Um corvo, um cobre

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

MENOS


Debrucei-me sobre o nada
Vazia de ideias
Dispensei os amores e as dores
E mergulhei em rancores
Que me dilaceraram por dentro e por fora
Contudo, o que senti foi menos intenso
Que em outros tempos
Sentimentos tão banais e irrisórios, que tive vergonha
Mas não chorei nem me arrependi
Deixei a raiva curtir ao sol
Até dela apenas restar a decepção
E a decepção é como uma canoa que deve estar bem atracada
Senão, levada pela correnteza, vai rio abaixo
Pra lugar nenhum

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MITO DE ORIGEM DOS INDIOS TICUNA

MITO DE ORIGEM DOS INDIOS TICUNA



Assim meu avô ouviu de seu avô que ouviu de seu avô
e assim vou contar:
Escuro, frio e silêncio. O começo de tudo.
Yo’ i e Ypi. cadê a luz?
Acima da árvore gigante.
Samaumeira, wotchine, esconde o mundo
Yo’i e Ypi querem ver o mundo.
Pegaram um caroço de araratucupi e tcha... um buraquinho na negra escuridão
E aí? Yo’i e Ypi? Cadê a luz?
Pra lá da escuridão, pra lá da copa da samaumeira, pelo buraco, dá pra ver
O quê? Yo’i e Ypi
Uma preguiça real que prende o céu com galhos da samaumeira.
Yo’i e Ypi pegaram mais caroços de araratucupi e tcha, tcha, tcha.. olha lá um montão de estrelas, mas nada de luz...
Yo’i e Ypi cadê a luz?
Hum, hum, hum.... os dois irmãos pensando.
Yo’i e Ypi vão derrubar a samaumeira.
Chama, chama, chama todos os bichos pra ajudar
Vem lá macaco e cutia, boto, cobra, veado, tamanduá, jabuti, tracajá...
Não dá, não dá... samaumeira não cai; nem pica-pau consegue por wotchine abaixo.
E agora Yo’i e Ypi?
Hum, hum, hum.... os dois irmãos pensando.
Uma festa, uma festa de casamento
Aicüna, a irmã, será dada a quem fizer preguiça real soltar os galhos que prendem o céu
Nos olhos da preguiça real tem que jogar formigas-de-fogo. Quem vai?
Chegou Taine, um quatipuru bem pequeno, foi, mas no meio do caminho voltou.
Taine, o quatipuruzinho, tentou de novo. Desta vez, chegou. Jogou as formigas nos olhos da preguiça e a preguiça soltou os galhos que prendiam o céu e lá se foi a samaumeira...
Taine casou com Aicüna e do tronco da árvore caída brotou o rio Solimões e dos galhos espalhados, mais rios e muitos igarapés.
***


INDIOS TICUNA: do tronco lingüístico ticuna, segundo o Censo de 1984, se encontra espalhada pelos seguintes municípios do estado do Amazonas: Benjamim Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, e Santo Antônio do Içá, contando-se hoje a nação, em torno de 23.000 pessoas. Para eles uma árvore não é apenas uma árvore é muito mais é um símbolo da vida, acreditam que numa árvore está contida toda a memória do mundo.
Yo’i, Ypi e Aicüna são os irmãos primordiais, aqueles que através de suas ações, sendo a maior delas a derrubada da samaumeira, darão inicio ao mundo da forma que hoje o
conhecemos.

O LIVRO DAS ÁRVORES, TICUNA

terça-feira, 4 de agosto de 2009

SOPA DE PATO







Versão de uma das mil e uma histórias de Nasrudin


Por Virgínia Allan



Um dia lá bateu a porta da casa do Zé um compadre chegado do interior e para agradá-lo, o compadre lhe trouxe um pato e Zé, muito agradecido, mandou a mulher fazer um pato cozido.
O compadre não demorou em sua visita e logo se foi arrepiando caminho de volta.

No dia seguinte, Zé acordou com novas batidas na porta. Era um amigo do compadre do Zé que tinha lhe trazido o pato.

Zé mandou que entrasse e lhe ofereceu o que comer.

Na manhã seguinte, novas batidas na porta... e novamente na manhã seguinte e outra vez na manhã da manhã seguinte.

A casa do Zé virou restaurante, ponto certo de quem vinha de fora da cidade, sempre um amigo do amigo do compadre do Zé que tinha lhe trazido o pato de presente.

A mulher estava para largar o coitado, pois já não agüentava mais viver na cozinha, quando novas batidas soaram na porta da casa do Zé e o estranho com a cara mais lambida do mundo se apresentou como o amigo do amigo do amigo do seu compadre que tinha lhe trazido o pato.

O Zé se apoquentou, mas mesmo assim mandou entrar o dito cujo. Sentaram-se à mesa e Zé pediu à mulher que lhes trouxesse a sopa.

O visitante já lambia os lábios e esfregava as mãos, pensando na delicia que logo saborearia, porém, mal deu a primeira colherada fez cara de desgosto: “Ó meu amigo, que tipo de sopa é esta? Isso não passa de água quente”.

“Ora, tá reclamando do quê?” disse o Zé tranquilamente. “Essa, meu amigo, é a sopa da sopa da sopa do pato que o meu compadre e parente me trouxe de presente”.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

TROVINHAS DE AMOR


O vento entra pela janela
E eu estou tão só, meu amor
A melancolia me invade
Trazendo de volta a saudade
De quem foi e não mais voltou

Amor dói não dói
Saudade atroz
Vai, vem escapa, mas não passa
E quando não mata maltrata

Um verso triste?
Só se for agora
No calor da mesmice
No lento passar das horas

Quando te vejo meu amor
A tristeza vai logo embora
O teu sorriso é doce como mel
E mais belo que o raiar da aurora


Meu coração mais o teu
São culpados da paixão
O teu por ter ofertado
O meu por ter aceitado

Eu cá, meu amor, não acho graça
De ti viver separado
Cada qual na sua casa
Saudoso dos abraços

Num canto deixei a dor
Num canto deixei a flor
Num canto deixei o pranto
Num canto deixei o amor

Quisera eu esquecer-te
Quisera eu viajar
Pra um cantinho do mundo
Em que não te pudesse encontrar

Numa casa pequenina
Guardei o meu amor
Ela é toda enfeitadinha
E tem cheiro de flor

Lembrar de você todo dia
É castigo maldito
Dói em mim saber
Que o nosso amor está perdido

Em cima do meu telhado
Saudoso de amor
Uma cantiga triste
Sabiá cantou

Meu amor foi embora
E com ele levou meu coração
Não há remédio nesse mundo que cure
os tormentos da paixão

Passarinho pousou
Nas cordas do meu violão
E um ninho construiu
Dentro do meu coração

segunda-feira, 27 de julho de 2009

UMA HISTÓRIA SEM FIM


Era uma vez uma casa toda de pedra no fundo da floresta.
Esta é a casa toda de pedra no fundo da floresta.
Dentro da casa toda de pedra, no fundo da floresta vivia uma moça lavando louça.
Esta é a moça que vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta lavando louça que um dia se assustou com um rato apressado que pulou no armário.
Este é o rato apressado que pulou no armário e espantou a moça que lavava a louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta.
Veio um gato pegar o rato apressado que pulou no armário e espantou a moça que lavava louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta.
Este é o gato que veio pegar o rato apressado que pulou no armário e assustou a moça que lavava a louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta.
Veio um cachorro zangado espantar o gato que pegou o rato apressado que pulou no armário e espantou a moça que lavava a louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta.
Este é o cachorro zangado que veio espantar o gato que pegou o rato apressado que pulou no armário e assustou a moça que lavava louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta.
Veio o pastor atrás do cachorro zangado que espantou o gato que pegou o rato apressado que pulou no armário e assustou a moça que lavava a louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta.
O pastor viu a moça e se apaixonou...
Este é o pastor apaixonado que veio atrás do cachorro zangado que espantou o gato que pegou o rato apressado que pulou no armário e assustou a moça que lavava a louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta
O pastor apaixonado beijou a moça que vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta e esqueceu-se que veio atrás do cachorro zangado que espantou o gato que pegou o rato apressado que pulou no armário e assustou a moça que lavava louça.
A moça que vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta ao beijar o pastor lembrou-se do sonho doce que sonhava enquanto lavava a louça que desvaneceu ao assustar-se com o rato apressado que pulou no armário e foi pego pelo gato que se espantou com o cachorro zangado que latia sem parar chamando o pastor que viu a moça que vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta e por ela se apaixonou...
O pastor apaixonado beijou a moça e com ela se casou passando ambos felizes a viverem na casa toda de pedra no fundo da floresta em companhia do cachorro zangado que espantou o gato que pegou o rato apressado que pulou no armário e assustou a moça que lavava louça enquanto sonhava um sonho doce que enfim realizou-se...
Graças ao rato apressado que pulou no armário mas foi pego pelo gato que logo largou-o, pois espantou-se com a presença de um cachorro zangado que fugiu do pastor e este ao ir em seu encalço encontrou o seu amor que era a moça que lavava a louça e vivia na casa toda de pedra no fundo da floresta e que um dia enquanto lavava a louça sonhava um sonho doce que enfim realizou-se...
Graças ao...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O MUNDO MÁGICO DE LILLY


Era um sonho o mundo de Lilly. Mal amanhecia e a alegria começava no quintal, um verdadeiro estardalhaço... um colorido e feliz jardim zoológico com bichos de todos os tipos e tamanhos: Girafas, elefantes, cisnes, tigres, pássaros raros, avestruzes, galos, galinhas e até um pato, doído de amarelo, que grasnava alto e sem parar, um pato metido a besta, que não se reconhecia como pato, o coitado pensava que era gente... ai... se ele soubesse como era ser gente, preferiria permanecer na condição pato pateta(?)... pois é... havia de tudo no mundo mágico de Lilly. As tartarugas saiam do rio, repleto de peixes, que cortava o sitio e iam se secar ao sol, esparramadas nas pedras, bem quietas... o pescoço estendido para fora do casco, competiam com as iaras o carinho do sol.
Na frente da casa, era o passar cantante/constante do rio, onde peixes-bois, ariranhas e botos se divertiam, pescando contas e pequeninas pedras brilhantes como diamantes, ou seriam mesmo diamantes? E lá atrás um grande mar se espraiava barulhento, forte, debulhando-se em ondas ora verdes ora azuis, e, mar adentro bem no meio, o passeio sossegado de uma baleia e seu filhote... e ainda havia Romão, um bonito gato de pêlo alaranjado e olhos inacreditavelmente verdes; olhos que estão sempre arregalados, perplexos diante da complexidade do mundo... é um gato pensante?... filósofo?... não, Romão embora pense e chegue as variadas conclusões, é, em verdade, um gato sábio. Alguém duvida de que possa existir sabedoria entre os bichos? Alguém duvida que bicho pensa? Se duvida... é porque não conhece bicho, muito menos um gato chamado Romão...! E depois, quem de nós acredita que tudo sabe é tão deprimente quanto aquele que diz nada saber... Romão persegue um pote de ouro no fim do arco-íris, e as coloridas borboletas no fundo do quintal... certa vez, capturou uma lagartixa que andava a aterrorizar o reino das formigas, mas que belo dragão! Romão ficou satisfeito...
Neste mundo mágico tecido pela imaginação fértil e feliz de uma criança, não havia espaço para qualquer tipo de tristeza... ai, se elas ousassem se insinuar...
Mas, o mundo mágico de Lilly e mesmo ela, estão contidos dentro de uma gaveta, na casa velha de um velho poeta, que abranda a solidão, tirando essas coisas da cachola... pondo no papel pedaços de sonhos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

CANTARES DO SEM NOME E DE PARTIDA


Hilda Hilst

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.

domingo, 12 de julho de 2009

UM RAIO DE SOL NUM JARDIM...


Uma orquídea crescia no tronco da árvore mais alta de um jardim... Um jardim sombrio, um tanto estranho, de pouco encanto... Em meio à profusão de folhas, frutos, flores, sementes e raízes espalhadas por todo o chão, certamente não se perceberia a beleza de sua presença, se não fosse a presteza de um raio de sol brincalhão que, certa vez, na graça de um dia incomum, em que o astro-rei, luzia poderoso, soberano em todo o seu esplendor, caíra, perdido, por entre as pétalas macias da bela flor, lá adormecendo, em puro sossego.
Na manhã seguinte, em vez do sol, veio a chuva... E o raiozinho, assim tão bruscamente despertado, fugiu assustado, desaparecendo, num instante por detrás das cinzentas e carregadas nuvens... mas, na pressa, eis que sacudiu de si um halo de luz, que, magicamente, se estendeu sobre o jardim sombrio; halo de límpida e dourada luz, que a violência da chuva não ousou levar.

terça-feira, 30 de junho de 2009

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-LÍDIA



Dona Lídia era a calma em pessoa e, por demais católica, temente a Deus, a exemplo de São Francisco, resignava-se diante das situações que não conseguia mudar, o que equivale a dizer uma vida atribulada, seis filhos e um marido insensível. Mas, não havia nesse mundo nada que a abalasse, D. Lídia em vez de Lídia, devia chamar-se “Amélia, a mulher de verdade” que nem a canção do Ataulfo Alves e letra de Mário Lago... marido chegava bêbado, xingando Deus e o mundo, lá estava ela, a postos, pronta a tirar-lhe a roupa, as meias, os sapatos e ainda colocá-lo na cama, limpa e arrumada, ao mesmo tempo, balbuciando uma oração, a pedir perdão por ele, seu tosco marido, por citar o Seu Santo Nome em vão... Se as crianças aprontavam, Dona Lídia sorria ou fingia-se de brava a impor respeito... O marido, mau-humorado até a unha do dedão do pé, que detestava ser perturbado, levantava do seu sossego, brigava, e até metia a peia nas coitadinhas... mas ela, Dona Lidia, não... não brigava com ele... nem com as crianças, nem com ninguém! Esperava com paciência a tempestade dos humores passar... não se intrometia nos castigos impostos aos filhos, há não ser ser em última instância.
Aos domingos, nunca faltava à missa e quando voltava para casa, comungada de alma lavada, e livre dos pecados, absolvidos na confissão, estava pronta para qualquer situação. Era inconcebível para quem estava do lado de fora da vida de Dona Lídia, compreender tanta resignação / mortificação. Mulher bonita ainda, de cabelos negríssimos custava-se a entender porque agüentava aquela vida. Ela sorria, brincava, cantava, mas de uma coisa todos tinham certeza; ela não era feliz... não poderia ou então não sabia o que era felicidade... E o que vem a ser essa tal felicidade? De uma forma ou de outra, fato é que essa mulher que se dizia feliz, apaixonada por seu marido, sua casa e seus filhos, resignada, católica praticante, temente a Deus e submissa à Sua vontade, adoeceu gravemente e nenhum médico conseguiu fazer um diagnóstico correto. Sofria de uma doença degenerativa que a fazia arrastar-se, dependendo da caridade dos filhos ou dos vizinhos para poder se alimentar... O marido já nem se dava ao trabalho, agora mais do que nunca, não parava em casa, e, nem assim, acreditem ou não, se ouviu ela o maldizer, ou levantar a voz para reclamar como injusta sua difícil situação. . . Foi-se D. Lidia, foi-se o marido, foi-se uma das filhas, que, matou-se num domingo de sol... foi-se o tempo desta história? Dona Lídia morreu jovem, se foi mártir, santa, acomodada, condicionada, feliz ou infeliz, eu não o sei dizer e ouso pensar que talvez nem a própria Dona Lídia o soubesse... De-lhe o céu a desejada recompensa, seja ele o seu mais justo e fiel juiz.

sábado, 13 de junho de 2009

SERENA


Serena
Alegrou o olhar
Reviu o mar
Roubou um beijo da lua
Sossegou o desespero
Acalmou o cansaço
Dobrou a compensação
De acordar da ilusão
Rumou em silencio
Para a rua de cima
Olhou com distancia
Para o rio do tempo
Sorriu com desembaraço
E juntou novamente os cacos
Não de um coração partido
Mas de um dia dolorido
Gesto de adeus, hora de partida
Momento de despedida
Pedaços de vida
Grãos de areia colorida levados pelo vento

   

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...