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domingo, 23 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-REI DE MIM



REI DE MIM

Tem dia em que custo a me perder ou a me encontrar. Fico assim, entre um meio termo, que é puro exagero. Teimo em me afogar em um imenso mar de solidão, lá aonde os sonhos deixam de ser sonhos... Mas, aí o que eles são? Mistérios intraduzíveis... sem solução.
A lua paira no céu e eu me imagino também no alto, um ponto brilhante, uma estrela antiga a iluminar os amantes, e só quem me vê e entende são aqueles com almas de poetas.
Fujo as agonias, despisto a infelicidade e vou ao jardim colher uma rosa cor-de-rosa que nunca murchará; uma rosa eterna, cujo perfume preencherá a casa, e cuja beleza adornará a fugacidade do lento/veloz passar das horas e a fragilidade dos dias de chuva ou de sol.
Bem no meio do pátio da casa mais encantadora do bairro há um poço que nunca seca... mas não é um poço dos desejos, nem em suas profundezas habita um gênio servo de nossas vaidades, capaz de nos curar ou tornar-nos ricos ou famosos num abrir e fechar de olhos...
Assim, inconformado, sigo eu nas águas do abandono; sigo eu na esteira de um sonho; sigo eu, enfim, sem dar por mim, nas pegadas de um mito obscuro e medonho, que confronta meu rosto desconhecido a um espelho de dupla face... ambíguo...
Corro contra o tempo... ou o tempo é que corre contra mim... ?! Tanto faz...
O tempo... o tempo parece brincar... ora se estira, ora se encolhe, ora torna a se esticar e eu, por mais que corra, não posso tocá-lo, enrolá-lo ou esquecê-lo... Qu
em sou eu...? Um pobre rei destronado... um nobre senhor sem palácio... um mendigo escondido, traído, apaixonado... perdido de mim!

sábado, 22 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-OS PRIMEIROS LIVROS DO "RESTO DE NOSSAS VIDAS"

para Clarice


OS PRIMEIROS LIVROS DO RESTO DE NOSSAS VIDAS



Meu amor pelos livros, Clarice, começou muito cedo e por causa deles aprendi a ler em tempo recorde, já que ninguém do mundo adulto, queria gastar o seu tempo comigo lendo gibis ou histórias de príncipes e princesas, mas, de qualquer jeito, estes vieram depois, já que comecei mesmo pelos gibis do Popeye, o Marinheiro, Esqualidus, (que tinha. se não me engano, um jeito único e engraçado de falar, além de ser esquisito e magérrimo) Tio Patinhas; as bruxas; Maga Patalógika e Madame Mim, os Irmãos Metralha, Mancha Negra, (adorável) Zé Carioca, Professor Pardal... ai, então, vieram as revistas de terror como KRIPTA, DRÁCULA e outras do gênero, cujo nome não me vem agora à memória. Geralmente, nestes tipos de revista, muitas em preto e branco, vinham os clássicos, recontados, ou melhor, reescritos, de escritores até certo tempo atrás considerados malditos, como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, .Bram Stocker, etc...
Entre todos, porém, Clarice, Edgar Allan Poe foi o que exerceu maior influência sobre mim nos primeiros anos de adolescência. Berenice, Eleonora, Morella, O Corvo, O Gato Preto, O Coração Denunciador, O Barril de Amontillado... Lembro-me com que ansiedade ficava esperando meu irmão mais velho chegar em casa com aquele monte de revistas em quadrinhos, revistas de “sonhos”. Sim, não é algo muito “natural” de acontecer, mas o terror, o fantástico, foram os primeiros temas dos primeiros livros do resto de “nossas vidas” e ao contrário do que muitos podem pensar, não vivia assombrada (vivia encantada) e não desenvolvi, por causa disso, distúrbios de personalidade (pelo menos do que eu conheço de mim).
A Nona Arte, que sempre foi rodeada por preconceitos, considerada mesmo como “sub-literatura”, abriu-me novas portas, levando-me a mundos até então, por mim, desconhecidos.
O contacto com uma literatura mais adulta; através dos quadrinhos, facilitou-me o desenvolvimento das idéias, posto que, levou-me a dar-me conta de questões que lutei para resolver, questões existenciais.
No colégio, os livros que logo me agradaram foram os de História do Brasil e História Geral, cuja professora, de Estudos Sociais, (esqueci o seu nome) também ensinava Português, nos estimulava, fazendo com que lêssemos em voz alta, várias passagens importantes, fazendo o mesmo nas aulas de Português. Foi assim que Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e você, Clarice, entraram em minha vida. Nesse tempo ainda não havia brotado em mim a vontade de escrever. Queria apenas participar, apreciar a beleza das palavras e extrair a sabedoria daquilo tudo.
Os contos de fadas me deixavam melancólica, mas, adorava. Branca de Neve, Cinderela, O Alfaiate Valente...
Hans Christian Andersen resisti a ler durante algum tempo dada a tristeza que me transmitia; assim O Patinho Feio só aquietou em minhas mãos, na fase adulta. Outro conto dele inesquecível para mim é A Sombra, tão sombrio quanto o titulo.
Creio Clarice, que todos nós, com raras exceções, somos meio “patinho feio” e só o tempo, nossa competência, força de vontade e um mínimo de sorte, é que nos ajuda a fazer a transformação para cisne. Infelizmente, nem sempre dá certo, transformar-se em cisne requer trabalho duro sobre si mesmo e poucos conseguem manter a disposição para fazer o que é necessário.
Oscar Wilde me apareceu com seu Príncipe Feliz, O Pescador e sua Alma, O Retrato de Dorian Gray e Di Profundis. Tomei gosto e enveredei pelos romances clássicos, como Madame Bovary de Flaubert, Senhora e O Guarani de José de Alencar.
Em seguida, aconteceu-me o episódio da perda dos livros de Machado de Assis e para me consolar, fui de livro em livro sem me dedicar, em especial, a um autor e, vieram os best-sellers: Ernest Hemingway (O Sol também se levanta), Robert Graves (Eu, Claudius, Imperador, A Filha de Homero) e muitos outros.
Herman Hesse, com o Lobo da Estepe e Damian também passou pela minha vida, assim como certamente passou pela vida de todos que gostam de ler. Vivia pelos sebos atrás de tudo o que me interessava e costumava, graças a Deus, ganhar muitos livros e pela minha ânsia e sede de saber, pela incansável busca interior fui recompensada e encontrei Goethe, Dostoyeviski. ..
Herman Melville e sua baleia branca, Moby Dick, me impressionam até hoje e os santos sufis, que com seu modo peculiar tocaram minha essência, fazendo-me despertar para um jeito novo de olhar o mundo.
Se eu fosse listar todos os livros que me influenciaram e fizeram diferença, não caberia mesmo em uma só vida.
Nesta atual fase de minha existência, dessa “nova vida” Clarice; não possuo biblioteca devidamente projetada e equipada, mas, o que tenho me basta. Poucos livros, agora, suscitam meu respeito, minha atenção e paixão. O tempo passou, estou com os pés firmes, muito bem fincados no chão e raras vezes me vejo arrebatada para um lugar de sonhos. Tudo passa. A gente aprende quando quer realmente aprender, e sei que vais concordar comigo, que, tudo o que foi e ainda é importante, está guardado, impresso na alma, pois os verdadeiros livros, aqueles que nos encantam e ensinam, estão vivos, inscritos, eternamente, dentro do coração.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

FELICIDADE DE PASSARIM



Horizontes que se abrem a perderem-se de vista...
No topo da árvore à beira do caminho
Um passarim faz seu ninho

Voa pra lá pra cá
Trazendo no bico, galhinhos secos, retorcidos
Folhinhas amareladas e palhas mortas
Canta uma canção, sozinho... o solitário passarim

Não tem com quem compartilhar
Os segredos, os desejos, os desassossegos
Não tem com quem compartilhar o seu ninho
O nobre passarim
Mas isto não parece incomodá-lo
E vai juntando aqui e ali pedaços de felicidade

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MAIS UMA VEZ



MAIS UMA VEZ


Queria que, mais uma vez, você me aparecesse
Como sempre... sorrindo e morrendo de saudade
Queria que você pudesse me dizer que partiu sem sofrer
E que não se despediu para não me deixar preocupada e triste

Queria que, mais uma vez, você entrasse por essa porta
Como sempre... sorrindo e morrendo de saudade
Cansado do trabalho e da faculdade
Correndo para o contrabaixo

Queria que, mais uma vez, você me aparecesse
Como sempre... sorrindo e morrendo de saudade
E abraçasse tuas filhas e com elas brincasse

Hoje eu amanheci assim... sou só saudade... uma saudade só

E choro enquanto escrevo
Pensando em teu rosto amigo, tão querido
Lembrando do teu sorriso e do teu jeito

Saudade... dor doída/doida dolorida...

Que me aperta o peito e cala

Mágoa guardada que me arrasta e maltrata

Ainda te espero
Ainda te chamo
Ainda te amo

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

JAPANESE BLUES



Hey man... Existirá, dentre os sentimentos, algo pior que paixão recolhida? Sim... Aquele amor que jamais se esquece, mas, o qual, entretanto, a alma não aquece, pois pensar na mulher ingrata, bad dream, é manter aberta no peito a chaga... é lamber a ferida, dolorida, para sempre viva... Que, às vezes, cede, cala, porém, dissimulada, nunca sara! Afim de me livrar um pouco desse tormento, canto aqui, para vocês, o meu blues japonês...

My baby, mal me disse um alô
E logo me deixou...
Cavou daqui até o Japão
Em busca de uma nova paixão

Foi daqui pra nunca mais...
Ai, que falta ela me faz!

Sua indiferença grande mágoa me causou
Doeu fundo a sua ingratidão...
E por ter me deixado só, na solidão
Partiu meu coração

My baby, hoo, my soul, me deixou
E fugiu para o Japão
Descansar à sombra do imperador
Em busca de uma nova paixão

Foi daqui pra nunca mais...
Ai, que falta ela me faz!

Ela veio assim...
E mais rápido se foi de mim
Veloz como o tufão
Breve como a ilusão

Em um piscar de olhos
My baby, my soul, ooh no, me deixou....
Fugiu para o Japão

Foi daqui pra nunca mais, oh yá...
Mal me disse olá...
Nem me deu Sayonara...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DORIAN GRAY




DORIAN GRAY


Tradutor fiel de mim mesmo... sou um esboço imperfeito que em linhas tortas... amargas... quase apagadas... procura manter uma imagem... forte... sábia... e tenta sobressair-se... entre tantos outros esboços... com os mesmos defeitos... Auto-retrato... claro... de um Dorian Gray deturpado... Juventude... beleza... e perfeição... em sépia ou preto-acinzentado... restos de nada... pura ilusão... de ótica... de olhos que não vêem... além... de ambições malfadadas... de almas e corações... do impossível nunca dito... do fato nunca consumado...Tudo passa... sim... tudo se perde? Não... tudo se transforma...! É a natureza... o não aceitável... das coisas... e das situações... impermanência... ponto... e mais pontos... mutação... Por onde andará minha sorte...? Encolhida... Perdida por entre tantos descaminhos...? Adormecida no cimo de um monte... ou esquecida... escondida... no fundo de um abismo... mera lembrança... levada... lavada... misturada... nas águas de um rio que corre... célere... para o mar... Lá aonde se encontram as águas... ou... as mágoas... doces e salgadas... Violenta... e/terna... pororoca... de sentimentos e tormentos... amor e/terno... de rio e mar... deixa passar... deixa navegar... em águas tranqüilas... contente... feliz da vida... Mas... e eu... meu Deus... Por onde andei...? Em que falhei...? Que pontos não observei...? Que fiz eu... de meus sonhos...? Que fiz eu... de meus enganos...? Quantas chances... desperdicei... deixei passar? Quantas escolhas... ao azar...? Tudo fora de lugar... peixe preso no anzol... não há como escapar... Estou aqui... agora... só... do lado de cá... mais adiante... olá... não consigo enxergar... Meus olhos arregalados não me adiantaram... só fizeram chorar... e meus ouvidos atentos... apurados... deram crédito somente as mentiras... as ilusões... contadas pelos desafortunados... pobres... “caçadores de emoções”... maus atores... em apuros... vestidos de andrajos... em frangalhos... no papel... amarelado... imoral... da virtudesvirtuada... tratada como coisa normal... banal... pedaços desconexos de peças escritas às pressas... mal ajambradas... desajeitadas... mediocrementes... mentes... pensadas... representadas... pavorosas colagens... des/construções... da arte... no palco... em ruínas... do teatro... da vida... e na platéia... os vermes... à espera... longa mas não interminável... do banquete ambicionado... pausa... atos entre atos... Abomináveis... são... não?... Todos os pecados... perdoáveis... são... não...?! Junte as mãos... então... em oração... talvez assim... preocupado... rezes... e encontres... finalmente... a verdade... aquela... que salva... e liberta... na hora certa... a quem... alguém que... certamente... bem merece viver bem... em paz... com o “coração tranqüilo”... a bater no peito... desapertado... “a espinha ereta”... “a alma quieta”... para sempre... digo... Amém.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DIA ETERNO



Enquanto o tempo não nos fere em desventura, ousemos por bem aproveitar o dia, gozemos então da mocidade, que, por vezes, muito cedo, desfaz-se em agonia.


E a aurora, que agora desponta, clara e radiante, em um instante, se fará noite escura, enquanto a lua crescente, serena, límpida, brilhante, penderá bendita por sobre a terra nua!


E as estrelas... Ah, belas e etéreas, dispersas pelo vento, serão meros enfeites a adornarem os semblantes dos viventes...


Outra manhã nascerá e com ela virá o silêncio e a solidão... Os sonhos serão herança apenas daqueles que herdarão a terra.


Mas, para o nosso consolo, na hora do crepúsculo que chega, prisioneiros, nunca mais haveremos de ser... Unidos na alegria e na tristeza, entregues estaremos à beleza do dia eterno que nos vem

domingo, 9 de novembro de 2008

TUA PRESENÇA






Amor, arrepios por minha pele sobem
Quando no sossego da noite me desejas
E se no aconchego de meus braços
em ardorosos prazeres te deleitas

Passa o dia lentamente
Se te demoras a chegar
Paira a tristeza em meu pensamento
Sombras turvam-me o olhar
E se é dia e o sol existe, ele não brilha, nem queima
E se é noite, não há lua, nem céu, não brilham as estrelas...
É noite fria, vazia e escura, em desencanto desfeita

Arroubos de impaciência me transtornam
e uma nuvem cinza meu rosto encobre
Tomam-me por ausente ou desvalido
Se teu nome repetidamente pronuncio

Quero tua presença, amor, constante, amante,
sempre ao meu lado, pois sem ti o que sou?
Um simples nada...coberto de nada
Um peixe fora d’água

Alma abandonada
Sem descanso, envelhecida
Semente fugidia
Destituída de esperança
Esquecida da lembrança

Ferida antiga, amiga, exposta no peito
O lamentoso pranto de uma dor doída

Um lago drenado
Uma flor que murchou
Um cântaro quebrado
A angústia que não passou

Um jardim fechado
Ai, ai... uma fonte que não jorrou
Um pássaro cativo, amor, descuidado
Que um dia voou e nunca mais voltou

sábado, 8 de novembro de 2008

EROS E PSIQUÊ


Eros e Psiquê, Antony Van Dick (1639/1640)


Quem amor, contou-te este segredo
Que do vulgo tento esconder
Quem amor me tirou o sossego
De te amar sem você saber

Quem amor contou-te este segredo
Que minha face de rubor encobre
Quem deixou-me o coração, célere a bater
Por ter te revelado quem tanto sofre

A tímida Paloma arribou para o norte
Foi fazer seu ninho em lugar escondido
Aonde nem a lua nem o sol
Possam descobri-lo

Assim como a Paloma é o amor que te tenho
Tímido, anseia voar...
Mas me impedem as asas cortadas
Que a esperança e a saudade, na verdade,
Desejam quebrar

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

REBANHO DESFALCADO



Detenha o tempo seu moço
Por favor, faça-o voltar
Detenha o tempo seu moço
Que eu não posso mais

Passivamente deixei passá-lo
Nem percebi crescer minha menina
Em mãos ignorantes deixei-a, em desamparo,
Refém nesse mundo de mentes aflitas

Meu amor transmudou-se em dor
O sorriso, ao meu rosto envelhecido não mais aflora
Pois cantigas de ninar, para ela, não posso mais cantar
Acalento ao seio d’alma a lembrança de uma filha morta

De meu coração sai apenas um réquiem distorcido
A oração já não me consola e minha alma despedaçada
Em um mar de transtorno se afoga. A dor é senhora...
Veio para ficar... nunca mais irá embora...

Tropecei... e em muitos momentos dessa jornada,
Deixei-me vencer pelo cansaço, omitindo-me
Nos momentos mais necessários, curvando-me a pressa e a vontade,
O viver dos condenados

Vitimas/cúmplices/displicentes
Somos sempre por livre, espontânea vontade
Dando sempre a outra face
Tratando bem a quem mal nos quer,
Driblando a angústia da miséria acomodada,
Concedendo aos diabos perdões disfarçados

Beijo de Judas nos rostos dos assassinos
Quando a vontade, em verdade
É gritar, é bater, matar ou morrer...

Então porque me calo?
Rebanho desfalcado
E há lobos que nem se disfarçam
Porque nos deixamos enganar?

Nem chorar mais consigo
Nó na garganta que me acabrunha a esperança
Que me adoece/adormece o espírito
Que me atormenta em febris delírios

E viver assim, com isso, seu moço, lhe digo
É o pior e o maior de todos os castigos...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

INCUBU



E ela sonhou que ambos se encontravam e conversavam uma conversa estranha, esquisita... Também só pode ser estranha, esquisita, uma conversa com um demônio.
Ele queria alguma coisa dela, mas, não queria dizer o que era e ela ficou pensando, imaginando... : “O quê, realmente, seria importante para um demônio? Os sonhos? A mente? A alma? O coração?”. Jamais poderia desconfiar que falava com um demônio apaixonado e o que realmente lhe importava era obter, com absoluta certeza, de que possuía um amor real, sincero, constante e o melhor de tudo, plenamente correspondido.
E ela perguntou a esse ser fascinante: “Um demônio pode amar? Um demônio sabe amar?”
E ele lhe respondeu: “O amor é um demônio, portanto, um demônio pode e sabe amar, por isso habita um inferno tomado pelas chamas, pois arde num fogo vivo, e, por toda a eternidade, nele será consumido, porém, não é a sua carne que queimará eternamente, mas, sim sua alma amaldiçoada pelo amor infinito; distorcido; amor carregado, que de tão pesado tornou-se um fardo”.
E ela ouve do demônio, que a acaricia e lisonjeia palavras que jamais ouvira ou ouvirá de homem algum e sem nenhum pudor ou cuidado, se entrega em seus braços.
Ao fim de tudo, ele lhe diz entre sussurros: “Durma bem, meu amor, estarei sempre com você, em seus sonhos”. E lentamente, ele sobre ela se inclina e em sua testa, deposita um longo beijo de boa noite.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESCONSERTO



DESCONSERTO

Apago o sonho que até por uns instantes
Deixou-me tonto
Largo a mala na sala
E despeço-me do nada
Ando para frente
Olho rapidamente para trás
Não há sossego
Na fragilidade do novo dia que surge
Deslumbrante, radiante
Mas muito além de mim
Suspiro profundamente
E deixo no rastro dos meus passos
Palavras caídas, perdidas no fim da linha
Hoje fechou-se o tempo
Em querelas, desavenças
Vou eu na gangorra da vida
Sem brincadeiras
Num sobe e desce
Em versos nus, a descobertos
Desconsertado tento consertar o mundo...
Do meu lado...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

SUCUBU




Ela surgiu-me assim, envolta em brumas, mas, aos poucos foi tomando forma. Primeiro em minha mente, depois em meu coração. Cada parte de meu ser, físico e espiritual, foi dominado por esta arrebatadora visão. Adoeci. A escuridão avançou rapidamente sobre mim.
As noites mal dormidas eram repletas de sonhos confusos e de pesadelos medonhos, porém, neles, sempre estava a bela mulher, cujo corpo, sensual e lascivo, deixava-me ardendo de um desejo até então, por mim, desconhecido.
No começo, os ignorei... os sonhos... ignorei-os, com toda a força possível... Ignorei tudo que me remetesse à lembrança daquela mulher, ao mesmo tempo terrível e inesquecível. Pensei que, desta forma, simplesmente ignorando, mais cedo ou mais tarde, me livraria desses sentimentos libidinosos, despertados por algo intangível e inconcebível. Pensei que logo, logo, eles iriam desaparecer, deixando-me livre outra vez para agir e pensar de maneira sensata. Entretanto, tal não sucedeu e à medida que o tempo passava, pior ficava minha situação.
Ela se insinuava; me roubando o sossego e a concentração, me jogando num poço profundo de pura solidão. Para ela, já não bastava o silêncio da noite, quando, gemendo de prazer, cavalgava-me, faminta, minando minhas forças, fazendo-me desfalecer a cada gozo; o corpo arrepiando de tanto deleite e tão faminta estava que passou então a invadir-me os dias, sussurrando meu nome, chamando-me à perdição; surgindo a minha frente nua; etérea, oferecendo-me a boca e os seios, pequenos; arredondados, cujos mamilos arrebitados, deixavam-me tonto. Eu sabia o quê ela era, mas, estava muito além de mim, desvencilhar-me de sua presença inebriante, malignamente sedutora. Sentia sua língua, penetrar-me os ouvidos, lamber-me o rosto, descendo, suavemente pelo pescoço, sentindo, pelo corpo inteiro, o seu perfume e sua respiração.
Com pressa e sem jeito, afastava-me de todos e nos recantos mais obscuros a procurava, tremendo de paixão. Meu sangue fervia, meu coração batia loucamente e eu explodia num gozo insatisfeito, pois sempre queria mais e mais... Ela estava me levando à loucura, mas, não só ela, assim como também minha fraqueza, avidez e passividade, numa entrega total. Doei-me em sacrifício em troca de um prazer sem limites... prazer este, que no final, não me satisfazia completamente. Minha vida virou um caos.... a culpa me consumia, mas, não era mais senhor de mim... ela possuía o controle e queria tudo, queria não, exigia tudo... tudo o que fosse possível ser pesado numa balança. A balança de Maat condenou-me, já que meu coração havia se levantado “como testemunha contra mim”... Ela, ela, eu... destruíram-me... e ansiei desesperadamente pelo meu próprio fim
.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-PARTIDA



PARTIDA

Ainda não é chegada a hora de partir
por favor, amor, não vá
que farei eu sem ti
sem teu calor para me ajudar a caminhar

Nas incontáveis horas de dias
idos e vindos, desde o raiar da real
fatal existência
foi a ti que tanto esperei
e por isso estranha agora me soa a tua ausência

Às vezes pego-me absorta
mergulhada em tristeza sombria, infinda
sob a pálida luz do fim do dia

Afugento o sonho vadio
que rodeia minha alma inconstante
Desconsolada esposa amante
musa viúva de um poeta louco delirante

E no mais profundo silêncio
repenso os meus pensamentos
Descarto o meu ansioso hesitar
retiro a tristeza do olhar...
Descuido da beleza vazia
e prossigo, com paciência, a feitura do dia


domingo, 2 de novembro de 2008

FÊNIX



O pássaro de fogo, no céu passa ligeiro, rasgando os véus que tudo encobrem, deixando nua a realidade das coisas, como elas realmente são.
Pássaro peregrino, partes em busca da perfeição.
Com tuas leves asas, em círculos voas, antes de tomares outra direção.
Teu caminho pela certeza traçado um desenho faz no espaço solitário. Desejos em forma de asas!
Pássaro de fogo; voas sem destino.
E daí? O destino pouco importa somente a paisagem queres ver com cuidado.
A curta viagem que no céu empreendes, leva-te a alçar vôos maiores; cada vez mais altos, em busca de outros céus.
E lá de cima, observas a pira acesa que arde e te chama e tu, pássaro de fogo, pela união final anseias. E como uma flecha, dos céus atirada por algum Deus consciente, mergulhas direto na pira ardente.
Quando penso que tudo está consumado, então, das próprias cinzas renasces e um outro vôo, recomeças, rasgando o céu em hora incerta, como uma flecha para os céus atirada, por algum Deus consciente.


*****




Segundo as lendas orientais, há um pássaro na Índia, a fênix, que, tal qual o cisne e o pelicano, é um símbolo de morte e renovação.
O temor da morte tem raízes profundas dentro de nossa alma, embora dela não possamos escapar. A lenda da fênix nos ensina a conviver com esse temor, um suave consolo para um fato que para muitos é inaceitável.
A história deste pássaro mítico é de origem grega, assim nos faz crer Garcin de Tassy, um escritor francês, tradutor do livro O Parlamento dos Pássaros, do mestre sufi Farid-ud-Din Attar.
Segundo ele, a fênix é um pássaro solitário, cujo bico, extraordinariamente longo e duro, é perfurado por muitos orifícios, que lembram uma flauta. Cada orifício produz um som diferente que revelam segredos profundos e sutis. Quando ela se faz ouvir, soltando seu canto, carregado de tristeza, tudo e todos os seres da natureza se afligem, subjugando, inclusive, as bestas mais selvagens. Depois, apenas o silêncio. Deste canto o sábio aprendeu a música.
O tempo de vida da fênix é longo, vive cerca de mil anos. Conhece também a hora de sua morte e, quando chega este momento, constrói para si uma pira, recolhendo lenho e folhas de palmeira. Então, após sentar-se no meio dela, canta tristes melodias. Ela treme como folha ao vento, pois a dor da morte penetra-lhe amargamente.
Todos os seres da terra, da água, do céu e do ar, aproximam-se, atraídos por seus lamentos. Através de seu exemplo, cada um, dentro de seu coração, se resigna a morrer, e muitos, de fato, morrem, pois a tristeza de vê-la assim é tanta que é impossível de se conter.
Quando só lhe resta somente um sopro de vida, o pássaro fabuloso bate suas asas, produzindo um fogo que rapidamente cresce e se espalha pelo lenho e pelas folhas de palmeira. A pira está acesa e o fogo arde agradavelmente. Logo o pássaro se torna brasa viva, e, instantes depois, apenas cinzas. Mas, para surpresa e alegria de todos, das cinzas, um novo pássaro renasce, mais perfeito e majestoso para viver por mais mil longos anos.



















sábado, 1 de novembro de 2008

A MORTE E SEUS DISFARCES (*)







A morte tem esse dom de deixar-nos petrificados, por dentro e por fora, assim através da saudade, faz seu trabalho com menos demora. E leva mais um, e leva mais dois e leva mais três... e sob vários disfarces, como o do guri orfão de um conto que li, carente de afeto, jamais se contenta, e, como o gato sem dono, deste mesmo conto, vai procurando pelas ruas, driblando o abandono até encontrar um feliz / infeliz caminhante, e, com seu ronronar meigo, sedutor dele vai se aproximando, se enroscando entre as suas pernas, trançando entre elas...

(*) A MORTE E SEUS DISFARCES é baseado no texto de Cláudio B. Carlos; aqui abaixo transcrito, por inteiro. Publicado no site http//:www.simplicissimo.com.br Edição 254 -27 -11- 07

COMO GATO SEM DONO



NÃO SABIA da morte nem de seus significados. Até gostava da palavra e encantava-me a triste elegância ou a elegante tristeza das mulheres de negro, chorosas nos velórios. De certo, só que era alguma coisa de muito grave. Mas era tão distante de mim, que correndo pelos campos com os guaipecas, ou comendo furtivas guabirobas entre um brincar e outro, era impossível imaginá-la ou sabê-la. CHEGOU-ME SILENTE como um passar de flanela em tampo de vidro, e com ares de sorro levou-me o amigo deitado em palavra de cerejeira. Também gostava desta – caixão – talvez por não saber que nela pudesse caber o gigante que carregou-me às costas um dia. Ali, no centro da sala, como num passe de mágica, em frente ao féretro me branquearam os cabelos, como se tivesse dormido à geada. Petrifiquei-me por dentro e entendi que assim como a saudade, que também é palavra bonita, a morte, em um dos significados que traz como disfarce que escolhe à toa em um leque de opções, é guri que fica sem pai, como gato sem dono, assim sem pernas pra se enroscar.


MARA



Amargam-se as relações
aonde os anos, em vez de fortalecerem os laços,
apenas os desfazem

Estranhas companhias em família,
Estranhos comportamentos
Estranhos casamentos
Estranhos, somos, uns aos outros, sempre
em melancólicas vivências, desamparadas ausências

Não me reconheço em meu irmão
Todo dia, levanto acabrunhado,
Assombrado por fantásticas, horrendas aparições
Tento esquecer os pesadelos, mas não encontro sossego

Perco o rumo por algum tempo
Nau desgovernada que gira em perigoso remoinho
de emoções no mar revolto por dentro de mim

Sob furiosa tempestade,
relampejos, clarões de verdade
rasgam o céu carregado, manchado por nuvens sombrias
Distante está o farol pra alumiar e me ajudar
a chegar a um porto seguro...



PRINCÍPIO, MEIO E FIM



É chegada a hora de pousarmos a vassoura... Portanto, para terminarmos nosso breve passeio sobre fórmulas e encantamentos, e o resumo da possível origem das feiticeiras, que, provavelmente vieram da “Terra do Verão”, o Oriente, pelo menos assim reza a tradição, queremos definir a fronteira que separa religião e magia, em outros tempos, tão confundidas uma com a outra, mas hoje se sabe que religião é a submissão ao Senhor Todo Poderoso, a quem se faz preces e louvações, enquanto magia são ritos com a finalidade de agir sobre forças sobrenaturais, quaisquer que elas sejam, a realizarem as ordens e os desejos daqueles que as invocam, digamos os chamados magos, bruxos ou feiticeiros...
A magia, resquício de algo já perdido, tão distante, leva-nos a pensar se as práticas e rituais, por não diferirem umas das outras em várias partes do planeta, se tais práticas não vieram a existir e a se expandir (através de imigrações, invasões, etc...) a partir de um único ponto... (?!) e embora a magia tenha sido malvista por um longuíssimo tempo, e em alguns aspectos, nem funcione mais, contudo, justifica-se o seu estudo, já que ainda é praticada por povos “primitivos” e por pessoas cuja mente vagueia entre a realidade e a fantasia, e ainda por nos parecer estranha, intrigante, e, por vezes também constragedora à religião, tal como a ordem social imposta.

Cantilena do Corvo

EE-SE BLUE HAVEN

Ee-se encontrou Ahemed na saída de Hus. Dirigia-se ela aos campos de refugiados, nos arredores de Palmira, enquanto Ahemed seguia com seu pa...