Um corvo, um cobre

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011


Art Gallery_Daniel Dell'Orfano


Chuva cumprimenta tarde
Que se cansa do não fazer
O sol se foi sem se despedir
Saiu à francesa
À mor de não ter que dar explicações
Embaraçosas talvez
A nuvem cinza que percorria o espaço
Aproveitou-se e descarregou seu mau-humor
Em forma de raios e trovões
Parecia mesmo muito zangada
Agora, a chuva que cai, tão morosa
Atrapalha o passeio de quem tem o que fazer
Neste domingo preguiçoso
Eu cato meus cacos
E desacato o tempo
Teimo em não misturar minhas lágrimas
Com a cantata da chuva sem graça
Que logo passa e se perde além ...
Vai-se, solitária e trágica
Agitar em algum outro porto
Não tão distante de aqui

sábado, 10 de setembro de 2011

LÁZARO





O sol escondia-se por trás do alto muro envelhecido. Raios dourados, preguiçosos, recolhiam-se mansamente ao encontro da bola de fogo, que agora, não parecia mais tão flamejante. O que acontecera? O mundo novamente era-lhe um lugar estranho, sombrio... Surreal seria a palavra para descrevê-lo neste momento... mórbido pesadelo que começara numa certa manhã de agosto, e o frio e a noite que há tempos moravam em sua alma a envolveram de vez. Não sabia o que fazer a jovem senhora... sentiu o peso da absoluta solidão, cada vez maior, cada vez mais abrangente. Saber que teria que continuar cada vez mais só... não perdera apenas o marido.. perdera o amigo, o irmão, o amante... Deixou-se cair prostrada no divã da sala. A casa tão grande ... os dias cinzentos, mesmo com e apesar do sol... Como dirigir-se å pequena câmara mortuária na capela da família? Como velar, como olhar para aquela pessoa amada, já sem vida, como aceitar isso? Ainda não parara de chorar ... nenhum trunfo nas mãos?.. nada ?... apenas o sacrifício de ter que continuar vivendo?.. só .. completamente só... cobriu o rosto com o pequeno véu, tomou a rosa vermelha de pétalas cintilantes e aveludadas que lhe dera na noite anterior, ainda exalava perfume, segurou-a entre as mãos como quem guarda um segredo ...  dirigiu-se å capela... não ousaria perguntar mais... não discutiria com Deus... mas havia ... a palavra... a palavra que se não lembrava ... anos de estudo de magia para quê?! Ao chegar o momento, nada poder fazer? Quais os propósitos da vida? Como alguém tão bom, tão especial poderia partir assim, simplesmente, num momento de desatino, ter sua vida ceifada por um inútil saído das profundezas do inferno ... o desespero era gritante e tão grande ... ai, finalmente... lembrou-se ... a palavra... a palavra então veio-lhe å mente ... ainda tinha sim, um recurso, um último recurso... não poderia errar... Aproximou-se vagarosamente do caixão... aproximou-se mansamente do morto... eram tantas rosas... tantos prantos convulsivos.. tantos amigos... a rosa em suas mãos brilhou com uma luz sobrenatural... abaixou-se e sussurrou em seus ouvidos ... nada .. esperou a eternidade num instante ... nada... uma fraqueza... de repente, um subito desfalecimento ... a rosa ofuscante quase se desprendendo de suas mãos... agonia ... um estremecimento... um estalo ... seria seu coração... não ... um respirar ainda pesado ... uma mão que se estende para fora e segura a borda do caixão ... o corpo se levanta ... os olhos se abrem .... as flores caem ... o morto vive!

domingo, 28 de agosto de 2011

A Vida é um Blues


por Moysés Mota


Moysés Mota - Na reunião do Greens

O horizonte era total escuridão. A noite, inóspita, de sentir e, principalmente… ver. Apertou os olhos para melhor percepção do céu. Partiu através do que via – ou não via -, para a dedução: “Essa escuridão são pesadas nuvens de chuva; encobriram a lua, as estrelas, o firmamento; tão logo o céu se torne róseo, a chuva desabará!“ Envolveu-lhe um manto de tristeza e depressão. Pensara e repensara a sua vida: “ Muito mais erros que acertos; não acertava uma; não acertava nada, nada”, disse entre irritado e resignado, a si mesmo. Perambulara de bar em bar, mergulhando profundamente no âmago de vários copos de uisque, articulando, concatenando, caindo em si. Vivera o bastante para ver e fazer muita coisa. Mas, agora, meio a madrugada, via-se sem saber aonde ir (“Para casa? Mais um uisque noutro bar? Assistir um strip?…“ Caminhou… Uma, duas ruas, anúncios luminosos de neón; taxis caçavam-lhe como se fora a última alma viva a vagar. Haviam poucas pessoas nas ruas. A maioria abrigava-se nos bares, como ele, que acabara de sair de um, de dois, de vários… Perdera a conta. Lembrou da infância pobre; começara a trabalhar aos 11 anos de idade, estudara bastante, também. Advogado já aos 25 anos, passara a vida defendendo pessoas; ganhara muito mais causas que perdera, acumulando bom patrimônio para uma vida tranquila; conhecera inúmeras mulheres que fizeram de tudo, tudo mesmo, para envelhecer com ele… Era isso! Estivera de bar em bar festejando seu aniversário. Primeiro, com dois velhos amigos. Beberam, brindaram, relembrando infância, adolescência, alegrias, tristezas; sorriram, gargalharam, sentiram saudades… Os amigos, cansados, exaustos de festejar, com dificuldade entraram num taxi e partiram, extasiados de felicidade ”A vida é bela!”, exclamaram na despedida, com as linguas perceptívelmente pesadas, os corpos ligeiramente arqueados. Ficara, como sempre, só. “Fiz ontem 70 anos! Minha vida é só passado. Nunca houve futuro. Hoje, pelo menos – nesse momento um raio rasgou o céu verticalmente como se este fora uma negra cortina, em seguida, um estrondo medonho ecoou… A idade, o alcool, um ou os dois juntos – não soube precisar – imunizaram-lhe do susto que abalou toda a cidade. “Sinto e vejo agora o presente. É negro, mas há raios a iluminá-lo, e trovão a trombetear, nos alertar.” A escuridão tornara-se cinzenta e, agora, rósea… ventania em redemoinho anunciou-se… fria garoa estabeleceu-se. “É isso! Vou a outro bar. Um piano, um saxofone, um contrabaixo, uma bateria é tudo que preciso… Minha vida é um blues! Não… A vida é um longo blues! Sentiu-se feliz como nunca. Seguiu em direção aos acordes de sax. Sorrindo, respirando fundo o orvalho e o cheiro de chuva, lamentou-se, apenas, por entender a vida só após os 70 anos.  A VIDA É UM BLUES!

domingo, 17 de julho de 2011

JANELAS







JANELAS

Jefferson Nunes/Virgínia Allan

Adoro Billie
esta me faz chorar
sei que somos dois 
vc e eu
somos dois 
melancólicos aos extremos 

Sim!

E hoje está um dia lindo
Billie
não combina com um dia assim
faz tempo que não a escuto
tem vento

Fora do seu escritório o mundo continua a girar 
O céu está azul e cheio de pipas 

Siim!

E hj, mais do que nunca, precisavas ver
como está lindo aqui...

Pela minha janela aberta
a luz entra e invade a sala
invade a mim...
O vento entra sem pedir licença e me invade também

As pipas lá no alto serão mais livres do que vc ou do que eu? 

Penso que não

As pipas lá no alto do espaço azulado são apenas nossos reflexos dispostos em cores

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...