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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

EE-SE BLUE HAVEN


Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pai para mais um dia de trabalho. Jornada dura, de 10 horas por dia pra uma criança de 10 anos. 

Ahemed era um dos que trabalhavam na fábrica de armas dos revolucionários rebelados. Seguia ele com seu pai, cedinho pela manhã, caminhando pela semi-iluminada rua da cidade de Mooujir, uma das poucas jóias que ainda restavam da humanidade, comunidade cristã, onde ainda se podia ouvir a língua de Jesus, o aramaico, mas, cuja maioria da população, por apoiar o ditador Bayad al-Bayouth, sofria, por isso, graves retaliações. Mooujir, agora, está em mãos de rebeldes descontrolados, e atacaram o vilarejo do alto da montanha, em que estavam aquartelados. O vilarejo virou mais uma de suas bases. Não apenas Mooujir, sua população e seus tesouros estão semi-destruídos, todo o povo e todos os tesouros de Hus, que encerram em si, todo um patrimônio histórico-humano, estão sob o jugo ou soterrados pela ignorância e intolerância. 

Ee-se estava deixando Hus, para se acomodar em um dos acampamentos para os refugiados. Verdadeiras cidades, a aumentarem em tamanho e problemas. Mais de um terço da população de Hus, já deixou para trás seu pais, seu lugar, suas memórias. Vivem à mercê de improvisações e indagações, sujeitos a todo tipo de infortúnio, enquanto esperam... O sol já despontou de vez, ó, Osíris, tu que possuis tantos olhos, ao menos repousa sobre nós a tua calma, a tua paz, e ao lado de Ee-se, além de outros médicos, se encontram outras crianças, outros Ahemeds e Mohameds, Aminas, Semiras sem futuro, sem esperanças .. sem sonhos.. crianças de colo sem canções de ninar, crianças a crescer sem ouvir os conselhos das velhas historias. Tão triste conviver com o desencanto.

O governo de Bayad al-Bayouth, ainda sob as ameaças de Brack Ormul, finalmente concordou em entregar as armas químicas e o Conselho dos Anciões Permanentes conseguiu, enfim, concluir sua inspeção e relatório e agora todos sabem que tanto o governo frio, sem alma de Bayad al-Bayouth quanto os rebeldes revolucionários, atacam, maltratam, pressionam, chocam, sufocam, intimidam matam seu povo em nome de suas próprias convicções equivocadas. O único interesse tanto de um lado quanto de outro é tornar o povo servil, maleável e sem vontade, para que possam espoliar, escravizar e tomar para si os bens que possuem, os mais preciosos. São crápulas predadores, não libertadores ou mantenedores. 

As pessoas, em seu mundinho tão confortável e distante, nem imaginam, a dor de um êxodo forçado, com crianças doentes e feridas; mulheres a se lamentar de sua sorte e velhos inconformados, que, com toda razão, depois de longo tempo de vivência e trabalho, apenas queriam um descanso merecido. Ee-se pensa que existem coisas que é melhor você não ver; existem coisas que é melhor você não saber! Ee-se se recosta à janela do carro, à busca de um afago do sol ... às vezes pensa que não dá mesmo pra salvar o mundo, pensa assim no sentido figurado, claro... do seu lado, o escuro também se faz intenso e Ee-se pensa, pensa ... você se omite?! você se esconde? você encara?! dá a cara à tapa?! Tudo isso é muito lindo e admirável, mas, há os limites a saber e respeitar, quando o cansaço da luta renhida se apresentar e se fizer mais intenso, mas, Ee-se não é humana, é uma deusa que abriga em si todo principio da vida, da existência então, sabe que não pode parar, cansar ou descansar no esquecimento.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Dylan Thomas: Dois Poemas



1. No meu ofício ou arte sombria

(do livro Deaths and entrances, 1946)

Tradução: Gilmar Leal Santos


No meu ofício ou arte sombria

Exercida na calada da noite

Quando somente a lua se enfurece

E os amantes estiram-se na cama

Com todos os pesares em seus braços,

Eu trabalho sob uma luz que canta

Não por ambição ou pedaço de pão

Ou a ostentação e encantamento

Dos palcos de marfim

Mas pela pequena paga vinda

Do fundo de seus corações.


Não é para o homem orgulhoso despegado

Da lua furiosa que eu escrevo

Nestas páginas úmidas

Nem pelo monumental cânon morto

Com seus rouxinóis e salmos

Mas para os amantes, seus braços

Enlaçam as dores eternas,

Que não louvam ou remuneram

Nem dão atenção ao meu ofício ou arte.


2. Não entre sereno naquela noite boa que cai

(do livro In country sleep, 1952)


Não entre sereno naquela noite boa que cai,

A velhice deve arder e celebrar no limiar do dia;

Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai.


Os luminares sabem que ao fim, precisa, a treva recai,

Eles, suas frases não dividiram nenhum raio que luzia,

Não entram serenos naquela noite boa que cai.


Os bons, no último aceno, sofrendo pelo brilho que vai

Luzir de suas parcas ações a dançar na verde baía,

Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.


Os loucos, após colher e exaltar o sol em seu voo solais,

Aprenderam, tarde, que o magoaram nessa travessia,

Não entram serenos naquela noite boa que cai.


Homens soturnos, à morte, que veem feito débeis visuais

Olhos cegos podem brilhar como meteoros e ter euforia,

Rebelam-se, rebelam-se contra a luz que se esvai.


E você, desde lá da angustiante altura, meu pai,

Amaldiçoe-me, benza-me, com pranto feroz, eu pediria.

Não entre sereno naquela noite boa que cai.

Rebele-se, rebele-se contra a luz que se esvai. 


***

Dylan Thomas nasceu em Swansea (País de Gales) em 1914 e morreu em Nova York (EUA) em 1953. Foi um dos poetas líricos mais influentes do século XX. Escreveu os livros de poemas Eighteen poems (1934) e The map of love (1939) e os contos de Retrato de um artista quando jovem cão (1940) e Adventures in the skin trade (1955). Além de poeta e dramaturgo, Thomas foi locutor de rádio da BBC entre 1937 e 1953. Esses programas e o modo de vida boêmio lhe renderam fama e notoriedade em sua época. 

                                            ***

Gilmar Leal Santos nasceu em Apucarana (PR) e vive em Maringá (PR). É poeta e tradutor. Publicou os livros de poesia Trapezista, Carmesim, Cartas poéticas e A Terra Árida — tradução do clássico poema The waste land, de T. S. Eliot. 

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

SÍNDROME DE VIRA-LATA


Complexo  ou Síndrome de  vira-lata é uma expressão e conceito criada por Nelson Rodrigues, dramaturgo e escritor brasileiro, que originalmente, referia- se ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. 

Para Rodrigues, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico:

“Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima. 

(Fonte: Wikipédia)


Ontem, li no blog da comunidade de um desses youtubers, ao comentar sobre o atentado ao Mingau, baixista do Ultraje a Rigor, (li fazendo vozinha e revirando os olhos): "O Brasil está cada vez mais violento e bizarro". O cara escreve isso, como se fosse apenas aqui, no Brasil, que ocorresse "violência" e "bizarrice"; um pensamento simplista, raso e completamente destituído de inteligência. Por acaso, as leis de Portugal, e outros países da Europa e América do Norte, que nem o Canadá, são melhores? Quer país mais bizarro, violento, com racismo estrutural de fato, que os Estados Unidos? E preciso dizer por quê? Não, né? Não preciso. 

Esses dias, um brasileiro, assassino, com duas mortes nas costas, condenado à prisão perpétua por feminicídio, fugiu da cadeia americana pelo teto; empreendeu a fuga, inspirado por um outro preso americano, que algum tempo antes, havía fugido também pelo teto, que mostrou-se um lugar acessível e fácil rota de fuga; porém, o americano foi logo recapturado, já o brasileiro, faz agora, mais de uma semana que está sendo caçado. Até o estão a chamar, aqui no Brasil, de "o novo Lázaro", vocês lembram do Lázaro? Sabem o porquê, então. Se o encontrarem, não será capturado vivo. Tenho quase certeza disso. 

Outra frase: "Não confio na Justiça Brasileira". Oras, é preciso ler, conhecer as leis, o Código Penal e a Constituição para poder entender. Se você não "confia", não concorda com certos resultados de julgamentos, se acha absurdas certas leis, faça por onde mudar ou ajudar a mudar isso. Basta votar nas eleições em canditados com propostas sérias, com programas sérios. Pessoas que duvidam de tudo no Brasil, que odeiam o seu país, são, no mínimo, pessoas com ideologias descabidas ou com simpatias pelos extremismos, seja de Direita ou de Esquerda. Para mudar um país, para mudar leis precisa-se de pessoas engajadas nas lutas por mudanças para melhor. Cansada de quem só senta e reclama. Se não gosta de alguma coisa, vá lá e mude… lute, grite, fale. Para mudar alguma coisa, precisamos de PESSOAS!


Pessoas saem do país para trabalhar em subempregos porque dizem que o Brasil não dá oportunidade. Os outros países dão? Se você não estudar, vai continuar em subemprego em qualquer lugar. As pessoas esquecem que 4 anos de desgoverno, quase acabou com o Brasil, mas os extremistas, continuam a bater palma pra maluco dançar. Gente que se queixa e vê defeitos no novo governo, é aquele tipo que acredita que a política só é boa quando somente lhe favorece. A maior parte dessas pessoas que se queixam do Brasil, são aquelas que não viram defeitos no governo passado e se agora, temos o feminicídio, mortes provocadas pela polícia e mortes de todo tipo, provocadas pelo tráfico, é porque em 4 anos, ninguém fez nada para a vida se sobrepor. Foram 4 anos de uma política de ódio mortal às minorias, aos mais fracos, aos mais vulneráveis. O que vivemos agora é um reflexo do ódio. Não, o amor não venceu. Ainda não venceu.






terça-feira, 5 de setembro de 2023

A FOLHA E O RIO


Foto by Bob Medina

Assim como a folha levada pelo rio, assim vai a minha dor, assim vai o meu amor... Vai, feito folha leve e velha que nem essa, para onde o rio levar...  A descansar nas margens ou quiçá, nas profundezas de uma vida imperfeita.

A folha, leve e velha surpreende o mundo por onde passa pela graça, beleza e estranheza com que se deixa levar, pacientemente, sem se queixar, para onde e como o rio quer, para onde e como o rio quiser.

Segue em silencio, sem queixa, a velha folha, para juntar-se a outras folhas, tão velhas quanto ela, contadoras de histórias, que sabem que, antes, precisam primeiro apodrecer para depois, voltar a viver...  A voltar, a prosseguir, a percorrer, a insistir em novos ciclos, outros caminhos.

A folha, em essência, se encontra presente em todos eles... Tal qual a água do rio que a levou para longe.

 


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

"ADEUS TAMBÉM FOI FEITO PRA SE DIZER"




Em nota breve, venho dizer que Dylan não resistiu a maldita cinomose. Morreu no sábado à noite e tudo foi muito triste assim como foi sua curta existência. Não houve chances. Eu ainda tenho 5 cães. Três cadelas e dois machos e 3 gatos fêmeas. Nem consigo imaginar minha vida sem eles, embora muitos dos gatos eu tenha perdido de vários modos pela minha vida afora. Minha relação com os gatos é mais complicada, mesmo amando-os muito, os cães, porém, ocupam um lugar especial em meu coração e se eles sofrem ou são maltratados, sofro com eles, amaldiçoando as almas condenadas que em vez de cuidá-los os fazem sofrer ao extremo.

Schopenhauer caminhando com seu poodle Atma”, feito pelo poeta e caricaturista alemão Wilhelm Busch.

Para o filósofo alemão Schopenhauer, grande amante dos cães, a dor seria o vínculo mais importante entre os humanos e os animais, aquele que os une como seres consoladores um do outro. 


A autora Olga Tokarczuk diz em seu livro Escrever é muito perigoso: “Para mim, é mais fácil suportar o sofrimento de um ser humano do que o sofrimento de um animal. O ser humano tem uma posição ontológica própria, elaborada e anunciada aos quatro ventos, e assim constitui uma espécie privilegiada. Tem cultura e religião para o apoiarem no sofrimento. Tem suas racionalizações e sublimações. Tem Deus que, enfim, o salvará. O sofrimento humano tem sentido. Para o animal, não há nem consolo nem alívio, porque não existe salvação que o espere. Não há sentido. O corpo do animal não lhe pertence. Ele não tem alma. O sofrimento do animal é absoluto, total. Se procurarmos vislumbrar esse estado com nossa capacidade humana de reflexão e compaixão, desvenda-se todo o horror do sofrimento animal e, em consequência, o terrível e insuportável horror do mundo” (2023, p. 39)." 

Dylan morreu no sábado e tivemos que chamar um crematório particular, dado que a Prefeitura não disponibiliza, mas deveria, esse tipo de atendimento, já que por ter morrido de cinomose, não se pode enterrar. Estou com saudades e sempre que penso nele, meus olhos se enchem de lágrimas, porque, de certa maneira, eu não sei o quanto ajudei, o quanto contribui em seu sofrer, pois ao pensarmos estar a fazer o bem, muitas vezes, fazemos é o mal. Não há mais muito o que eu tenha a dizer. Não é o primeiro cachorro que perco, mas, com cada um que se vai, um pouco da minha alma vai junto, são anjos na terra, eles guardam mundos em si, segredos e mistérios e se você quiser aprender mais da vida, tenha um cão e o trate com todo o amor no coração… é como dizia Kafka: "Todo o conhecimento, a totalidade das perguntas e respostas, se encontra nos cães”. 



quinta-feira, 31 de agosto de 2023

#PAREM DE NOS MATAR!



Eu não me conformo com pessoas que se acham donas das outras. Todo dia, um "homem" comete feminicídio e em muitos comentários sobre assassinatos de mulheres, vem os misóginos dizerem que a vítima procurou seu destino fatal ou que "teve o que mereceu". Isso é de uma desumanidade… todo dia assassinatos, espancamentos, cárceres privados, motivados pelos motivos mais banais, como ciúme, inveja ou "honra ferida de macho", matam as mulheres, matam seus filhos também e muitas vezes, os filhos são do próprio assassino. Mulheres fortes, lindíssimas, de todos os níveis sociais e profissões, com carreira, com sucesso, e mesmo as mais trabalhadoras, simples donas de casa, que tantas vezes, possuem vida independente e de repente se ligam ao sujeito mais abjeto, o mais vagabundo e cruel possível. Por que isso acontece? Não sei se são apenas problemas de carência como tantos dizem. Medo da solidão? Não sei também… por que se dedicar a relacionamentos ruins, apenas por medo de estar só? Os "homens" enganam, mas fingem tão mal… Temos que parar de fazer péssimas escolhas, não sei como, mas temos que tentar. 

Ao tentar se afastar de relacionamentos abusivos, essas mulheres se vêem acuadas, ameaçadas e mortas. A chacina na Bahia, é mais um desses exemplos terríveis, dessa cultura patriarcal e nojenta, de despersonalizar a figura feminina, sempre com o intuito de que a violência gerada contra ela é, e sempre será, culpa dela; apenas dela. 

A chacina na Bahia é só mais uma tragédia que vem se somar a tantas outras mais, do que um ser trevoso, com minhocas na cabeça, é capaz de engendrar só por imaginar que a namorada ainda se relacionava com o ex; pensem… isso é de uma estupidez sem limites; aí, munido dessa ideia superficial, subjetiva, incerta, o sujeito vai lá, todo cheio das armas, certezas e "machezas", na casa da companheira, ladeado por mais três marginais para matar um só, um seu igual, tão tosco e bruto quanto ele mesmo, atolados ambos, até o pescoço na mesma lama, e acabam matando quase toda a família inteira, culminando a tragédia, no atear fogo na casa e assassinando mais duas pessoas, que não tinham nada a ver com a situação, duas mulheres, claro, como "cereja do bolo" da barbárie cotidiana; duas mulheres corajosas, que resolveram ajudar uma das crianças que lhes fora bater à porta, já que a família da moça visada, naquele momento, era composta apenas por crianças e adolescentes, jovens entre os 12, 16, 18 anos e um bebê, de apenas 1 ano, que foi poupado.

A criança de 12 anos, que, a princípio, escondeu-se embaixo da cama, a fim de escapar da execução, foi a que fugiu, ao ver a casa com o fogo ateado. Com parte do corpo queimado, imaginem a dor, ele correu e foi pedir ajuda às vizinhas, lhes selando assim, sem intenção, o trágico fim. Poucas pessoas, no luģar dessas duas mulheres, teriam ajudado o garoto, posto que o preço a pagar, foi alto demais, e no fim, pra quê tudo isso meu Deus? A pessoa é movida por tanto ódio, que mesmo sabendo que ao fazer mal ao outro fará mal a si mesmo, prossegue nesta autodestruição. É tudo tão insano e incompreensível. 

PAREM DE NOS MATAR! Simplesmente, PAREM!

Não somos propriedades, não somos objetos, somos pessoas, com livre arbítrio, alma e coração. Há na brutalidade desses homens, o resquício da besta-fera, que ressurge toda vez que um deles se sente enganado, espoliado em sua essência… na verdade, um "homem" assim é amaldiçoado. 

Mulheres, parem de se iludir. Não há amor no ciúme, não há romance na relação forçada, no estupro, no espancamento, na profanação dos corpos femininos, no abuso psicológico, mas há inveja, desamor e muito desequilibrio mental por parte deles.

Lembram da história A BELA E A FERA? pois é… por ser um clássico, mas possuir inúmeras versões, faz com que você geralmente, comumente, pense em Bela, apenas como uma boa moça, que para proteger a família, arrisca-se a viver em um castelo abandonado à mercê de uma besta-fera, que no final da história, se redime diante do amor e da bondade passiva mostrada pela protagonista. Claro, podemos dar inúmeras interpretações para esse conto de fadas, desde a concepção mais ingênua até o terror básico e clássico de ver a história toda psicanalisada, passando por dramas familiares, que vão do Complexo de Electra, incesto, narcisismo, inveja e manipulação. 

Bela, em minha interpretação da história, vive uma relação abusiva tanto com a família quanto depois, com a Fera. A Fera a mantém prisioneira, sem poder nem visitar a família, subornando a moça, enquanto faz toda espécie de chantagens emocionais e sentimentais. 

Mas, não apenas a família de Bela ou a Fera, que tem problemas. Bela também os tem, uma vez que ela faz parte do círculo problemático, vicioso, defeituoso, tempestuoso. Penso que sua submissão proposital para com a Fera, algo tipo "Síndrome de Estocolmo"; o apego exagerado ao pai e a relação unilateral e "compreensiva" que mantém com as irmãs, faz de Bela não uma pessoa boa, mas sim, narcisista, superior e um pouco manipuladora, contudo, não má. É apenas uma pessoa em busca de si mesma e como pessoa humana, com defeitos, quem não os tem? Todo mundo tem, por isso mesmo, devemos aprender a identificar os homens problemáticos. Tarefa fácil não é, porém, impossível, também não. Saibamos também identificar os nossos próprios defeitos, porque, ao conhecermos nossas falhas, poderemos fazer, com suavidade e sabedoria, nossas próprias boas e produtivas escolhas, enquanto estamos a pavimentar a estrada de nosso destino. Ter um parceiro de vida é bom, porém não é tudo. Aprender a conviver com nós mesmos e com nossa solidão, nossos problemas ajudar-nos-á a seguir em frente, sem depender emocionalmente de tantos ogros, alguns disfarçados de príncipes, mas tendo em comum entre si, o fracasso como ser humano; seres fracassados, libidinosos, invejosos, dispostos a nos mandar pro inferno, seja sozinhas (a preferência deles) ou junto com eles.






 

domingo, 27 de agosto de 2023

O CORVO


Assisti ontem, ao filme O Corvo, na HBO, estrelado por John Cusack. A produção é de 2012, mas, só agora lembrei de ver, graças a uma postagem que vi no Facebook. Eu amo Edgar Allan Poe e leio e vejo tudo que lhe diz respeito. 

O filme trata dos últimos cinco dias da vida de Poe, em Baltimore, em meados do século XIX, em pleno período de eleições. Ninguém sabe o que aconteceu com Poe nesse meio tempo, pois foi encontrado praticamente desacordado, largado em um parque. Sozinho, sujo e completamente fora da realidade. Muitos acharam até que estava bêbado ou que estivesse sob efeito de outros tipos de drogas e há inclusive, a suspeita de que foi usado, sendo levado para votar várias vezes em diversos distritos. 

Bom… no filme, Poe, a essa altura, já viúvo, como sempre, está apaixonado perdidamente por uma bela mulher, de onde tira inspiração para seus poemas; no filme, é sugerido que o poema Annabel Lee foi dedicado a ela, a jovem branca e loira Emily Hamilton (Alice Eve), mas, claro, tudo é obra de ficção, Poe nunca teve essa namorada e o poema, provavelmente, foi escrito para sua jovem e finada esposa, Virgínia Clemm Poe. Enquanto vive essa paixão avassaladora, um assassino resolve recriar na vida real os contos assombrosos e sanguinolentos do mestre. Há uma corrida contra o tempo, quando Emily é sequestrada e em cinco dias, com a ajuda do chefe de Polícia, o detetive Emmett (Luke Evans), e sua equipe, Poe tenta descobrir quem é o autor de tantos crimes e o sequestro de sua amada. Um filme muito bom, com John Cusack, inteiro, na pele do maior escritor de todos os tempos.

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Cantilena do Corvo

CONSUMMATUM EST (Lançamento)

Natal chegando e meu livrinho de true crime, aí, só te esperando... Escrevi um livro sobre histórias de vidas com fins trágicos, terríveis, ...