Um corvo, um cobre

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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

SE EU ADORMECER NÃO ME ACORDE


Se eu adormecer, por favor, não me acorde
Acordado, não há suporte que acomode minha vida incomodada
Prefiro sonhar estranhos sonhos
do que encarar face a face a dura realidade
e os desenganos sem tamanhos

O sono, em cinza, acolhe-me em seus braços
E em sossego, adormeço, esquecendo os dissabores
Melhor que um bom vinho, que me faça falar a verdade
É adormecer em profundo sono

O sono, eu sei, é irmão gêmeo da morte
E talvez, mais valesse morrer de vez
Mas fraco, covarde, vil humano, ainda vacilo diante do encontro com a dama de negro

Se eu adormecer, por favor, não me acorde
Há poucas flores a enfeitar-me o passo
As alegrias são fitas coloridas e fininhas que amarram
a inquieta quietude a surpreendente fatalidade escondida nos dias

As águas da chuva descem morro, serra, encosta
Levando gente, lembranças, tudo...
É água que mata, chuva desvairada, afogando as esperanças e um desejo de futuro

Se eu adormecer, por favor, não me acorde
Não quero ouvir um réquiem para os mortos
Nem as preces dos humilhados e o choro dos desesperados

É Natal, é Ano Novo e deveria reinar a paz na Terra, mas,
só o que o que se houve sobre ela é “choro e ranger de dentes”...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ESTRANHO DIA




Foi num estranho dia
Que me chegaste
Quando a tristeza ainda me consumia
Porém, com um olhar me alegraste
E nele vi o quão me querias
Revelando-me um amor antigo
Por anos e anos recolhido

Desde então, querido, de minha vida fazes parte
E é um tormento quando não te vejo
Lamentos saem da boca que anseia beijar-te
E os olhos fecho em puro desassossego

Velhas mágoas ao meu peito afloram
E meu canto de esperança eu desafino
Incerto do amor que me devotas
Incerto do rumo do meu próprio destino

Mas, quando surges
Belo e esplendido como o sol
O temor me foge, rápido, veloz
E sou novamente surpreendido pela alegria
Bufão atrapalhado ao teu sorriso acorrentado

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-BLUE MODE



BLUE MODE


Hoje a melancolia me invade... isso costuma acontecer muito comigo, sou naturalmente melancólica, faz parte de minha natureza. Pra piorar, chove, (novidade...?!) e logo pela manhã o barulho do rádio do vizinho invadiu o meu quarto... no noticiário as noticias de sempre. Antes costumava acordar com o canto de pássaros, mas já faz tempo que o quintal do meu vizinho deixou de ser uma pequena floresta onde a noite sumia por dentro... Apesar de tudo, ainda há canto de pássaro... Não consegui mais dormir... Agora, decorrida metade da manhã, diante do meu notebook, escrevo, e, enquanto escrevo, vou escutando um velho blues na voz de Big Bill Broonzy... Cansaço! Eu, mesmo sem estar longe de minha terra natal, me sinto com “banzo” também... Minha saudade é outra, mas não menos amarga. Foi nas vozes de lamento, que subiam das plantações de algodão, no sul dos Estados Unidos, que nasceu o Blues, que, no modo comum de falar do Delta do Mississipi, em sua tradução, quer dizer “melancolia”; melancolia que passava das almas e dos corações para as vozes dos seres transformados em escravos que então procuravam amenizá-la, cantando... eu não canto, mas, escuto... e me sinto com “banzo”. Arrancados de sua terra, pelo uso extremo da força, viajando em precárias condições, amontoados nos porões em navios apelidados de “tumbeiros”, para virem plantar e colherem algodão, milho e tabaco para os brancos em estados de Nova Orleans, Mississipi, Alabama, Louisiana e Geórgia os “negros” eram puro desalento... Quanto sofrimento! Nos campos, sob a claridade do sol, punha-se um deles a entoar um verso, que era, em seguida, repetido em coro, pelos outros. As “work-songs” (canções de trabalho) só eram permitidas pelos fazendeiros por imprimirem um ritmo, uma cadência, ao ato de plantar e colher e assim deixar o “negro” menos triste. A princípio as canções eram entoadas nas línguas nativas como o banto e yoruba; mas, com o tempo, elas foram se misturando ao idioma inglês, e, invocando sempre a ajuda de DEUS, a música acabou servindo como um canal, para expor e “curar” seus males, não só a saudade da terra natal, mas, também, as dores de amores e da sua miserável condição. Eu também tenho um blues dentro de mim, e, sai assim, como as antigas “work-songs”; começa aos poucos, num murmúrio e se alonga com a respiração e o pensamento, um lamento... Meu blues sai de meus dedos, salta nas palavras, nas páginas em que escrevo, nasce das histórias que leio; renasce nos contos que reconto vive nos contos que invento e no dia a dia que reinvento. Meu instrumento é o teclado de meu computador, onde pulsa, em descompasso, o meu coração.






segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-BOM DIA, TRISTEZA







Pablo Picasso (25/10/1881-08/04/1973) Fase azul




BOM DIA, TRISTEZA

Hoje a tristeza veio me visitar. Não marcou hora nem nada me perguntou. Foi entrando sem pedir licença, sem presente de Natal, sem votos de felicidades para o Ano Novo. Incomodada, mesmo assim a cumprimentei. Dei-lhe um meio sorriso e “Bom dia” lhe disse. Com um olhar sombrio ela nada me respondeu, continuou calada enquanto vagueava pela sala mal pintada... Dirigiu-se à mesa pequena e desarrumada... Ouviu o silêncio vazio da casa... Balançou a cabeça em sinal de consentimento. Baixou os olhos, aprumou-se... passou a mão pelo cabelo negro em desalinho. Ajeitou o comprido vestido azul... Queixou-se da cansativa viagem e foi para o quarto; o meu quarto... Calmamente fechou portas e janelas, que, não por acaso estavam abertas, e por onde ainda teimava entrar alguma claridade; uma claridade fria e tímida de um sol amarelado e trêmulo, que logo se escondeu por detrás das nuvens. Por fim, puxou as cortinas, e então todo o meu mundo mergulhou de vez na penumbra. Pedi-lhe que se fosse; expliquei-lhe que, para ela, não havia lugar, pois bem-vinda não era, ao recesso de meu lar. Chorei, implorei... mas ela insistiu em ficar. E agora que aqui está, diz-me a pálida senhora, que muito sente, mas não sabe quando se irá embora, porém, não é sua intenção incomodar... Necessita apenas de um descanso para os pés, uma xícara de café, chocolate ou chá e um ombro pra se encostar...

domingo, 28 de dezembro de 2008

AUSÊNCIA



Suprimo, meu amado,
as longas horas em que te espero
ardendo no fogo invisível do mais puro amor
E como a mariposa ao redor da lâmpada
ensaio minha última dança
E pelas esferas encantadas, escondidas,
vai meu espírito, livre, soberano
ao encontro da rosa mística...
Pois saibas amante adorado,
sobre esta terra,
somos nós como um sopro ou a chama vacilante de uma vela
sonho vago,
que, lentamente, se apaga
na mente daquele que desperta.

sábado, 27 de dezembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-A FLOR, A DOR E O AMOR



A FLOR, A DOR E O AMOR


Havia uma flor
Havia uma dor
Havia o meu amor
Esperava que uma supernova
surgisse resplandecente pela estrada
de minha vida afora
Havia o meu amor
Havia uma dor
Havia uma flor
Não devia carregar nenhuma bagagem
Esqueci-me dos conselhos dos antigos sábios
e entreguei-me a inúmeros perigos
Exposta a toda sorte de desatinos
Havia uma dor
Havia o meu amor
Não mais havia a flor
O jardim tão bem cuidado, mergulhado em sombras
Murchou... ressecou... perdeu a cor
Triste, tentei voltar sobre os meus passos
Mas era tarde... a longa estrada se estreitava a cada passada
Havia o meu amor...
Mas ainda havia a dor
Porém, a dor foi amenizando conforme o tempo decorrido
e o trabalho compreendido
Havia boa intenção e a vontade em dar as mãos
Havia compreensão
A alegria secreta tomou conta de meu ser
E entendi, finalmente, o por quê...
De repente...
Não mais havia a dor
Havia somente o meu amor


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MIL RAZÕES PARA UM BLUES



TULIPA NEGRA


Graciosa rainha da noite,
que a lua enche de graças e infindáveis carinhos.

Nenhuma canção, jamais, fará jus a tua beleza, pois, nenhum bardo, por mais sábio que seja,
conseguirá apreender o teu real significado.
Por mais que ele cante o amor,
as lágrimas teimarão em rolar
por seu rosto descontente,
já que o negror da tulipa é incognoscível,
e descrevê-la não é possível


Do livro RÉQUIEM; Virgínia Allan, Editora Scortecci




MIL RAZÕES PARA UM BLUES


Misteriosa e fascinante é a flor Tulipa. Originária da Turquia, tulipan (que quer dizer, turbante) pertence à família dos lírios (liliáceas) e costuma florescer no fim da primavera. Reza uma lenda persa que, certa moça, Ferhad, apaixonou-se perdidamente por um rapaz, Shirin, que, entretanto, não correspondeu a essa louca paixão. Rejeitada, Ferhad fugiu para o deserto, aonde ninguém pudesse vê-la chorar... e Ferhad chorava constantemente, dia e noite, de saudade, tristeza e solidão e cada lágrima vertida, caída ao chão, mal tocavam a areia, transformava-se em uma linda flor, a tulipa. A tão decantada tulipa negra, que, na verdade, possui tonalidade marrom-escuro, é conhecida como “rainha da noite” e assim como diz o poema, descrever a sua beleza com exatidão, não é possível. Motivo de inspiração a poetas e escritores, a exaltada beleza maravilhosa desta flor, perde-se no imaginário da humanidade na vã tentativa em decifrar os seus mistérios. Símbolo de perfeição, oculta, dentro de nossas almas, está a sua essência, misturada a nossa, em um casamento feliz e possível. Entretanto, poucos são aqueles que se dão conta deste milagre interior, pois a busca eterna por nós mesmos está, muitas vezes, centralizada apenas nos aspectos externos, deixando-se de lado o retorno positivo proporcionado pela natureza das coisas. Dentro e fora de nós, está a verdade, revestida de vários modos, em variadas formas, seja na imagem de uma criança; de um quadro, de um poema ou na forma de uma flor, portanto, descobri-la não é algo tão distante, e é isto que nos diz a preciosa tulipa, de negras pétalas aveludadas, cuja criação o homem, ainda, não foi capaz, sequer, de igualar. Título igualmente de um livro de Alexandre Dumas, autor de Os Três Mosqueteiros, o romance A Tulipa Negra trata da realização de dois sonhos quase que impossíveis: a concretização de um amor e a produção de uma tulipa negra. A história se passa na Holanda, em pleno século XVII, entre os anos de 1672 e 15 de maio de 1673: Um médico, que também cultiva tulipas, Cornelius van Baerle, é preso, sob falsa acusação pelo crime de traição. Na cadeia, apaixona-se por Rosa, a belíssima filha do carcereiro. Um prêmio de cem mil florins é o que oferece a Associação Hortícola de Haarlem ao desafio proposto de se produzir uma tulipa totalmente negra este é o enredo da história, todavia não foi o belo e intrigante tema do romance de Alexandre Dumas; muito menos a lenda acima descrita, que originaram o nome da mais antiga banda de blues manauara... Fiz o relato acima apenas como uma curiosidade e afim de evitar especulações. Gostamos de ler e escrever, entretanto, nunca lemos o livro de Alexandre Dumas e, tampouco ainda, já chegamos perto de uma tulipa negra. A tulipa também não é uma flor regional, ou quiçá, nacional, além do quê, floresce no fim da primavera, estação que não temos em nosso estado, mas é um símbolo de recomeço e, pensamos, um sonoro e exótico nome para uma banda cujo gênero foge um pouco ao gosto do grande público... mas, retirando uma lição desse caldeirão, que alguns poderão chamar de "mistura estranha", é sempre bom imaginar a possiblidade do impossível; é sempre bom imaginar que podemos sim, realizar os sonhos. Temos não uma, mas mil razões para um blues, todas possíveis, realizáveis... Nossos sonhos e nossas razões, não são correr atrás de fama e fortuna, claro, seria ótimo que, de repente, elas viessem como enfeite do trabalho árduo, mas temos nós os pés no chão e não voamos nas asas da ilusão, voamos sim, como já dissemos na "razão de um blues", e o que estamos tentando fazer é deixar um legado para o futuro, um legado modesto, porém, digno de nota ou de todos os tons. Desejamos inpirar, promover e abrir novos horizontes... Só assim, nestas condições, é que conseguiremos todos escapar do horrendo estado em que somos jogados, muitas vezes, pela absoluta miséria espiritual, moral e material... Seres inacabados que somos, temos ainda muito o que fazer.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

BLUES, UMA DEFINIÇÃO PARTICULAR


A nossa memória é leve e breve. É preciso sempre que um vento sopre e refresque nossas idéias, nossos pensamentos, reavive as lembranças esmaecidas, como acontece ao fogo que está prestes a se apagar. No meio da floresta amazônica canta o uirapuru um triste blues, quem conhece o uirapuru sabe que é um pássaro pequeno de canto melodioso, melancólico e poderoso. O canto se espalha e envolve a quem o ouve... inspira, acalma, enleva, a alma se liberta. A resposta ao canto mágico é imediata, pois todo mundo traz um blues dentro de si e cada um tem o seu jeito de tocá-lo, cantá-lo ou até mesmo (por que não?) de escrevê-lo, de dizê-lo, enfim, uma definição particular. Mesmo tendo surgido em outra terra, de diferente clima e cultura, o blues é universal, pois, é algo inerente ao gênero humano, assim pode soar diferente para cada um, para cada lugar, porém nunca deixa de ser um blues verdadeiro. Poderia dizer como os antigos europeus, que entendiam "blue" como um estado de espírito, uma tristeza mortal, aonde atuavam nossos demônios interiores, isto é, tudo aquilo, todos os sentimentos, que precisavam ser postos para fora; aqui no Brasil o chamamos de "banzo". A história do blues é triste, bela e inesquecível, cheia de encantos com algumas notas (blue note) irônicas de alegria e uma pitada de deboche, enfim uma canção que soa exatamente assim, alegre e triste ao mesmo tempo, aos ouvidos, a alma e ao coração. Embora a sua história tenha começado lá bem longe (ou "longe é um lugar que não existe" como sugere o título de um livro) ao sul dos Estados Unidos, é nos familiar a sua forma, e cada gente, de qualquer parte do planeta, pode traduzi-lo seguindo o seu próprio ritmo, seguindo a sua canção interior, de acordo com a "verdade" que dirige sua própia existência. Para mim, isto é blues.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MANAUS, MÃE DOS DEUSES - BREVE DESCRIÇÃO




MANAUS, MÃE DOS DEUSES - BREVE DESCRIÇÃO


A cidade de Manaus, capital do Amazonas, está localizada entre os rios Negro e Solimões.  
Fundada em 1669, com a construção do forte São José da Barra do Rio Negro, recebeu o nome de Manaus (que significa "mãe do deuses") após sua elevação à categoria de vila ocorrida em 1832.
No tempo áureo da exploração da borracha, Manaus ficou conhecida como a "Paris das Selvas", devido ao elevado grau de riqueza e sofisticação, e foi uma das primeiras cidades do país a possuir luz elétrica, tendo na construção do Teatro Amazonas atingido o seu ponto máximo.
Musicalmente, Manaus sofreu as mesmas influências que o resto do Brasil, isto é temos raízes musicais fincadas nas raças branca, índia e negra, acrescentando-se também o tempero introduzido pelos imigrantes árabes e judeus, portanto elementos latinos, afros, orientais e europeus. Outrora, tivemos as óperas e as orquestras trazidas de fora pelos barões da borracha para apresentações exclusivas para a elite, ou mesmo (caso das orquestras) para um evento estritamente particular. Atualmente voltamos aos Festivais, começando com o festival de cinema, passando por ópera e jazz... por todo o estado, ocorrem diversas festas e manifestações folclóricas, embora não com a mesma importância conquistada pelo Festival Folclórico de Parintins aonde as estrelas principais são os bois Garantido e Caprichoso. Mas, não pensem que Manaus é só folclore, também nos embalamos e nos inspiramos outros ritmos sons. Na década de 60, três dos Festivais Estudantis de Música, foram aqui realizados e o rock'n'roll em nossa cidade morena, a nossa "porto de lenha", rolava solto, assim a paixão pelo blues foi uma questão de tempo.
Em pleno século XXI, Manaus possui muitas opções, com shows de bandas que imaginávamos anos luz de nossos sonhos e o "bom e velho blues" tem conquistado seu espaço, aliás, muito merecido, porém a duras penas. É tempo de saber que música está além de qualquer fronteira, não é propriedade de ninguém. Em nossos dias é de se admirar de quem se admira que numa cidade conhecida pela sua vasta floresta e por isso mesmo, chamada algumas vezes de "pulmão do mundo" ou ainda, por causa de seu clima quente e úmido de "Inferno Verde " ou "Sucursal do Inferno" se ouça e se faça blues?!... mas, ora, se aqui é o inferno ou uma sua sucursal, aonde mais poderiam viver os demônios da tristeza, os nossos "BLUEDEVILS"? Afinal não são eles que nos ajudam a compor um belo blues? Bem... seja aqui inferno ou paraíso, a tristeza e a alegria também são seus habitantes e temos nosso direito de expressar tais sentimentos, na forma e no jeito que quisermos, naquele que nos sentimos mais à vontade, e esta forma para nós, é o blues.

domingo, 23 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-REI DE MIM



REI DE MIM

Tem dia em que custo a me perder ou a me encontrar. Fico assim, entre um meio termo, que é puro exagero. Teimo em me afogar em um imenso mar de solidão, lá aonde os sonhos deixam de ser sonhos... Mas, aí o que eles são? Mistérios intraduzíveis... sem solução.
A lua paira no céu e eu me imagino também no alto, um ponto brilhante, uma estrela antiga a iluminar os amantes, e só quem me vê e entende são aqueles com almas de poetas.
Fujo as agonias, despisto a infelicidade e vou ao jardim colher uma rosa cor-de-rosa que nunca murchará; uma rosa eterna, cujo perfume preencherá a casa, e cuja beleza adornará a fugacidade do lento/veloz passar das horas e a fragilidade dos dias de chuva ou de sol.
Bem no meio do pátio da casa mais encantadora do bairro há um poço que nunca seca... mas não é um poço dos desejos, nem em suas profundezas habita um gênio servo de nossas vaidades, capaz de nos curar ou tornar-nos ricos ou famosos num abrir e fechar de olhos...
Assim, inconformado, sigo eu nas águas do abandono; sigo eu na esteira de um sonho; sigo eu, enfim, sem dar por mim, nas pegadas de um mito obscuro e medonho, que confronta meu rosto desconhecido a um espelho de dupla face... ambíguo...
Corro contra o tempo... ou o tempo é que corre contra mim... ?! Tanto faz...
O tempo... o tempo parece brincar... ora se estira, ora se encolhe, ora torna a se esticar e eu, por mais que corra, não posso tocá-lo, enrolá-lo ou esquecê-lo... Qu
em sou eu...? Um pobre rei destronado... um nobre senhor sem palácio... um mendigo escondido, traído, apaixonado... perdido de mim!

sábado, 22 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-OS PRIMEIROS LIVROS DO "RESTO DE NOSSAS VIDAS"

para Clarice


OS PRIMEIROS LIVROS DO RESTO DE NOSSAS VIDAS



Meu amor pelos livros, Clarice, começou muito cedo e por causa deles aprendi a ler em tempo recorde, já que ninguém do mundo adulto, queria gastar o seu tempo comigo lendo gibis ou histórias de príncipes e princesas, mas, de qualquer jeito, estes vieram depois, já que comecei mesmo pelos gibis do Popeye, o Marinheiro, Esqualidus, (que tinha. se não me engano, um jeito único e engraçado de falar, além de ser esquisito e magérrimo) Tio Patinhas; as bruxas; Maga Patalógika e Madame Mim, os Irmãos Metralha, Mancha Negra, (adorável) Zé Carioca, Professor Pardal... ai, então, vieram as revistas de terror como KRIPTA, DRÁCULA e outras do gênero, cujo nome não me vem agora à memória. Geralmente, nestes tipos de revista, muitas em preto e branco, vinham os clássicos, recontados, ou melhor, reescritos, de escritores até certo tempo atrás considerados malditos, como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, .Bram Stocker, etc...
Entre todos, porém, Clarice, Edgar Allan Poe foi o que exerceu maior influência sobre mim nos primeiros anos de adolescência. Berenice, Eleonora, Morella, O Corvo, O Gato Preto, O Coração Denunciador, O Barril de Amontillado... Lembro-me com que ansiedade ficava esperando meu irmão mais velho chegar em casa com aquele monte de revistas em quadrinhos, revistas de “sonhos”. Sim, não é algo muito “natural” de acontecer, mas o terror, o fantástico, foram os primeiros temas dos primeiros livros do resto de “nossas vidas” e ao contrário do que muitos podem pensar, não vivia assombrada (vivia encantada) e não desenvolvi, por causa disso, distúrbios de personalidade (pelo menos do que eu conheço de mim).
A Nona Arte, que sempre foi rodeada por preconceitos, considerada mesmo como “sub-literatura”, abriu-me novas portas, levando-me a mundos até então, por mim, desconhecidos.
O contacto com uma literatura mais adulta; através dos quadrinhos, facilitou-me o desenvolvimento das idéias, posto que, levou-me a dar-me conta de questões que lutei para resolver, questões existenciais.
No colégio, os livros que logo me agradaram foram os de História do Brasil e História Geral, cuja professora, de Estudos Sociais, (esqueci o seu nome) também ensinava Português, nos estimulava, fazendo com que lêssemos em voz alta, várias passagens importantes, fazendo o mesmo nas aulas de Português. Foi assim que Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e você, Clarice, entraram em minha vida. Nesse tempo ainda não havia brotado em mim a vontade de escrever. Queria apenas participar, apreciar a beleza das palavras e extrair a sabedoria daquilo tudo.
Os contos de fadas me deixavam melancólica, mas, adorava. Branca de Neve, Cinderela, O Alfaiate Valente...
Hans Christian Andersen resisti a ler durante algum tempo dada a tristeza que me transmitia; assim O Patinho Feio só aquietou em minhas mãos, na fase adulta. Outro conto dele inesquecível para mim é A Sombra, tão sombrio quanto o titulo.
Creio Clarice, que todos nós, com raras exceções, somos meio “patinho feio” e só o tempo, nossa competência, força de vontade e um mínimo de sorte, é que nos ajuda a fazer a transformação para cisne. Infelizmente, nem sempre dá certo, transformar-se em cisne requer trabalho duro sobre si mesmo e poucos conseguem manter a disposição para fazer o que é necessário.
Oscar Wilde me apareceu com seu Príncipe Feliz, O Pescador e sua Alma, O Retrato de Dorian Gray e Di Profundis. Tomei gosto e enveredei pelos romances clássicos, como Madame Bovary de Flaubert, Senhora e O Guarani de José de Alencar.
Em seguida, aconteceu-me o episódio da perda dos livros de Machado de Assis e para me consolar, fui de livro em livro sem me dedicar, em especial, a um autor e, vieram os best-sellers: Ernest Hemingway (O Sol também se levanta), Robert Graves (Eu, Claudius, Imperador, A Filha de Homero) e muitos outros.
Herman Hesse, com o Lobo da Estepe e Damian também passou pela minha vida, assim como certamente passou pela vida de todos que gostam de ler. Vivia pelos sebos atrás de tudo o que me interessava e costumava, graças a Deus, ganhar muitos livros e pela minha ânsia e sede de saber, pela incansável busca interior fui recompensada e encontrei Goethe, Dostoyeviski. ..
Herman Melville e sua baleia branca, Moby Dick, me impressionam até hoje e os santos sufis, que com seu modo peculiar tocaram minha essência, fazendo-me despertar para um jeito novo de olhar o mundo.
Se eu fosse listar todos os livros que me influenciaram e fizeram diferença, não caberia mesmo em uma só vida.
Nesta atual fase de minha existência, dessa “nova vida” Clarice; não possuo biblioteca devidamente projetada e equipada, mas, o que tenho me basta. Poucos livros, agora, suscitam meu respeito, minha atenção e paixão. O tempo passou, estou com os pés firmes, muito bem fincados no chão e raras vezes me vejo arrebatada para um lugar de sonhos. Tudo passa. A gente aprende quando quer realmente aprender, e sei que vais concordar comigo, que, tudo o que foi e ainda é importante, está guardado, impresso na alma, pois os verdadeiros livros, aqueles que nos encantam e ensinam, estão vivos, inscritos, eternamente, dentro do coração.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

FELICIDADE DE PASSARIM



Horizontes que se abrem a perderem-se de vista...
No topo da árvore à beira do caminho
Um passarim faz seu ninho

Voa pra lá pra cá
Trazendo no bico, galhinhos secos, retorcidos
Folhinhas amareladas e palhas mortas
Canta uma canção, sozinho... o solitário passarim

Não tem com quem compartilhar
Os segredos, os desejos, os desassossegos
Não tem com quem compartilhar o seu ninho
O nobre passarim
Mas isto não parece incomodá-lo
E vai juntando aqui e ali pedaços de felicidade

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-MAIS UMA VEZ



MAIS UMA VEZ


Queria que, mais uma vez, você me aparecesse
Como sempre... sorrindo e morrendo de saudade
Queria que você pudesse me dizer que partiu sem sofrer
E que não se despediu para não me deixar preocupada e triste

Queria que, mais uma vez, você entrasse por essa porta
Como sempre... sorrindo e morrendo de saudade
Cansado do trabalho e da faculdade
Correndo para o contrabaixo

Queria que, mais uma vez, você me aparecesse
Como sempre... sorrindo e morrendo de saudade
E abraçasse tuas filhas e com elas brincasse

Hoje eu amanheci assim... sou só saudade... uma saudade só

E choro enquanto escrevo
Pensando em teu rosto amigo, tão querido
Lembrando do teu sorriso e do teu jeito

Saudade... dor doída/doida dolorida...

Que me aperta o peito e cala

Mágoa guardada que me arrasta e maltrata

Ainda te espero
Ainda te chamo
Ainda te amo

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

JAPANESE BLUES



Hey man... Existirá, dentre os sentimentos, algo pior que paixão recolhida? Sim... Aquele amor que jamais se esquece, mas, o qual, entretanto, a alma não aquece, pois pensar na mulher ingrata, bad dream, é manter aberta no peito a chaga... é lamber a ferida, dolorida, para sempre viva... Que, às vezes, cede, cala, porém, dissimulada, nunca sara! Afim de me livrar um pouco desse tormento, canto aqui, para vocês, o meu blues japonês...

My baby, mal me disse um alô
E logo me deixou...
Cavou daqui até o Japão
Em busca de uma nova paixão

Foi daqui pra nunca mais...
Ai, que falta ela me faz!

Sua indiferença grande mágoa me causou
Doeu fundo a sua ingratidão...
E por ter me deixado só, na solidão
Partiu meu coração

My baby, hoo, my soul, me deixou
E fugiu para o Japão
Descansar à sombra do imperador
Em busca de uma nova paixão

Foi daqui pra nunca mais...
Ai, que falta ela me faz!

Ela veio assim...
E mais rápido se foi de mim
Veloz como o tufão
Breve como a ilusão

Em um piscar de olhos
My baby, my soul, ooh no, me deixou....
Fugiu para o Japão

Foi daqui pra nunca mais, oh yá...
Mal me disse olá...
Nem me deu Sayonara...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DORIAN GRAY




DORIAN GRAY


Tradutor fiel de mim mesmo... sou um esboço imperfeito que em linhas tortas... amargas... quase apagadas... procura manter uma imagem... forte... sábia... e tenta sobressair-se... entre tantos outros esboços... com os mesmos defeitos... Auto-retrato... claro... de um Dorian Gray deturpado... Juventude... beleza... e perfeição... em sépia ou preto-acinzentado... restos de nada... pura ilusão... de ótica... de olhos que não vêem... além... de ambições malfadadas... de almas e corações... do impossível nunca dito... do fato nunca consumado...Tudo passa... sim... tudo se perde? Não... tudo se transforma...! É a natureza... o não aceitável... das coisas... e das situações... impermanência... ponto... e mais pontos... mutação... Por onde andará minha sorte...? Encolhida... Perdida por entre tantos descaminhos...? Adormecida no cimo de um monte... ou esquecida... escondida... no fundo de um abismo... mera lembrança... levada... lavada... misturada... nas águas de um rio que corre... célere... para o mar... Lá aonde se encontram as águas... ou... as mágoas... doces e salgadas... Violenta... e/terna... pororoca... de sentimentos e tormentos... amor e/terno... de rio e mar... deixa passar... deixa navegar... em águas tranqüilas... contente... feliz da vida... Mas... e eu... meu Deus... Por onde andei...? Em que falhei...? Que pontos não observei...? Que fiz eu... de meus sonhos...? Que fiz eu... de meus enganos...? Quantas chances... desperdicei... deixei passar? Quantas escolhas... ao azar...? Tudo fora de lugar... peixe preso no anzol... não há como escapar... Estou aqui... agora... só... do lado de cá... mais adiante... olá... não consigo enxergar... Meus olhos arregalados não me adiantaram... só fizeram chorar... e meus ouvidos atentos... apurados... deram crédito somente as mentiras... as ilusões... contadas pelos desafortunados... pobres... “caçadores de emoções”... maus atores... em apuros... vestidos de andrajos... em frangalhos... no papel... amarelado... imoral... da virtudesvirtuada... tratada como coisa normal... banal... pedaços desconexos de peças escritas às pressas... mal ajambradas... desajeitadas... mediocrementes... mentes... pensadas... representadas... pavorosas colagens... des/construções... da arte... no palco... em ruínas... do teatro... da vida... e na platéia... os vermes... à espera... longa mas não interminável... do banquete ambicionado... pausa... atos entre atos... Abomináveis... são... não?... Todos os pecados... perdoáveis... são... não...?! Junte as mãos... então... em oração... talvez assim... preocupado... rezes... e encontres... finalmente... a verdade... aquela... que salva... e liberta... na hora certa... a quem... alguém que... certamente... bem merece viver bem... em paz... com o “coração tranqüilo”... a bater no peito... desapertado... “a espinha ereta”... “a alma quieta”... para sempre... digo... Amém.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DIA ETERNO



Enquanto o tempo não nos fere em desventura, ousemos por bem aproveitar o dia, gozemos então da mocidade, que, por vezes, muito cedo, desfaz-se em agonia.


E a aurora, que agora desponta, clara e radiante, em um instante, se fará noite escura, enquanto a lua crescente, serena, límpida, brilhante, penderá bendita por sobre a terra nua!


E as estrelas... Ah, belas e etéreas, dispersas pelo vento, serão meros enfeites a adornarem os semblantes dos viventes...


Outra manhã nascerá e com ela virá o silêncio e a solidão... Os sonhos serão herança apenas daqueles que herdarão a terra.


Mas, para o nosso consolo, na hora do crepúsculo que chega, prisioneiros, nunca mais haveremos de ser... Unidos na alegria e na tristeza, entregues estaremos à beleza do dia eterno que nos vem

domingo, 9 de novembro de 2008

TUA PRESENÇA






Amor, arrepios por minha pele sobem
Quando no sossego da noite me desejas
E se no aconchego de meus braços
em ardorosos prazeres te deleitas

Passa o dia lentamente
Se te demoras a chegar
Paira a tristeza em meu pensamento
Sombras turvam-me o olhar
E se é dia e o sol existe, ele não brilha, nem queima
E se é noite, não há lua, nem céu, não brilham as estrelas...
É noite fria, vazia e escura, em desencanto desfeita

Arroubos de impaciência me transtornam
e uma nuvem cinza meu rosto encobre
Tomam-me por ausente ou desvalido
Se teu nome repetidamente pronuncio

Quero tua presença, amor, constante, amante,
sempre ao meu lado, pois sem ti o que sou?
Um simples nada...coberto de nada
Um peixe fora d’água

Alma abandonada
Sem descanso, envelhecida
Semente fugidia
Destituída de esperança
Esquecida da lembrança

Ferida antiga, amiga, exposta no peito
O lamentoso pranto de uma dor doída

Um lago drenado
Uma flor que murchou
Um cântaro quebrado
A angústia que não passou

Um jardim fechado
Ai, ai... uma fonte que não jorrou
Um pássaro cativo, amor, descuidado
Que um dia voou e nunca mais voltou

sábado, 8 de novembro de 2008

EROS E PSIQUÊ


Eros e Psiquê, Antony Van Dick (1639/1640)


Quem amor, contou-te este segredo
Que do vulgo tento esconder
Quem amor me tirou o sossego
De te amar sem você saber

Quem amor contou-te este segredo
Que minha face de rubor encobre
Quem deixou-me o coração, célere a bater
Por ter te revelado quem tanto sofre

A tímida Paloma arribou para o norte
Foi fazer seu ninho em lugar escondido
Aonde nem a lua nem o sol
Possam descobri-lo

Assim como a Paloma é o amor que te tenho
Tímido, anseia voar...
Mas me impedem as asas cortadas
Que a esperança e a saudade, na verdade,
Desejam quebrar

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

REBANHO DESFALCADO



Detenha o tempo seu moço
Por favor, faça-o voltar
Detenha o tempo seu moço
Que eu não posso mais

Passivamente deixei passá-lo
Nem percebi crescer minha menina
Em mãos ignorantes deixei-a, em desamparo,
Refém nesse mundo de mentes aflitas

Meu amor transmudou-se em dor
O sorriso, ao meu rosto envelhecido não mais aflora
Pois cantigas de ninar, para ela, não posso mais cantar
Acalento ao seio d’alma a lembrança de uma filha morta

De meu coração sai apenas um réquiem distorcido
A oração já não me consola e minha alma despedaçada
Em um mar de transtorno se afoga. A dor é senhora...
Veio para ficar... nunca mais irá embora...

Tropecei... e em muitos momentos dessa jornada,
Deixei-me vencer pelo cansaço, omitindo-me
Nos momentos mais necessários, curvando-me a pressa e a vontade,
O viver dos condenados

Vitimas/cúmplices/displicentes
Somos sempre por livre, espontânea vontade
Dando sempre a outra face
Tratando bem a quem mal nos quer,
Driblando a angústia da miséria acomodada,
Concedendo aos diabos perdões disfarçados

Beijo de Judas nos rostos dos assassinos
Quando a vontade, em verdade
É gritar, é bater, matar ou morrer...

Então porque me calo?
Rebanho desfalcado
E há lobos que nem se disfarçam
Porque nos deixamos enganar?

Nem chorar mais consigo
Nó na garganta que me acabrunha a esperança
Que me adoece/adormece o espírito
Que me atormenta em febris delírios

E viver assim, com isso, seu moço, lhe digo
É o pior e o maior de todos os castigos...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

INCUBU



E ela sonhou que ambos se encontravam e conversavam uma conversa estranha, esquisita... Também só pode ser estranha, esquisita, uma conversa com um demônio.
Ele queria alguma coisa dela, mas, não queria dizer o que era e ela ficou pensando, imaginando... : “O quê, realmente, seria importante para um demônio? Os sonhos? A mente? A alma? O coração?”. Jamais poderia desconfiar que falava com um demônio apaixonado e o que realmente lhe importava era obter, com absoluta certeza, de que possuía um amor real, sincero, constante e o melhor de tudo, plenamente correspondido.
E ela perguntou a esse ser fascinante: “Um demônio pode amar? Um demônio sabe amar?”
E ele lhe respondeu: “O amor é um demônio, portanto, um demônio pode e sabe amar, por isso habita um inferno tomado pelas chamas, pois arde num fogo vivo, e, por toda a eternidade, nele será consumido, porém, não é a sua carne que queimará eternamente, mas, sim sua alma amaldiçoada pelo amor infinito; distorcido; amor carregado, que de tão pesado tornou-se um fardo”.
E ela ouve do demônio, que a acaricia e lisonjeia palavras que jamais ouvira ou ouvirá de homem algum e sem nenhum pudor ou cuidado, se entrega em seus braços.
Ao fim de tudo, ele lhe diz entre sussurros: “Durma bem, meu amor, estarei sempre com você, em seus sonhos”. E lentamente, ele sobre ela se inclina e em sua testa, deposita um longo beijo de boa noite.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-DESCONSERTO



DESCONSERTO

Apago o sonho que até por uns instantes
Deixou-me tonto
Largo a mala na sala
E despeço-me do nada
Ando para frente
Olho rapidamente para trás
Não há sossego
Na fragilidade do novo dia que surge
Deslumbrante, radiante
Mas muito além de mim
Suspiro profundamente
E deixo no rastro dos meus passos
Palavras caídas, perdidas no fim da linha
Hoje fechou-se o tempo
Em querelas, desavenças
Vou eu na gangorra da vida
Sem brincadeiras
Num sobe e desce
Em versos nus, a descobertos
Desconsertado tento consertar o mundo...
Do meu lado...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

SUCUBU




Ela surgiu-me assim, envolta em brumas, mas, aos poucos foi tomando forma. Primeiro em minha mente, depois em meu coração. Cada parte de meu ser, físico e espiritual, foi dominado por esta arrebatadora visão. Adoeci. A escuridão avançou rapidamente sobre mim.
As noites mal dormidas eram repletas de sonhos confusos e de pesadelos medonhos, porém, neles, sempre estava a bela mulher, cujo corpo, sensual e lascivo, deixava-me ardendo de um desejo até então, por mim, desconhecido.
No começo, os ignorei... os sonhos... ignorei-os, com toda a força possível... Ignorei tudo que me remetesse à lembrança daquela mulher, ao mesmo tempo terrível e inesquecível. Pensei que, desta forma, simplesmente ignorando, mais cedo ou mais tarde, me livraria desses sentimentos libidinosos, despertados por algo intangível e inconcebível. Pensei que logo, logo, eles iriam desaparecer, deixando-me livre outra vez para agir e pensar de maneira sensata. Entretanto, tal não sucedeu e à medida que o tempo passava, pior ficava minha situação.
Ela se insinuava; me roubando o sossego e a concentração, me jogando num poço profundo de pura solidão. Para ela, já não bastava o silêncio da noite, quando, gemendo de prazer, cavalgava-me, faminta, minando minhas forças, fazendo-me desfalecer a cada gozo; o corpo arrepiando de tanto deleite e tão faminta estava que passou então a invadir-me os dias, sussurrando meu nome, chamando-me à perdição; surgindo a minha frente nua; etérea, oferecendo-me a boca e os seios, pequenos; arredondados, cujos mamilos arrebitados, deixavam-me tonto. Eu sabia o quê ela era, mas, estava muito além de mim, desvencilhar-me de sua presença inebriante, malignamente sedutora. Sentia sua língua, penetrar-me os ouvidos, lamber-me o rosto, descendo, suavemente pelo pescoço, sentindo, pelo corpo inteiro, o seu perfume e sua respiração.
Com pressa e sem jeito, afastava-me de todos e nos recantos mais obscuros a procurava, tremendo de paixão. Meu sangue fervia, meu coração batia loucamente e eu explodia num gozo insatisfeito, pois sempre queria mais e mais... Ela estava me levando à loucura, mas, não só ela, assim como também minha fraqueza, avidez e passividade, numa entrega total. Doei-me em sacrifício em troca de um prazer sem limites... prazer este, que no final, não me satisfazia completamente. Minha vida virou um caos.... a culpa me consumia, mas, não era mais senhor de mim... ela possuía o controle e queria tudo, queria não, exigia tudo... tudo o que fosse possível ser pesado numa balança. A balança de Maat condenou-me, já que meu coração havia se levantado “como testemunha contra mim”... Ela, ela, eu... destruíram-me... e ansiei desesperadamente pelo meu próprio fim
.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-PARTIDA



PARTIDA

Ainda não é chegada a hora de partir
por favor, amor, não vá
que farei eu sem ti
sem teu calor para me ajudar a caminhar

Nas incontáveis horas de dias
idos e vindos, desde o raiar da real
fatal existência
foi a ti que tanto esperei
e por isso estranha agora me soa a tua ausência

Às vezes pego-me absorta
mergulhada em tristeza sombria, infinda
sob a pálida luz do fim do dia

Afugento o sonho vadio
que rodeia minha alma inconstante
Desconsolada esposa amante
musa viúva de um poeta louco delirante

E no mais profundo silêncio
repenso os meus pensamentos
Descarto o meu ansioso hesitar
retiro a tristeza do olhar...
Descuido da beleza vazia
e prossigo, com paciência, a feitura do dia


domingo, 2 de novembro de 2008

FÊNIX



O pássaro de fogo, no céu passa ligeiro, rasgando os véus que tudo encobrem, deixando nua a realidade das coisas, como elas realmente são.
Pássaro peregrino, partes em busca da perfeição.
Com tuas leves asas, em círculos voas, antes de tomares outra direção.
Teu caminho pela certeza traçado um desenho faz no espaço solitário. Desejos em forma de asas!
Pássaro de fogo; voas sem destino.
E daí? O destino pouco importa somente a paisagem queres ver com cuidado.
A curta viagem que no céu empreendes, leva-te a alçar vôos maiores; cada vez mais altos, em busca de outros céus.
E lá de cima, observas a pira acesa que arde e te chama e tu, pássaro de fogo, pela união final anseias. E como uma flecha, dos céus atirada por algum Deus consciente, mergulhas direto na pira ardente.
Quando penso que tudo está consumado, então, das próprias cinzas renasces e um outro vôo, recomeças, rasgando o céu em hora incerta, como uma flecha para os céus atirada, por algum Deus consciente.


*****




Segundo as lendas orientais, há um pássaro na Índia, a fênix, que, tal qual o cisne e o pelicano, é um símbolo de morte e renovação.
O temor da morte tem raízes profundas dentro de nossa alma, embora dela não possamos escapar. A lenda da fênix nos ensina a conviver com esse temor, um suave consolo para um fato que para muitos é inaceitável.
A história deste pássaro mítico é de origem grega, assim nos faz crer Garcin de Tassy, um escritor francês, tradutor do livro O Parlamento dos Pássaros, do mestre sufi Farid-ud-Din Attar.
Segundo ele, a fênix é um pássaro solitário, cujo bico, extraordinariamente longo e duro, é perfurado por muitos orifícios, que lembram uma flauta. Cada orifício produz um som diferente que revelam segredos profundos e sutis. Quando ela se faz ouvir, soltando seu canto, carregado de tristeza, tudo e todos os seres da natureza se afligem, subjugando, inclusive, as bestas mais selvagens. Depois, apenas o silêncio. Deste canto o sábio aprendeu a música.
O tempo de vida da fênix é longo, vive cerca de mil anos. Conhece também a hora de sua morte e, quando chega este momento, constrói para si uma pira, recolhendo lenho e folhas de palmeira. Então, após sentar-se no meio dela, canta tristes melodias. Ela treme como folha ao vento, pois a dor da morte penetra-lhe amargamente.
Todos os seres da terra, da água, do céu e do ar, aproximam-se, atraídos por seus lamentos. Através de seu exemplo, cada um, dentro de seu coração, se resigna a morrer, e muitos, de fato, morrem, pois a tristeza de vê-la assim é tanta que é impossível de se conter.
Quando só lhe resta somente um sopro de vida, o pássaro fabuloso bate suas asas, produzindo um fogo que rapidamente cresce e se espalha pelo lenho e pelas folhas de palmeira. A pira está acesa e o fogo arde agradavelmente. Logo o pássaro se torna brasa viva, e, instantes depois, apenas cinzas. Mas, para surpresa e alegria de todos, das cinzas, um novo pássaro renasce, mais perfeito e majestoso para viver por mais mil longos anos.



















sábado, 1 de novembro de 2008

A MORTE E SEUS DISFARCES (*)







A morte tem esse dom de deixar-nos petrificados, por dentro e por fora, assim através da saudade, faz seu trabalho com menos demora. E leva mais um, e leva mais dois e leva mais três... e sob vários disfarces, como o do guri orfão de um conto que li, carente de afeto, jamais se contenta, e, como o gato sem dono, deste mesmo conto, vai procurando pelas ruas, driblando o abandono até encontrar um feliz / infeliz caminhante, e, com seu ronronar meigo, sedutor dele vai se aproximando, se enroscando entre as suas pernas, trançando entre elas...

(*) A MORTE E SEUS DISFARCES é baseado no texto de Cláudio B. Carlos; aqui abaixo transcrito, por inteiro. Publicado no site http//:www.simplicissimo.com.br Edição 254 -27 -11- 07

COMO GATO SEM DONO



NÃO SABIA da morte nem de seus significados. Até gostava da palavra e encantava-me a triste elegância ou a elegante tristeza das mulheres de negro, chorosas nos velórios. De certo, só que era alguma coisa de muito grave. Mas era tão distante de mim, que correndo pelos campos com os guaipecas, ou comendo furtivas guabirobas entre um brincar e outro, era impossível imaginá-la ou sabê-la. CHEGOU-ME SILENTE como um passar de flanela em tampo de vidro, e com ares de sorro levou-me o amigo deitado em palavra de cerejeira. Também gostava desta – caixão – talvez por não saber que nela pudesse caber o gigante que carregou-me às costas um dia. Ali, no centro da sala, como num passe de mágica, em frente ao féretro me branquearam os cabelos, como se tivesse dormido à geada. Petrifiquei-me por dentro e entendi que assim como a saudade, que também é palavra bonita, a morte, em um dos significados que traz como disfarce que escolhe à toa em um leque de opções, é guri que fica sem pai, como gato sem dono, assim sem pernas pra se enroscar.


MARA



Amargam-se as relações
aonde os anos, em vez de fortalecerem os laços,
apenas os desfazem

Estranhas companhias em família,
Estranhos comportamentos
Estranhos casamentos
Estranhos, somos, uns aos outros, sempre
em melancólicas vivências, desamparadas ausências

Não me reconheço em meu irmão
Todo dia, levanto acabrunhado,
Assombrado por fantásticas, horrendas aparições
Tento esquecer os pesadelos, mas não encontro sossego

Perco o rumo por algum tempo
Nau desgovernada que gira em perigoso remoinho
de emoções no mar revolto por dentro de mim

Sob furiosa tempestade,
relampejos, clarões de verdade
rasgam o céu carregado, manchado por nuvens sombrias
Distante está o farol pra alumiar e me ajudar
a chegar a um porto seguro...



PRINCÍPIO, MEIO E FIM



É chegada a hora de pousarmos a vassoura... Portanto, para terminarmos nosso breve passeio sobre fórmulas e encantamentos, e o resumo da possível origem das feiticeiras, que, provavelmente vieram da “Terra do Verão”, o Oriente, pelo menos assim reza a tradição, queremos definir a fronteira que separa religião e magia, em outros tempos, tão confundidas uma com a outra, mas hoje se sabe que religião é a submissão ao Senhor Todo Poderoso, a quem se faz preces e louvações, enquanto magia são ritos com a finalidade de agir sobre forças sobrenaturais, quaisquer que elas sejam, a realizarem as ordens e os desejos daqueles que as invocam, digamos os chamados magos, bruxos ou feiticeiros...
A magia, resquício de algo já perdido, tão distante, leva-nos a pensar se as práticas e rituais, por não diferirem umas das outras em várias partes do planeta, se tais práticas não vieram a existir e a se expandir (através de imigrações, invasões, etc...) a partir de um único ponto... (?!) e embora a magia tenha sido malvista por um longuíssimo tempo, e em alguns aspectos, nem funcione mais, contudo, justifica-se o seu estudo, já que ainda é praticada por povos “primitivos” e por pessoas cuja mente vagueia entre a realidade e a fantasia, e ainda por nos parecer estranha, intrigante, e, por vezes também constragedora à religião, tal como a ordem social imposta.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

POSSÍVEL ORIGEM DAS BRUXAS



Do Oriente para o Ocidente

Seguindo as informações que se tem desde a Idade Média, foi uma possível combinação de cultos anteriores e posteriores que acabaram por culminar no grande temor que acometeu a Igreja na Idade Média. Entre os principais responsáveis como propagadores da "antiga fé" consta-se a tribo Aniza; numerosa, rica, poderosa, oriunda dos remotos desertos da Arábia, aparentada ao clã dos faquires ou os “humildes de espírito”, que chegou à Espanha antes dos meados do século V, como aqueles, que, através de sua ferocidade nos campos de batalhas, acabaram por inspirar aos bardos tribais, com a expansão do Islã, vasto material a ser decantado, prática que muito contribuiu mais tarde, para o desenvolvimento do código de honra da cavalaria assim como dos poemas épicos de amor.
Estes beduínos remontam aos tempos pré islâmicos, Dias dos árabes, cuja vida cotidiana era um conjunto de ações atribuladas e fabulosas. Guerreiros dotados de astúcia, habilidade estratégica e uma capacidade de, em um abrir e fechar de olhos, desfazerem-se de tudo. O preceito antigo “crescei e multiplicai-vos” era uma prerrogativa da tribo, que rapidamente se expandiu, chegando até aos nossos dias, em grande número nos desertos da Síria.
Abu El Atahiyya (748-c 828) “o pai da poesia sacra árabe” era um oleiro que viveu ao tempo do culto dos foliões (dervixes maskhara ou mabrush, "marcados na pele" ou talvez ainda "embriagados pelo estramônio") e do grande califa Harum al-Raschid. Voltado à contemplação, Abu el-Atahiyya almejava um maior equilíbrio entre as glórias e o poder de Bagdá aliado a um desenvolvimento das faculdades humanas e foi com esta proposta que ele dirigiu-se ao califa, que lhe concedeu uma verba anual de cinqüenta mil moedas de prata.
Com a morte de Abu El-Atahiyya, “os sábios”, o círculo de seus discípulos, votou-lhe um culto à personalidade e para simbolizar o clã a qual pertencia, escolheram a cabra por possuir a mesma raiz do nome da tribo, ou seja (anz, aniza). Uma tocha era posta entre os chifres da cabra, (o que, talvez, na Espanha, veio a resultar na aparição do Diabo) o que, representava para eles, na verdade, a luz da iluminação intelectual. A marca tribal (wasm) lembrava muito a uma seta larga, também conhecida por pé-de-águia, ou o temido pé-de-pato das feiticeiras, que sinalava o local das reuniões. As mulheres do grupo, principalmente as mais jovens, eram marcadas com uma tatuagem, conforme o costume beduíno. É por essa época, como já foi dito, antes dos meados do século V, depois da morte de Abu el-Atahiyya, que uma parte de sua escola, ainda de acordo com a tradição, emigrou para a Espanha, que então se encontrava a mais de um século sob o domínio árabe, e vivia por lá um grande número de sírios... E foi assim que os Aniza, e entre eles um mestre dervixe, versado nas canções, usos e costumes de sua tribo, chegaram à Europa, trazendo na bagagem toda a sua cultura heróica e mágica, envolto em muitas lendas...

Continua...

Do livro Os Sufis; Idries Shah; Editora Cultrix; por Virgínia Allan


Fórmula indiana para se ficar mais bela

Ó Arati, esse Demônio, que feia me faz, a ti expulso. Toda a falta de graça que tenho comigo será corrigida pelos poderosos Varuna e Mitra. Aryaman, belas faça minhas mãos, deixe-me ser feliz, pois a felicidade é o fim para o qual, nós, as mulheres, fomos criadas!
Pelo espírito Savitar, toda feiúra, banida seja! Todas as coisas indesejadas da mente, do corpo e da aparência, desapareçam... Toda imperfeição, toda falta de beleza expulsas sejam!

Ritos Mágicos e Ocultos; Idries Shah; Biblioteca Planeta por Virgínia Allan

terça-feira, 28 de outubro de 2008

YO NO ACREDITO EM BRUJAS...


Existe um ditado espanhol que diz: “Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem...” as brujas (os) ou feiticeiras (os), eram as (os) praticantes da “velha religião” ou “fé” ou ainda “tradição antiga” que, na Europa Ocidental, celebravam seus rituais e crenças em grandes festividades e eram por isso, perseguidos e tachados pela Igreja como devotos do demônio.
Feiticeiro (bruxo, palavra em espanhol, que lhe é correspondente) significa “sábio” e eram pessoas estudiosas, ligadas à natureza e suas práticas, que penetravam os segredos mais profundos, passados depois de geração em geração, que lhes permitiam obter das ervas e outras fontes naturais, elixires e fórmulas de “encantamento” que ajudavam na cura de doentes. Eram eles os “médicos”, conhecidos dos vizinhos e aldeões, que confortavam o corpo e o espirito, e durante muito tempo não foram perturbados nem ameaçados por qualquer motivo. Mas, minha intenção aqui não é tratar da origem das bruxas, nem o que levou a Igreja Católica a persegui-las. Como nos aproximamos do Halloween, que, embora não seja exatamente uma tradição da cultura brasileira, mas que está começando a se disseminar, pois temos nós também, sempre tivemos, como em qualquer lugar nossos mágicos, bruxos, xamãs e afins...) gostaria de transcrever algumas fórmulas antigas e curiosas. Irei começar com a magia amorosa.

1. Para conquistar a paixão de um homem: Esta fórmula é de origem indiana e a mulher não deve confiar a outra a sua prática, deve ela mesma recitá-la pelo menos por sete vezes:

Possuída estou pelo amor abrasador que sinto por este homem, e este amor vem a mim de Apsaras, o que sempre vence.
Que ele, este homem, pense em mim, só em mim... que me deseje somente e que seu desejo queime... que esse amor nasça do espírito e que o envolva totalmente, eternamente!
Que me deseje como nunca antes me desejou! Eu o amo, eu o quero... deve ele por mim o mesmo sentir!
Ó Maruts, que de amor ele fique cheio, ó espírito do ar, o encha de amor; ó Agni, que ele arda em amor, fogo eterno e invisível, mas somente por mim!

Continua...


Do livro Ritos Mágicos e Ocultos; Idries Shah; Biblioteca Planeta - por Virgínia Allan

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ORA PRO NOBIS



Há um mar por dentro de mim
que ora calmo, ora violento
vai em ondas quebrar
na praia do meu desalento
Não sofro mais como antes
porém, não sorrio com tanta avidez
Não desperdiço o tempo que necessito
iludindo-me com insatisfeito,
torto viver
Preencho com este mar bravio
o que ainda me resta de vazio
Sinto sede, sinto frio...
Mas, ciente da dor que se foi
que aos poucos, lentamente,
se esvaiu
Sorrio, agora, incerto da certeza mortal
que tudo encerra, do silêncio sepulcral que nos cerca
o cotidiano feito as pressas, cheios de emendas e detalhes
que nunca se desfazem
Aonde foram parar as horas?
Enfim, deixarei de lado
meu rosário de lamentos
Ai, minha Nossa Senhora Desatadora dos Nós
Ora pro nobis







segunda-feira, 13 de outubro de 2008

À NEGRA SENHORA DOS OLHOS DE ESTRELAS



Meu coração está só e de aflição ele chora

Não ouço os vossos passos, senhora,

e não mais escuto a vossa voz

O sol esfriou e a aurora perdeu a sua cor

A solitária andorinha voou, partiu para além do mar

Triste, o pássaro cativo também anseia voar,

pois noutra terra está a donzela de negras tranças e suave sorriso

Ela, mais bela que a distante lua,

despiu-se do seu manto de grandeza e humildemente,

para o chão volveu seus olhos de estrelas:

“Ouve”, disse ela, “o amado já vem”

sábado, 11 de outubro de 2008

O FOGO QUE DERRETE O VÉU



Jalal ud-Din Rumi




Atenta para as sutilezas
que não se dão em palavras
compreende o que não se deixa
capturar pelo entendimento

Dentro do coração empedernido do homem
arde o fogo que derrete o véu de cima abaixo
Desfeito o véu
o coração descobre a história de amor
entre a alma e o coração
Regressa sempre
em vestes renovadas

Ao recitares “sol”
Contempla o sol
Sempre que recitares “não sou”
contempla a fonte do que és




Poemas Místicos, Divan de Shams de Tabriz; Tradução de José Jorge de Carvalho; Attar Editorial

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

RECORDAÇÕES DA CASA DA COBRA-SEM MAIS VERGONHA DE VIVER




SEM MAIS VERGONHA DE VIVER

Para Clarice


Eu ainda sou tímida Clarice, mas ando perdendo a vergonha de tudo, principalmente a vergonha de viver. Preciso achar e manter meu lugar no mundo; e, quem sabe, encontrar um “cantinho” ao sol afinal, dei-me conta, enfim, de que tenho todo e total direito de viver e fazer o melhor por mim e por aqueles que estão ao meu redor. Não peço mais desculpas Clarice por eu ser quem e o quê sou...?! E quem ou o quê sou eu afinal? Já me fizeram essa pergunta, constantemente me faço essa pergunta... Ainda não sei quem sou... sei o que não sou, ou pelo menos, o que não tento ser. Sei apenas que, como todos, busco uma saída às incertezas da vida, tentando ver e extrair de cada momento a reposta certa para tão enigmática pergunta que sempre vem no sopro do vento. Quem sou eu...?! Sou um desenho rabiscado; mosaico fragmentado de realidade, talvez sonhada, talvez vivida, mas, que, entretanto, está sempre em busca de aperfeiçoar-se e assim já não peço desculpas por existir.
Dizes que a alma do tímido anseia pela solidão, pois, somente assim consegue se libertar, mas, eu, apesar de toda a minha atrapalhada e indesejável timidez, não quero mais estar sempre só, não sou mais tão contraditória e em alguns casos desejo ardentemente o calor do aconchego com outras pessoas.
Não trabalho fora; não tenho chefe Clarice e, portanto, tenho a vantagem / desvantagem de não precisar pedir aumento de salário a ninguém, nem como escolher o melhor modo de me apresentar e me comportar nesse tipo de situação, uma tortura a menos. Tímida e ousada, posso me definir assim também, e, lembro-me que uma vez, em meu tempo de estudante de colégio, tive a coragem de interpelar um guarda que espancava um garoto de rua com um cacetete, um “gesto heróico” que deveria ser comum a quem luta contra a omissão e a indiferença que nos rodeiam e mantêm-nos reféns. Rompi meu próprio invólucro de medo, soltei a voz e consegui ajudar o garoto. Na tarde deste acontecimento, outras pessoas juntaram-se a mim. Fizemos a diferença ao nos unirmos e gritarmos a uma só voz: “basta!”.
Nunca montei a cavalo, nunca joguei xadrez, nem nunca conheci alguém tão simpático quanto o japonês que você conheceu e ainda hoje me confundo na hora de ler o cardápio, sempre solicito a ajuda de quem está ao lado. Minhas audácias foram pequenas, mas me ajudaram a compor a quem ou o quê agora sou e muito agradeço a mim mesma por isso. O encabulamento, que me atrapalhou algumas vezes, não foi empecilho para seguir em frente. Sabe Clarice, vou te contar um segredo: ainda pergunto aos “meninos” se querem brincar comigo e vez ou outra, sou desprezada. Não importa. Há tempos só falo de amor e continuarei a falar de amor, sempre, já que aos nove precoces anos eu nem pensava em “amor” tanto assim.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

OS MEIOS ADEQUADOS




Um mendigo aproximou-se de um homem rico e pediu-lhe que, por caridade, lhe desse uma esmola.
- Pede a Deus que te ajude – Disse o homem rico.
- Já pedi e Deus me respondeu dizendo: Vai e pede ajuda daquele homem - Objetou o mendigo.
- Finalmente encontro um homem que se dá conta de que cada coisa deve seguir os procedimentos adequados. Seria magnífico que as pessoas estivessem aqui presentes e pudessem assim comprovar este principio.
Como conseqüência deste episódio, o mendigo foi devidamente recompensado
.

Do livro El Caballo Mágico, Caravana de Sueños, Idries Shah; adaptação e tradução Virgínia Allan

terça-feira, 7 de outubro de 2008

REFLETE EM TEU VIVER



Reflete em teu pensar, em teu viver
O tamanho da chama de teu querer
O poder; a força e por causa dela, aonde ainda ou quê,
poderás ir ou vir a ter

Sê como as velhas histórias
Que o povo repete sem parar
Ora contada em breves partes
Ora contada como se nunca fosse acabar

Aprende com o passado, vive o presente...
O futuro o que será... será...?!
O desejo ardente leva-te para frente
Se não te detiveres por muito tempo
Consumido, desolado a olhar para trás a chorar

Há culpa, “pecado”, ciúme e orgulho entrelaçados
na tiara encantada do poder, do pudor e do desengano
Há tristezas e alegrias ao longo do percurso
Há fantasmas, almas penadas, solitárias à beira da estrada

Lanças ao ar as últimas notas
De um blues azul antigo e espera tranqüilo à porta de entrada
de um paraíso almejado mas não idealizado
E por fim, digo-te apenas, como um ponto final:
Insere-te por inteiro na paisagem como parte do sol

sábado, 4 de outubro de 2008

SÃO FRANCISCO DE ASSIS




04 de Outubro é dia de São Francisco,
protetor dos animais e dos excluídos
No céu, brilham irmão sol e irmã lua
Na terra, de alegria cantam os pássaros,
pululam os peixes nas águas
O fogo murmura consigo uma prece
em louvor ao santo amigo





No ano de 1181 (2?) no dia 04 de Outubro do calendário romano, nascia na Itália, na cidade de Assis, o menino Francisco, único filho de Pedro Bernardone, um rico negociante de tecidos, e de sua esposa Madonna Pica.
O seu nome, a principio, seria Giovanni, possível escolha de sua mãe, porém, seu pai, que, dizem, possuía um grande amor pela França, acabou por rebatizá-lo como Francisco.
Na juventude, Francisco era um boêmio; um alegre trovador e como trovador, falava a linguagem dos trovadores, o provençal. Devo esclarecer que é fato sabido que os trovadores eram descendentes de músicos e poetas sarracenos, e um ponto de concordância entre os estudiosos é que a penetração de ordens dervixes muçulmanas no Ocidente, foi de enorme influência para o florescimento e o desenvolvimento de ordens monacais religiosas na Idade Média, estando Francisco, mais tarde como fundador de uma delas, a Ordem dos Frades Menores, entretanto, antes disso, temos de admitir, segundo alguns historiadores, que Francisco tentou, sem sucesso, seguir os passos do pai na lucrativa carreira de comerciante.
Pensando encontrar sua vocação nas armas, entrou para o exército aos vinte anos, na companhia militar de Gualtieri de Brienne.
Conta-se que Francisco foi chamado três vezes por Deus à conversão religiosa e depois de convertido adquiriu um estranho poder sobre pássaros e animais, chegando inclusive a amansar um lobo feroz que andava a atormentar as redondezas.
Sobre o santo Francisco de Assis versam muitas histórias, todas bastante interessantes, (desde problemas familiares, passando por doenças, romances, estigmas e milagres) mas, aqui quero ressaltar o seu lado poeta místico e de onde afinal, tirava inspiração para poemas belíssimos como o Cântico del Sole (Cântico do Sol), considerado o primeiro poema italiano, poema este composto logo após sua volta do Oriente... Bem, tudo indica que Francisco bebeu direto da fonte do sufismo.
Idries Shah, em seu livro OS SUFIS, nos conta que Francisco de Assis, homem de percepção extraordinária, ao chegar a idade dos trinta anos, fez três tentativas (novamente o numero três) de chegar ao Oriente, em busca talvez, de suas raízes trovadorescas, tendo na última destas três, partido para as Cruzadas em direção a cidades de Damieta, sitiada então pelo sultão Malik El-Kamil, acampado do outro lado da margem do Nilo.
Francisco adentrou o acampamento sarraceno na intenção de converter o sultão ao cristianismo. Porém, apesar de não conseguir o seu intento, mesmo assim, caiu nas graças do sultão Malik, admirado da imensa capacidade de Francisco, e ele além de dar-lhe um salvo conduto para ir vir quando quisesse ainda deixou que este pregasse abertamente o cristianismo aos seus comandados.
Essas idas e vindas ao acampamento “inimigo”, e a extrema simpatia que lhe devotava o sultão, tiveram seus efeitos e provocaram profundas mudanças em Francisco. Muitos acreditam que finalmente Francisco, entre o exército sarraceno, sua corte e seus príncipes, achara o que estava procurando.
Francisco morreu em Assis em 1225 e foi sepultado na Igreja de São Jorge. Dois anos após sua morte, em 16 de Julho de 1228, é canonizado pelo Papa Gregório IX.

Paz a todos e repito, para finalizar, os dizeres do poeta Jalaludin Rumi, citado ainda por Idries Shah: "Ainda que faças uma centena de nós, a corda continuará sendo uma só"




CÂNTICO DO SOL


Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória e a honra
E toda a bênção
Só a ti, Altíssimo, são devidos
E homem algum é digno
De te mencionar

Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o Senhor Irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia
E ele é belo e radiante
Com grande esplendor
De ti, Altíssimo, é a imagem

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo
Pela qual às tuas criaturas dás sustento

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão fogo
Pelo qual iluminas a noite
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe terra
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações
Bem aventurados os que sustentam a paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes á tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!

Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças
E servi-o com grande humildade


Cantilena do Corvo

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