Um corvo, um cobre

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domingo, 10 de agosto de 2008

CHEIRO BOM DE CAFÉ



Um cheiro bom de café invade o ar. Vem da cozinha onde minha mãe o prepara em silêncio.
O perfume traz de volta a imagem de meu pai, cantando, se embalando na cadeira, enquanto espera a deliciosa bebida ficar pronta.
Sem me aperceber, repito os mesmos gestos e hábitos de meu pai, e também me sento em sua macia cadeira de balanço e espero! Mas eu não canto. Apenas recordo.
Quando era criança, bem perto de nossa casa havia um moinho, de onde todas as tardes, partia o cheiro bom do café torrado. O forte aroma tomava conta do bairro, mas ninguém reclamava; antes o contrário; de todos os lados, ouviam-se expressões de louvor.
Quem sabe naquele tempo, alguém, assim como eu agora, meditasse sobre antigas recordações, sentado em alguma velha cadeira, ou, então debruçado à janela, vendo a fumaça escapar pela chaminé do moinho somente para desvanecer-se com os sonhos no crepúsculo das tardes e das idades.
Se minha filha pudesse ter visto esta tênue nuvem de fumaça e tivesse sentido o seu aroma, diria que o moinho era a caverna encantada de um dragão bonzinho.
Deixo de lado, por um momento, as reflexões e levanto-me para tomar o café que minha mãe servira à mesa. Olho para o familiar e escuro liquido como quem olha para um amigo e, nesse momento, a porta que se fecha sobre o mistério da vida, abre-se, dando passagem para que meu espírito possa entrar e sair refeito.
Sou novamente aquela garotinha que esperava ansiosamente pelo entardecer para sentar-se junto ao seu pai.
Sou ainda uma jovem mãe, que cultiva e colhe flores raras no jardim de seu coração para ofertá-las antes que murchem.
Sou meu pai, repetindo nos mesmos gestos e hábitos, a fugaz alegria de compartilhar com sua filha o prazer de um mundo único, como se há muito tempo ele tivesse chegado trazendo nas mãos um valioso presente: “Toma! Procurei por todos os lugares as maravilhas do mundo. Achei-as, escondidas dentro de pequenos grãos; querendo te ofertar uma eterna lembrança, torrei-os, transformando-os em uma bebida amarga e, apesar disso, deliciosa. Bebe e terás o mundo como herança!”
E eis que de suas mãos recebesse o mundo, não redondo e azul feito uma bola, mas dourado e preto na forma bonita e misteriosa de uma xícara de café.

sábado, 9 de agosto de 2008

A PARÁBOLA DOS FILHOS COBIÇOSOS [1]



por Virgínia Allan

Este conto de origem sufi, é bem conhecido e nas palavras de Idries Shah, enfatiza a afirmação de que é possível alguém desenvolver certas faculdades à revelia de seus próprios esforços para desenvolver outras. Tal como acontece na história acontece o mesmo ao ensinamento sobre as formas de entender o destino e o significado da vida. Vejamos: Levemos em conta que alguém mais experiente, alguém assim como um professor, ao deparar-se com a impaciência, a confusão e ansiedade de seus pupilos, sabiamente, irá direcioná-los para uma tarefa que ele bem sabe lhes será benéfica e instrutiva, mas, cuja verdadeira função e objetivo, por causa da total inexperiência deles, frequentemente lhes permanecerá oculto. Ao longo do tempo, A PARÁBOLA DOS FILHOS COBIÇOSOS foi publicada e divulgada por gente como, apenas a título de exemplo, o frade Roger Bacon, que ensinava em Oxford, de onde foi afastado por ordem do Papa, e pelo químico Boehaave (séc. XII).
A última versão conhecida desta história é atribuída a Hasan de Basra que viveu há doze séculos atrás.


**********

Da janela de sua humilde casa, o velho lavrador aspirou o doce perfume que vinha do campo. Árvores carregadas de frutos estendiam sua sombra generosamente e flores alegres e coloridas, enfeitavam o percurso de um longo caminho. O vinhedo, que era a menina de seus olhos, enchia-o de ternura e encanto. A primavera chegara cheia de novidades, como sempre, trazendo felicidade com a renovação da vida.
Cansado, soltou um profundo suspiro e voltou para sua cama. Estava muito doente. Pensou no quanto era bela aquela estação, bela para tudo; bela para viver e bela também para morrer. Sim, a morte andava por perto, perto demais...!
O velho lavrador; homem generoso e trabalhador, estava preocupado e com toda razão. Seus sete filhos, apesar de venderem saúde, eram todos, sem nenhuma exceção, preguiçosos, cobiçosos e briguentos. O velho, com toda razão, temia pelo futuro de suas crianças. Que seria deles, sem os seus conselhos e a sua presença constante? Precisava urgentemente encontrar uma solução.
Consultou o seu coração e depois de um tempo, pressentindo que finalmente havia chegado a sua hora, chamou-os ao pé de si e falou-lhes que se cavassem em certo lugar, encontrariam um maravilhoso tesouro.
Movidos pela ambição, os rapazes enterraram, às pressas o velho pai e em seguida, munidos de pás e enxadas, acorreram ansiosamente ao campo.
Entretanto, após o escavarem de ponta a ponta, nada encontraram e decepcionados, tomaram o rumo de casa.
Na manhã seguinte, os irmãos se levantaram cedo e prosseguiram nas buscas, mas o resultado foi igual ao do dia anterior, e assim aconteceu de novo no outro dia, no outro e no outro, até cansarem-se completamente. Concluíram que, por ser o pai um homem bondoso houvera repartido o dito tesouro com os mais necessitados. Porém, apesar da decepção, os rapazes habituaram-se a cuidar do campo, principalmente do vinhedo. Tanto era assim, que já nem brigavam mais. Plantaram novas sementes e continuaram em sua labuta, seguindo sempre o curso das estações. A prosperidade, então, veio bater-lhes à porta.
Um dia, ao olharem para o extenso campo cultivado, assim como o formoso vinhedo, cheio de uvas belas e maduras, foi que então os irmãos perceberam o sábio artifício usado por seu velho e generoso pai.
A história de um tesouro escondido foi uma forma de os disciplinarem e transformá-los em homens honestos e satisfeitos de sua condição. Agora possuíam riqueza suficiente e compreenderam afinal, onde se encontrava o verdadeiro tesouro.

[1] Idries Shah; História dos Dervixes; 1976; Editora Nova Fronteira.


sexta-feira, 8 de agosto de 2008



Pedaços de sol e de lua em uma janela toda azul, salpicada de estrelas...

***

A criança, no colo da mãe, tenta alcançar a lua...

***

Dentro do quarto, brilha a luz da manhã nos cabelos de Luisa.

***

Luisa, suave brisa, luz que ilumina a minha triste sina...

***

AnnaClaraLuaClaraAnnaClara...

***

Anna Clara clareou o escuro e ocupou os espaços vazios

***

Dia cinzento. Cadeiras vazias. Silêncio no jardim...

***

Verão! Canta a cigarra no tronco da seringueira...

***

Na superfície da água, um pequeno arco-íris. Desejo de paz na tarde que se aproxima.

***

O beija-flor giraosol
Girandoaosol o beija-flor
beijaflor

***Colar partido
Esparramadas pelo chão
Um punhado de pequeninas
Contas

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

BLUE IN GREEN

para Miles Davis

Paixão
Blue in greenSó em mim
Verdes clarões azulados
Acendem e apagam
Giram dançam vão e voltam
Numa dança louca e sem fim
Paixão
Blue in greenSó em mim

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O CAVALO DE JOSÉ [1]



Nos estábulos da fazenda de José, há um cavalo raro de extrema beleza! Todos tentam montá-lo, mas, quem é que pode? Marcos, o irmão de José, foi ao chão numa dessas tentativas. Apenas José consegue subjugá-lo e corre com ele, na velocidade do raio, pelos pastos e campinas.
Para as crianças das redondezas o cavalo é mágico; para elas, ele veio do espaço, trazendo em seu pêlo pedaços do dia e da noite. Uma mancha escura aqui, e ali uma luminosidade de estrelas. A cauda é tão longa e brilhante, que até parece o cabelo da menina mais bonita. Nada há no Universo, por mais belo que seja, que ouse fazer-lhe comparação. Cada pata; tem por ferradura, a dourada lua nova; e mesmo a pedra mais dura, não resiste à força de seus golpes.
Este animal extraordinário gosta de brincar saltando as barreiras do tempo. Sim, para as crianças, o cavalo é mágico, pois quando ele passa, correndo na velocidade do raio, levantando poeira, uma manada corre atrás, levando crianças em seus dorsos, cruzando os espaços, nas pegadas do cavalo de José.

[1] Baseado em Jami; El Caballo de José; Destellos de Luz; Editorial SUFI; por Virgínia Allan

terça-feira, 5 de agosto de 2008

TOCA SIM...MY BABY


Toca sim, meu bem, um blues daqueles...amargo, sofrido, emotivo...um blues antigo que pareça surgir do nada, mas que nasce do fundo da alma machucada...Um blues sentimento, puro tormento, que passeie nas ruas, invada as casas...desarrume a sala...
Toca sim, rapaz, um blues celeste que se junte às preces das mães eternamente de mãos postas, cuidadosas e das senhoras carolas, tão caridosas...Um blues matreiro, sorrateiro que deite o olhar prazeroso, para a moça festeira e à mulher de corpo escultural, sensual, fatal, cheiroso, maliciosamente gostoso...Enfim, neném, toca sim, um blues daqueles...um blues bem “blues”...que de tão triste faça rolar a lágrima do olho...Um blues azul, mágico, irmão, que de tão estranho devolva ao poeta a inspiração...Que acorde nas crianças, para sempre, a alegria e que dê ao homem comum um justo, bom e belo motivo para ainda estar vivo...
Toca, sim, meu bem...my baby...um blues daqueles...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

GATA BRANCA EM DESCANSO


Quieta ela estava, toda enrolada,
bola de pêlo, branca e sossegada
na cadeira de embalo do vovô
Quieta estava...
muito mansa...
a aproveitar o descanso...
nada a perturbava...
nem o lento, monótono, vai e vem
da cadeira de balanço...
fingia dormir, a gata manhosa...
de vez em quando, pondo os olhos a passear
pela sala silenciosa
mas, de súbito, pela janela aberta, entra,
voando, descuidada, uma jeitosa
radiante libélula
vem lá, a pobrezinha, em hora marcada,
de encontro à morte anunciada...
incauta, pousa ela ao pé da escada, depois,
voa, para o alto da porta...
nada repara em sua viagem
vai em zig-zag pelo espaço
sem dar-se conta do perigo à espreita...
o som do bater de asas
acorda quem já não dormia...estica-se, espreguiça-se...
e num salto ágil, eis a bichinha, presa,
entre as patas da gatinha, que, sem pressa
a brincar, a pega e solta e torna a pegar...

domingo, 3 de agosto de 2008

"PASSA,PASSA, GAVIÃO"...



E as belas palavras ditas ficaram em um canto...esquecidas...esmaecidas...e agora...desfeitas...amontoadas...embaralhadas...não mais significavam nada...“conversa mole pra boi dormir”..."boi...boi...boi...boi da cara preta... "viu no que deu? foi ouvir e responder ao canto da sereia que a paixão arrefeceu... num piscar de olhos...num instante...quem entendeu? Só ele...o “bicho-papão” bom de papo...que resolveu sair do armário...querendo fazer jus a fama deitou-se na cama e fingiu-se de príncipe...sapo...encantado...e que sapo?! Nem mesmo era nada...e o sentimento...?! calculado...dissimulado...frio...escorregadio...por um fio...sem definição...curtição... empolgação...nem amizade...descolorida...descabida...fugidia....sem luz do dia...ou no fim do túnel...apenas papo furado...um sintoma da falta do que fazer...dele...é claro...“oficina vazia”...simples assim...para ela tal sedução...não passou de armação...judiação...um gesto...inconseqüente...indecente...maldade premeditada...braba...de quem desejava um súbito...agitado...movimento...para o seu monótono...melancólico...tedioso...precário viver...sonambúlico...medonho...Depois de tudo... ele... pessoa nefasta...sem qualquer pretexto...respeito...voltou-se para si mesmo...nenhum assombro...mais importante que tudo junto...ele...único...umbigo do mundo...tão envolvido...apenas por seus próprios silêncios...dilemas...pensamentos...problemas... tormentos...interesses...deveres...afetos...desafetos...que tanto fez...tanto faz...nada lhe apraz...“se oriente, rapaz”...que pena...mas...tenha dó...processos mentais...superficiais...triviais..aborrecidos....mundanos...birra de menino tolo...querendo doce...total falta...de jeito...de tato...de quem aparentava ter tanto...encanto... sensibilidade...a mais...deixe estar meu bem...conta-se nos dedos...as promessas...feitas nas horas incertas...por isso...jamais cumpridas...p...da vida...esperavas o quê...guria...? Justiça se há de fazer...mas...bem que mereceste...tonta...amor de verdade...não sabes? é raro demais entre os seres...humanos(?!)...quando irás aprender....? é tarde?...“caiu na rede é...”? Fábula...um conto de fadas...? farpas...? carpas...? Era uma vez...vejam vocês...uma solitária..."pombinha branca...o que estás fazendo?"...cuidado...o laço está armado...estás com fome...avezinha...diz a grande...imponente...ave de rapina...à sofrida pombinha...que de ingênua não tem nada...mas padece de compulsão por ilusão...faminta...de amor...ardente...urgente...amigo...irmão...paixão...e calha sempre de dar ouvidos ao caçador espertalhão...que nunca pensa que é caça, não..."toma esse anelzinho, meu bem, e não digas nada a ninguém"... o que é que tens amiguinha...coitadinha...toma cá essas migalhas... não há de ser nada...diz o bonitão...indolente...insolente...gavião...toma...que hoje estou de muito bom humor...são restos...farelos de amor...de verdade...coisa fina..cara...toma...vai... e vê lá... que estou a te fazer um favor...pega e come logo minha amada...e num repente a desnutrida...distraída...impulsiva...comovida pombinha...sem aflição...é engolida...mastigada...devorada...pelo voraz...“valentão” que então voa...pra bem longe...pro alto...no cume do monte...de volta a proteção do ninho...aparente...mente...arrumado...narcisista...mente...inconstante...mente...desconcertante...mente...inacessível...mente...dormente...mente...Ó...deixemos de lado essas falas...que adianta de fato...“chorar pelo leite derramado”...? Muito chato esses desabafos...deprimentes...mentes...delírios...de carência...afetiva...? efetivo...produtivo... é viver a vida...“viva e deixe viver”...fazer o quê? a fila anda...bacana...pra mim e pra você...tudo a ver...cadê o lobogrobobo que estava aqui?...o GATO...“mágico” de botas...comeu...e se refestelou..."ciranda...cirandinha...vamos todos cirandar...vamos dar a meia volta e meia vamos dar...o anel que tu me deste era vidro e se quebrou e o desamor, graças a Deus, que tu me tinhas era pouco e se acabou..."

sábado, 2 de agosto de 2008

PÁSSAROS SUICIDAS



Arrancar a poesia de dentro da alma
Traduzir em palavras o intraduzível
É tentar pescar a lua no poço
É realizar o impossível
Trêmulo reflexo da beleza altiva
Que bem sabemos onde está,
Mas que não se pode alcançar
As palavras são engraçadas
Ora dizem tudo (ou um pouco mais que tudo)
Ora não dizem nada
Doida, doída, adormeço na penumbra
Do meu claudicante pensar
Cuja prosa no falar distancia-se
Do ardor fulgurante dos tristes poetas amantes
Errantes...pássaros suicidas, longe do ninho...
Vislumbrei o futuro iminente
Em minhas mãos se desfolharam as rosas órfãs do meu jardim
De onde, agora, hermeticamente fechado, partem sons de silêncios
Na obscuridade esquecida de um dia eterno

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

CANTIGA DE AMIGO


I




Meu coração está só e de aflição ele chora; não ouço os vossos passos, senhora, e não mais escuto a vossa voz. O sol esfriou e a aurora perdeu a sua cor. A solitária andorinha voou, partiu para além do mar; triste, o pássaro cativo também anseia voar, pois noutra terra está a donzela de negras tranças e suave sorriso. Ela, mais bela que a distante lua, despiu-se do seu manto de grandeza e humildemente, para o chão volveu seus olhos de estrelas: ‘Ouve’, disse ela, ‘o amado já vem’.



II



Senhora fascina-me o vosso olhar, mas fujo deles como alguém que, em pleno mar, teme ser arrastado pela fúria de uma tempestade. Por isso, detenho-me na ilusória segurança da praia; porém, quando revelados forem os sentimentos de vosso coração, cuidado...! Nada mais restará; nem mesmo eu; senhora, pois, com certeza, serei levado, tragado pela corrente impetuosa, impiedosa de vosso amor”.

III



Tão bela era a lua que cego fiquei, fascinado de amor. Perdido no Vale da Busca era um estranho em uma terra estranha. Vagando pra lá e pra cá, lamentei a minha sorte e fui repreendido pelo sol: “Almejas a lua e não suportas a humilhação? A lua vos escolheu, e devolves com indignidade tamanha devoção. Ó néscio, não sabes que quando os segredos te forem revelados o teu destino será também se transformar em lua?”.

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...