Um corvo, um cobre

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

COTIDIANO


:(

Aconteceu de estar impaciente
A quentura do dia
Mal me deixa pensar
Logo a chuva cai
Logo o sol volta a esquentar
Cansa-me o cotidiano
De sorrisos impostados
E frases clichês
Eu mesma sinto-me uma impostora
Desprezando na vida
O que deveria/poderia me valer
Detalhes, pequenas coisas
Mas ainda assim importantes
As tristezas fazem parte
Mas não consigo me adequar
Por que não um pedaço do paraíso na terra?
Meu mundo se alarga e se estreita
Em questões de segundos
Sentimentos bipolares
Ligo a TV, desligo-a em seguida
As noticias são de arrepiar
Ou de matar
Treme a terra
Faz-se a guerra
Sofro em meu pensar
Pena de mim, não...
Do mundo em si
No fim de tudo
Quedo-me mudo!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

SÃO JORGE CELEBRADO POR ATTAR, O SÁBIO SUFI



Farid ud-Din Attar, “Elahi-Nâmeh” (O Livro Divino)
Tradução: André Sena

"Três vezes por entre fogo e sangue o pagão girava a roda sobre o corpo de Jorge.  Seu corpo despedaçou-se, pulverizado; e de sua poeira nasceu um jardim de tulipas. 

Em meio a este suplício e tormento, a Voz divina alcançou o supliciado 
através de um mensageiro celeste:

"Aquele que aspira e busca o Nosso amor não poderá beber vinho límpido 
e imaculado. Pois tal é a recompensa eterna dos que são Nossos amigos: a roda que lhes esmagará os sete membros.”

 Perguntou-se a Jorge:
"Homem, puro, desejas algo sobre esta terra?”

Ao que ele respondeu: “O que ora desejo é passar mais uma vez pelo suplício da roda e ter meus membros rompidos afim de que a Voz divina me alcance ainda uma segunda vez, pois Deus prescreveu todas estas penas a minha alma para caminhar ao meu lado em amizade.

Não reconheces em absoluto a grandiosidade dos amigos d’Ele, 
pois levas uma vida descuidada. Sê tu alguém que cultiva Sua amizade,
ou então coloca-te na fileira dos amigos 
de Seus amigos.”


*** 

quarta-feira, 21 de abril de 2010

GATO VADIO




Largado no sofá 
A porta aberta de par em par
A luz do poste me alumia

A noite é fria

Eu... as sobras do jantar
Nada a pensar
Sem chances, sem sonhos, amor
Já tenho a minha dor

A noite é fria

Atrás do ser, o que posso fazer
Na mesa, a garrafa de vinho, quase vazia
A taça virada, o cigarro apagado
São fiéis companhias

A noite é fria

Gato sem dono, vadio
Saio a pé pela cidade
Arrastando a minha agonia

A noite é fria

Lamento e curo a solidão 
Cantando pra lua a canção
Que era tua
Saiba apenas, querida

A noite é fria

Procuro lugar nos terrenos baldios
Nos becos sombrios
Por cima dos muros
Desligado da ilusão

Ahh... a noite é fria, coração

domingo, 18 de abril de 2010

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-CARMEM DOIDA

CARMEM DOIDA


 Mady Benzecry



Carmem-doida! Gritava
a criançada da antiga
praça da prefeitura,
a Carmem-doida endoidava
mandava banana pra todos,
cuspia a dentadura
xingava a mãe e a família
da garotada e berrava
os piores palavrões...

Carmem-doida! E a tua mãe,
está no hospício também?
"No céu! Seus mizerentos
rebentos do Satanás,
na paz do Senhô, ela está!"
E ia ao "Juizado
de Menores" se queixar!

"Seu juiz, não é prussive,
tanta, tanta bandalheira,
eu sou muié de respeito
e não ardimito brincadeira!
A gente tem de acabá
com esses moleque de rua,
já é a quinta dentadura
que eles me faz quebrá,
entonces esta, foi cara,
ganhei ela de natar
e tinha um dente de ouro
bem na frente, seu dotô
eles tem de me pagá!"

E lá se iam dois guardas
a garotada autuar...

Um dia, foi no Natal
uma "vaquinha" correu
na praça da prefeitura
e Carmem-doida ganhou
um presente dos meninos
com cinco dentes de ouro
uma nova dentadura!
E desde então Carmem-doida,
muito mais doida, ficou...

(Mady Benzecry [1] In: Sarandalhas, 1967)

****

O que foi feito de Carmem doida...?! A famosa louca que andava solta, nua ou enfeitada, pelas ruas da cidade, a vagar solitária por tão incompreensíveis e estreitos caminhos de sua mente em torvelinho?
Guardo comigo uma única lembrança de Carmem doida, uma lembrança dolorosamente nítida, que encheu-me de terror nos meus tempos de criança. Descobri como alguns seres humanos podem ser apenas carcaças sem compaixão; desprovidos da centelha de luz divina que ilumina e aquece o espírito, um poço de pura e total escuridão.
Carmem Doida costumava vir muito ao nosso bairro; especialmente a nossa rua, pois, muitas vezes ia à casa de G. C. onde sua esposa, sempre a sua revelia, lhe preparava um prato de comida. Carmem Doida, após saborear a comida e beber um copo de água, lá se ia, contente da vida, ladeira cima. Nós, crianças, ficávamos quietinhas, olhando aquela pobre moça, ainda jovem, tão perdida.
Um dia, para desprazer de todos o velho G. feito o ”ogro” dos contos infantis, chegou quando ninguém o esperava, surpreendendo a esposa no generoso ato de “repartir o pão”, como reza o ensinamento cristão.
O homem sem dó nem piedade, bateu em Carmem Doida com as próprias mãos, aplicando-lhe socos e pontapés. Era tamanha a sua fúria, que ninguém ousou defender a pobre louca e impressionou-me tanto, que eu nunca mais a esqueci. Até hoje me recordo da cena de violência explicita e gratuita. Carmem doida, já tão surrada pela vida, não suportou mais este desacato e  desapareceu, sumiu para sempre do bairro assim como também de nossas vidas e eu, nunca mais soube o que lhe aconteceu.    

<3

Bairro de São Geraldo_ Uma História em Duas Conjugações_Passado e Presente_Virgínia Allan, Edições Governo do Estado        


[1] Mady Benoliel Benzecry, poetisa, nasceu em Manaus em 19 de Fevereiro de 1933, no seio de uma família tradicional do Estado do Amazonas. Viveu por muitos anos no Rio de Janeiro; onde se dedicava, junto com seu marido, o entalhador pernambucano Eugênio Carlos Batista, as artes plásticas. Deixou duas obras publicadas: De Todos os Crepúsculos (1964) e Sarandalhas (1967), sendo, ambos os livros ilustrados pelo pintor Moacir Andrade. Mady Benoliel Benzecry veio a falecer no dia 11 de Julho de 2003

 
### 

CARMEM DOIDA 
por Moysés Arruda  


"Era uma mulher alta, magra, morena, olhos esprimidos, dos quais saíam ou faíscas de ódio ou uma tristeza cinza orvalhada. Gostava de dançar na rua, sozinha, infensa à curiosidade dos transeuntes."

O ódio nascia da provocação dos estudantes, que eram os principais autores do sobrenome indesejado: "Carmen Doida!" A resposta era imediata, furiosa e em forma de insultos diversos, normalmente atingindo a genitora dos interlocutores. "É a tua mãe, filha da putinha, vagabundo." E voltava à sua dança. Se a ofensa persistia, Carmen partia para a pedrada ou para a perseguição, e os estudantes tratavam de se safar como podiam. Sorte deles que sua indignação era passageira e o seu desejo de dançar era maior.

Na verdade, a atitude dos estudantes era uma vingança contra um hábito de Carmen. Ela não podia ver um casal de namorados entregue aos carinhos que logo falava aos berros: "Tapa, tapa logo!", ao mesmo tempo que fazia gestos obscenos. O incentivo servia de denúncia ao público e constrangimento ao casal. Carregava consigo um saco de estopa, que era jogado ao chão nos momentos de raiva. Porém, nas recordações da minha mãe e de outros, sua loucura não era uma ameaça a ninguém em momentos de normalidade, embora sua figura fosse usada pelos pais para garantir a disciplina das crianças. Carmen perambulava por toda a cidade, sempre que conseguia escapar do manicômio do bairro de Flores.

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Fonte: Mello, Thiago de. Manaus, amor e memória. Philobiblion, 1984. Foram úteis também os depoimentos no Blog do Rogelio Casado rogeliocasado.blogspot.com  Aproveito para parabenizar o autor do blog pelo magnífico trabalho na área da saúde mental que realiza em Manaus.  Agradeço a poetisa Rosa Clement pela permissão de reproduzir aqui o fruto do seu trabalho de pesquisa.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

SAYONARA

 Arabic_woman


"É saudade então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mias perfeito que se fez: 
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três"
(Legião Urbana)

***








Um conto de Gian Danton



<3


A verdade é que nem me lembro ao certo de quando a vi pela primeira vez. O que me recordo é de uma tarde cinzenta, com nuvens escuras no céu, anunciando a chuva. 

Estava andando pelas ruas movimentadas do centro quando a vi em meio a multidão. As vestes árabes cobriam todo o corpo e escondiam a maior parte do rosto. Passaram-se apenas alguns segundos antes que eu a perdesse de vista, mas foi como se ritmo das coisas tivesse se alterado. Como se um único segundo durasse todo um século. Diante dela, até mesmo os pássaros do céu pareciam movimentar-se lentamente. Abriam e fechavam vagarosamente as asas, e lançavam através das nuvens um pio estridente que se perdia no horizonte. 

Inclinei a cabeça para o lado e a acompanhei com os olhos até que desaparecesse na multidão de cabeças anônimas. Só então o mundo voltou ao normal.

Mas não eu.

Não dormi naquela noite e nem nas seguintes. Mergulhei numa orgia de vinhos e jogos. Durante o dia, tendo os sentidos enevoados pelo sono e pela bebida, caminhava trôpego até a mesquita e permanecia lá, em estado de completa letargia. Era perseguido por um mal que perseguia desde o nascimento. Eu tinha medo. Não de fantasmas, bandidos, armas ou feras...

Eu tinha medo de gente.

Desde a mais tenra idade eu fugia delas. Evitava multidões, e, corria de aglomerações. Colocaram-me num colégio interno.

Foi na época da expansão cultural árabe. A religião de Mohammed se espalhava pelo mundo através de missionários e crescia com a mesma rapidez com que suas mesquitas eram construídas. A Amazônia, última área verde do planeta, oferecia grande campo de difusão. Assim, os minaretes despontavam por entre as árvores...

Apesar disso, meus pais decidiram me internar num colégio tradicional, de fé católica. Antes não o fizessem. Os outros alunos me repugnavam. Eu permanecia em minha carteira, no canto mais escondido da sala, remoendo considerações sobre algum detalhe novo no solo. Uma minúscula formiga era o bastante para despertar minha atenção por longos minutos.

Qualquer tentativa de aproximação dos outros internos se revelava infrutífera. Era como se não existissem.

Esse comportamento, evidentemente, despertou a atenção daqueles que fazem do sofrimento alheio a sua própria alegria. Tornei-me alvo de brincadeiras e insultos que me magoavam profundamente quando meu estado de torpor me permitia percebê-los.

Comecei, então, a acreditar que todos que se aproximavam de mim tinham a mesma intenção e me afastei mais completamente de todos.

Passei vários anos assim, apartado do mundo, mergulhado nos livros, até que a morte súbita de meu pai e, posteriormente, de minha mãe, me levassem a assumir a herança.

Comprei uma velha casa de dois andares e me enfurnei nela. Amava a noite pela sua solidão e odiava o dia. Ganhei com isso um horror doentio ao sol. O dia e eu convivíamos apenas quando nuvens escuras escondiam o astro-rei, como naquele em que encontrei Sayonara.

Esse era seu nome. Visitei vários dias a Mesquita, até que ouvisse chamá-la pelo nome. Vislumbrei seus dedos brancos, pequenos e finos manipulando uma espécie de terço. Calculei a branquitude do corpo por debaixo das roupas. Extasiei-me com seus cabelos quase loiros e lisos, que eu entrevia por debaixo do véu. Gastei nisso uma semana, observando-a, indiferente ao que acontecia à minha volta. Só então reuni coragem para falar-lhe.

Como descrever o que vi? Como dar idéia dos sentimentos que me arrebatavam enquanto eu ouvia sua voz fina, quase infantil?

Seu jeito meigo, seus gestos suaves, mas firmes... como descrevê-los?
Passava os dias assim, observando-a rezar o terço de osso de camelo incrustado de pequenas pedras douradas, que seguiam nas mais variadas direções, compondo desenhos geométricos de incrível beleza. 

Dominado pelo mal que me assolava, passei a ver naquele conjunto de pedras a própria essência de Sayonara.

Dormia pouco de noite. Passava as noites cambaleando pelos bares, sentado nos cantos mais escuros e úmidos, degustando vinho plebeu em canecas de ferro que pareciam nunca ter visto água.

Foi numa dessas noites que ela me encontrou. O chão de pedras reboou os passos de suas botas de couro com pontas finas. Ela andou até o balcão e resmungou algo para o atendente. Pegou, então, uma caneca com os dedos finos e brancos e me olhou. Segundos depois a calça jeans apertada roçava a cadeira ao meu lado. Ela se inclinou - a camisa preta revelando um tórax tão ou mais branco que os dedos, e disse algo.

O álcool tinha galopado pelo meu sangue na direção do cérebro. Com efeito, tudo que minha maldita memória me permitia recordar é de seus olhos injetados de sangue. Pareciam olhos velhos. Velhos como o mundo... como se tivessem presenciado todas as desgraças de todos os tempos: os horrores da guerra dos cem anos, a morte dos inocentes na Revolução Francesa, o massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Olhos velhos e cansados...

Parecia ouvir uma canção, vinda sabe Deus de onde:

"Uma nuvem encobre o céu, uma sombra envolve o seu olhar.
Você olha ao seu redor e acha melhor parar de olhar.
São olhos iguais aos seus, iguais ao céu ao seu redor..."

Algumas canecas de vinho depois; perdi a consciência. Acordei num quarto escuro e ela ao meu lado. Ficamos abraçados, sentindo a pele um do outro: sua epiderme conseguia ser ainda mais branca que a minha, fazendo crer que o sol jamais a havia maculado.

Por todo o resto da noite mergulhamos um no outro. Fizemos tudo que a torpeza do álcool nos permitia, ou nos exigia. Em pouco tempo, não diferenciava o meu corpo do dela. Escorria como mercúrio pela sua pele alva, seus seios pequenos, seus cabelos lisos brancos iluminados pela luz mórbida de uma vela...

Acordei no dia seguinte com o estômago embrulhado, a cabeça martelando e um gosto de ácido na boca. Depois de uma longa caminhada, cheguei em minha casa e despenquei sobre uma poltrona. Fiquei lá, sem coragem para me levantar. Pensava em Sayonara, e na outra, da qual não sabia nem mesmo o nome...

O vinho arrancou de mim todo e qualquer remorso pela traição. Continuei visitando Sayonara de dia, ouvindo sua voz fina de criança, deliciando-me com seu jeito virginal...

Amava Sayonara de dia e me encontrava com a outra de noite. Dividia minha paixão entre as duas: a beleza infantil de uma na aurora e a segurança e a sensualidade de outra ao crepúsculo. Esta fazia de mim um objeto de seus prazeres. Dominava-me por completo e desaparecia antes que o sol nascesse, deixando-me completamente exausto e bêbado.

O tempo se encarregou de ir tornando essa relação ainda mais doentia. Quis fugir. Entrava nos bares mais escondidos, nos locais mais obscuros... mas ela sempre me achava.

Como um viciado, que não pode prescindir de seu próprio veneno, eu a seguia... e terminávamos as noites, inevitavelmente, em orgias descontroladas.

Uma noite resolvi não sair, estava decidido a resistir. No céu uma tempestade se formava com imensas nuvens de chuva juntando-se em grandes trovões que retumbavam nos alicerces do casarão. Um vento forte uivava, fazendo com que as árvores sacudissem violentamente seus galhos.

Um barulho metálico chamou minha atenção. Era ela que, de alguma maneira, abria a porta. Perseguia-me!

Um relâmpago entrou pela janela e iluminou seu rosto branco, as pequenas rugas nos cantos dos olhos injetados de sangue, os lábios quase transparentes...

Então o ódio se apossou de minha alma. Lembrei de Sayonara, do seu jeito angelical, do amor puro que sentia por ela, e envolvi o pescoço da outra com meus dedos trêmulos. Ela tentou lutar, agitou os braços, escorregou. Seus olhos ficaram ainda mais injetados de sangue. Depois cedeu, deixando cair os braços ao longo do corpo. Antes de morrer ela me lançou um último olhar de carinho...

Seu corpo  amoleceu e eu o segurei. Foi quando meus dedos tocaram em algo no bolso de sua calça, pequenas protuberâncias...  Nervoso, retirei o objeto... Era o terço, o terço de Sayonara, incrustado de pedrinhas douradas. Olhei para o corpo em meus braços e vi nele a expressão virginal de Sayonara, os dedos pequenos, a pele branca... 

Só então compreendi!

Envolvi-a com meus braços e depositei em seus lábios um último beijo de adeus...

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Em nome dos velhos tempos e de uma bela amizade que se perdeu (V. A)


quinta-feira, 15 de abril de 2010

A ESTAÇÃO




A estação estava ali há muito tempo, há tanto tempo que o povo já nem a notava mais. A cidade crescera ao seu redor, e ela acolheu-a, feito uma mãe protetora. 
Todo dia, na pressa de tomarem o trem, nas tarefas do cotidiano, poucos reparavam na monumental beleza de suas estruturas ou no grande relógio que marcava o lento / veloz passar das horas. 
A vida, com todos os seus dramas e comédias, era em grande parte, encenada ali, tendo como palco a barulhenta plataforma ou as amplas galerias.
Nas paredes, cartazes com anúncios de filme, teatro ou qualquer outro tipo de propaganda, despertavam na mente uma outra memória. Personagens dentro de personagens... mas que em nada diferiam uns dos outros, e, que, na maior parte do tempo, pensam e agem de forma igual uns aos outros, sem darem-se conta, achando, enfim, que são, ou estão, agindo de um modo diferente... desvios de pensamento, desvios de conduta, que os impedem de fazer bom uso de qualquer coisa, inclusive das coisas que entendem ou pensam entender. Fingem e esquecem que estão fingindo, e assim podem negar tudo conscientemente, sem culpa.     
Por ali se via de tudo, toda esta gente, todos estes seres, simulacros de si mesmos: os assustados, os arrogantes que nunca reconheciam sua própria arrogância; homens e mulheres de negócios, que adoram chamar por outros nomes seu egoísmo e ambição; os apaixonados e os iludidos, que depositam no amante ou no objeto de sua paixão ou ilusão, suas maiores perspectivas, os tolos e os ignorantes, que com o passar do tempo tornam-se mais tolos ainda, os fracos, os suicidas, descrentes de si mesmos e da vida, não poucos já se lançaram em seus trilhos... os loucos furiosos, que escondem sob uma aparente calma, todo o seu ódio mortal ao mundo e a todas as coisas... os sem-teto, os sonhadores, os bandidos, os facínoras... os doentes da alma, da cabeça e do coração, e a estação, como uma mãe, aceita a todos, sem distinção.  
Mas, logo os dignitários da cidade pensaram em pô-la abaixo....   a estação já dera o que tinha de dar, afinal “o progresso caminha a passos largos”. Nem levaram em conta o tempo de serviços prestados, nem sua orgulhosa beleza antiga... para eles era apenas um prédio velho, de paredes gastas e escurecidas, precisando urgentemente de reparos.
Começaram pelos portões... pesados portões de ferro, cheios de história... Quando a primeira parte do prédio caiu, ninguém do povo protestou, mas, o barulho da queda, ecoou em suas mentes e seus corações e debaixo dos escombros, sob as camadas cinzentas que há muito se pregaram nas paredes; viram uma outra parede, de um reluzente mármore rosa, tão belo, tão singelo...
De repente, deram-se conta do que fizeram; um prédio carregado de vida e memória não poderia ser destruído dessa forma e então os protestos vieram de todas as partes... e os dignitários, os “manda-chuvas”, foram obrigados a pararem com a demolição e o velho e o novo se misturaram na estação, sempre sob o passar lento / veloz passar das horas... mas, algo na estação estava diferente e com alegria ou pesar, se dirigia a ela, a gente do povo da cidade... pois agora, alguns, quando lá entravam, parece que despertavam de um sono agitado.
Algumas vezes, encontravam-se em meio a situações que lhe davam sensações de “deja-vu”. Outros viam-se a si mesmos, como em um espelho de dois lados, outros ainda perdiam-se em conversas com fantasmas do passado que por um momento, tornavam-se vivos e presentes, ou então eles é que se transportavam do presente ao passado ou ao futuro e viam-se jovens demais ou velhos demais ou, eram eles os fantasmas.... uma espécie de encontros às avessas consigo mesmo; na estação, passado, presente e futuro se confundiam... eram um...
Àqueles que descobriam uma forma de adentrar e desfazer esse mistério, acabavam por obter o controle da própria vida, mas os que não conseguiam ficavam nas sombras de suas ruínas, no limiar do passado e do presente, sem expectativas do futuro, e cegos, sem descobrirem uma direção, acabavam nos trilhos... e havia os que faziam da estação um local de culto e da feita que entravam custavam a sair, e muitos nunca saiam.
O trem esperava o tempo necessário e quando partia deixava nos desesperados, nos vorazes, a sensação de desengano, e eles buscavam ir para bem longe da estação para não ter que ouvir o apito do trem, pois quando parasse e abrisse suas portas, sabiam que não poderiam entrar e partir, já que sempre estavam adiantados demais ou atrasados demais. Por causa disso, estes eram a favor de se continuar com a demolição, a estação precisava ter fim... Mas a estação não atendia a ambição dos seres comuns e desgovernados, e assim continuou em seu lugar, como uma mãe, obedecendo a propósitos que a poucos eram dados a conhecer...    

MAIAKOVSKY


Maiakovsky_by_Repin

<3

Era uma vez um poeta. 
Um dia, cansado da vida, serviu-se do veneno da amargura em uma taça de tristeza. 
Um balaço na cabeça, foi seu último poema.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

PESCADOR DE ESTRELAS





Recolho, na penumbra da noite, 
os peixes solitários que teimam 
em subir à superfície da água... 
Minha rede é de fios de ouro e de prata, 
e tão leve e breve que substitui as palavras, que,
enfim, não precisam ser pronunciadas
O silencio me dita o que fazer e por onde ir
A lua olha-me distante...?! O que é distante? 
O céu, negro mar, coberto de estrelas brilhantes
e, tão antigas, são artífices de sonhos... 
Vou de mar em mar, de rio em rio à cata de peixe, 
Mas, meu sonho é pescar estrelas




domingo, 11 de abril de 2010

BELA PAISAGEM, TRISTE EPITÁFIO





Chamo
Ninguém responde
Debaixo de terras e escombros
O mundo se esconde

Vidas soterradas
Num instante
Por abandono
Por indiferença
Choros estancados a força
No peito
Nem deu tempo de gritar
Veio com força a avalanche

Acabou-se
Num instante
Morreu
Tudo morreu
Inclusive a esperança
De dias melhores
Nada com que se preocupar
Enfim, o descanso  


sábado, 10 de abril de 2010

FASTIO





Fastio do mundo
Casa trancada
Paredes cheias de frestas
Rotas estão portas e janelas

Há dias o sol não aparece
Há dias só vejo o escuro da noite
Que nunca desaparece
Há soluços, nunca soluções


Perco tempo a chorar
Pelas árvores desfolhadas
Perco tempo a chorar pelas estrelas cadentes
Meu fastio de tudo
Leva-me a crer no fim do mundo

Por que tanta fragilidade?
Por que deixo abater-me pelas dificuldades?
Há soluções e não apenas soluços...
Mas sento-me, encolhido em um canto 
E nem disfarço a insatisfação

sexta-feira, 9 de abril de 2010

YouTube - I believe in miracles (subtitulos en español)







I Believe In Miracles
Ramones
Composição: Dee Dee Ramone / Daniel Rey

I Believe In Miracles

I used to be on an endless run
Believe in miracles 'cause I'm one
I've been blessed with the power to survive
After all these years I'm still alive
I'm out here cookin' with the band
I'm no longer a solitary man
Every day my time runs out
Lived like a fool, that's what I was about, oh
I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Oh, I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Tattoo your name on my arm
I always said my girl's my good luck charm
If she could find a reason to forgive
Then I could find a reason to live
I used to be on an endless run
Believe in miracles 'cause I'm one
I've have been blessed with the power to survive
After all these years I'm still alive, oh
I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Oh, I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
I close my eyes and think how it might be
The future's here today
It's not too late
It's not too late, yeah!
I believe in miracles
I believe in a better world for me and you
Oh, I believe in miracles I believe in a better world for me and you
Alright

^^

Eu Acredito Em Milagres

Eu costumava estar numa busca sem fim
Acredito em milagres, pois eu sou único
Eu fui abençoado com o poder de sobreviver
E, após todos esses anos, eu ainda estou vivo
Estou longe daqui, detonando com minha banda
Não sou mais um cara solitário
A cada dia que passa, meu tempo diminui
Vivi como um tolo era isso que eu era
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Eu acredito em milagres
Eu acredito em um mundo melhor para mim e para você.
Tatuei seu nome em meu braço
Eu sempre disse que minha garota é um sinal de boa sorte
Se ela pode arrumar um motivo para perdoar
Então eu posso arrumar um motivo pra viver
Eu costumava estar numa busca sem fim
Acredite em milagres, pois eu sou um
Eu fui abençoado com o poder de sobreviver
E, após todos esses anos, eu ainda estou vivo
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Eu fecho meus olhos e penso em como as coisas podem ser
O futuro é aqui, hoje Não é tarde demais
Ainda não é tarde demais, yeah!
E eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Eu acredito em milagres
E eu acredito num mundo melhor, pra mim e pra você
Corretamente

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...