Um corvo, um cobre

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domingo, 28 de fevereiro de 2010

ABSINTO




Subversivo é o meu pensar...
Suspiro/respiro
Concentro sonhos em uma garrafa de absinto
Açúcar e láudano pra refrear a dor

Treme em meu rosto um sorriso furtivo
Viva o absinto!
Agora, apenas a “fada verde” me consola
e mais que qualquer droga ajuda-me a des/afogar a solidão

A noite é suave e melancólica...
A lua se esconde na nuvem mais próxima...
Sob o efeito do absinto
Só tu e eu existimos
E entre uma e outra dose do licor
Vou me perdendo/enganando de amor

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

MINHA NOITE NA TAVERNA



Tenho sono!
Procuro descanso no contorno crescente da lua
O cântaro está vazio
O vinho derramado, desperdiçado sobre a mesa
escorreu e misturou-se a água esparramada no chão
Esquecido de mim, te procuro... um rosto por trás do véu...

Mas, meus amigos já se foram ou adormeceram
A taverna está solitária
E a rua deserta

Nem o jovem servente resistiu ao cansaço
Acobertado pela escuridão
Agarrou-se a noite sem estrelas
E por uns instantes pediu...
Silencio!




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS



 Cabeça de velho 
(Candido Portinari)


Dizem que o lar de um homem é onde está seu coração. Mas onde está meu coração? Já não sei... Porém, de onde estou posso ver o céu... melancólico, tristonho... Nenhum vestígio de sol, nenhuma prece a se estender sobre o veludo azul celeste, agora acinzentado, em que passam nuvens arrastadas, carregadas d’água...Tudo me parece velado, distante, estranho... quase um sonho e sinto a tristeza a pairar no espaço feito grande pássaro agoniado de asas largas, abertas, medonhas, infinitas... tão sombrias... a acolher ao seio os contos desfeitos e as agruras comprimidas de mais um dia. "Dois pesos, duas medidas"... lida cotidiana... leviana. Impressiona-me o silencio! Não mais ouço a tua voz... E longe vai a ânsia de te encontrar, sobrevoar o porto, cruzar o mar e descansar no cimo do monte bem perto de teu olhar. Deixar na curva do rio o cansaço, também o rosário e a oração que desfiava em horas de aflição. Absorto em meu pensar, procuro ar... um relâmpago corta devagar a amplidão do céu, entorpece-me a escuridão... sinto olhos a me observarem no escuro, tenho estranhas sensações, fantasmagóricas visões... Porém, imperturbável, deito minha cabeça no travesseiro e durmo o sono dos justos. Meus pecados vão ficando pelo caminho minhas faltas, aceito-as, como prerrogativa de redenção.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

INTERLÚDIO



Fugiram-me as palavras
Amanheci vazia de idéias
Vazia de tudo...
Prodiga em abandonos
Pobre de esperanças

Balouçante, vacilante 
O apanhador de sonhos
Vigia-me do teto

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

EM SUSPENSO... LONGA ESPERA...




Enquanto espero, faço versos, 
mas a noite também é longa e eu me canso... 
Deito-me em um chão de estrelas 
e me aconchego com a lua... 
Perdemo-nos, ela e eu, noite adentro... 
alheios ao caminho, como dois bêbados 
abandonados à própria sorte, que em sua necedade, 
vão pregando verdades absolutas e eternas, 
para paus e pedras e velhos lapidados muros...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SEM PRETENSÃO




Monótonas paragens
Remotas paisagens
Lúgubres pensamentos
Ternos sentimentos
Tristeza no falar
Incerteza no andar
Desgosto no olhar
Onde está a alegria?
Onde dorme a poesia?
Retira-se a fantasia
Consome-se o pranto
Desfaz-se o encanto
Onde está o sábio chinês
Que me disse uma vez
Dorme a fera
Dentro da bela
Ou será a bela
que dorme dentro da fera?
Tudo não passa
De mera fábula
Uma nuvem
Uma quimera
Quem me dera
Perceber a ilusão
Por trás das coisas
Perceber a ilusão
Por trás de tudo
O tempo passa
Os rostos envelhecem
Os sonhos morrem
Desaparecem
Nada permanece

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

DEPOIS DO CARNAVAL...

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Foi depois do carnaval... Tantos sonhos, tantos planos... mas, apenas para depois do carnaval; depois do carnaval tudo seria diferente. Pedro iria mudar de vida. Tinha para isso um bom motivo... dinheiro guardado no banco, poderia viver bem em qualquer lugar... recomeçar e se possível, com ela ao lado, a sua “branquinha”. Por ora, nada com que se preocupar... logo o baile vai começar e seria sua despedida... despedida do Pedro folgado, mundano, despedida de sua rotina de malandragem, despedida do desamor... 

Quem não gostou nada da história, foi a mulata Valmira... que vivia com fogo nos olhos e no corpo carnudo que ele, Pedro., já não queria mais desfrutar. Mulata Valmira, agora era  só consumição, possuída apenas pelo ódio... ódio de tudo: dos comentários, dos risinhos debochados, do pouco caso dele, de Pedro. “Se ele pensava que ia ser fácil  sair assim”... ah... não perdia por esperar...

Valmira. era paciente e determinada.  Não abriria mão de Pedro. seu único e verdadeiro amor... e não seria uma “branquela, azeda e magricela” que iria roubá-lo, levá-lo dali... pra longe do seu colo quente e dos seus afagos. Não... isso não seria tão fácil assim...          

Pedro, voltou pra casa de manhã e, cambaleando, foi direto para a cama. Sem despir a fantasia, e ainda coberto de purpurina e confete, acendeu um cigarro e ficou devaneando... devaneando, fechou os olhos, devaneando deixou o cigarro aceso cair... Em seu devaneio, viu V. se aproximar, com fogo nos olhos... num instante, cresceram as chamas no seu olhar e pularam na cama e as labaredas não demoraram a tomar conta do quarto e do corpo de Pedro. Subitamente,  a casa inteira, ardia, num fogo crescente e destruidor.

Pedro, em seus últimos momentos, não soube distinguir o sonho da realidade... achou que sonhava e enquanto era devorado pelas chamas, pensava em sua branquinha e em sua nova vida e V. iria entender...

No clamor que se seguiu do lado de fora, apenas Valmira. permanecia insensível, com o filho nos braços. Sem lágrimas, viu a casa de sua família desaparecer para sempre, levando com ela o seu grande e único amor... “que descuidado.... imagina, dormir segurando um cigarro... aceso, ainda por cima... Oxalá, meu pai... Pedro pensou o quê?; pensou que seria fácil assim? iria me deixar assim, sem mais?... Tudo o que Deus faz é bem-feito... muito bem-feito... não existe ditado mais justo”.

Pedro realmente mudou de vida, mas não de acordo com suas expectativas. E o dinheiro guardado no banco serviu apenas para lhe financiar as despesas... as despesas que tiveram de fazer para o seu enterro.

Ironicamente, Pedro, morreu como viveu; vestido de fantasia, coberto de confete e purpurina, perdido entre os limites da realidade e do sonho... mas, o fogo, vermelho, violento e brilhante, não deixou que ninguém o percebesse.    

O INFERNO POR HERANÇA ÀS NOSSAS CRIANÇAS


Por vezes meu coração oscila entre a intranqüilidade e a desesperança. Doem as lembranças. Descrença. Como ser feliz e são num mundo corrompido, entristecido, onde jogamos às feras nossos filhos, sem qualquer cuidado ou emoção, sem direção, abandonando-os à própria sorte, desde o nascimento até a morte. Só vejo um lado das questões? Acho que não... Nos olhos da criança humilhada, ultrajada, o pavor, a perda da inocência espalhada, espelhada nos sentimentos indizíveis, intraduzíveis para o entendimento do mundo. Tremem as mãos... teme-se a ação... vacila a intenção... Os danos e perdas são terríveis, irreparáveis, mas, que fazer? A culpa há de ser do próprio ser, vasto território desconhecido, difícil de percorrer... Sobre-viver... esquecer... impossível reter o fugaz tão necessário para um instante de compreensão... migalhas de pão... melhor ter nada a dizer... calar então... O paraíso lhes parece tão distante, que só lhes cabe o inferno de chamas brilhantes... otimistamente pessimista sou... quem sou? tento apenas entender o porquê do sofrer, que, tantas vezes, nos acontece de forma tão brutal, banal, surreal... seja por que lá sei o quê... basta um segundo de descanso e vão-se todas as chances... Se tivéssemos clareza no pensar, no sentir, no agir não seriamos assim, presas fáceis de espécies abomináveis... O paraíso realmente nos parece tão distante que só nos cabe o inferno de chamas brilhantes. Varia a intensidade e o nível do amor que não é amor, mas sim puro veneno, quando não bem dosado ou nivelado, e sempre há engano nesse caso na mente do amante ou do amado objeto desejado, apego apegado desequilibrado, descontrolado. Ajuda respirar profunda e serenamente, pondo-se a frente, em silêncio preenchendo o vazio, aquecendo o frio. Existe um caminho claro e reto por onde sigo, juntando estrelas que do céu caem ao chão... Ahh... o clarão... o clarão do luar guia os barcos à deriva no mar...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

BOM GOSTO, UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL


 (Degas)



Perdoem-me, estou meio ranzinza (eu digo razinza, alguns dirão implicante, exibida sei lá mais o quê ... e para aqueles que pensarem que eu "me acho", digo-lhe que é claro que eu me acho, tento nunca me perder de mim mesma) mas vim aqui postar uma espécie de manifesto contra o mau gosto. É, vim aqui abrir um aparte na questão de “gostos”... Pra começar podemos dizer que gosto é uma questão relativa... apreciar uma coisa em vez de outra, vai depender muito de como a “tal coisa” entrou e se estabeleceu em sua vida. Aprendemos, ao longo do tempo, a gostar de certas coisas ou simplesmente a aceitá-las, porque seus amigos, as pessoas queridas de um modo geral, também gostam ou porque “aquilo”, a coisa em si, já faz parte de sua vida desde que você se “entende por gente”. Porém, quer saber, “bom gosto” é uma qualidade que realmente existe e pouquíssimas pessoas a tem. Claro, de vez em quando, acontece aos que tem “um gosto e tanto” uma escorregadela, ninguém é perfeito, porém, torno a lhes dizer que ter, possuir um “bom gosto” não é algo abstrato, afinal, nossos gostos acabam tomando forma, falando de nós por si mesmos; nossos gostos acabam nos revelando, dizendo aos outros o quê e quem somos. Opa, alguém pode sugerir que minha opinião “é questão de ponto de vista”... sim pode até ser... mas eu me considero alguém de muito bom gosto e rebaterei ao sujeito que me interpela, que, embora ele não deixe de ter razão, do jeito que somos, seres imperfeitos em sua perfeição, prisioneiros de nossa mente condicionada, hábitos e imaginação, desse jeito é muito fácil arranjar desculpas para todos os erros humanos, inclusive para o lamentável péssimo gosto que tantas vezes insistimos em ter e cultivar... parafraseando Vinicius: “Me desculpem os tolos, mas, bom gosto é fundamental”. Em tudo há sim, dois ou mais lados, a vida não é só um losango, ou um quadrado, um triângulo, ou um círculo meio deformado, que ora parece achatado, ora rompido... ela é todas essas formas e mais o infinito... Tomemos, por exemplo, a música... não se preocupem que não sairei atirando farpas para todos os lados, mas o que se escuta nos dias de hoje é de fazer doer o estômago, a cabeça... o que é, em verdade, é uma pena, pois gente inteligente, de bom gosto, músico de bom gosto sabe pegar o que agita a cultura de massa e transformá-lo em algo audível, sobretudo, digerível... a baixa qualidade, o mau gosto, pesa em quase tudo; nos dias de hoje, quase tudo leva a assinatura de muito ruim... Bom, em toda regra há exceções, notem que eu escrevi “em quase tudo”... NÃO ESTOU GENERALIZANDO... porém, assim como acontece com a música, o “muito ruim” acontece na literatura, acontece nas profissões, acontece em tudo, em todos os setores da vida. O trabalho é ruim porque a pessoa é ruim? Não... o trabalho é ruim porque a pessoa teve ou não um excelente desempenho, e um excelente desempenho envolve uma questão de ética e bom gosto que a pessoa aplicará a várias áreas do seu trabalho. Ela pode ser uma peste e ter um gosto inigualável... Ei, não confundam... também não estou falando de “gente boa” e “gente ruim” no sentido comumente empregado, isto fica para uma área mais filosófica, o que quero deixar claro aqui, é que desenvolver “bom gosto” é inteiramente possível, sem distinção, para todos os seres e ajudará muito a tornar-nos uma pessoa melhor. Não nos transformará em alguém melhor, isso requer um trabalho árduo sobre si mesmo, mas que não descarta o nosso assunto, aliás, o absorve completamente.
Infelizmente “bom gosto” não é facilmente reconhecido, apesar de muitas vezes estarmos com ele frente a frente. Para se ter bom gosto, firmeza no trato, deve-se, antes de tudo, ter bom senso, disciplina, responsabilidade, ética e estar disposto a aprender a aprender; aprender a olhar, a escutar, a estudar, sempre... Para se ter bom gosto é preciso voltar ao inicio; ouvir as “velhas canções”, ler os clássicos, redescobrir a beleza, perceber as sutilezas... ouvir a voz da alma e do coração. Para se ter bom gosto devemos nos reeducar. Há bom gosto e muita musicalidade no forró, no carimbó, no samba, no boi-bumbá, no olé, olá, no funk, no hip-hop, na rumba, no tcha-tcha-tcha... até na literatura, enfim, em tudo... mas poxa, parece que pegam, de propósito, as piores coisas e enfiam, feito remédio ruim e desnecessário, por nossa goela, ouvidos e olhos e nós concordamos, nós abrimos bem a boca e o tomamos e para coroar esse estado idílico, sorrimos. Você, que é jovem pode argumentar que não tem tempo para sentar e ouvir estes grandes intérpretes, ou de ler os clássicos, e o pior de tudo, dizer que são chatos... Chatos, lhes digo eu somos nós que não melhoramos como seres humanos, e que teimamos continuar na ignorante penumbra, olhando para uma só direção. Falta de tempo, lhes digo eu, é para os moribundos, para os que estão morrendo em vida... é um grande problema ninguém ter mais tem tempo para nada... nem para a família, nem para os amigos, nem para si mesmo... entretanto, em minha opinião, esta é apenas mais uma fuga da vida real, vamos trocando ilusão por ilusão. É hora de começar a recusar o espetáculo romano que ainda nos é oferecido, recusemos a política do “pão e circo”... o pão está duro e roído por ratos; o picadeiro está gasto, as lonas furadas e os artistas desgastados.... Resumindo, amigos: Para ser uma pessoa de bom gosto, nós precisamos, antes, nos repensar, prestar atenção, se necessário voltar atrás, ter tempo, cultivar um ócio básico e gratificante, abrir os olhos e um livro, abrir os ouvidos, ouvir um disco e todos os sons que estão a nossa volta, e assim poderemos concordar no quesito quando alguém disser “depende do seu ponto de vista” ou “gosto não se discute” quando este mesmo alguém souber exatamente do que ou o quê está falando... E ainda que nunca pensemos (nem haveremos de pensar) iguais uns aos outros, graças a Deus, quando atingirmos a esfera evolutiva de reconhecer o bom gosto dentro do bom gosto, ai, sim, poderemos afirmar com todas as letras, que, com certeza, “gosto é algo que não se discute” e ponto final. Não discutiremos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


(Eliseu_Visconti)


Não há sonhos sem dormir e as luzes ainda estão acesas! Os sentimentos se misturam giram, como numa ciranda enlouquecida. São sentimentos estranhos! Náufrago perdido em uma “sonífera ilha”, distante de tudo. Em minha mente ressoa o relógio, que pára exatamente em cima da mesma “hora absurda” em que me lancei ao nada. Há um cabide na memória onde se penduram as lembranças, mas há também as gavetas, as paredes, os veios de rios e toda espécie de metáforas para assim guardá-las ou designá-las. Pensei estar livre de alguns percalços nessa jornada, entretanto, de vez em quando, deparo-me com minha própria inutilidade e, remando contra a maré, continuo no caminho do silêncio. Fecho-me em mim mesma, trancada, sombria entre os quatro cantos do ser... Quisera eu poder pintar minhas manhãs, enchê-las de grandes, imensas alegrias, lindas paisagens, e, ao longo do dia não mais sentir-me assim... Não entendo as toscas alegrias dos seres humanos que se comprazem com qualquer deleite... procuro em minha vida afora, pela magia perdida que torna o mundo real e aceitável... avessa no tempo, não encontro meios de perdoar minhas pequenas infrações... abstrações... “o silêncio que habita os espelhos” coloca-me exatamente onde estou... parada... olhando para um rosto que não reconheço... que não é o meu... Desconserto o coração... corrijo as estações... convoco a solidão... This is the End? A chuva cai, molha o quintal, inunda o meu quarto... o cheiro sufocante de terra molhada chega até mim... e eu continuo a remar contra a maré... na verdade, me sinto como um dos cegos daquela história que apalpa o elefante no escuro e que, confuso, confunde uma de suas partes com o todo...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-BAIRRO DE SÃO GERALDO...










INTRODUÇÃO

Do livro Bairro de São Geraldo – Uma História em Duas Conjugações; Passado e Presente; de Virgínia Allan; Edições Muiraquitã
    

Sob o manto protetor, e revelador, da memória iniciei a história do bairro de São Geraldo, uma historia que enfim é também a minha historia. Delírios à parte; procurei ressaltar aquilo que deu vida e motivou o bairro, levando-o a crescer e projetar-se como um lugar de tradições ocultas e esquecidas quando no florescer da comunidade, aqui reinavam os santos e orixás que desciam a se manifestar ao chamado dos tambores que aconteciam durante as festas do batuque.
Num tempo de mata fechada, sob o assobio do vento, em que abundavam as árvores e palmeiras gigantes e nascentes de rio, o brinquedo “predileto” da curuminzada, (embora não faltassem cantigas de roda, roda-pião, peteca, bolinhas de gude, manja-esconde, pelada e outros folguedos populares) era fugir mundo afora, mundo este sabido e conhecido como a palma da mão, cruzar não só o bairro, mas quase Manaus inteira, num desbravar cotidiano que, talvez, só fosse comum aos primeiros bandeirantes.  
 Não saí à cata de aventura, a condição feminina assim não o permitia, mas, meus amigos, vizinhos e irmãos, pularam a cerca, entraram e saíram de becos, subiram e desceram ladeiras, tomaram banho e pescaram nos rios e igarapés e roubaram frutos dos quintais alheios... Apossei-me de suas memórias e misturei-as as minhas, e numa espécie de alquimia espiritual, tentei trazer a luz este tempo de “perigo” feliz, soprando para longe a inútil poeira que se deita preguiçosamente sobre as lembranças adormecidas, chamada esquecimento.                            
        


LOCALIZAÇÃO


Entre as avenidas Constantino Nery (João Coelho) e a Djalma Batista (Cláudio Mesquita) zona Centro-Sul, encontra-se o bairro de São Geraldo, outrora conhecido como bairro dos Bilhares graças a um estabelecimento, pertencente ao barão Floresta Barros, que tinha no jogo de bilhar a sua maior atração. Principalmente aos domingos e feriados era grande a concentração dos aficionados deste jogo. Porém, nem só de jogo de bilhar vivia a casa, lá também se explorava a venda de vinhos e diversas outras bebidas alcoólicas. Isto se deu na primeira metade do século XX, idos de 1914, quando a cidade de Manaus ainda seguia morosamente no compasso do bonde e calejava os pés nas poeirentas estradas de piçarra. Mas, pelos estudos do respeitável professor Mário Ypiranga Monteiro, as famílias dos notáveis possuíam tilburis [1], berlindas [2], landoletes [3], charretes [4], seges [5] de uma parelha e os automóveis Ford.
O acesso ao bairro dos Bilhares, portanto, que distava em demasia do centro urbano, nem parecia ser tão difícil para muitos de seus freqüentadores já que não era tão incomum assim quanto pensávamos o trânsito feito através de veículos motorizados.   
Muito antes disso, lá pelos idos de 1893, a Companhia de Transporte Villa Brandão fazia com seus bondes o percurso do Mercado Público até a antiga fonte de abastecimento de água da cidade, a Cachoeira Grande; construída em 1888; que ficava bem no inicio do que é hoje o bairro de São Jorge.
O longo trecho percorrido pelos bondes pela estrada da Cachoeira Grande corresponde atualmente à avenida Constantino Nery e uma boa parte da atual avenida Djalma Batista.      
O bairro, que teve seu nome mudado para São Geraldo na segunda metade do século XX, por influência dos padres Redentoristas que por aqui estavam em missão, possui uma área de 104 hectares e faz divisa com os bairros Presidente Vargas (Matinha), Chapada, Nossa Senhora das Graças (Beco do Macedo) e Centro. É separado do bairro de São Raimundo e São Jorge pelo igarapé do Mindu (que ao longo do seu curso recebe muitos outros nomes, inclusive igarapé do Pico, que fazia a alegria da garotada, originando-se daí o nome da rua Pico das Águas) tendo como principais vias de acesso as avenidas Constantino Nery, Djalma Batista, parte da rua Pará assim como parte da rua João Valério, no conjunto Vieiralves (Nossa Senhora das Graças).
No local onde hoje se ergue o moderno Shopping Millenium Center, no agradável recém-construído Parque dos Bilhares, havia outrora uma pedreira e um balneário (que esteve ativo até meados dos anos 70) conhecido por “Verônica”. Aliás, tanto o balneário quanto a ponte que liga o bairro de São Geraldo ao bairro da Chapada, deve seu nome a um prostíbulo, o famigerado “Cabaret da Verônica” (atual Bom Futuro).
Na memória dos moradores há o Moinho Amazonas, (a lembrança do cheiro do café torrado e moído é inesquecível) e uma velha olaria, no fim da rua Pico das Águas.           




[1] tilburi : s.m.  carro de duas rodas e dois assentos,  com capota, puxado por um só animal.
[2] berlinda: s.f. . carruagem pequena com vidraças laterais.
[3] landoletess: s.m.  ( do francês lando) variante de um carro de luxo – carruagem de quatro rodas com dupla capota que se erguia e abaixava.  
[4] charretes: s.f. veículos de duas rodas, para duas ou três pessoas puxada por um cavalo.  
[5] seges: s.f. (do francês siège, ‘assento’) coche com duas rodas e um só assento, fechado com cortinas na parte dianteira. 2. Qualquer carrauagem.  

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1/2/3/4/5/6...

Bebe, meu “Saki”, do “vinho” do amor que estou a te oferecer. Vem, estende a tua taça, serei teu escanção e pronta estarei a te servir sempre que o pedires,  rendida a tua vontade, no mais sincero ato de submissão. 
(Virgínia Allan)


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As quadras abaixo foram transcritas do livro Rubayyat; de Omar Khayyam; traduzido do persa para o inglês por Omar Ali Shah e Robert Graves; Tradução p/ o português por Beatriz Moraes Vieira; Edições Dervish

1

1/1 Enquanto a aurora, o arauto do dia cavalgando todo o céu, 
oferece ao mundo adormecido um "brinde ao vinho", 
o sol entorna ouro matinal sobre os telhados da cidade 
- O magnifico anfitrião do dia torna a encher seu cântaro.

2

/2 Então, soam gritos entre nós na taverna: 
"Acorda também, ó rapaz imprestável! 
Preenche nossas copas vazias com a medida de hoje, 
antes que se complete a medida de nossas vidas!"

3

3/3 "O galo canta alto para beber sua aurora, meu Saki!"
      "Aqui estamos nós, na fila do vinhateiro, meu Saki!"  
      "Isto é hora para oração? Silêncio, meu Saki!"
      "Desafia os velhos costumes, Saki, bebe a saciar-te!"

4

3/3 Rapaz tão raro, que te alças para saudar a aurora, 
favorece minha taça de cristal, verte rubro vinho! 
Por este momento, furtado ao escuro cadáver da noite, 
poderemos muito suspirar, nunca o possuir de novo.

5

4/4  Agora que em nosso mundo há riquezas ao alcance, 
corações vivos despertam e anseiam por vastas planícies, 
em que todo ramo floresce pela alva mão de Moisés 
e toda brisa é perfumada pelo hálito de Jesus.

6

6/6  Uma gloriosa manhã, nem quente nem úmida, 
as faces das rosas recém-banhadas de orvalho;
o rouxinol em phalevi, perscreve 
a toda face mais pálida "Vinho, vinho, vinho!"

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...