Um corvo, um cobre

Se quiser jogar um cobre a um corvo pobre, será muito bem vindo: chave pix: 337.895.762-04

Quem sou eu

Minha foto
Manaus, AM, Brazil

Translate

Wikipedia

Resultados da pesquisa

Pesquisar este blog

sexta-feira, 9 de maio de 2008

REFLEXÕES DE UMA ALIENIGENA SOBRE O INTRIGANTE COMPORTAMENTO DOS SERES HUMANOS PARTE IV



Bom... me desculpem, mas a velha depressão voltou. As férias na lua não foram o sossego esperado, como antes... Há muito lixo à deriva no espaço (tive que me desviar de uma porção)e há terráqueo e máquinas demais indo para lá e para cá Universo afora, afim de descobrir os seus "mistérios insondáveis". Assim, estou novamente no “olho do furacão”, de volta à Terra, solidária em espírito, já que não posso estar lá, em carne e osso, ao povo de Mianmar, antiga Birmânia, no Sudeste Asiático, conhecida também como “terra dos templos”, que, além da recente devastação provocada pela natureza, sofre ainda o descaso das autoridades, uma junta militar ditatorial desumana, que governa o país e impede que a ajuda das nações estrangeiras chegue ao povo mais rápido, bloqueando o acesso, inclusive de funcionários da ONU - Organizações das Nações Unidas.
Há uma loucura generalizada tomando conta da Terra... pervertendo as mentes, deixando o mundo de pernas para o ar... e a banalidade toma conta de tudo. Por todos os quatro cantos, perigo, guerra, destruição, violência, morte e dor... nem as crianças são poupadas, em nenhum sentido... lágrimas incessantes que descem dos olhos de quem fita o ar, o rio ou o mar... lágrimas incessantes de quem não tem a proteção, nem o consolo dos seus, e que vive inseguro e infeliz dentro de seu próprio lar... realmente algo não vai bem por sobre a superfície do planeta, já disse isso antes, estou sendo repetitiva... Os monstros dizem que não são monstros, pois, aparentemente, sob a aparência humana, invertem situações e expressões, querendo, tentando enganar aos que ainda possuem alguma sanidade e bom senso (como podem ver, nós, os E.Ts, não somos os únicos a recorrerem a este estratagema). Portanto, cuidando com o que você pensa, cuidado com o que você diz, cuidado com quem você anda e principalmente, cuidado, mas muito cuidado mesmo com o que você deseja. Desejos costumam se realizarem das formas mais inesperadas e muitas vezes, de um jeito tão surpreendente, que chegam a deixarem arrependidos aqueles que o desejaram tão ardentemente,pois acabam soando como um castigo, um “karma” a ser pago... um favor a ser cobrado...
Aqui, no lugar onde moro, na vasta e cobiçada, região Amazônica, “celeiro do mundo”, chove muito, chove sem parar... Agora mesmo, por exemplo, está chovendo. De vez em sempre, as casas são arrasadas pelas chuvas torrenciais e as pessoas perdem tudo, até a vida. Embarcações lotadas que navegam pelos rios caudalosos, vão a pique com uma facilidade inacreditável. De uns anos para cá, tais “acidentes” têm sido bastante comuns, o que não deveriam ser. Das noticias do dia a dia, de dez, nove são pura tragédia, sobra uma para te dar algum conforto, assim como a sensação de que nem tudo está perdido, e o sentimento de que o que é bom existe, o “normal” acontece, e o impossível é possível.Como a tocante história do taxista que devolveu a um músico distraído,o seu instrumento, um Stradivarius avaliado em seis milhões de reais, esquecido no assento de seu carro. Infelizmente, estou numa fase em que não consigo apreciar o romantismo das coisas... não vejo graça nem beleza no tamborilar da chuva, não me enche de paz e leveza o pôr do sol, não me enchem de esperanças as boas atitudes... Não pensem que, apesar de mim e desse meu pessimimo, nada está sendo feito a respeito dos problemas humanos... Não... os sábios guardiões, zeladores incansáveis do bem e da evolução consciente que é oferecida ao seres, estão sempre atentos a cada detalhe... Há um chamado para que os humanos olhem e busquem a si mesmo, um chamado que quase sempre é ouvido, mas, propositalmente ignorado pela mioria, seja por descuido, seja por excesso de orgulho ou ignorância. Eu, embora sofra em meu mal-estar costumeiro,ainda assim procuro fazer algo a respeito... Talvez eu deva trocar meus óculos ou então mudar a posição usual pela qual vigio/avisto o planeta. Acho que uma cibercadeira giratória, na verdade, me cairia muito bem...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

DESOLAÇÃO



Guardarei o amor. Guardarei a saudade. Guardarei a dor...
No silêncio da noite, procuro me recompor e diante da tv esqueço-me de você.
O tempo vai passando. As crianças vão crescendo. E eu, aos poucos, vou morrendo...
É necessário que assim seja. Para que o pranto não perdure e o encanto não desvaneça.

***

Na ponta de uma caneta um pálido sentido; do impossível que insiste em ser dito.
Na televisão, as notícias de todo dia. Cansaço. Há no cotidiano um quê de desengano.
A chuva miúda cai lentamente e meus pensamentos se dispersam na estranha quietude de um tedioso fim de tarde.
O silêncio é o morador constante desta casa. Indisponho-me com a vida, mergulhando num louco sentimento de saudade de momentos não vividos.

***

Mas um dia se passa e eu aqui, de pé, à janela do meu quarto. Não há cantos de pássaros; nem de cigarras; não há murmúrio de vento em meio às árvores.
Desolação!
O silêncio que paira sobre a tarde só é cortado pelos arrufos de impaciência do homem que chega e se deita, inconsolável.
Logo a noite cai e então, o simples gesto de fechar a janela, pesa-me imensamente. Por fim a fecho e ela se fecha sobre mim como a tampa de um túmulo e tal qual um moribundo, dirijo-me à cama e deito-me também.

DECISÃO ADIADA


Francisco era um desses homens em cuja mente os bons pensamentos nem sempre fincavam raízes. Possuía um espírito débil, fragilizado por uma infância protegida e ao mesmo tempo, carente do carinho e amor tão necessários que só os pais conseguem dar nessa etapa da vida.
Já homem feito, uma loucura contida, quase imperceptível, se instalara em sua mente, adoecendo-lhe a alma e o coração, cobra enrodilhada, serpente malfazeja... Às vezes, lembrava-se do que dizia seu amigo Gaston sobre a mente: “O processo de funcionamento de nossa mente é ainda um mistério, mas, ouso compará-la a um castelo, devidamente projetado e arranjado para que dele possamos fazer o melhor uso, entretanto, o que fazemos? Ao não entendermos o processo de funcionamento e toda a sua vasta potencialidade; deixamos o castelo desprotegido, à mercê de toda espécie de invasores e sob as mais diversas influências, que acabam por dele se apoderarem, tornando-se então senhores absolutos”.
Bem, Francisco registrou esse modo de pensar, mas decididamente não o entendia. Processos mentais... Gaston e suas metáforas... Francamente, ele, Francisco, estava mais para prisioneiro do castelo do que o único senhor...
E foi assim que um dia, enfrentando a fila quilométrica do supermercado; irritado com a voz anasalada da esnobe atrás dele, teve um pensamento amalucado, para ele e talvez para muitos nem tanto assim, pois pensou naquilo com a naturalidade de quem diz que vai tomar banho ou preparar o jantar.
“Vou acabar com tudo... melhor assim, de hoje não passa... não agüento mais.... todo santo dia é a mesma coisa; as mesmas chateações... a mesma droga de vida... será que existe algo mais além de um dia atrás do outro? Pronto, está decidido, vou fazer isso assim que chegar em casa”....
Quem conhece Francisco (Chico para os íntimos) sabe de sua propensão para o drama... num instante, pronto... para ele uma situação boba vira um caos... um dramalhão...
Tá... conta paga, mercadorias embaladas, dirige-se ao carro. Pra sair do estacionamento... uma novela; pra escapar do trânsito.... uma vida... vida que logo deixaria... “iam ver”... era só chegar em casa... “ia chutar o balde de uma vez”... “mandar tudo pelos ares... pros quintos dos infernos...”
Mau-humorado estaciona o carro; passa pelo porteiro, sussurrando “boa noite” de forma não muito amigável.
Em frente ao apartamento procura a chave da porta no bolso da calça. Por pura falta de praticidade (ou seria preguiça mesmo), ele não a põe no chaveiro do carro, junto às outras... mas, “ah... está aqui... finalmente”.
Uma vez no conforto do lar pensa em como dar cabo de sua existência... “Bem, de qualquer modo, será melhor decidir isso de barriga cheia... é melhor preparar o jantar... daqui a pouco Ana Lúcia chega com as crianças... estarão famintas... mas, o que era mesmo que eu ia fazer?”
Pensando, vai à cozinha, abre o armário e tira uma taça de cristal onde serve o vinho francês, presente de Gaston, em seguida vai à geladeira e tira de lá o peixe que havia deixado de um dia pro outro, descansando em um molho com ervas, sal, limão e azeite de oliva, Francisco adora bancar o gourmet, para um preparo especial, afinal, esta será sua última refeição e “depois Ana Lúcia e as crianças vão adorar”... Quando todos estiverem dormindo, ele porá seu plano em ação... se existir vida após a morte vai sentir tantas saudades.... infelizmente, a vida é assim... eles ficarão bem...
Nisso, o telefone toca (é o Gaston). Ana Lúcia chega com as crianças; o almoço fica pronto e depois de assistirem, todos juntos, um pouco de televisão se preparam pra dormir... Isto feito, Francisco, já de madrugada, resolve fazer o que pensou o dia inteiro... então se levanta e vai até a cozinha beber água; abre a porta do banheiro... espera aí, ainda não havia decidido... “como ia ser? Se enforcar; cortar os pulsos? Enfiar uma faca no peito? Brrrr.... melhor se jogar pela janela...mas eles moram no primeiro andar, subir para o alto do prédio despertaria desconfianças do porteiro ou de qualquer outro que estivesse por ali, fosse chegando de uma farra ou fosse porque estivesse com insônia e Santo Deus... suicida que se preze, não pode ser interrompido... mas, pular?... ele ficaria todo amassado, irreconhecível... não... deve existir uma forma mais elegante”.
Sai do banheiro; vai para sala e espia pela janela... acende um cigarro e pensa... “o dia está quase amanhecendo... Há... já sei... veneno... veneno sim... é a solução ideal, mas qual? Tem que ser um que não provoque dor; quero estar bonito dentro do caixão. Assim que chegar ao escritório, vou fazer uma pesquisa na Internet. É... acho que vai fazer um belo dia... é melhor descansar um pouco antes de sair”.
Não demora muito, toca o despertador. Francisco acorda, vai para o banheiro, faz a barba, toma banho... sai do banheiro; entra no quarto, troca de roupa e segue para a cozinha... mesa do café posta; família reunida... que belo quadro!... Pensa Francisco, que então sorri; Francisco é feliz e ele sabe disso, nesses instantes de plena harmonia, então reconhece que há, na vida, algo mais além de um dia atrás do outro, nem sabe porque havia pensado em suicídio ...
Saem todos. À porta do prédio, Ana Lúcia e as crianças seguem juntas enquanto ele dirige-se só ao seu carro. Naquela bela manhã, fresca e luzidia, o sentimento gratificante é logo substituído pela irritação de um trânsito que não anda...; pedintes nos sinais... e o perigo de ser assaltado ou seqüestrado a qualquer hora, ou pior... assassinado... O inferno e as preocupações que permeiam uma grande cidade recomeçam e elas tomam conta da cabeça de Francisco “Será que Ana Lúcia e as crianças estão bem?”
Pega o celular e tenta ligar, mas logo é perturbado pelo estressado de trás... haja paciência e Francisco, diante do caos nosso de cada dia, é novamente assaltado pela vontade de desistir...
No escritório, atrasado, sobre a mesa, uma pilha de papéis... A pesquisa sobre venenos ficará para mais tarde, porém está decidido de hoje não passa... ainda hoje ele manda tudo pro inferno, inclusive a ele mesmo...
Saiu tarde do escritório... ainda bem que não precisava passar no supermercado... que trânsito caótico... tinha que chegar logo em casa e pesquisar sobre os venenos na Internet ou seria melhor comprar um livro sobre o assunto? Será que preparo frango ou carne? Devia ter perguntado a Ana Lúcia.
Francisco chega a casa pensando em sua pesquisa e no que fazer para o jantar. Irritado, estaciona o carro, dá um “boa noite” arrastado ao porteiro e sobe para o apartamento. Demora a encontrar a chave (estava no bolso de detrás da calça) mal entra, o telefone toca (não era o Gaston) era Ana Lúcia avisando que ia jantar com as crianças na casa da mãe... Pronto... Francisco tem muito tempo para se dedicar à sua pesquisa e fazer o que está há muito querendo fazer... mas é tão bom estar em casa... e agora que tem tempo de sobra, vai, antes, tirar uma soneca... dormiu tão pouco a noite passada... descansado poderá pensar melhor... “vou descansar aqui mesmo no sofá... quando acordar, entro na Internete... não... não .... de qualquer jeito, vou ter que preparar o jantar... acho que será mais fácil dar um pulo na livraria...”

quarta-feira, 7 de maio de 2008

INTELECTUAL?! QUEM?EU?!...



INTELECTUAL... Eis aí uma palavra pela qual não gosto de ser chamada; muito menos, definida. Incomoda-me profundamente. Não sou intelectual, nem literata.... Quando alguém possuidor de um vasto conhecimento ou muito “inteligente” quer elogiar outro alguém, chama-o de INTELECTUAL querendo este dizer com isso, que ele e o “elogiado” estão em um mesmo pé de igualdade em se tratando de inteligência ou os mais diversos interesses, incluído nessa diversidade a leitura como ponto de partida.. Assim, chamar outrem de INTELECTUAL é para o “amigo em questão”, o máximo dos elogios.
Bem, para um melhor esclarecimento, comecemos como começam tantos outros ao escreverem um artigo ou dar a sua opinião sobre qualquer assunto que, para maior efeito, exija-se primeiro uma clara definição, sem complicações... comecemos portanto, pelo dicionário, pejorativamente alcunhado de pai dos burros - e aqui faço uma ressalva; uma alcunha duplamente ofensiva já que para um dicionário (embora não seja uma criatura pensante) ser tachado dessa maneira diminui o seu valor enquanto livro de consultas, e, para quem a ele precisa recorrer, ser chamado de burro por causa disso é muito injusto, posto que nem todos nós somos tão burros assim...
Segundo o dicionário Aurélio; em edição revista e ampliada, INTELECTUAL é palavra originada do latim intellectuale, ou seja, relativo ao intelecto; ou seja, aquele que possui ou é, de modo predominante, predisposto aos dotes de espírito, de inteligência. Entretanto, aquele que se diz INTLECTUAL, aquele que se diz amante das coisas do espírito, nem sempre é um verdadeiro amante das coisas do espírito, nem sempre é simplesmente inteligente, no mais simples sentido da palavra, e nem sempre faz um bom uso dessa tão apregoada inteligência e conhecimento.
Clarice Lispector, uma de nossas maiores, delicadas mas, acima de tudo inteligentes escritoras não se considerava uma intelectual e quando alguém a chamava assim ela costumava dizer que não era não. Sua opinião sobre si mesma não era por modéstia e sim por achar que não fazia uso da inteligência. Usava a intuição, o instinto, mas a inteligência... Para Clarice, em sua crônica INTELECTUAL? NÃO. do livro APRENDENDO A VIVER (2004, Editora Rocco) um INTELECTUAL, em sua concepção, além de saber usar a inteligência, é detentor de uma vasta cultura. E é verdade... mas, às vezes, O INTLECTUAL despeja em cima de nossa ‘ignorância” a sua “vasta cultura” e “profundo conhecimento”, que mais parece uma central de informação, de tudo sem entretanto fazê-lo com a devida aplicação e sapiência, pois, certo é, que nem todo aquele que possui conhecimento possui sabedoria. Um sábio, diferentemente do intelectual, alia a inteligência do intelecto à intuição do espírito e ao instinto, colocando cada um, considerada as devidas proporções e naturezas, em seu devido contexto. Um sábio não precisa ser um intelectual ou disso ser chamado já que sabe empregar com sabedoria a inteligência e o conhecimento que tem. Ele aprendeu com o coração, e é exatamente aquilo que é.
INTELECTUAL? QUEM? EU? Eu não...! E se não sou intelectual, se não sou literata, então, afinal, o quê ou quem sou? Ainda não sei, mas, quero antes de tudo ser como Clarice que, descrita por suas próprias palavras é “uma pessoa que por vezes percebe, uma pessoa que pretende por em palavras um mundo ininteligível e palpável, mas sobretudo ser uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa da vida humana ou animal”.

terça-feira, 6 de maio de 2008


RALO ABAIXO: Um momento de distração.... e lá se foi a vida pelo ralo.

***

SOFREGUIDÃO: Sorvia a vida em altas doses e era tanta a pressa, que se engasgou...

***

GRAVIDEZ: Estava grávida... de idéias... e seu corpo inteiro, por dentro e por fora, da cabeça aos pés, era só aflição.

***

AVULSO: Fez uma grande bola de seus pensamentos e jogou-a na cesta... de lixo.

***
SOBRE HOMENS, CRÂNIOS E TIGRES: Do crânio esfacelado salta um tigre faminto.

***

VORACIDADE: O mar voraz vomita na praia os restos da refeição indigesta.

segunda-feira, 5 de maio de 2008


Ele podia não saber "como havia chegado até ali", mas eu sabia... Estava cansado da casa vazia, das noites insones, do abandono, da solidão, da loucura generalizada, da repetição dos dias... A indiferença, a desesperança, o desamor e o auto-engano foi o que, então, o levaram até ali, uma longa jornada... Primeiro um passo, depois outro, outro e mais outro... para ele não restava mais nada, apenas o asfalto, lá embaixo, só... às vezes, a vida, para alguns, não é apenas difícil, é extremamente insuportável... Primeiro um passo, depois outro e mais outro e ele, ignorante de tudo, mesmo dos motivos da própria morte, "nem sabia como havia chegado até ali"... mas, eu sabia... Primeiro um passo, depois outro, outro e mais outro...

domingo, 4 de maio de 2008

SOTURNO


KAMIKAZE

Uma certa tristeza no jeito de olhar trai a tranqüilidade que tenta passar. Impossível se controlar o desespero de uma alma sobrecarregada. O odor da bebida, no bafo quente é a dor que sai pelos poros em forma de suor.
Onde dói?
Doem os dentes; doem os olhos; doem os ouvidos; dói a mente...
****
Onde dói?
Dói a garganta; dói o peito; dói o coração; dói o pulmão...
****
Onde dói?
Dói a barriga; doem as pernas; doem os braços; doem as mãos; doem os pés...
****
Enfim,
Dói o corpo inteiro; dói a vida; dói a morte; dói a alma; dói o amor; dói a dor; 1;2; 3; inspirar; 1;2; 3; expirar; inspirar;expirar; devagar... para não enlouquecer. Se adiantasse - ou tivesse coragem!? - arrancaria a cabeça; se adiantasse - ou tivesse coragem!? – se faria em pedaços; se adiantasse - ou tivesse coragem !?- lançar-se-ia janela afora e se estatelaria no chão, lá embaixo, feito fruta madura que ninguém mais quer, cujo único e possível destino é apodrecer na solidão.
E uma vez, diante da tragédia consumada, a pergunta que todos se farão (será...?) será a mesma de sempre: “O que foi que aconteceu...!?”.
Como epitáfio, por piedade ou brincadeira, (que importa...;... quem se importa?) apenas uma frase escrita às pressas num velho pedaço de papel: “Aqui jaz um grandíssimo F.D.P. Perdôo a quem disser ou pensar o contrário”.

sábado, 3 de maio de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESEJOS - UM CONTO REGIONAL SOBRE O PODER MALÉFICO DA NEGRA SENHORA DAS ÁGUAS


Todo mundo estranhou o jeito calmo de Raimundo. Era sempre tão nervoso; tão ansioso. Trabalhava duro. Queria ficar rico. De tanta ambição, Raimundo começou a modificar-se. Quem te viu e quem te vê! Largou os amigos e só pensava na realização de seus desejos mundanos: casa bonita com piscina, viagens pro estrangeiro, carro do ano, mulheres e mais mulheres. Por isso é que estranharam quando Raimundo voltou a freqüentar o velho bar do Osmar, onde podia encontrar todos os fins de tarde aqueles que; um dia, começara a esquecer.
Chegou; lépido e festeiro, como quem havia tirado um enorme peso de cima dos ombros. Pediu sua cervejinha com um pratinho de tira-gosto e sentou-se à mesa junto aos outros.
“O que te aconteceu Raimundo. Não era hora de estares trabalhando?”.
“Que trabalho o quê João. Eu agora vivo assim, de cara pra lua ou pro sol. Não quero saber mais de nada. E olha, sabe a tua dívida...?”
“Eu sei Raimundo, que ainda te devo, mas pretendo pagar”...
“Espera, homem! Nem acabei de falar; pois bem, a tua dívida está perdoada. O que eu quero mesmo são meus amigos de volta, tomar as minhas cervejas e apreciar o pôr-do-sol. Enfim, sossego. Quero sossego. Amigos, eu estava à deriva. Não há nada pior que confundir os meios com o fim”.
“Mas, o que é que te deu?” Perguntaram os outros, a uma só voz”.
“Vou contar. Aconteceu algo fora de série comigo, mas ouçam, o acontecido pouco importa já que tudo é passível de acontecer. Importante mesmo é o significado desta aventura que me fez ver a vida com outros olhos. Prestem atenção e vejam se não é coisa de doido”.
“Outro dia, cansado de tanto trabalhar, arrumei minhas tralhas de pesca e sai na pequena lancha que uso para estas ocasiões. Saí meio que sem rumo, adoidado, não pra muito longe. Eu estava começando a ficar acabrunhado. Os negócios; que iam bem, me deixaram ranzinza, pesado, obsessivo e desalentado. Só pensava em fazer dinheiro e me divertir. Sentimentos ruins, mesquinhos, começaram a tomar conta de mim, - tanto é que me esqueci o quanto era bom estar aqui com vocês - mas, acreditem ou não lutava contra isso. Então, larguei tudo naquele dia. Parei a lancha no meio do rio. Acontece que não tive paciência para pescar. Acabei me recostando, puxei o chapéu e tirei uma soneca”.
“Quando acordei, já era tarde, mas me incomodei. Estava tudo calmo demais”.
“A noite caíra e a lua; de bubuia, lançava sobre a escuridão delicados fios de prata”.
Apesar deste quadro magnífico que a natureza me oferecia, tive medo, pois para mim, só havia escuridão; a escuridão da noite; a escuridão da água e a escuridão de meu coração, esta mais tenebrosa e profunda que as outras. Meu Deu como ansiava pelo sol! Súbito um banzeiro leve; depois outro mais forte, e em seguida, o que vi jamais vou esquecer. De dentro d’água uma enorme cobra preta se levantou; seus olhos possuíam uma luz sobrenatural; uma luz amarela; cegante; apavorante. Não acreditei...Eis que diante de mim surgia a Boiúna, com chifre e tudo. Tremia sem parar; nunca tive tanto medo na vida. Em questões de segundo; vi a cobra engolir a lua. Seria mesmo verdade aquilo que estava vendo?; Ou seria apenas um surpreendente sonho maléfico?; Julguei que estava ficando louco, porém, uma segunda ondulação me fez acreditar e subitamente; ela abriu a bocarra e me engoliu também, com lancha e tudo. Fui escorregando garganta abaixo, até, finalmente, perder a consciência”.
Dentro da barriga daquele ser hediondo, dormi o sono da morte, tranqüilo e eterno. Quanto tempo durará a eternidade? Um segundo, uma vida inteira? Não sei dizer; não sei também porque ela me vomitou. Talvez restasse em minha essência algum tempero nocivo para o seu não muito exigente paladar.
Fui lançado no fundo do rio, e quando voltei à superfície, percebi que para salvar minha vida teria que lutar. Foi aí que me lembrei do punhal de prata presente de meu avô, de lâmina mais que afiada. Rezei para as forças não me faltarem. Mas, como acabar com um bicho daquele tamanho?
Aproveitando-se deste ligeiro instante de indecisão, pois vocês todos são testemunhas de que não desenvolvi este mau hábito, a maldita me pegou no seu abraço mortal, senti os ossos estalarem e comecei a gemer de dor. Não conseguia reagir. Entretanto, para minha sorte, ela afrouxou o abraço e rapidamente, puxei o punhal de minha cintura. Estava novamente, bem próximo à sua boca e podia sentir seu hálito quente e pestilento. Um arrepio gelado percorreu minha espinha. Era ela ou eu, e é lógico que optei por mim. Sem vacilar, com a mão segurando firme o cabo do punhal, enterrei-o em sua garganta, em seguida um outro golpe, depois outro, outro, outro e mais outro... Subitamente, os olhos, esbugalhados, voltaram-se para mim; não fugi; não chorei; não temi ficar cego ou ser consumido vivo; por aquela maldita luz. Estava desesperado e queria apenas sobreviver. O silvo lancinante que soltou fez a floresta inteira tremer. Ao longe pude ouvir o revoar de pássaros e os urros dos animais amedrontados. A Boiúna largou-me no mesmo instante e num segundo desapareceu nas profundezas das águas. Do meio do rio, nadei feito um condenado, torcendo para que ela, mais que enfurecida, não retornasse disposta a uma vingança.
Ao alcançar a segurança da margem, caí, exausto de sono e de cansaço. Por fim, sobre esta estranha madrugada desceu nova quietação.
Na manhã seguinte, fui encontrado pelos meus empregados, que acharam que a pesca estava demorando demais. Acordei sentindo uma terrível dor de cabeça. Minha testa estava ferida e na mão ainda segurava o punhal.
Ao meu redor, tudo estava normal outra vez, mas não igual. O banzeiro, provocado pela passagem dos barcos, os botos nadando ao longo do rio, a arara vermelha atravessando o céu, os gritos dos macacos, perdendo-se à distância. Tudo estava normal, mas não igual. Eu havia travado uma batalha e conquistado um troféu, um troféu que eu não poderia levar pra casa para enfeitar a minha sala ou para exibir pros amigos. Era um troféu merecido, resultado de uma guerra particular travada dentro e fora de mim. Isso tudo porque passei, gerara um homem novo, filho do sol e da lua. Um guerreiro com forças suficientes para combater e matar o seu dragão. Acreditem ou não, eu lutara comigo mesmo, lutara contra os pérfidos sentimentos que queriam me possuir. Percebi que tudo aquilo pelo qual ansiava, se não tomasse cuidado!... Meus desejos eram como a grande cobra a me envolverem num abraço mortal. Acreditem ou não, resolvi dar-me uma chance e, graças a Deus, estou aqui, renascido; livre e feliz sob este novo céu, sob este novo sol, sob esta nova lua, bem distante da goela e da barriga escura e fedorenta dos meus desejos mais delirantes. 


Do livro Moronetá-Crõnicas Manauaras, Virgínia Allan, Editora Valer 

quinta-feira, 1 de maio de 2008

REFLEXÕES DE UMA ALIENIGENA SOBRE O INTRIGANTE COMPORTAMENTO DOS SERES HUMANOS PARTE III


“E para não dizerem que eu não falei das flores” ou que vivo por aí, de baixo astral,“arrastando correntes” apontando-lhes, com o dedo em riste, constantemente as suas imperfeições, vou, já que estou de bom-humor, mudar de assunto... vou hoje falar de milagres... pois é, quer queiram quer não, quer acreditem ou não, milagres acontecem... estou sendo otimista? Bom... vivendo na Terra, sob essa aparência humana, respirando esse ar abafado, não sou basicamente uma otimista de nascença, como diriam vocês, não sou eu uma otimista por natureza, mas, sim por opção (ou,seria, talvez, por necessidade?) e, tomando como minhas as palavras de um amigo meu, membro da mais alta cúpula planetária “é difícil ser pessimisticamente otimista ou otimisticamente pessimista”. Mas, justamente para que eu possa fazer meu trabalho da melhor forma possível devo eu me exercitar nessa maneira peculiar de ser feliz e ter esperança da qual se servem os humanos. “Em Roma aja como um romano” adaptando o ditado, “Em Terra aja como um terráqueo”... Olhemos, portanto, o lado bom das coisas... e depois é meu dever ir além de minhas próprias opiniões e expectativas. Devo estar aberto a outras formas de pensar e ver este mundo. Pois bem, retornando ao nosso assunto, os milagres têm uma razão para acontecer dentro desse contexto humano, os milagres exercem uma função, são um ensinamento, uma influência sobre os seres, tanto física quanto psíquica, esta principalmente, ao lhe proporcionar, apresentar alternativas de pensamento. Porém, aqui... cuidado! Pois, como tudo que sucede aos humanos, o “miraculoso” por ser um evento fortemente atrativo, possui efeitos colaterais quando usado ou pensado de forma aleatória ou indevida. Lembrem-se, os milagres só impressionam a quem quer ser impressionado ou, quando não, seu efeito sobre alguns outros é de pura zombaria, escárnio, completo cinismo diante do acontecido. Alguns outros ainda... alguns nada, muitos, aqueles tidos por aqui como os “mais espertos”, aproveitam-se da “boa fé” equivocada de seus irmãos em seu próprio beneficio. Mas, posso dizer, entretanto, que, em se tratando de milagres, reações emocionais ou automáticas, comuns nesses estados, partem não da essência, não do eu real, mas, sim de um outro “eu” que opera em segundo plano e que, ao cumprir devidamente a sua função, impede aos seres humanos de obterem a percepção exata da verdade, impede que estes seres simplesmente possam ir além do que estão. Do mundo de onde vim, cuja sabedoria milenar é passada e estudada desde os mais tenros anos, trouxe comigo a certeza no coração de que o verdadeiro saber reside não no apego ao eu, mas sim na devoção a verdade. Escutem... não quero bancar a mestra, a psicóloga, nem a psicanalista, muito menos lhes ensinar a pensar... longe de mim... longe de mim fazer um diagnóstico da raça... imaginem... Não sou uma depreciadora da inteligência sem limites, da qual todos os humanos são possuidores... Quem sou eu? Um grão de poeira na imensidade do Cosmos... Deixo tais julgamentos para os mais evoluídos, mas comecei estas conjecturas porque hoje acordei menos infeliz ou, se preferem, um pouco mais feliz e quis repartir... hoje não estou desesperada, nem amedrontada, nem carente, então, quis falar de milagres e de como eles são passíveis e “comuns”de acontecer... Eu não ligo muito para o “extraordinário”, não dou a ele mais importância do que realmente deve ter, de onde vim milagre acontece todo o dia, desde o momento em que se respira pela primeira até a última vez, fazem parte de minha rotina, do meu dia a dia. Eu considero quase tudo um milagre, é milagre para mim até o fato de continuar firme em minha missão apesar de todos os percalços ao longo da jornada. No entanto, aqui na Terra a reação perante o "inexplicável" é diferente, aqui, os milagres são acatados como raros, embora ultimamente, as estátuas que derramam lágrimas de sangue ou soltam óleos curativos, pessoas com visões ou em conversas privadas com Jesus ou a Virgem Maria sejam “milagres” quase corriqueiros. Vejam... Li outro dia o caso de uma mulher, em um vilarejo, no Peru, que foi dada pelos médicos como clinicamente morta devido às complicações de um câncer generalizado. Notícia dada aos familiares... desligamento dos aparelhos... Tudo pronto para o enterro... No dia do velório, os parentes e amigos, inconsoláveis, choravam copiosamente, ao lado do caixão, a sua perda. Uma tristeza...! Entretanto, eis que, de repente, em meio ao sufoco de mais um dia de pesar, por entre velas acesas, flores, terços, santinhos e rezas a mulher, subitamente, se levanta, assustada, porém, vivíssima, assombrando a todos que estavam ali presentes. Conclusão de tanto barulho... A mulher, que hoje leva uma vida normal, deu graças aos céus por ter escapado de um enterro prematuro, e, além de ressuscitar, estava totalmente curada de sua grave doença. A quem lhe indaga; curioso, a respeito do caso, ela diz somente que foi “tirar um cochilo”. Três vezes abençoada, ela pouco se importa com o apelido que lhe deram no vilarejo, “La Muerta”, embora seu nome original de batismo, mais sonoro e mais bonito, seja mesmo Felicidade... Felicidade... apenas isso... Felicidade... ela sabe o que é isso.

"Um operário parte de um monte de tijolos, sem significação especial senão serem tijolos para - sob a orientação de um construtor que por sua vez segue os cálculos de um engenheiro obediente ao projeto de um arquiteto - levantar uma casa. Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe nele beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução. Troquem-se tijolos por palavra, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia". 

(Vinícius de Moraes)

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...