, se mirava, mas o que via não era a sua feia figura e sim a da ingênua donzela que na fonte brincava.
Atônita ficava a besta-fera que nas sombras sofria... Não compreendia que a beleza invejada, dela, também parte fazia, todavia, olhar em seus olhos não podia, tão distante parecia, e, então nas trevas permanecia...
A beleza distraída, na fonte brincava e nem se apercebia do que nas sombras se escondia.
Quando a noite findava e o primeiro raio de sol despontava, a donzela a fonte deixava e de olhos fechados, pelo mesmo caminho orvalhado retornava... inconsciente de seu destino, ela tarda em despertar...
E a besta que nas sombras espreitava, lá, bem dentro de si, sem saber ansiava, por ver a sonâmbula acordar...

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...