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sábado, 31 de maio de 2008

O REI E A DONZELA [1]


Um rei velho e cansado, apaixonado
Uma jovem bela e etérea, ainda donzela
Ela dança com a morte
A morte dança com ela
A morte rouba a donzela
Debaixo da língua, um segredo
Na mente ativa, a revelação
No fim da busca, o desassossego
No fim da busca, a distorção
Um rei velho e cansado, apaixonado,
Para sempre, extasiado, às margens de um lago.


*****

Conta-se que um dia, o rei Carlos Magno foi assaltado por uma súbita, desvairada e violenta paixão.
A dona de seu atormentado e descompassado coração era uma bela flor alemã, ainda donzela, e o rei, mesmo velho e cansado, apaixonado, por conta disso, vivia amargurado. Ninguém conseguia livrá-lo desse estranho sentimento.
O rei só estava feliz e sossegado se mergulhado nas profundezas dos claros olhos da amada, rosa branca, pálida ... Só estava feliz, se tocasse as loiras e perfumadas madeixas de sua longa cabeleira... Alheio a tudo, assim, se esquecia ele do reino, se esquecia ele de si, por inteiro.
Logo se preocuparam os notáveis barões da corte com a recente debilidade do soberano... o que seria do reino com um rei frágil, sem dignidade, imperfeito? Outrora, valente guerreiro, cavaleiro triunfante, agora um velho senil, completamente transtornado, dominado por uma paixão amorosa, ardorosa, perigosa...Urgiam serem tomadas imediatas precauções... Então, eis que a morte, para surpresa de todos, faz sua visita “inesperada” e era uma vez uma jovem bela e etérea, ainda donzela...
Ahhh... suspiraram os barões aliviados, pensando eles que, terminara enfim, o desvario efusivo do velho rei ensandecido... Terminara? O que são os tormentos? Uma vez que nos chegam não nos deixam tão facilmente... e às vezes, “a emenda sai pior que o soneto”... Não... pois, outra vez, tornaram a se desesperar os cuidadosos barões da corte ao verem o rei, fora de si, manter a jovem morta, embalsamada, cuidadosamente guardada em uma sombria câmara mortuária, com o rei mantendo-se ali, nem um segundo se afastando, nunca, jamais, querendo partir. “Sacrilégio”, diziam uns... “sacrilégio”, diziam outros... “sortilégio”, dizia consigo o arcebispo Turpino... “sortilégio de amor e encanto... obra de magia negra poderosa... só há de ser isso”... repetia o arcebispo... “não é normal tanto apego, tão louco desespero por um corpo inanimado ... sortilégio de encanto e amor, sim... o rei só pode estar enfeitiçado, cruelmente amaldiçoado por alguma alma marcada, tocada pela sombra do demônio, que, solitário e invejoso, está sempre à espreita,vigiando”.
E assim pensando, o ponderado arcebispo, o cadáver tratou de examinar, procurando de cima abaixo onde poderia estar escondido o objeto mágico que mantinha prisioneiros o corpo e a mente do infeliz soberano. O objeto, pensava ele, haveria de encontrar e dele se livrar sem demora, libertando, dessa forma, o pobre rei, que já sofrera bastante nessa lida... por Deus, certamente... era o que aconteceria.
O arcebispo, tanto procurou que encontrou; oculto, sob a língua da donzela morta, deparou-se com o segredo: um anel maravilhoso, com uma bela pedra preciosa engastada, mas ai, pra quê... o sortilégio de amor e encanto não acabou ali... e lá o arcebispo Turpino, imediatamente, viu-se assediado pela luxúria incontida do velho rei Carlos Magno.
Tentando livrar-se do transtorno, o lago Constança, pensou o arcebispo, seria a solução final para tal embaraçosa situação pela qual acabara sendo levado e o santo homem, desesperado, atirou o anel no lago que afundou rapidamente... Sim... Constança, o nome do lago, e também nome de mulher, foi a solução para o arcebispo Turpino, mas não a salvação de Carlos Magno, que, mesmo velho e cansado, apaixonado, postou-se para sempre sentado às suas margens. Para sempre aprisionado ao macabro sortilégio de loucura, amor e encanto que emanava das profundezas e contaminava a pureza das águas.
***
[1] Lenda sobre o imperador Carlos Magno, citada por Ítalo Calvino em seu livro SEIS PROPOSTAS PARA O PRÓXIMO MILÊNIO; pág. 45; trad. Ivo Barroso; Editora COMPANHIA DAS LETRAS.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

CAROLINA [1]



Da minha janela vejo Carolina donzela;
Um pôr de sol; um beijo; uma azaléia.
Da minha janela vejo a praça e os olhos de saudades
da mulata, vejo a banda e a vida passarem.
Mas, oh, que pena... Só Carolina não viu...
E o tempo passou e tudo levou
Só Carolina ficou.
E eu, com meus olhos de expectador, devagar fechei a janela,
lá deixando a donzela à mercê do tempo e da dor.

[1]À partir da canção CAROLINA, de Chico Buarque de Holanda.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A LUA E EU


Lua, lua, tão fria e distante, num céu coberto de estrelas;
quero pedir-te amiga e senhora, tua benção e proteção.
Olha por mim, dama caprichosa; guia-me com tua luz
e no caminho do bem me conduz.


****

A lua branca boiou no céu, parecendo um barquinho
de papel, navegando num imenso mar azulado!
Imenso mar azulado que percorro, pilotando, com o coração

a branca lua, vagando na solidão.

****

Da janela
olhos cansados contemplam
a lua de outono

***

Vaga lua
Vago lume
Vagalume

Vagar distante
Vagamente delirante
Vagar errante

Vago espaço
Aberto
Aéreo
Solitário

Vaga vida
Vago sonho
Vagar tristonho
Vagar medonho

Vago mundo
Vagabundo

Vago norte
Vaga sorte
Vaga morte
Vago mistério

Indecifrável
Impenetrável
Silencioso
Eterno
Profundo

quarta-feira, 28 de maio de 2008

SALVADOR DE SI MESMO



Ao reler certo dia o livro SEIS PROPOSTAS PARA O PRÓXIMO MILÊNIO, de Ítalo Calvino Companhia das Letras, 1993, tradução, Ivo Barroso) no artigo sobre LEVEZA, não pude deixar de pensar na comparação que ele faz do mundo transformado em pedra. Sim, para ele, o mundo inteiro às vezes, parecia transformado em pedra, “mais ou menos avançadas segundo as pessoas e os lugares”, tal petrificação, ainda segundo ele, embora lenta, “não poupava nenhum aspecto da vida, como se ninguém pudesse escapar do olhar inexorável da horrenda Medusa”.
Relembremos o mito: Perseu, o herói grego (não preciso, creio, dar aqui nenhuma definição da palavra herói, mas escreverei uma frase de Joseph Campbell que diz que um herói é o homem da submissão autoconquistada e se quiserem saber mais, tipo a quem ou a quê deve ele, o herói, submissão terão de ler mais o dito autor) era filho de Zeus e da mortal Dânae, filha de Acrísio, rei de Argos, que um dia, temendo ver cumprida a previsão de um oráculo, que lhe predisse que Dânae teria um filho que lhe usurparia a vida e o trono, mandou encerrá-la numa torre. Mas, para Zeus, o que é impossível? Assim, em forma de uma chuva de ouro, Ele caiu sobre Dânae, engravidando-a .
Acrísio, desesperado, pegou mãe e filho e após colocá-los dentro de uma arca abandonou-os, à deriva, ao mar. Porém, a correnteza, em vez de virar a embarcação e afogar mãe e filho, concretizando enfim, o desejo de Acrísio, levou-a até a ilha de Sérifo, aonde o rei Polidectes, apaixonou-se pela bela Dânae.
Polidectes, com o passar do tempo, por ciúmes, quis afastar Perseu de sua jovem mãe e, assim, encarregou-o de uma missão; se diga, porém, missão esta primeiramente sugerida pelo próprio Perseu e cobrada em seguida pelo rei tirano, que era trazer a cabeça da Medusa, a Górgona mortal, mas, cujo olhar fulminante era capaz de petrificar; feito que ele consegue, graças a ajuda dos deuses Hermes, Atena e Hades.
O herói Perseu, mata a Górgona e carrega a cabeça consigo, dentro de uma sacola presa a cintura e nos momentos de perigo, para sua proteção é capaz de usá-la de maneira sábia, evitando, de olhá-la diretamente, seguindo sempre o enunciado dos deuses. Seu escudo de bronze é o seu espelho, empunhado por Atena, a deusa da divina sabedoria, e é por ele que é capaz de encarar o terror. Perseu é capaz de entrar e sair do mundo sombrio, sem maiores danos, trazendo consigo valiosos, belos e úteis presentes, inclusive Pégaso, o cavalo alado, benquisto das musas, que nasce do sangue da Górgona abatida, o animal é filho da maldita. Porém, Perseu o domina e, cavalgando-o vai além das nuvens. Claro que tais ações não são facilmente praticáveis e por isso Perseu é um herói.
Bem, Ítalo Calvino se absteve de interpretar o mito, coisa que aconselha todo bom contador de histórias, ele queria apenas fazer uma relação alegórica do poeta com o mundo e o processo de continuar escrevendo.
Eu, por outro lado, vejo também uma relação, de certa maneira proposta pelo próprio Calvino, ao ver o mundo em vários estágios de petrificação. Nos tempos atuais, aos poucos, vamos sendo petrificados, as pessoas de um modo geral, vão tomando a forma da Górgona ou das estátuas, mudas, petrificadas, em maior ou menor grau. Ficamos alheios e estranhos ao nosso mundo ou ao que está acontecendo ao nosso lado. Desistimos da roupa de herói, quase não a vestimos mais, pois a roupa encolheu e agora cabe em muito poucos. Sobra-nos o papel da Medusa ou de meras estátuas. Seres humanos frágeis, fracos, e das tarefas que nos impomos ou das que nos são impostas, não damos conta, e, incrédulos, renunciamos aos conselhos dos deuses... Quando olhamos no espelho a imagem que nos aparece, distorcida, é a do monstro. Como fugir? Como escapar disso? Dessa infame e vil transformação operada por nós mesmos? O herói deve nascer; crescer em seu heroísmo e ser ultrapassado... Temos capacidade de voar muito alto, em um cavalo alado. Mas, por onde começar? Minha sugestão é que comecemos por onde começou Perseu, abandonando um mundo pronto e protegido, mas cheio de armadilhas e ilusões, para partir em busca do seu próprio, da construção de seu mundo, não ideal, mas, real. Na jornada necessária que precisamos empreender, temos que mergulhar, “encarar” e se possível sobrepujar o sombrio, um dever para com nós mesmos e para com os que nos cercam.
No caso do herói, tirar a cabeça da Medusa da sacola e mostrar o próprio horror só em casos extremos, realmente necessários. A minha dor, ou a minha vitória, ou ainda a dimensão do meu horror, não precisam petrificar a ninguém, gratuitamente, já que isso elas mesmas já fazem por si, pois ao dar maiores dimensões aos seus desejos, medos e dramas; correm elas o risco de se metamorfosearem na terrível Medusa, isolando-se, vivendo a parte e, ao contrário do herói, que escolhe a quem petrificar, acabam por transformar a qualquer um em pedra, ao menor sinal de aproximação. Há quem queira esse fardo...
Ítalo Calvino remete-nos também em seu artigo, a leveza do ser, do pensar, do elevar-se além das precárias condições humanas e a partir das observações de Milan Kundera mostrar como a leveza pode se tornar insustentável tal o peso que ela demonstra ter com o passar do tempo. Um peso de pedra. Mas, lembrem-se que Calvino falava de literatura, eu estou a ponderar sobre as situações humanas, mas, no final, ambas nem diferem tanto assim uma da outra. Com o passar do tempo quase tudo se petrifica ou perde a leveza de ser; o mundo, as pessoas, a sabedoria e as relações... e ficamos a espera de um herói que nos salve, de alguém que, em vez de pedras, mos mostre um jardim, cheio de flores, belas, coloridas e leves já que não somos capazes de cultivar e manter o nosso próprio jardim; fugimos das aulas de jardinagem. O mestre ficou sozinho no quintal vazio e em lugar das flores vamos colocando grandes, feias e pesadas estátuas de pedras.
Farid-ud-din-Attar, em seu livro O Parlamento dos Pássaros (Attar Editorial), conta-nos que no alto de uma montanha, na China, vive um homem velho que chora sem parar. Entretanto, mal suas lágrimas tocam o chão, convertem-se em pedras que ele torna a recolher. A verdade nua e crua, porém é que nem todos nós podemos ser que nem Perseu, herói imbuído de generosidade e delicadeza para com todos os seres mesmo para com os monstros, como diz Calvino, e nem todos conseguimos ser hábeis jardineiros; fazemos o que podemos, vamos até onde nos compete chegar nossa frágil paciência/resistência/competência. Algumas vezes, incapazes de matarmos nossos monstros, destruímos nosso jardim, pisoteamos nossas flores, acabando com o pouco que nos resta, pois a impotência nos tira a vontade de seguir adiante. O sentimento de confusão, nulidade, exclusão, faz com que abandonemos o mundo em que se precisa viver sem a ele pertencer, e, afastados de qualquer convívio humano, por fim, morremos... esquecidos, longe da piedade de qualquer bom samaritano. Antes disso, entretanto, acontecer, será que nos perguntamos o que podíamos ter feito com nossa confusão? Como nos livraríamos dela? Tentamos, de verdade, encontrar ou saber sua causa e dar-lhe uma solução? O porquê de ter surgido e permanecido? Se a reposta é sim, deveríamos ter decidido logo o que poderíamos ter feito a respeito, pois só os equivocados criam e sustentam sua própria confusão, embora façam crer a todos que tentam desesperadamente dela escapar. Uma pessoa confusa é, antes de tudo, alguém que não presta a devida atenção a si mesmo, a confusão se dá porque tal pessoa não obteve o que queria, temos o costume de não percebermos que somos postos à prova a todo instante, tanto pelo que queremos quanto pelo que não queremos, paciência para com um, paciência para com o outro estado de coisas, querer /não querer... Como dizia o grande Bayazid (morto em 875 d.C.) “deves sentir teu próprio nada”.
Tais sentimentos e estados já citados deveriam ser pensados antes como formas de proteção e usados como escudo, como faz Perseu. Todavia, vamos parar por aqui. De repente, eu é que me verei metida em confusão por não saber mais o que dizer. Parece que tenho toda a sabedoria do mundo a disposição. Tenho, tenho sim, mas não posso passá-la adiante e nem sei ainda direito como usá-la em meu próprio proveito, não sou mestra de nada, nem do ABC, e cada um tem que buscar em si os meios de empreender e chegar ao fim de sua viagem, sentindo que cumpriu, com efeito, a sua missão. Busque a sua compreensão naquilo que diz respeito a você e sua busca por auto-conhecimento. É possível escapar do olhar aterrador da Medusa; é possível escapar de nos transformarmos no monstro de olhar aterrador;um olhar humano, condescendente, mas atento, sobre tudo, principalmente sobre nós mesmo já é um começo, e que começo...!

segunda-feira, 26 de maio de 2008


Deus é vida. E a impulsão da vida é para cima, sempre para cima. “O animal sobrepuja a planta, o homem sobrepuja a animalidade, e o conjunto da humanidade, no espaço e no tempo, é um exército imenso a galopar ao lado, à frente e atrás de cada um de nós. Em carga esmagadora para dar em terra com toda resistência e vencer todos os obstáculos”. Até a morte. A corrente da vida sobrevive a morte do indivíduo. Sobrevive à possibilidade do fracasso e a tendência da matéria por aniquilar-se. Ao topar com um beco sem saída, as suas múltiplas energias cavam novo atalho e dirigem as suas torrentes irresistíveis no sentido de novas e maiores realizações. A vida não pode ser sufocada por uma derrota temporária; nunca pode ser detida.

domingo, 25 de maio de 2008

SOB A LUZ DO CREPUSCÚLO


A menina, regando as plantas,
inunda de alegria o crepúsculo que cai.
Seu sorriso, doce antídoto,
para um coração envenenado
por uma taça de tristeza.


***

Dia cinzento.
Cadeiras vazias.
Silêncio no jardim.

***

A rosa que desabrocha
enche de amor e encanto
um coração de criança.

***

A passarada,
na janela faz a festa!
Ao menor ruído,
voa em debandada.


***

Para o silencioso espelho d’água,
a onça sedenta, sorri.


***

Passarinhos na goiabeira.
Entardecer no quintal.
Minha alma sorri.


***

Eu estava quase adormecida
quando escutei o canto da cigarra.

sábado, 24 de maio de 2008

TODO O MANÁ SAGRADO DA MONTANHA


“Olho, aterrado, a grande mesa posta.
Quem presumiu em mim fome tamanha?
Todo o maná sagrado da montanha
Servido lautamente
A um só conviva!
À luz do sol poente,
Numa quase agressiva
Pressa de comunhão, as penedias
São raras iguarias
Dum banquete irreal
De que sou comensal
Apenas eu…
Como se um pigmeu
Pudesse devorar num breve instante
A refeição eterna de um gigante!”
(Miguel Torga)

***

TODO O MANÁ SAGRADO DA MONTANHA é sabedoria, alimento cultivado pelo homem e ofertado aos deuses.
TODO MANÁ SAGRADO DA MONTANHA é esforço consagrado da labuta cotidiana, que sustenta o corpo e alimenta o espírito humano.
O sol já está a se pôr. Com os olhos cansados, voltados da terra ao céu, regressa o miserável de mais um dia de trabalho e eu em minha inconstância, olho a mesa posta mas não corro imediatamente para ela, apavora-me a idéia de tamanha pompa, de tão fausto banquete pára um só vil e nada gentil convidado. Quem adivinhou o tamanho de minha fome?
TODO O MANÁ SAGRADO DA MONTANHA ao alcance de minha mão. Embora seja mesmo grande a minha fome, eu, solitário, não posso dar cabo do alimento sagrado. Pequenino em minha ambição; ando sem direção, silenciosamente, sem saber a que caminho escolher.
Procuro um ser de grande saber, feito de carne e osso, mas que tenha a alma pura e infinita, livre dos desgostos... Daí, quem sabe, possa ele me dizer como escapar do circulo vicioso no qual vivemos todos.
Almejar TODO O MANÁ SAGRADO DA MONTANHA é não tê-lo a disposição para comê-lo afoitamente. Se assim o fizer, os deuses, certamente, não virão ao meu encontro, pois, não terei sabedoria suficiente ou ao menos um conhecimento profundo das coisas como são, e, então como ousarei dizer ao fiel trabalhador que TODO MANÁ SAGRADO DA MONTANHA está também ao seu inteiro dispor para dele poder comer, não num banquete irreal, mas, sim, num banquete ideal, onde o esforço, unido ao tempo, ao momento correto lhe dará muito mais que uma substancial refeição. Dar-lhe-á capacidade em elevar-se às alturas de um gigante, além da paz, sabedoria e tranqüilidade de um ser humano de verdade, pronto a seguir, firme e reto, em sua evolução...

Partiu a caravana dos sonhos.
Não importa o destino, somente a viagem
Pelo caminho os peregrinos misturam-se à poeira e ao brilho das estrelas,
mas eles partem em busca do sol!

***

Dia cinzento!
Gosto dele assim, quando me sento
em uma velha cadeira, no sossego do jardim,
para ouvir cantarem os passarinhos.

***

Voam os pombos no céu. Fim de tarde.
Na rua vazia, o sol deita seus últimos raios.
Alguém sentado à soleira de uma porta... espera!

***

Noite escura!
No telhado
o soluço da chuva.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

JURUPARI [1] O PODEROSO SENHOR DO MEDO


Jurupari passeia pela noite.
Jurupari passeia pelo terreiro.
Jurupari é o poderoso senhor do medo que chega para assustar pequeno guerreiro.
Devagar, a grande sombra entra na oca, escurecendo a taba por inteiro.
Pequeno guerreiro não consegue adormecer.
Jurupari é espírito sem forma.
Jurupari é espírito mau
Mas pequeno guerreiro é valente
E a grande sombra olha de frente
Jurupari se encolhe, pra longe foge, a grande sombra desaparece!
Jurupari, o poderoso senhor do medo, tem medo de pequeno guerreiro, que depois, exausto da cansativa batalha, em paz adormece, iluminado pela vigilante luz da lua.


***

[1] JURUPARI: Do tupi Iuru-Pari que quer dizer boca fechada, mistério, segredo. Entidade tida pelos indígenas como “filho do sol”, o legislador, o gênio da música, temido e respeitado pelos povos da selva, que, porém, com a chegada dos missionários jesuítas foi rebaixado a categoria de “diabo”, o espírito malévolo que rondava a floresta.

Do livro MORONETÁ-Crônicas Manauaras; Virgínia Allan; Editora Valer

quinta-feira, 22 de maio de 2008


Quisera que meus versos fossem leves como a pena e que tivessem a candura das cantigas de roda
Quisera que fossem belos como as noites amenas e que possuíssem
o agradável perfume dos botões de rosa
Quisera ainda poder calar-me Quisera mesmo, meu Deus, nada querer e assim não lamentar-me
dos meus versos que choram.

***

Certa vez, há muito tempo, assistindo a um filme antigo, vi uma ponte que, não sei por que, deu-me a sensação de infinito. Era uma pequena ponte, por onde um casal caminhava, mas, para mim, ficou a impressão de que a ponte nunca acabava.

***

Dormiram os anjos que velavam os sonhos. Esquecida ao pé de alguma nuvem ficou a felicidade embrulhada pra presente.

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...