Um corvo, um cobre

Se quiser jogar um cobre a um corvo pobre, será muito bem vindo: chave pix: 337.895.762-04

Quem sou eu

Minha foto
Manaus, AM, Brazil

Translate

Wikipedia

Resultados da pesquisa

Pesquisar este blog

sexta-feira, 16 de abril de 2010

SAYONARA

 Arabic_woman


"É saudade então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mias perfeito que se fez: 
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três"
(Legião Urbana)

***








Um conto de Gian Danton



<3


A verdade é que nem me lembro ao certo de quando a vi pela primeira vez. O que me recordo é de uma tarde cinzenta, com nuvens escuras no céu, anunciando a chuva. 

Estava andando pelas ruas movimentadas do centro quando a vi em meio a multidão. As vestes árabes cobriam todo o corpo e escondiam a maior parte do rosto. Passaram-se apenas alguns segundos antes que eu a perdesse de vista, mas foi como se ritmo das coisas tivesse se alterado. Como se um único segundo durasse todo um século. Diante dela, até mesmo os pássaros do céu pareciam movimentar-se lentamente. Abriam e fechavam vagarosamente as asas, e lançavam através das nuvens um pio estridente que se perdia no horizonte. 

Inclinei a cabeça para o lado e a acompanhei com os olhos até que desaparecesse na multidão de cabeças anônimas. Só então o mundo voltou ao normal.

Mas não eu.

Não dormi naquela noite e nem nas seguintes. Mergulhei numa orgia de vinhos e jogos. Durante o dia, tendo os sentidos enevoados pelo sono e pela bebida, caminhava trôpego até a mesquita e permanecia lá, em estado de completa letargia. Era perseguido por um mal que perseguia desde o nascimento. Eu tinha medo. Não de fantasmas, bandidos, armas ou feras...

Eu tinha medo de gente.

Desde a mais tenra idade eu fugia delas. Evitava multidões, e, corria de aglomerações. Colocaram-me num colégio interno.

Foi na época da expansão cultural árabe. A religião de Mohammed se espalhava pelo mundo através de missionários e crescia com a mesma rapidez com que suas mesquitas eram construídas. A Amazônia, última área verde do planeta, oferecia grande campo de difusão. Assim, os minaretes despontavam por entre as árvores...

Apesar disso, meus pais decidiram me internar num colégio tradicional, de fé católica. Antes não o fizessem. Os outros alunos me repugnavam. Eu permanecia em minha carteira, no canto mais escondido da sala, remoendo considerações sobre algum detalhe novo no solo. Uma minúscula formiga era o bastante para despertar minha atenção por longos minutos.

Qualquer tentativa de aproximação dos outros internos se revelava infrutífera. Era como se não existissem.

Esse comportamento, evidentemente, despertou a atenção daqueles que fazem do sofrimento alheio a sua própria alegria. Tornei-me alvo de brincadeiras e insultos que me magoavam profundamente quando meu estado de torpor me permitia percebê-los.

Comecei, então, a acreditar que todos que se aproximavam de mim tinham a mesma intenção e me afastei mais completamente de todos.

Passei vários anos assim, apartado do mundo, mergulhado nos livros, até que a morte súbita de meu pai e, posteriormente, de minha mãe, me levassem a assumir a herança.

Comprei uma velha casa de dois andares e me enfurnei nela. Amava a noite pela sua solidão e odiava o dia. Ganhei com isso um horror doentio ao sol. O dia e eu convivíamos apenas quando nuvens escuras escondiam o astro-rei, como naquele em que encontrei Sayonara.

Esse era seu nome. Visitei vários dias a Mesquita, até que ouvisse chamá-la pelo nome. Vislumbrei seus dedos brancos, pequenos e finos manipulando uma espécie de terço. Calculei a branquitude do corpo por debaixo das roupas. Extasiei-me com seus cabelos quase loiros e lisos, que eu entrevia por debaixo do véu. Gastei nisso uma semana, observando-a, indiferente ao que acontecia à minha volta. Só então reuni coragem para falar-lhe.

Como descrever o que vi? Como dar idéia dos sentimentos que me arrebatavam enquanto eu ouvia sua voz fina, quase infantil?

Seu jeito meigo, seus gestos suaves, mas firmes... como descrevê-los?
Passava os dias assim, observando-a rezar o terço de osso de camelo incrustado de pequenas pedras douradas, que seguiam nas mais variadas direções, compondo desenhos geométricos de incrível beleza. 

Dominado pelo mal que me assolava, passei a ver naquele conjunto de pedras a própria essência de Sayonara.

Dormia pouco de noite. Passava as noites cambaleando pelos bares, sentado nos cantos mais escuros e úmidos, degustando vinho plebeu em canecas de ferro que pareciam nunca ter visto água.

Foi numa dessas noites que ela me encontrou. O chão de pedras reboou os passos de suas botas de couro com pontas finas. Ela andou até o balcão e resmungou algo para o atendente. Pegou, então, uma caneca com os dedos finos e brancos e me olhou. Segundos depois a calça jeans apertada roçava a cadeira ao meu lado. Ela se inclinou - a camisa preta revelando um tórax tão ou mais branco que os dedos, e disse algo.

O álcool tinha galopado pelo meu sangue na direção do cérebro. Com efeito, tudo que minha maldita memória me permitia recordar é de seus olhos injetados de sangue. Pareciam olhos velhos. Velhos como o mundo... como se tivessem presenciado todas as desgraças de todos os tempos: os horrores da guerra dos cem anos, a morte dos inocentes na Revolução Francesa, o massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Olhos velhos e cansados...

Parecia ouvir uma canção, vinda sabe Deus de onde:

"Uma nuvem encobre o céu, uma sombra envolve o seu olhar.
Você olha ao seu redor e acha melhor parar de olhar.
São olhos iguais aos seus, iguais ao céu ao seu redor..."

Algumas canecas de vinho depois; perdi a consciência. Acordei num quarto escuro e ela ao meu lado. Ficamos abraçados, sentindo a pele um do outro: sua epiderme conseguia ser ainda mais branca que a minha, fazendo crer que o sol jamais a havia maculado.

Por todo o resto da noite mergulhamos um no outro. Fizemos tudo que a torpeza do álcool nos permitia, ou nos exigia. Em pouco tempo, não diferenciava o meu corpo do dela. Escorria como mercúrio pela sua pele alva, seus seios pequenos, seus cabelos lisos brancos iluminados pela luz mórbida de uma vela...

Acordei no dia seguinte com o estômago embrulhado, a cabeça martelando e um gosto de ácido na boca. Depois de uma longa caminhada, cheguei em minha casa e despenquei sobre uma poltrona. Fiquei lá, sem coragem para me levantar. Pensava em Sayonara, e na outra, da qual não sabia nem mesmo o nome...

O vinho arrancou de mim todo e qualquer remorso pela traição. Continuei visitando Sayonara de dia, ouvindo sua voz fina de criança, deliciando-me com seu jeito virginal...

Amava Sayonara de dia e me encontrava com a outra de noite. Dividia minha paixão entre as duas: a beleza infantil de uma na aurora e a segurança e a sensualidade de outra ao crepúsculo. Esta fazia de mim um objeto de seus prazeres. Dominava-me por completo e desaparecia antes que o sol nascesse, deixando-me completamente exausto e bêbado.

O tempo se encarregou de ir tornando essa relação ainda mais doentia. Quis fugir. Entrava nos bares mais escondidos, nos locais mais obscuros... mas ela sempre me achava.

Como um viciado, que não pode prescindir de seu próprio veneno, eu a seguia... e terminávamos as noites, inevitavelmente, em orgias descontroladas.

Uma noite resolvi não sair, estava decidido a resistir. No céu uma tempestade se formava com imensas nuvens de chuva juntando-se em grandes trovões que retumbavam nos alicerces do casarão. Um vento forte uivava, fazendo com que as árvores sacudissem violentamente seus galhos.

Um barulho metálico chamou minha atenção. Era ela que, de alguma maneira, abria a porta. Perseguia-me!

Um relâmpago entrou pela janela e iluminou seu rosto branco, as pequenas rugas nos cantos dos olhos injetados de sangue, os lábios quase transparentes...

Então o ódio se apossou de minha alma. Lembrei de Sayonara, do seu jeito angelical, do amor puro que sentia por ela, e envolvi o pescoço da outra com meus dedos trêmulos. Ela tentou lutar, agitou os braços, escorregou. Seus olhos ficaram ainda mais injetados de sangue. Depois cedeu, deixando cair os braços ao longo do corpo. Antes de morrer ela me lançou um último olhar de carinho...

Seu corpo  amoleceu e eu o segurei. Foi quando meus dedos tocaram em algo no bolso de sua calça, pequenas protuberâncias...  Nervoso, retirei o objeto... Era o terço, o terço de Sayonara, incrustado de pedrinhas douradas. Olhei para o corpo em meus braços e vi nele a expressão virginal de Sayonara, os dedos pequenos, a pele branca... 

Só então compreendi!

Envolvi-a com meus braços e depositei em seus lábios um último beijo de adeus...

###

Em nome dos velhos tempos e de uma bela amizade que se perdeu (V. A)


quinta-feira, 15 de abril de 2010

A ESTAÇÃO




A estação estava ali há muito tempo, há tanto tempo que o povo já nem a notava mais. A cidade crescera ao seu redor, e ela acolheu-a, feito uma mãe protetora. 
Todo dia, na pressa de tomarem o trem, nas tarefas do cotidiano, poucos reparavam na monumental beleza de suas estruturas ou no grande relógio que marcava o lento / veloz passar das horas. 
A vida, com todos os seus dramas e comédias, era em grande parte, encenada ali, tendo como palco a barulhenta plataforma ou as amplas galerias.
Nas paredes, cartazes com anúncios de filme, teatro ou qualquer outro tipo de propaganda, despertavam na mente uma outra memória. Personagens dentro de personagens... mas que em nada diferiam uns dos outros, e, que, na maior parte do tempo, pensam e agem de forma igual uns aos outros, sem darem-se conta, achando, enfim, que são, ou estão, agindo de um modo diferente... desvios de pensamento, desvios de conduta, que os impedem de fazer bom uso de qualquer coisa, inclusive das coisas que entendem ou pensam entender. Fingem e esquecem que estão fingindo, e assim podem negar tudo conscientemente, sem culpa.     
Por ali se via de tudo, toda esta gente, todos estes seres, simulacros de si mesmos: os assustados, os arrogantes que nunca reconheciam sua própria arrogância; homens e mulheres de negócios, que adoram chamar por outros nomes seu egoísmo e ambição; os apaixonados e os iludidos, que depositam no amante ou no objeto de sua paixão ou ilusão, suas maiores perspectivas, os tolos e os ignorantes, que com o passar do tempo tornam-se mais tolos ainda, os fracos, os suicidas, descrentes de si mesmos e da vida, não poucos já se lançaram em seus trilhos... os loucos furiosos, que escondem sob uma aparente calma, todo o seu ódio mortal ao mundo e a todas as coisas... os sem-teto, os sonhadores, os bandidos, os facínoras... os doentes da alma, da cabeça e do coração, e a estação, como uma mãe, aceita a todos, sem distinção.  
Mas, logo os dignitários da cidade pensaram em pô-la abaixo....   a estação já dera o que tinha de dar, afinal “o progresso caminha a passos largos”. Nem levaram em conta o tempo de serviços prestados, nem sua orgulhosa beleza antiga... para eles era apenas um prédio velho, de paredes gastas e escurecidas, precisando urgentemente de reparos.
Começaram pelos portões... pesados portões de ferro, cheios de história... Quando a primeira parte do prédio caiu, ninguém do povo protestou, mas, o barulho da queda, ecoou em suas mentes e seus corações e debaixo dos escombros, sob as camadas cinzentas que há muito se pregaram nas paredes; viram uma outra parede, de um reluzente mármore rosa, tão belo, tão singelo...
De repente, deram-se conta do que fizeram; um prédio carregado de vida e memória não poderia ser destruído dessa forma e então os protestos vieram de todas as partes... e os dignitários, os “manda-chuvas”, foram obrigados a pararem com a demolição e o velho e o novo se misturaram na estação, sempre sob o passar lento / veloz passar das horas... mas, algo na estação estava diferente e com alegria ou pesar, se dirigia a ela, a gente do povo da cidade... pois agora, alguns, quando lá entravam, parece que despertavam de um sono agitado.
Algumas vezes, encontravam-se em meio a situações que lhe davam sensações de “deja-vu”. Outros viam-se a si mesmos, como em um espelho de dois lados, outros ainda perdiam-se em conversas com fantasmas do passado que por um momento, tornavam-se vivos e presentes, ou então eles é que se transportavam do presente ao passado ou ao futuro e viam-se jovens demais ou velhos demais ou, eram eles os fantasmas.... uma espécie de encontros às avessas consigo mesmo; na estação, passado, presente e futuro se confundiam... eram um...
Àqueles que descobriam uma forma de adentrar e desfazer esse mistério, acabavam por obter o controle da própria vida, mas os que não conseguiam ficavam nas sombras de suas ruínas, no limiar do passado e do presente, sem expectativas do futuro, e cegos, sem descobrirem uma direção, acabavam nos trilhos... e havia os que faziam da estação um local de culto e da feita que entravam custavam a sair, e muitos nunca saiam.
O trem esperava o tempo necessário e quando partia deixava nos desesperados, nos vorazes, a sensação de desengano, e eles buscavam ir para bem longe da estação para não ter que ouvir o apito do trem, pois quando parasse e abrisse suas portas, sabiam que não poderiam entrar e partir, já que sempre estavam adiantados demais ou atrasados demais. Por causa disso, estes eram a favor de se continuar com a demolição, a estação precisava ter fim... Mas a estação não atendia a ambição dos seres comuns e desgovernados, e assim continuou em seu lugar, como uma mãe, obedecendo a propósitos que a poucos eram dados a conhecer...    

MAIAKOVSKY


Maiakovsky_by_Repin

<3

Era uma vez um poeta. 
Um dia, cansado da vida, serviu-se do veneno da amargura em uma taça de tristeza. 
Um balaço na cabeça, foi seu último poema.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

PESCADOR DE ESTRELAS





Recolho, na penumbra da noite, 
os peixes solitários que teimam 
em subir à superfície da água... 
Minha rede é de fios de ouro e de prata, 
e tão leve e breve que substitui as palavras, que,
enfim, não precisam ser pronunciadas
O silencio me dita o que fazer e por onde ir
A lua olha-me distante...?! O que é distante? 
O céu, negro mar, coberto de estrelas brilhantes
e, tão antigas, são artífices de sonhos... 
Vou de mar em mar, de rio em rio à cata de peixe, 
Mas, meu sonho é pescar estrelas




domingo, 11 de abril de 2010

BELA PAISAGEM, TRISTE EPITÁFIO





Chamo
Ninguém responde
Debaixo de terras e escombros
O mundo se esconde

Vidas soterradas
Num instante
Por abandono
Por indiferença
Choros estancados a força
No peito
Nem deu tempo de gritar
Veio com força a avalanche

Acabou-se
Num instante
Morreu
Tudo morreu
Inclusive a esperança
De dias melhores
Nada com que se preocupar
Enfim, o descanso  


sábado, 10 de abril de 2010

FASTIO





Fastio do mundo
Casa trancada
Paredes cheias de frestas
Rotas estão portas e janelas

Há dias o sol não aparece
Há dias só vejo o escuro da noite
Que nunca desaparece
Há soluços, nunca soluções


Perco tempo a chorar
Pelas árvores desfolhadas
Perco tempo a chorar pelas estrelas cadentes
Meu fastio de tudo
Leva-me a crer no fim do mundo

Por que tanta fragilidade?
Por que deixo abater-me pelas dificuldades?
Há soluções e não apenas soluços...
Mas sento-me, encolhido em um canto 
E nem disfarço a insatisfação

sexta-feira, 9 de abril de 2010

YouTube - I believe in miracles (subtitulos en español)







I Believe In Miracles
Ramones
Composição: Dee Dee Ramone / Daniel Rey

I Believe In Miracles

I used to be on an endless run
Believe in miracles 'cause I'm one
I've been blessed with the power to survive
After all these years I'm still alive
I'm out here cookin' with the band
I'm no longer a solitary man
Every day my time runs out
Lived like a fool, that's what I was about, oh
I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Oh, I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Tattoo your name on my arm
I always said my girl's my good luck charm
If she could find a reason to forgive
Then I could find a reason to live
I used to be on an endless run
Believe in miracles 'cause I'm one
I've have been blessed with the power to survive
After all these years I'm still alive, oh
I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Oh, I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
I close my eyes and think how it might be
The future's here today
It's not too late
It's not too late, yeah!
I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Oh, I believe in miracles I believe in a better world for me and you
Alright

^^

Eu Acredito Em Milagres

Eu costumava estar numa busca sem fim
Acredito em milagres, pois eu sou único
Eu fui abençoado com o poder de sobreviver
E, após todos esses anos, eu ainda estou vivo
Estou longe daqui, detonando com minha banda
Não sou mais um cara solitário
A cada dia que passa, meu tempo diminui
Vivi como um tolo era isso que eu era
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Eu acredito em milagres
Eu acredito em um mundo melhor para mim e para você.
Tatuei seu nome em meu braço
Eu sempre disse que minha garota é um sinal de boa sorte
Se ela pode arrumar um motivo para perdoar
Então eu posso arrumar um motivo pra viver
Eu costumava estar numa busca sem fim
Acredite em milagres, pois eu sou um
Eu fui abençoado com o poder de sobreviver
E, após todos esses anos, eu ainda estou vivo
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Eu fecho meus olhos e penso em como as coisas podem ser
O futuro é aqui, hoje Não é tarde demais
Ainda não é tarde demais, yeah!
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Corretamente

FÁTIMA E OS ANIMAIS




Sufismo no Ocidente, Edições Dervish, Tad: Luiz Otávio F. Barreto Leite

Introdução à história Fátima e os animais

Fátima, filha de Waliyya de Andaluzia, morreu em 1195 e foi a mestra de Ibn al-Arabi, doctor maximus para o Ocidente, que despertou a atenção no século XXII para o que atualmente chamamos de “condicionamento”. O escolástico turco Sigob Qalb fez notar que al-Arabi antecipou em seus escritos as ideias de Berkeley, Fenlly, Kent, Niestzche, William James e outros. A historia que se segue é contada entre os “iluminati” (rashania), dervishes do Pamir, cuja versão é do sufi Abdul-Samad Khan, falecido em 1943.

^^

Era uma vez uma garotinha que cresceu com os seus pais, no bosque. Um dia constatou que seus pais haviam morrido e que teria que cuidar de si mesma.
Seus pais tinham deixado um Mirhrab, um ornamento estranho, parecido com um umbral de uma janela, que estava pendurado em uma parede de sua choupana.
“Já que agora estou só”, disse Fátima, consigo, “e terei que sobreviver no bosque onde só quem vive são os animais seria bom falara com eles, e compreender a sua língua”.
E assim ela, passava uma boa parte do dia dirigindo esta aspiração para o umbral que estava na parede: “Mirhrab, dá-me o poder de compreender os animais e de poder falar com eles”.
Depois de longo tempo, de repente teve a impressão de que podia comunicar-se com os pássaros, com os animais e até com os peixes. E foi para o bosque tirar a prova. Logo chegou a um tanque. Sobre a água do tanque estava uma mosca patinadora, que passeava pela superfície e nunca entrava n’água. Nadando dentro d’água havia vários peixes e colados no fundo do tanque, alguns caracóis.
Para poder dar início a uma conversa, Fátima disse: “Mosca, por que não entras n’água?
“Por que haveria de fazê-lo, achando que isso fosse possível, já que não é? Perguntou a mosca.
“Porque estarias a salvo dos pássaros que descem e te comem”.
“Não me comeram ainda, não é verdade?” disse a mosca.
E esse foi o fim da conversa.
Então Fátima falou com o peixe.
“Peixe”, disse-lhe através da água, porque não aprendes a sair da água pouco a pouco? Eu soube que certos peixes podem fazê-lo”.
“Absolutamente impossível”, disse o peixe. “Ninguém fez isso e sobreviveu. Ensinaram-nos a acreditar que é não apenas um pecado como um perigo mortal”.
Virou-se e mergulhou nas sombras, disposto a não ouvir tais bobagens.
Então ela chamou o caracol: “Caracol, poderias arrastar-te para fora d’água e encontrar ervas boas para comer? Ouvi falar que os caracóis podem, na verdade, fazer isso”.
“É melhor responder uma pergunta com outra pergunta, quando quem escuta é um caracol sábio”. Disse o caracol. Talvez fosses amável o bastante para me dizer exatamente por que tens tanto interesse em meu bem-estar? As pessoas deveriam cuidar de si mesmas.
“Bem”, disse Fátima “suponho que é porque quando uma pessoa pode ver mais acerca de outra quer ajudá-la a obter alturas superiores.
Essa me parece uma estranha ideia”, disse o caracol, e arrastou-se para baixo da pedra onde já não pudesse ouvi-la mais.  
Fátima deixou a mosca, o peixe e o caracol e vagou pelo bosque procurando alguma outra coisa para ver. Sentia que deveria poder ser útil a alguém. Afinal tinha muito mais conhecimento do que estas criaturas do bosque. Pensou que um pássaro, por exemplo, podia ser avisado para que armazenasse comida para o inverno, ou ser aconselhado a fazer um ninho perto do calor de uma choupana, para que não morresse desnecessariamente. Mas não viu pássaro algum.
Ao invés disso, ela se deparou com a choupana de um carvoeiro. Era um homem idoso que estava sentado em frente à porta da casa queimando carvão para levá-lo ao mercado.
Fátima, deleitada ao ver outro ser humano, o único que tinha conhecido além de seus pais, correu até ele. Contou-lhe suas experiências desse dia.
“Não te preocupes com isso, menina”, disse-lhe o homem idoso. Existem coisas que um ser humano tem que aprender e essas coisas são de vital importância para o seu futuro”.
“Coisas que aprender?” Disse Fátima. “Mas, por favor, por que deveria eu procurar outras coisas para aprender? Estas coisas, provavelmente, só iriam mudar meu modo de viver e de pensar”.
E, como a mosca, o peixe e o caracol, ela se afastou da companhia do carvoeiro. Fátima, filha de Waliyya, gastou outros trinta anos, como a mosca, o peixe e o caracol, antes de que pudesse aprender qualquer coisa.         

quarta-feira, 7 de abril de 2010

YouTube - O Trem Azul - Lo Borges (Ao Vivo)

Lô Borges by Fernando Fiuza

^^




O Trem Azul
Lô Borges
Composição: Lô Borges/Ronaldo Bastos

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar
Você pega o trem azul, o Sol na cabeça
O Sol pega o trem azul, você na cabeça
Um sol na cabeça

Coisas que a gente se esquece de dizer
Coisas que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar

Você pega o trem azul, o Sol na cabeça
O Sol pega o trem azul, você na cabeça
Um sol na cabeça

terça-feira, 6 de abril de 2010

LULLABY


As flores cobriram de cor a campa cinzenta
A tarde é morna e sem esperança
Comum como uma tarde qualquer
Pausa no pensamento
Pausa no res-sentir-se da ausência
O vento traz-me tua lembrança
Sussurra teu nome por entre as folhas das árvores
Nunca cansa...
É a sua canção de ninar a embalar vivos e mortos
Ainda sinto o abandono
Mas é um consolo vir te visitar
Nesta casa de um só cômodo 
Que, por enquanto, meu amor, é somente tua!

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...