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quarta-feira, 18 de outubro de 2023
EE-SE BLUE HAVEN
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Dylan Thomas: Dois Poemas
1. No meu ofício ou arte sombria
(do livro Deaths and entrances, 1946)
Tradução: Gilmar Leal Santos
No meu ofício ou arte sombria
Exercida na calada da noite
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes estiram-se na cama
Com todos os pesares em seus braços,
Eu trabalho sob uma luz que canta
Não por ambição ou pedaço de pão
Ou a ostentação e encantamento
Dos palcos de marfim
Mas pela pequena paga vinda
Do fundo de seus corações.
Não é para o homem orgulhoso despegado
Da lua furiosa que eu escrevo
Nestas páginas úmidas
Nem pelo monumental cânon morto
Com seus rouxinóis e salmos
Mas para os amantes, seus braços
Enlaçam as dores eternas,
Que não louvam ou remuneram
Nem dão atenção ao meu ofício ou arte.
2. Não entre sereno naquela noite boa que cai
(do livro In country sleep, 1952)
Não entre sereno naquela noite boa que cai,
A velhice deve arder e celebrar no limiar do dia;
Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai.
Os luminares sabem que ao fim, precisa, a treva recai,
Eles, suas frases não dividiram nenhum raio que luzia,
Não entram serenos naquela noite boa que cai.
Os bons, no último aceno, sofrendo pelo brilho que vai
Luzir de suas parcas ações a dançar na verde baía,
Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.
Os loucos, após colher e exaltar o sol em seu voo solais,
Aprenderam, tarde, que o magoaram nessa travessia,
Não entram serenos naquela noite boa que cai.
Homens soturnos, à morte, que veem feito débeis visuais
Olhos cegos podem brilhar como meteoros e ter euforia,
Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.
E você, desde lá da angustiante altura, meu pai,
Amaldiçoe-me, benza-me, com pranto feroz, eu pediria.
Não entre sereno naquela noite boa que cai.
Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai.
***
Dylan Thomas nasceu em Swansea (País de Gales) em 1914 e morreu em Nova York (EUA) em 1953. Foi um dos poetas líricos mais influentes do século XX. Escreveu os livros de poemas Eighteen poems (1934) e The map of love (1939) e os contos de Retrato de um artista quando jovem cão (1940) e Adventures in the skin trade (1955). Além de poeta e dramaturgo, Thomas foi locutor de rádio da BBC entre 1937 e 1953. Esses programas e o modo de vida boêmio lhe renderam fama e notoriedade em sua época.
***
Gilmar Leal Santos nasceu em Apucarana (PR) e vive em Maringá (PR). É poeta e tradutor. Publicou os livros de poesia Trapezista, Carmesim, Cartas poéticas e A Terra Árida — tradução do clássico poema The waste land, de T. S. Eliot.
quinta-feira, 7 de setembro de 2023
SÍNDROME DE VIRA-LATA
terça-feira, 5 de setembro de 2023
A FOLHA E O RIO
Foto by Bob Medina
Assim como a folha levada pelo rio, assim vai a minha dor, assim vai o meu amor... Vai, feito folha leve e velha que nem essa, para onde o rio levar... A descansar nas margens ou quiçá, nas profundezas de uma vida imperfeita.
A folha, leve e velha surpreende o mundo por onde passa pela graça, beleza e estranheza com que se deixa levar, pacientemente, sem se queixar, para onde e como o rio quer, para onde e como o rio quiser.
Segue em silencio, sem queixa, a velha folha, para juntar-se a outras folhas, tão velhas quanto ela, contadoras de histórias, que sabem que, antes, precisam primeiro apodrecer para depois, voltar a viver... A voltar, a prosseguir, a percorrer, a insistir em novos ciclos, outros caminhos.
A folha, em essência, se encontra presente em todos eles... Tal qual a água do rio que a levou para longe.
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
"ADEUS TAMBÉM FOI FEITO PRA SE DIZER"
Para o filósofo alemão Schopenhauer, grande amante dos cães, a dor seria o vínculo mais importante entre os humanos e os animais, aquele que os une como seres consoladores um do outro.
A autora Olga Tokarczuk diz em seu livro Escrever é muito perigoso: “Para mim, é mais fácil suportar o sofrimento de um ser humano do que o sofrimento de um animal. O ser humano tem uma posição ontológica própria, elaborada e anunciada aos quatro ventos, e assim constitui uma espécie privilegiada. Tem cultura e religião para o apoiarem no sofrimento. Tem suas racionalizações e sublimações. Tem Deus que, enfim, o salvará. O sofrimento humano tem sentido. Para o animal, não há nem consolo nem alívio, porque não existe salvação que o espere. Não há sentido. O corpo do animal não lhe pertence. Ele não tem alma. O sofrimento do animal é absoluto, total. Se procurarmos vislumbrar esse estado com nossa capacidade humana de reflexão e compaixão, desvenda-se todo o horror do sofrimento animal e, em consequência, o terrível e insuportável horror do mundo” (2023, p. 39)."
Dylan morreu no sábado e tivemos que chamar um crematório particular, dado que a Prefeitura não disponibiliza, mas deveria, esse tipo de atendimento, já que por ter morrido de cinomose, não se pode enterrar. Estou com saudades e sempre que penso nele, meus olhos se enchem de lágrimas, porque, de certa maneira, eu não sei o quanto ajudei, o quanto contribui em seu sofrer, pois ao pensarmos estar a fazer o bem, muitas vezes, fazemos é o mal. Não há mais muito o que eu tenha a dizer. Não é o primeiro cachorro que perco, mas, com cada um que se vai, um pouco da minha alma vai junto, são anjos na terra, eles guardam mundos em si, segredos e mistérios e se você quiser aprender mais da vida, tenha um cão e o trate com todo o amor no coração… é como dizia Kafka: "Todo o conhecimento, a totalidade das perguntas e respostas, se encontra nos cães”.
quinta-feira, 31 de agosto de 2023
#PAREM DE NOS MATAR!
domingo, 27 de agosto de 2023
O CORVO
Assisti ontem, ao filme O Corvo, na HBO, estrelado por John Cusack. A produção é de 2012, mas, só agora lembrei de ver, graças a uma postagem que vi no Facebook. Eu amo Edgar Allan Poe e leio e vejo tudo que lhe diz respeito.
O filme trata dos últimos cinco dias da vida de Poe, em Baltimore, em meados do século XIX, em pleno período de eleições. Ninguém sabe o que aconteceu com Poe nesse meio tempo, pois foi encontrado praticamente desacordado, largado em um parque. Sozinho, sujo e completamente fora da realidade. Muitos acharam até que estava bêbado ou que estivesse sob efeito de outros tipos de drogas e há inclusive, a suspeita de que foi usado, sendo levado para votar várias vezes em diversos distritos.
Bom… no filme, Poe, a essa altura, já viúvo, como sempre, está apaixonado perdidamente por uma bela mulher, de onde tira inspiração para seus poemas; no filme, é sugerido que o poema Annabel Lee foi dedicado a ela, a jovem branca e loira Emily Hamilton (Alice Eve), mas, claro, tudo é obra de ficção, Poe nunca teve essa namorada e o poema, provavelmente, foi escrito para sua jovem e finada esposa, Virgínia Clemm Poe. Enquanto vive essa paixão avassaladora, um assassino resolve recriar na vida real os contos assombrosos e sanguinolentos do mestre. Há uma corrida contra o tempo, quando Emily é sequestrada e em cinco dias, com a ajuda do chefe de Polícia, o detetive Emmett (Luke Evans), e sua equipe, Poe tenta descobrir quem é o autor de tantos crimes e o sequestro de sua amada. Um filme muito bom, com John Cusack, inteiro, na pele do maior escritor de todos os tempos.
Cantilena do Corvo
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